Entre o eu integral e o eu superficial


Problemas nas Relações são Momentos de Desenvolvimento

António Justo

Uma pessoa, tal como o seu carácter, é mais que a soma dos seus detalhes psicológicos. Ao dizermos ou sentirmos o nosso eu referimo-nos a algo definido como se fosse um produto, algo já acabado e não um processo na realização do ser. O meu eu inclui-me a mim e às minhas circunstâncias. Estas são eu, tu, o outro, o universo e o mistério. A nossa personalidade é formada por um eu profundo integral e por um eu superficial parcial, ou seja um eu luz e um eu treva. O ego é a sombra do eu integral; é como que a sua crusta, a parte opaca da transparência, a sombra duma realidade, mais ou menos oculta, a tudo conectada.

No ego predominam as forças centrípetas enquanto no eu integral reina a harmonia dum universo de forças ordenadas. A relação acontece na tensão entre um eu e um tu para se realizar no nós. No nosso trajecto vivemos a fugir da anonimidade duma massa despersonalizada para através do eu personalizado voltarmos à comunidade dum nós pessoal. É a luta das cores por se diferenciarem do verde da natura para poderem brotar na flor. Somos com e no universo, todo o mundo, a caminho, na procura do “Sol”, num mesmo sistema interligado pelas mesmas leis.

Ao sermos projectados do útero da mãe inicia-se o processo da individuação. No grito original iniciamos uma nova relação com órbitra própria a firmar-se numa nova constelação. Ao ser-nos cortado o cordão umbilical, abandonamos o paraíso na procura de identidade. Começa a marcha a caminho do eu no sentido de realizarmos a ipseidade no todo. Primeiro de gatas, depois amparado e por fim só. Quanto ao desenvolvimento psicológico esse torna-se mais demorado e complicado. Como na natureza nem toda a planta chega a dar flor, o que não torna o seu verde menos esplendoroso. Vale a pena o esforço de ver para lá dele.

O desenvolvimento pressupõe um processo dialéctico exterior numa realidade que ultrapassa a dialéctica (afirmação-contradição, tese-antítese ou a mera síntese). A afirmação da parte contra a parte e deste modo o reagir e a distanciação contra o todo provoca a dor insatisfeita. Doutro modo a fricção do eu no tu seria integrada no desenvolvimento não se cristalizando na dor (culpa, medo). O movimento de separação e aproximação, tal como as ondas e as marés, não são mais que o pulsar do coração com os seus impulsos e pausas, como a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a frustração; são momentos duma mesma realidade que nos envolve, define e determina.

A separação que se dá no desenvolvimento cumula na razão, onde o mundo deixa de ser uno como antes (Árvore da sabedoria no paraíso!). Aqui surge o perigo de o intelecto se autonomizar e criar um mundo “ideal” à margem da realidade com forças que não se deixam reduzir a meras leis. Com a caminhada da razão, que agora se acentua, dá-se um processo de diferenciação, de distinção entre um eu e um tu; em função da individuação afirma-se um sujeito contra um objecto, que na realidade, é sujeito numa dinâmica de complementaridade; a dialéctica leva o outro a ser tornado provisoriamente casulo para, assim, o eu se tornar sujeito. O sujeito, ao atingir o seu verdadeiro desenvolvimento, deveria passar a ver o resto da realidade como sujeito e relacionar-se de maneira a reconhecer-lhe tal dignidade (como parte dela/e). (O espírito incarna na matéria e a matéria ganha asas próprias para voar, tal como procura demonstrar o mistério da incarnação e ressurreição  e a Trindade realiza). Ao encontrarmo-nos todos num processo de transformação já não tentaremos destruir ou modificar o outro: a minha mudança já provoca a mudança do outro porque a transformação pressupõe relação, relação pessoal mesmo com o mundo inadequadamente considerado “coisa”. Trata-se de superar um pensar unidimensional só com lugar para a parte geométrica da vida, de superar o jogo das escondidas no nicho do intelecto.

Os distúrbios, de que todos sofremos como adultos, provêm dum mundo do pensamento paralelo, criado à margem da realidade orgânica e aos “traumas” que acompanharam o nosso desenvolvimento desde a criança infantil até ao estado de infantil adulto. A princípio agarrados às saias da mãe esperamos dela o amor simbiótico que nos mantinha a ela unidos no seu ventre, o paraíso terreal (muitas vezes a luta posterior não passa duma tentativa por restabelecer o estado simbiótico original: é a luta errada por se satisfazer a “culpa” do “pecado” original). Tal união, porém, não permitiria o desenvolvimento da própria identidade passando, naturalmente, a acentuar-se as forças centrífugas para depois culminarem na ressaca das forças centrípetas (egocêntricas). Segue-se então um caminho de experiências mais ou menos agradáveis, mais ou menos traumáticas que nos levam a andar pelo próprio pé ou a andar agarrados às eternas muletas de situações irreflectidas. A experiência individual cria frustrações e gratificações que mais tarde se podem revelar em sentimento de culpa, em sentimento de inferioridade/superioridade que depois será reafirmado pela vida fora num rescrito comportamental de arrogância ou de timidez. Nesta fase dominam os monólogos interiores e arrazoamentos que não permitem uma descrição adequada da realidade própria nem dos outros. Como não nos encontramos a nós mesmos continuamos a reduzir o outro à qualidade de objecto a ser assimilado ou a ser repelido. Muitos agarram-se desesperadamente ao pescoço da vida na fuga contra o vazio, contra a solidão. Procuram fora o que já se encontra dentro. As muletas das ideias revelam-se depois como poluidoras de paisagens emocionais interiores. É a fase da vida em canteiros de jardim infantil ou no jogo do gato e do rato.

Na infância a harmonia é procurada na mãe enquanto na fase adulta se procura na fusão de dois (polos) sujeitos, na “união conjugal”. Aqui encontram-se, a nível psicológico e comportamental, forças contraditórias em ebulição à semelhança do que se dá no desenvolvimento do universo com a sua formação de galáxias e de sistemas como o sistema solar, num jogo de forças que procuram o equilíbrio para depois seguiram o chamamento que pressupõe um novo desequilíbrio; este mantem a ordem viva num sistema de universos a caminho. Egocentrismo (movimento de rotação em torno de si mesmo) e altrocentrismo (movimento de translação em torno do outro) tornam-se condicionantes duma realidade maior. O amor que envolve os dois provoca o movimento aparentemente contraditório. A fixação extrema no ego ou no outro fecha os olhos para a felicidade (equilíbrio), para o amor, fixando-a no amor-próprio, na própria necessidade sem contemplar o sistema. O ego procura então não o outro mas a própria felicidade no outro contradizendo assim a felicidade, que é relação, o momento de equilíbrio (de esquecimento) que já traz em si o momento de desequilíbrio que provoca o desenvolvimento, a vida e não a estagnação. A vida que engloba o outro e a mim a caminho duma maior grandeza. A força centrípeta, o egoísmo exige uma relação de subalternos, quer ter, não quer ser, (ou confunde o ter com o ser) faz de todos seus satélites desprezando a realidade de que também os astros pertencem a estrelas e estas a galáxias, ao serviço duma realização maior. Cada um, tal como o universo, está chamado a seguir um chamamento; encontramo-nos todos a caminho do mistério na realização do amor, que é a energia que mantem todo o ser e todo o universo, unindo o que parece contraditório.

A necessidade do amor infantil (amor necessidade) domina as relações que se tornam por isso insatisfatórias. Cada um, criança traída, acusa no outro, sem saber, a sua mãe que o não acariciou suficientemente ou o considerou apenas seu satélite. Em vez de cada um se assumir aceitando as dores do parto de si mesmo (em processo) deixa-se dominar pelos fantasmas do passado sem reconhecer a realidade das forças próprias e ambientais na sua interdependência e complementaridade. Pior ainda: projecta no outro as próprias deficiências querendo torna-lo a mãe que não teve. Nesta dinâmica, mendigos do amor tornam outros mendigos também. Cada um gira em torno de si mesmo querendo criar os outros à sua imagem e semelhança.

Num processo de desenvolvimento para a maturidade (a nível dos dois) deverá criar-se um espaço para se fazerem as pazes com os “traidores” da infância para que estes não nos atraiçoem no outro. Isto deve ser naturalmente integrado em movimentos consecutivos de ensombramento de si mesmo e de luminosidade do outro e vice-versa; o mesmo se dá de forma inconsciente no ciclo do dia e da noite que pressupõe o reconhecimento da existência dos outros astros na realidade do nós (indivíduos e comunidade). Nesta realidade sentiremos e integraremos em nós não só a desejada acalmia primaveril e veraneia mas também as ventanias outonais que purificarão o nosso ser da folhagem impeditiva da próxima fase de desenvolvimento no sentido do todo.

Na constelação relacional do desenvolvimento também se encontram meteoritos isolados que vivem apenas o sexo à margem do acto criador de interacção. Esta pressupõe amor e este pressupõe a dor, resultada da tensão entre o eu e o outro. A dor é o momento de desequilíbrio que possibilita a evolução. Fugir à dor é negar-se, é negar o outro em si e negar-se a si no outro; não basta procurar, porque o sentido é encontrar-se, encontrar-se como universo a dar à luz. A vida inconsciente, além de viver na fuga e da fuga, luta continuamente com o destino. Falta-lhe a coragem para a felicidade e abdica permanecendo na contradição; esta pode, no máximo, produzir o gozo da fricção mas não a felicidade. Para o egoísta a culpa está nos outros, ele prefere ver a vida passar-lhe ao lado como os vinhateiros atrasados da parábola. Mas também o altruísmo pode ser um egoísmo escondido ou indício dum eu fraco (debilitado). Manter o equilíbrio da balança é a tarefa da vida da pessoa e do universo sempre em movimento.

Eu e tu, os dois somos três a caminho do nós. Eu e tu com o universo numa relação amorosa não dialéctica encontramo-nos num processo de interdependência e afirmação mútua; encontramo-nos todos ao serviço uns dos outros, no seguimento duma força maior: o amor. O momento dialéctico (contradição) é apenas o instante do desequilíbrio num processo maior pendular de desequilíbrio para o equilíbrio, do equilíbrio para o desequilíbrio na realização dum equilíbrio maior. Aqui já não há um com razão e o outro sem ela, agora já não há um perfeito e outro imperfeito, um culpado e o outro inocente. Aqui o intelecto e o coração unem-se para possibilitarem uma visão global integral: a vida toda na própria vida e não uma vida em segunda mão.

Deixa então de haver a autonomia do astro rei e a dependência do satélite para na complementaridade se desenvolver uma nova identidade, a identidade do nós no eu criativo e criador. A felicidade realiza-se em comunidade (Filho pródigo). Somos filhos do amor, fomos feitos de graça para vivermos na graça do amor. Como filhos da terra tornamo-nos no sol da natureza agradecida a abençoar. Resta-nos o agradecimento e a paciência. Somos novos mundos a criar um novo mundo, não podemos prar nem abdicar de nós mesmos nem dos outros.

Para criarmos uma nova maneira de estar no mundo, uma nova maneira de nos relacionarmos  nele e com ele teremos de criar uma nova relação amorosa com o outro na realidade do nós numa dinâmica identitária processual do eu-tu-nós: uma relação já não só de diálogo mas de triálogo, à maneira da incarnação e ressurreição numa relação pessoal trinitária na unidade do eu-tu-nós.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

Cinquentenário de Amnesty International

António Justo

A maior organização mundial empenhada na defesa dos direitos humanos celebra este fim-de-semana o cinquentenário da sua fundação. Um bom motivo para se festejar!

O advogado inglês, Peter Benenson, em 1960, começou por fazer campanhas de cartas protesto aos governos que perseguiam pessoas, por causa da sua atitude (opinião), tal como acontecia no Portugal de 1960.

Amnesty International foi então fundada em 1961. Tem hoje 2.8 milhões de membros em 150 países. É independente dos governos e começou por financiar-se com as quotas dos seus membros e com doações de pessoas beneméritas privadas, da indústria e da igreja.

Hoje luta pelo cumprimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem e pela defesa da natureza.

Numa altura em que os inimigos do Homem se encontram em marcha no campo económico e cultural temos verdadeiros motivos para renovarmos as forças da AI.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


IMIGRANTES ABUSADOS PARA FINS DE CAMPANHA ELEITORAL

Figurinos reduzidos ao Papel dos 40 Ladrões

António Justo

A casta governante leva o país à ruina económica e à depravação moral. Vale tudo! Vale a mentira da cabeça até aos pés.


Imigrantes a residir na zona de Lisboa, em situação precária, são usados para encher e enfeitar praças de comícios políticos. Abusa-se da necessidade de pessoas, que nas suas terras tinham o sentido da honra agora derramada pelas praças da campanha.

Imigrantes que vivem em Lisboa, provenientes da Índia, Paquistão, China, Moçambique, Guiné, Cabo-verde, partem de Lisboa em autocarros para apoiarem Sócrates. No tempo de Salazar também se fazia isso com portugueses da província. Hoje, que o povo se julga mais civilizado, tal prática talvez seja reservada ao capítulo de política de integração!…

O “Correio da Manhã” noticia (23.05.2011): “Seguem José Sócrates para todo o lado, de norte a sul do País, em autocarros pagos pelo PS. Depois são usados para compor os comícios, agitar bandeiras, e puxar pelo partido, apesar de muitos deles não perceberem uma palavra de português e não poderem votar. Em troca têm refeições grátis“. Um pedinte da União Europeia adorna-se com plumas de imigrantes à rasca.

Aos imigrantes vale a boa recordação dum pouco de turismo feito pelas belas terras de Portugal. Este é, talvez, o melhor efeito colateral da campanha! Nela o tema emigrantes e imigrantes é tabu!


Pessoas cínicas percorrem o país, reduzindo a política a uma pantomima que faz lembrar Ali Babá/ Cassim e os quarenta ladrões. Rodeiam-se de gente humilde para com ela encontrar a chave do poder: a palavrinha mágica “Abre-te Sésamo” que dá acesso à gruta (Estado) onde se encontra toda a espécie de tesouros.


Ali Babá, cínico,  já esbanjou os tesouros da gruta portuguesa e pretende, agora, numa segunda arremetida, com os seus “irmãos Cassins” fazer um funeral honroso ao partido e à nação.


O Tesouro da nação continuará reservado aos Ali Babás, aos Cassins e consortes, os possuidores das palavras mágicas “Abre-te Sésamo „e “fecha-te Sésamo”. Ao povo fica-lhes reservado o destino dos quarenta ladrões.

As campanhas querem sugerir uma imagem intercultural do partido que entope o país com pobres cada vez mais pobres e ricos cada vez mais ricos. Manifestantes sem direito a voto enfeitam os comícios de um PS sem rosto que nem cara tem para ter vergonha. O melhor coveiro do socialismo é Sócrates e o partido não nota!


Talvez conte com a amnésia crónica do povo e veja uma saída na mentalidade: “Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão”. Sócrates dá os pontos e o povo aperta os nós! O sol do poder não deixa sombras; o seu brilho deslumbra não deixando lugar para a sombra do ridículo!


“Vós tendes feito de minha casa um covil de ladrões”, dizia o Mestre aos que se aproveitavam para fazer de tudo um lugar de negócio!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Brasil – País em Ascensão assume Modelos decadentes

Facilitismo ocidental é mau Exemplo para Países no Vigor da sua Juventude

António Justo

“É proibido proibir”,” tudo é relativo!”, “quem manda nos substratos inferiores é a opinião”! Defendem os novos profetas da política, da psicologia e da sociologia, oriundos de povos desenvolvidos mas já virados para o pôr-do-sol da civilização. Nações jovens deixam-se combalir por ideias e práticas de declínio, válidas talvez para civilizações decadentes mas não para nações ou culturas ascendentes à tribuna do desenvolvimento…

Uma rede de elites, a nível internacional, une-se para, do alto do seu mirante, ditar as suas sentenças e impedir o desenvolvimento dos biótopos culturais, tal como fez, na paisagem, uma economia que devastou as florestas naturais. Ao colonialismo económico parece seguir-se o colonialismo cultural. Este parte de areais cerebrais aparentemente anónimos e ávidos de poder! As nações abdicam de si mesmas para estarem atentas aos deuses do Olimpo no seu arrastar das cadeiras. Aqui troveja o deus da sociologia, acolá pontifica o deus da moda, mais além ribomba um deus da universidade com outros deuses da jerarquia. E ao povo, mesmo culto, resta-lhes levantar a cabeça e cacarejar como habitantes dum galinheiro.

Enquanto nações culturalmente conscientes se preocupam em fomentar a qualidade do ensino, observa-se, em certas nações, a tentação de educar para o facilitismo. Em nome duma socialização do ensino, baixam-se os critérios de qualidade e as exigências na maioria dos estabelecimentos de ensino estatal. Por outro lado as classes dominantes, conscientes da importância da qualidade do ensino ministrado inscrevem seus filhos em escolas de qualidade (longe das favelas) ou no ensino privado, vocacionado para a qualidade.

Uma ideologia da igualdade momentânea exige: todo o aluno tem de passar de ano automaticamente, num sistema de ensino indiferenciado. Isto é fraude às classes sociais precárias e menos atentas. Estas só descobrem o dolo e o tempo perdido ao chegarem ao mercado de trabalho.

A divisão do país começa com a divisão da língua!

O MEC (Ministério da Educação e Cultura do Brasil) distribuiu um livro por 4.236 escolas para quase meio milhão de alunos que estabiliza barbaridades do discurso popular falado, como estas: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar os livro?”, “nós vai”. Naturalmente que é dever da escola pegar no aluno, com respeito por ele, no estádio onde se encontra, independentemente do nível da linguagem, mais ou menos adequada, por ele usada. É natural que na perspectiva do meio popular a criança ao dizer “nós vai „não comete erro porque seguia o padrão social ambiental. Onde não há ciência não se pode culpar a consciência.

Apesar dos reparos ao livro distribuído, por cientistas da língua, para o MEC, ele corresponde aos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) –normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didácticos. O MEC argumenta: “A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala”, afirma o texto dos PCNs.

O MEC parece considerar o ensino um acto colonizador sentindo-se mais propenso a incrementar um analfabetismo funcional. A eterna questão entre educar e instruir!

A escola não pode querer a bagunça da língua nem pode esgotar-se no combate ao “preconceito linguístico”. A vida social, com as injustiças sociais a ela inerentes, só se melhora ajudando os alunos a estarem preparados para enfrentarem a vida social e profissional com dignidade. A fonte do “preconceito” está na injustiça da desigualdade de oportunidades e esta começa pela língua. Quem vai para a escola acredita na ascensão social. Também é natural que qualquer variedade da língua se adequa a uma situação. O aluno deve ser especialmente preparado para se desembaraçar nas situações mais exigentes. A má consciência duma sociedade que discrimina à nascença não remedia a situação recorrendo apenas a eufemismos de linguagem. Apenas se desobriga sociológica e psicologicamente. Facto é que o emprego duma linguagem inadequada pode constituir um erro para a vida pretendida.

Sem esforço não se avança. A água não sobe pelos rios. Para subir tem de se “espiritualizar” em vapor. O mesmo se diga duma pessoa, dum povo ou duma cultura. Criar a impressão que o progresso se alcança sem disciplina (regras gerais), sem vontade de subir, sem liberdade criativa é discriminar pela negativa. Para baixo anda a chuva! Pensar faz doer, o ensino pressupõe uma pedagogia desadaptada da sociedade dominante. Doutro modo como aprenderão os alunos, em tempo útil, a “levar a água ao seu moinho”?

Para andarmos na estrada precisamos de regras (código ou regras de trânsito); para circularmos na sociedade precisamos de conhecer as regras da língua (a gramática). Doutro modo passaremos a vida a andar por carreiros ou por estradas camarárias sem termos a possibilidade de entrar nas auto-estradas da vida social.

As elites hodiernas, sem conteúdos nem ideias humanos, optam pelo simplismo. Para oferecerem aos distraídos da vida têm sexo, diversão e opinião! Isto é de graça para todos; o poder e o melhor pão, esses são para os que se empenharam na sua formação.

No mundo da opinião toda a gente tem razão. Só que a língua é anterior à filosofia e para se” ter razão” não chega a opinião, é precisa a razão que advém da sua fundamentação. No mundo do dogma da verdade da opinião preparam-se as pessoas a ter opinião sem razão e assim a aceitarem a opinião sem destrinça. Nisto está interessado um globalismo que pretende reservar para poucos a capacidade de pensar e vê na formação séria da maioria um impedimento às suas arbitrariedades. Manter um povo na incapacidade de se expressar é o melhor pressuposto para uma ditadura consistente e para impedir a concorrência de possíveis competidores treinados.

A defesa e empenhamento pelo proletariado não podem abdicar da qualidade; não chega o „para quem é, bacalhau basta”.

O Homem define-se e desenvolve-se pela Língua

Na capacidade de diferenciações dentro duma língua, podemos observar a maior ou menor capacidade de expressão dum povo. Ela é como que a sua matriz e dá testemunho do seu maior ou menor grau de desenvolvimento intelectual.

A língua é ao mesmo tempo a minha casa e a minha Ágora. Ela é não só abrigo mas também expressão de relação. Para se abrigar, tanto chega uma palhota, uma favela, como um palácio. Como vivemos num mundo do “homo homini lupus” temos porém que preparar o aluno/a com instrumentos adequados. Antigamente dizia-se: “pela aragem se vê quem vai na carruagem”.

Um espírito decadente e uma proletarização da cultura estão cada vez mais na moda.

Quem defende a proletarização da língua, ao orientar-se por um padrão minimalista e miserabilista, atraiçoa o interesse do proletariado. Este tem de exercitar o seu intelecto e aprender formas mais complicadas de entender uma realidade complexa. A cúpula da pirâmide não desce à base proletária; esta é que tem de se preparar e consciencializar da subida. “Para cima só os anjos ajudam; para baixo todos os diabos empurram!”

Em geral reconhece-se que a matemática e o latim são grandes meios auxiliares de estruturação do cérebro e do pensamento.

O ensino sério duma gramática coerente é certamente o primeiro instrumento de organização e ordenação mental que não deve ser recusado ao povo, seja ele o mais pobre e alheio à cultura oficial! Regras não inibem a criatividade. São pelo contrário o seu pressuposto. A criatividade ordena o caos. Pressupõe inteligência e esforço!

Um país que ainda não atingiu o apogeu do seu desenvolvimento não se pode deixar orientar pelo relativismo decadente vigente nos povos ocidentais interessados em não caírem sozinhos.

Um país como o Brasil, para assumir a liderança do continente sul-americano tem que arrogar-se responsabilidade apostando sobretudo na formação do povo. O relativismo decadente assumido em política de língua pode ser um sinal de que o Brasil não se quer preparar para assumir tal posição! O país não se pode perder em repetir experiências de povos decadentes. Deve ter a coragem de errar por si para aprender; tem de crer para poder!

” Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece”, Nietzsche (citado em JORNAL DE OLEIROS).

Boa noite Brasil!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Os próximos 7 Anos das Vacas magras para Portugal


A Especulação fomenta o Ódio aos Capitalistas como antes aos Judeus

António Justo

O Primeiro-ministro Sócrates conduziu o país à ruína. Nos anos que governou a dívida pública duplicou. Portugal deve neste momento 153.862.000.447€. Para não ficar na História como o autor da petição humilhante para a nação (pedido à EU), Sócrates enredou o povo e os partidos na cena de Pilatos que embora atraiçoando o Estado lava a suas mãos (culpa partidária) de qualquer culpa. Para o partido foi um aborto difícil porque o pedido de ajuda a Bruxelas implica a perda da independência do Estado. Quem passa a mandar e a proceder à liquidação é Bruxelas e os bancos internacionais.


Um pacote de medidas combinadas entre um governo demissionário e os partidos levanta problemas sobre a constitucionalidade de tais medidas. É de admirar que nenhum partido tenha levado a questão ao tribunal constitucional.


A Tróica para a estabilidade financeira (FEEF, EU, MEEF) veio a Portugal com o pretexto de com os partidos elaborar um plano para salvar Portugal. Quem salva Portugal são os portugueses. De resto, com o programa de assistência a Portugal, vieram determinar condições para então concederem obrigações do tesouro a Portugal. Decidiram emprestar 78 mil milhões de €. Para o efeito, a comparticipação europeia de 52 mil milhões de euros é arranjada no mercado financeiro sendo depois transferido o dinheiro para Portugal. O empréstimo terá de ser reembolsado até 2013 com juros de 4%. O FMI disponibilizará os restantes 26 mil milhões. Parte deste empréstimo a Portugal vai directamente para o bolso dos bancos internacionais e 12 mil milhões destinam-se à banca nacional e 35 mil milhões são utilizados como garantia do Estado para os bancos. Os portugueses apertarão o cinto para pagar dívidas e por cima verão reduzida a sua produtividade como acontece na Grécia. Aperta o cinto para poder pagar os juros em dívida aos credores internacionais.


“Lisboa, Atenas e Dublin fizeram, num ponto, o mesmo erro: a adesão à União Europeia ou para a Zona-Euro não foi usada como chance para se recuperar, mas para, com a ajuda dos financiamentos europeus, continuar como antes” (in HNA, 6.5.11). O compromisso agora assumido terá como resultado a diminuição do poder de compra dos portugueses e o castigo dos mais pobres pelos erros da governação. Segundo as estatísticas da Comissão Europeia, a dívida do Estado português em % do BIP (eficiência económica do país) atingiu 82,8% em 2010, prevendo 88,8% para 2011 e 92,4% para 2012. Prevê-se uma recessão económica, com o previsto aumento de desemprego de 11.1% em 2011 para 11,2 em 2012.


Apesar das injecções do dinheiro a Portugal, este continuará a aumentar a dívida. De facto, os portugueses passarão a trabalhar para pagar os juros a credores usurários. Os credores não estão interessados em receber o dinheiro do empréstimo; interessa-lhes é receber o dinheiro dos juros; estes são uma mina de ouro. As agências rating especulam com países como os bancos com as acções. Oprimem o cidadão para que os bancos funcionem e assegurem os seus lucros. O dinheiro adquirido da especulação é dinheiro sujo, ganho à custa do outro, sem o “suor do seu rosto” como reza a Bíblia.


Na Idade Média, a Igreja Católica proibia aos católicos ganhar dinheiro que não fosse produto do trabalho directo (do suor do seu rosto). Os judeus aproveitaram este buraco da economia, negociando eles com o dinheiro, levando juros pelos empréstimos, o que era proibido aos católicos. As elites da altura, que precisavam de dinheiro para investimentos em obras e financiar guerras, pediam-no aos credores judeus. O povo, que só perdia com o negócio financeiro entre as elites, aumentou o ressentimento contra os judeus, começando a odiá-los. Ao ressentimento religioso juntou-se a indignação da exploração. Assim uns se condicionaram aos outros, todos com boas explicações racionais. Facto é que ainda hoje se torna muito difícil combater o racismo, não justificado, acumulado então contra os judeus, apesar do crime do holocausto dos judeus. Hoje, os grandes especuladores, bolsas e os bancos, aliados às elites políticas exploram incomparavelmente mais os contribuintes. Destroem-se mesmo pessoas e nações. O comportamento das elites de hoje e o crescente ressentimento contra elas ameaça a democracia.


Sem nova competitividade acontecerá a Portugal o que está a acontecer na Grécia. A nação, agora ajoelhada perante o estrangeiro, terá de se unir toda para se poder erguer de novo com uma maneira de proceder virada para a cultura nacional no sentido de defender o Estado da pilhagem internacional e ideológica. Para isso o grande saber científico das universidades portuguesas deveria ser canalizado para as empresas portuguesas em vez de continuar a formar altos técnicos para os concorrentes estrangeiros na emigração.

A Caixa de Emergência Euro tem 750 mil milhões de euros comparticipados em 250 mil milhões pelo IWF, 440 mil milhões por todos os parceiros da zona euro e 60 mil milhões da comissão europeia. Dos 750 mil milhões de € só podem ser disponibilizados 440 mil milhões. O resto fica como reserva de segurança. Da Caixa de emergência Euro, até hoje, só a Irlanda recebeu 85 mil milhões e Portugal receberá 78 mil milhões. Prevê-se que a Grécia entre no registo de falência. Neste caso os países/bancos fiadores teriam de renunciar a exigências sobre o crédito concedido. A BRD assume a sua quota-parte de garantia no valor de 120 mil milhões no que toca à Caixa de Emergência Euro de 440 mil milhões. No caso de Portugal a Alemanha torna-se fiadora de 10,4 mil milhões.


Quanto a Portugal e Irlanda há sinais positivos de poderem vir a pagar as dívidas. Os administradores da liquidação foram mais moderados nas medidas agora tomadas. Bruxelas já pensa em prolongar os prazos de empréstimo até sete anos.


Outros candidatos instáveis são a Espanha, Itália, França e Bélgica.


O norte da Europa cada vez tem mais medo que a Zona Euro se transforme numa zona de transferência de solidariedade. Por isso já se manifestam personalidades exigindo a divisão da Zona Euro em duas zonas: uma zona € forte e outra zona € mole. Outros defendem a ideia do norte abandonar o €, ou dos países fracos voltarem a adoptar as suas antigas moedas.


A antiga Alemanha ocidental tem a experiência da sua transferência de dinheiros da zona rica para a zona pobre porque ainda hoje transfere anualmente muitos milhares de milhões de Euros para a antiga DDR (antiga Alemanha socialista) e apesar disso ainda há uma grande diferença de produtividade entre as duas.

Com a comunitarização das dívidas “vale a pena fazer mais dívidas”(Hans-OlafHenkel, in HNA8.4.11)  caindo-se num “sistema de irresponsabilidade organizada” tal como se vê na compensação financeira entre os  estados federados da Alemanha. Nela há três estados dadores e 13 recebedores; “ quando o Estado do Hesse poupa um € tem que dar dele 97 Cêntimos aos estados recebedores. E quando Bremen gasta um €, recebe 97 Cêntimos dos estados dadores”.


Como se vê, hoje como há 2064 anos, o Homem repete-se. Já Marcus Tullius, em Roma, 55 a.C. resumia: „O Orçamento Nacional deve ser equilibrado. As Dívidas Públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública ”. Os especuladores bolsistas tornaram-se na praga dos gafanhotos de que fala a Bíblia.


António da Cunha Duarte Justo

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