TRUMP BATEU COM A PORTA NA CIMEIRA DOS 7 QUE QUERIA DOS 8

Consequências da Crise cultural-política-económica que não se quer reconhecer

António Justo

A Cimeira do G7 (dos países mais industrializados do mundo: Alemanha, Canadá,  Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido) no Canadá, 08-09/06/2018 deixou um comunicado final em que declaram lutar contra o protecionismo no comércio, desnuclearização da Península da Coreia e do Irão, apelo à Rússia para não poiar o regime sírio, colaborar no intuito de alcançar um crescimento inclusivo e a igualdade de género,  implementar o Acordo de Paris sobre o Clima (sem os USA). Uma declaração dos 7 que se torna na dos 6. Os Estados Unidos não subscreveram o comunicado emitido pelo G7.

A política mundial encontra-se numa fase axial da História; uma nova ordem mundial encontra-se a caminho. A rotina e o oportunismo temem ver apressado o seu fim. O que aconteceu na cimeira é apenas um aviso e um sinal da mudança que se opera a nível mundial e que expressa a necessidade de novas estratégias e reformulações de blocos. De facto, uma política global não pode passar por cima dos interesses nacionais nem de suas metas a longo prazo. Como já toda a gente critica suficientemente Trum não fica mal apresentar algum aspecto benigno das consequências do seu agir!

O aspecto positivo que Trump trouxe à cimeira foi o acentuar a urgência da Europa assumir maior autonomia e responsabilidade e a importância de se unir à Rússia. Para a UE não é já suficiente o moralismo ideológico de valores de abertura e a economia como factor de afirmação em relação a outros blocos.

Já há muitos anos se observa uma política demasiadamente orientada para os interesses da Alemanha que fomenta a promoção dos seus vizinhos a leste para não ter pobres ao pé da porta e por outro lado impõe à Europa uma política económica e de asilo embora os seus actores internacionais sejam a Alemanha, o Reino Unido e a França com o poder da sua economia e negócio das suas armas.

Num tempo em que o comportamento ético está especialmente limitado a interesses de grupos fortes e aos lóbis, Trump parece abusar dessa ética cada vez mais económica, ideológica e imprevisível. Talvez a posição incómoda e não diplomática de Trump não expresse mais que um aproximar-se do auge do tempo de crise e que a política quer continuar a não verbalizar.

Trump é como a pedra, não muda; continua a ser como governante o que era como concorrente eleitoral. Um aparte: desde 1994 que todos os presidentes norte-americanos prometeram mudar a embaixada para Jerusalém, mas nenhum cumpriu. Trump cumpriu e toda a gente o critica!

Negociar não é o seu forte e para mais numa época narcisista. Ele é tão fraco, que está a mudar o mundo! Ele sabe que como nas revoluções, depois do mundo mudado, ninguém perguntará pelos erros da mudança, depois dela dada.

Farto de uma política de conselhos e conselheiros não tem em conta que um Estado congrega muitos interesses grupais precisando de burocratas e de figurantes poderosos que o sistema tem de manter para que os grupos de pressão não joguem fora do campo. Os que o criticam têm certa razão dado não se poder identificar um Estado com uma empresa económica, mas também é um facto que a política europeia não pode continuar no sonho da Bela Adormecida ou no jogo do populismo de cima contra o populismo de baixo.

Numa Europa em que a intervenção política e a procissão se alinham mais à esquerda, é consequente o necessário amplificador da rectórica de direita e de esquerda perante a pressão da economia e dos lóbis do dinheiro e da ideologia vindas de Bruxelas.

A política de baloiço partidário tem sido prolongada com ritos públicos que servem de tubo de escape para as tensões sociais, mas o tempo hodierno começa a não suportar uma ideologia de mantras cuja lógica de convicção provém da música da sua repetição ritmada, que leva os partidos e as nações a perderem o seu rosto.

Em muitas sociedades ainda não existe a pressão local a nível nacional; as bases ainda se encontram em fase de formação, dado a opinião pública ser alimentada sobretudo com conversas de futebol, sexo, dietas e racismo.

Achei elucidativo o que João de Barros apresenta na sua página de FB; são factos (1) que ajudam a compreender a posição de Trump numa nação que sente o seu futuro comprometido em relação ao desenvolvimento da China.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

(1) PRINCÍPIOS DE ECONOMIA POLÍTICA.
Na analise da recente guerra tarifária entre os USA e a China/Alemanha (a guerra não é com a Europa, mas sim com o principal exportador de automóveis europeus), muitos saltam a criticar o Trump sem dedicarem a mínima atenção às estatísticas internacionais.
E o que nos dizem essas estatísticas?
  1. A economia dos USA representa 25% da economia mundial. A sua dimensão é equivalente à soma das 9 economias seguintes.
    2. A China representa pouco menos do que 15% e a Alemanha não chega aos 5% (ocupando a 2ª e 4ª posição respectivamente, o Japão é a terceira economia).
    3. No entanto a China exporta quase mais 47% em valor que os USA e a Alemanha exporta quase tanto quanto os americanos (em valor).
    4. Se as exportações americanas representaram apenas 11% da produção americana, façam as contas para perceberem o peso das exportações na produção da China e Alemanha.
    5. China e Alemanha apresentam excedentes comerciais elevadíssimos, fruto de moedas artificialmente sub-avaliadas face ao dólar, enquanto os USA apresentam défices comerciais crônicos.
    6. O grosso das reservas de ouro mundial estão nos USA (a maioria do ouro português está em Fort Knox) e o dólar é a principal moeda de reserva mundial, tendo um peso brutal nas reservas de divisas da China.
    7. Os USA são hoje auto suficientes em termos energéticos, mesmo no que ao petróleo diz respeito.
    8. Os USA são o principal mercado de destino das exportações da China e Alemanha.
    9. A continuarem a verificar-se as actuais tendências econômicas, em 2050 a economia americana é ultrapassada pela da China.
Perante estes dados, e depois de reflectirem um bocadinho, acham assim tão absurda a posição americana? De que lado pensam que está verdadeiramente a força negocial nesta contenda? Em termos de aplicações de tarifas, quem é que vai realmente sair escaldado?
João de Barros

ÁUSTRIA ENCERRA SETE MESQUITAS

60 Imames (Imãs) em Via de Expulsão

António Justo

O governo austríaco quer tomar o assunto a sério quando se trata de islamistas e de fundamentalistas turcos. Foram fechadas sete mesquitas: uma turca, dos “Lobos Cinzentos de extrema direita (não tinha autorização) e seis mesquitas árabes. A comunidade cultica árabe é dissolvida. O governo deu como razão de encerramento, declarações salafistas dos representantes das associações.

A lei islâmica austríaca exige uma atitude básica positiva em relação ao Estado e à sociedade. O chanceler Kurz justificou a medida dizendo: “Sociedades paralelas e tendências de radicalização não têm lugar no nosso país”.

Além disso o governo austríaco quer expulsar cerca de 60 dos 260 imames da União Turco-Islâmica para a Cooperação Cultural e Social na Áustria (ATIB). Razão da medida é o financiamento através do estrangeiro, o que está proibido na lei da Áustria sobre o islão. Imame (Imã) significa chefe religioso-político (cabeça espiritual) da comunidade islâmica.

“Os ATIB-Imames são financiados pelo Estado turco (Autoridade religiosa Diyanet)”. Esta envia-os e remunera-os, o que é proibido na Áustria desde há três anos.

A oposição austríaca não faz nenhuma crítica fundamental a este acto do governo. Os verdes só criticaram a altura em que isto acontece porque motiva muitos turcos a votarem em Erdogan (HNA 9.06.2018). Na Alemanha apesar de a DITIB se encontrar sob o controle do presidente turco Erdogan, em 2017, o governo aprovou a entrada de 350 imãs.

Motivos para preocupação

No sentido do filólogo e especialista em Islão, Raad Salam Naaman, a Áustria começa a tomar medidas contra o radicalismo islâmico e contra a sua estratégia; ele adverte: “O Islão é um perigo real para a Europa e para o mundo…Estamos a assistir à conquista silenciosa da Europa pelo Islão; a Europa não tem conhecimento exacto do Islão e não sabe como actuar perante o Islão;  as pessoas que não conhecem o Islão dizem que é uma religião da paz e que o Corão é um livro da paz,  e isto sem conhecerem o islão e sem lerem a história do Islão e sem conviverem com o islão e sem conhecerem profundamente o Corão”.

Em 1993 João Paulo II, que tinha um conhecimento profundo do Islão, disse: “Vejo a Igreja do terceiro milénio afligida por uma praga mortal que se chama islamismo e invade a Europa” ….

Yusuf al-Qaradawi, dirigente da comunidade muçulmana afirma: “vamos conquistar a Europa através do ventre das nossas mulheres”. De facto, os muçulmanos crescem na Europa na razão de quatro por um (natalidade).

Também Muamar el Gadafi disse antes da sua morte:” Vamos conquistar a Europa graças às leis e às constituições europeias”.

Muitos políticos europeus acreditam nas teorias de Marx e de Engels que julgavam que a religião se tornaria supérflua com o desenvolvimento económico e com a luta contra a propriedade privada e contra a família.

Isto dá que pensar a quem tem tempo para o fazer!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

BILHETE GRATUITO ATRAVÉS DA EUROPA PARA JOVENS DE 18 ANOS

Jovens que façam 18 anos no dia 1 de Julho podem candidatar-se para um dos 15.000 bilhetes (Free Travel Pass) que a UE concede como parte da iniciativa “Descubra a EU” (deslocação gratuita). Para Portugal só há 302 bilhetes disponíveis.

Jovens podem ir à descoberta da Europa e usar comboios, autocarros e balsas (Ferry). As inscrições on-line estarão abertas de 12 a 26 de junho de 2018.

Destina-se a cidadãos de um dos 28 Estados-Membros da UE.

A viagem deve ter pelo menos 1 e até 4 destinos transfronteiriços e ter a duração entre 1 e 30 dias.

A viagem deve ter início entre 9 de julho e 30 de setembro de 2018. O candidato individual ou um grupo até 5. Os candidatos devem responder a um questionário sobre o património cultural da UE, as eleições para o Parlamento Europeu e os jovens.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DESTACAMENTO DE TRABALHADORES – NOVA DIRETIVA DA UNIÃO EUROPEIA

Igual Salário para Trabalho igual

 

António Justo

Até 2020, os países membros da EU terão de aplicar nas leis nacionais a Directiva 96/71 / CE reformada, relativa ao destacamento de trabalhadores. A reforma da velha directiva já com mais de 20 anos,  foi intensamente discutida nos últimos dois anos, sendo agora  ultimada pelo Parlamento europeu que cria condições para que os os trabalhadores destacados tenham as mesmas condições de ordenado aos trabalhadores nacionais em toda a Europa (conforme noticiou a DPA alemã no dia 30 de maio).

Até então, trabalhadores destacados de um país da EU para o outro, devem receber o mesmo salário como os colegas locais. Passam a ter também o direito ao suplemento de deslocação, de alojamento e refeições.

O destacamento é limitado a 12 meses e com possível prolongamento até mais seis meses.  Após o termo do prazo aplicável, os trabalhadores de países terceiros, passarão a ter direito ao pleno emprego e aos direitos sociais do país onde trabalham.

Com a nova regulamentação devem ser evitadas as práticas de dumping salarial e a concorrência de trabalhadores dentro de um país membro da EU.

É positivo não serem reduzidos ao salário mínimo prevalecendo, contudo, as diferenças do imposto sobre a folha de pagamento e benefícios sociais que é diferente de país para país.

A directiva é sem dúvida um grande avanço em defesa do operariado. Segundo a Directiva, também um trabalhador cujo horário de trabalho é 37 horas na França terá de trabalhar 40 horas na Alemanha para poder receber o mesmo salário que o alemão.

A  directiva vem moderar as pretensões do patronato alemão e de outros países que conseguia imensos lucros através das diferenças de salários aplicados no próprio país.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

FESTIVAL DA EUROVISÃO 2018 – UM MODELO PARA OS PAÍSES LUSÓFONOS

Até um Festival VisãoLusofonia

António Justo

Sob o mote «Todos a bordo!» realizou-se o festival (eurovision Song Contest 12.05.2018) perante um público presencial de 11.000 pessoas e muitos milhões de telespectadores dos 43 países participantes. Portugal está de parabéns! No Festival mostrou as suas capacidades e enriqueceu o mundo com a sua maneira de celebrara vida como festa!

Venceu Israel (esta é a quarta vez que vence), com a canção «Toy» interpretada por Netta. A artista soube, de maneira diferente, fazer valer a diferença transmitindo, ao mesmo tempo, a mensagem de que as mulheres não são nenhum brinquedo nas mãos dos homens. O que sobressai pela diferença, foi uma das características que se afirmou na memória dos países ao distribuírem os pontos pelas 26 apresentações de artistas. A canção de Cláudia Pascoal, com a sua digressão ao jardim da avó, não favorecia o espalhafato das emoções, o que levou ao incómodo último lugar, o lugar 26 na qualificação.

Apesar dos favoritos Suécia, França, República Checa, Noruega e Estónia, os três primeiros lugares vencedores foram para Israel, Chipre e Áustria. O 4° lugar, conseguido por Schulte, para a Alemanha, com a balada “Deixas-me andar sozinho”, dedicada ao falecido pai, mostra que o festival também tem espaço para cenários menos pirotécnicos.

A organização do espectáculo e sua a execução revela alto profissionalismo e competência.  Sem fogo de artifício, foi espectacular a encenação inicial do espetáculo e as intervenções musicais que se seguiram à competição.

Numa ética do pensar a partir do nós, da canção “Amar pelos dois”, diria, numa mística lusitana, foi expresso o espírito universal e profundo do que significa lusofonia, numa simbiose lusófona de Salvador Sobral e Caetano Veloso, com o pianista Júlio Resende. 

Em contraposição a uma música tecnocrata, a alma lusa lá estava a dar corpo à Europa, tal como o fez com D. Henrique e os Descobrimentos.

Um Projecto para um Festival da Lusovisão?

Lusovisão poderia tornar-se num projecto dos países lusófonos com potencialidades para fomentar os ‘biótopos’ culturais dos diferentes países/regiões no sentido de se institucionalizar a diversidade das culturas num todo feito de complementaridades.

A criação de um canal de Lusovisão comum, comparticipada pelos diferentes países lusófonos, poderia tornar-se num segundo ou terceiro canal de cada país, dedicado inteiramente à cultura e à arte na CPLP (todos os falantes de português e suas variantes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu e outras comunidades falantes).

Na sequência da criação de um canal de Lusovisão, seria natural ter-se o Festival da Eurovisão como modelo para um projecto de Festival LusoVisão a criar-se na comunidade de língua portuguesa.

A canção das lusitanidades seria um festival de arte e cultura onde a diversidade unida tornaria uma alma forte a afirmar-se na concorrência das civilizações; juntaria sinergias diversas e poderia tornar-se também numa reacção correctora de uma globalização sem coração e num antídoto contra a uniformização cultural em via. Seria um ensejo para proteger o cariz humano e feminino, proteger a província, à nossa maneira, contra a metropolização ou monopolização cultural.

De facto, ao contrário da francofonia, que tem como base um conceito político, a lusofonia tem como base um conceito linguístico e cultural e como tal deveria criar o seu lugar de expressão e de encontro a esse nível.

Particularmente, cada nação carece de capacidade para se defender na concorrência com uma cultura latifundiária… A defesa de uma certa sustentabilidade local só poderá ser eficiente se se servir de supraestruturas em que o regional seja guardado sem, contudo, esquecer as leis da evolução que se resumem na selecção e domínio pelo mais forte ou na colaboração dos mais fracos para se defenderem e afirmarem juntos. Um tal projecto seria um contributo na defesa da sobrevivência das regiões e dos “biótopos” ecológico-culturais, sem ter de perder o comboio da História; o futuro será de quem se antecipa; o que fez Portugal com a iniciação dos descobrimentos (dando novos mundos ao mundo) seria hoje a missão dos países lusófonos. Um país, um espaço intercultural só terá sucesso se tiver uma missão à frente e tiver consciência de a querer cumprir.

Para isso há que meter mãos à obra e conservar a tensão da unidade na diversidade num universo de culturas e paisagens, todas elas complectivas.

A Lusofonia, de espírito humanista global católico e de alma honesta e transparente encontra-se já a deslizar no coração de todos nós, mas, para aparecer, terá de ser construída numa multiplicidade de eus a partir do nós.

Vamos todos antecipar o futuro, começando não só a nível de associações, mas também a nível universitário, administrativo e de organizações económico-comerciais, como propunha em 2012!

Chegou a hora de construirmos uma cultura arco-íris contra a monocromia em via.

Pessoalmente, na minha retina, do Festival, o que mais ficou e mais profundamente me tocou  foi a nova canção do S. Sobral. Ficou a satisfação de um Portugal a exercitar-se e a projetar-se num mundo que apesar das muitas luzes se revela bastante opaco. Do festival como tipicamente português fica a festa e o aviso de se redescobrir a ele para poder voltar a enriquecer o mundo de forma qualitativa!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo