EDUCACAÇÃO EM TEMPO DE MUDANÇA E NA DISCIPLINA DE CIDADANIA

Reflectindo sobre a Influência dos Ares do Tempo

António Justo

O andar da sociedade, visto sob o prisma da responsabilidade individual e política, deixa muito a desejar por sobretudo nadar no sentido da corrente do tempo; parece não suportar a reflexão filosófica e até a educação se vê orientada para o sucesso e o lucro a curto prazo que se vêem-se acolitados por um moralismo superficial e intolerante a caminho da servidão.

Pretender  que se aprendam atitudes como se aprende uma técnica de serviço utilitário poderá ser o melhor caminho para se estabelecer um regime autoritário; o nosso pensar do tempo aposta em valores abstratos  não querendo orgânicas jerarquias (diferenças) no comportamento nem no pensamento (o pragmatismo e a eficiência tornaram-se no “bem” do tempo e espalham a crença de que com leis e semáforos vermelhos tudo se regula!). Consequentemente (1) na educação cívica não estão em foque a relação interpessoal (virtudes pessoais) nem a formação de atitudes de humanidade; fomentam-se sobretudo comportamentos mecânicos (aptidões de concorrência)  relativos a poderes e interesses grupais, a valores anónimos acompanhados de ícones do passatempo e da moda. Chega que tudo funcione e basta ter toda a pessoa em função; o sentido do Estado e o que parece interessar é apenas ver a máquina a funcionar, tudo ao serviço dos órgãos de interesse, na sua qualidade de componentes da máquina. Já Immanuel Kant recomendava a termos a coragem de usar a nossa própria razão para nos libertarmos da imaturidade autoinfligida.

Cada um é, por outro lado, considerado dono do mundo que se encontra dentro do seu computador (um mundo artificial que não o real!). Já não precisa de conquistar espaços nem de ser, bastam-lhe logaritmos e chavões de pensamento para aparecer! Cai-se assim numa educação utilitarista (2) que educa para a funcionalidade e para o progresso esquecendo o “educando” na sua qualidade de pessoa, pessoa integral!  A Informação é manipulada encontrando-se sobretudo em posse de fábricas de inteligência (técnicos de ideologias e de estratégias) e cada vez mais em posse de multinacionais como Facebook e Google (Deste modo, impercetivelmente, une-se o poder político ao poder privado na mesma tarefa de controlo do cidadão – da cidade e do Estado).

A Palavra, a informação  é a energia criadora originária  e permanente, por isso Deus falou e o evangelista João escreeu: „No princípio era a  Palavra, (a In-formação)”;  ela está sempre no princípio da cultura, do discurso, da formação e da criação; ela forma a pessoa que cria novos mundos, novas civilizações; essa mesma Palavra (in-formação), no reino vegetal, forma as plantas, todos os seres na qualidade específica de convergentes de informação (in-formação em processo de definição).

Por isso os poderosos se apropriam da palavra (informação), tornam-se autoridades (à imagem de deuses e não de Deus!), formatando-a, a seu modo, decidem sobre o significado e o sentido da palavra (ideia moldada).

A Palavra (in-formação)  que no princípio era divina e, como tal, parte de todos, em que cada um poderia sentir e decidir sobre significado e sentido, foi timbrada em nomes, frases opacas e, ao deixar de ser processo, deixou de estar no princípio para ser reduzida a gramática do tempo (poder) e assim, como objecto, tornar-se apenas em narrativa localizada e, deste modo, poder ser usada para reduzir os outros a consumidores (acaba-se a relação pessoal para a substituir pela conexão funcional; acaba-se com a comunidade e correspondente virtude/moral para se criar a sociedade do cidadão e correspondentes leis exteriores dependuradas em valores abstratos). Torna-se urgente proteger a gene divina da palavra (in-formação) que se encontra ameaçada porque o que é processo se torna em objecto limitado e deste modo passa a ser propriedade de alguns: os proprietários do espírito materializado.

Ao reflectirmos sobre a in-formação (Palavra) estaremos a proteger o seu ser divino em nós e nos outros. Se observarmos os ares que nos rodeiam notamos que não nos querem ver como seres direitos, como pessoas, como sujeitos criadores do mundo, desejam-nos tortos formatados como consumidores ou seres amarrados à sua trela (informação petrificada!). Quer-se transformar a Verdade (processo relacional) em crença apropriada, ou na narrativa que nos contam. O espírito do tempo quer uma sociedade “sã” que nos faz seus pacientes.

O entusiasmo pela técnica prepara o caminho para o abstracto numa narrativa sem poesia para ser contada e não precisar de ser explicada nem vivida (o velho “sacerdócio” foi substituído por tecnocratas ao serviço do sistema à custa da pessoa!). A sociedade competitiva de consumo não educa para a compreensão da pessoa e das coisas no sentido que lhes é próprio de complementaridade e humanidade, mas sim no sentido de autoafirmação, de concorrência (rivalidade), de exclusão e de funcionalidade. A governação baseada no crescimento justifica a desumanização da pessoa e da sociedade porque os fins passam a justificar os meios como se pode ver na sociedade consumista e de maneira extrema em regimes totalitários como a Coreia do Norte e a China!

Sem nos deixarmos oprimir por racionalizações nem por perturbações emocionais, importará começar por aprender a lidar consigo mesmo e a desenvolver o espírito de discernimento, de descoberta (curiosidade) e de humildade. Isto no sentido de tentarmos ter a coragem de deixarmos de ser ovelha e ao mesmo tempo não termos medo de reconhecer a necessidade de cães de guarda e de pastores! Cada pessoa traz em si o cordeiro e o lobo o que justifica uma educação no sentido prático de um humanismo cristão.

O espírito do tempo globalista para justificar um centralismo tecnológico anónimo vai, pouco a pouco, destruindo os biótopos culturais pessoais e regionais no equívoco de que só assim poderá ter poder directo sobre o indivíduo (pessoa reduzida a cidadão) e sobre as nações ou povos! Certamente também por isso se vai tendo a impressão de se pretender uma sociedade e indivíduo só mente, sem Deus, sem pessoa, sem alma, sem terra, sem família e sem mãe. Pretende-se um mundo só paterno com mente e sem coração. Não chega educar para a filantropia, é necessário integrar, na educação, a prática de olhar os outros (os diferentes numa relação pessoal e não só de interesses) com o olhar de Deus, com o olhar deles e assim descobrir em cada um Jesus Cristo, o irmão (e isto independentemente de instituição, etnias, culturas, crenças e ideologias). O olhar de Deus é materno e faz dos outros irmãos gerando-os como filhos. Isto implica educar para a transformação (e não para a confrontação, competição) a acontecer na transversalidade de espírito e matéria, de feminilidade e masculinidade, de integridade e engano.  Será necessário aprender a dar sentido à própria existência sem ter de continuar atrelado às necessidades artificialmente criadas e que se concretizam no ter dinheiro para as satisfazer ou no exercício de meras funções. Trata-se de descobrir a própria dignidade (personalidade) e não de ter apenas uma ideia dela sem que se torne virtude. A reflexão sobre a dignidade leva à minha descoberta de ser sujeito e não objecto numa inter-relação de sujeitos. Para isso seria necessário aprender a tratar-se a si mesmo com dignidade.

Vivemos num estádio cultural em que tudo é encaminhado para a exploração do intelecto e visto a partir do intelecto (ângulo cerebral causal a caminho da inteligência artificial): valores e normas, são transferidos e adquiridos num canto do cérebro. Não se pretende a consciência de identidade, de homem todo; no máximo quer-se um perfecionismo que parte da insegurança para gerar instabilidade servida por valores meramente abstratos.

Inicialmente temos de aprender a tratar-nos a nós próprios com amor e, concludentemente, trataremos os outros como nos tratamos a nós mesmos. Então dispensaremos modelos a seguir e deixaremos de andar a correr atrás de uma felicidade pressuposta fora de nós. A educação para a cidadania não deveria partir de medidas que consideram o outro como objecto de valores propostos a adquirir porque na sua lógica esses valores puramente abstratos pretendem transformar os outros em objectos, tudo numa coerência funcionalista, num clima social de valorizações e avaliações que no fim de contas serve sobretudo a classe dominante.

A cultura é deixada ao desbarato da decadência e ao desgaste dos ares do tempo.  A educação para a humanidade e para a paz não pode continuar a manipular o ensino tal como fazem os regimes que dão mais importância ao domínio da Universidade, da escola, dos média, que aos bancos (estes são transversais e comuns a todos os regimes não podendo ser anulados, apenas nacionalizados), porque sabem que aquele é que permanecerá como estabilizador do sistema.

A educação frisa a pessoa e a sociedade! Como podemos querer pessoas humanas e uma sociedade solidária se não entendemos nada do que está a acontecer com a educação escolar e social?

Educar para a paz é educar para a transformação, nunca para a confrontação porque a transformação pressupõe a transversalidade dos polos (extremos).

Penso que uma ótima maneira de encontrar apoios para o processo da própria transformação será dialogar com a natureza, entrar num templo e aí, sem ouvir ninguém, entrar-se numa de intuição, deixando o coração transcender e dizer: “Tu estás aí, eu estou aqui, no nós estamos juntos a fazer caminho”. Nesse estado, poder-se-á, mais facilmente, entrar em contacto consigo mesmo, através do silêncio, da natureza, do ouvir o mar e o respirar da montanha na transversalidade dos nossos sentidos. Então poderá iniciar-se uma transformação interior que primeiramente poderá criar um sentimento de dissidência para mais tarde se poder respirar o universo em nós, a humanidade em nós. Nessa atmosfera se nota também o emperramento em nós mesmos e as incongruências com o mundo das ideias ou intenções e propósitos que vinham de fora (expectativas) e não de nós! Então, pelo menos por alguns momentos, dar-nos-emos conta, da necessidade em nós, de sermos sujeitos e não objectos. Então dar-nos-emos conta do perigo de nós mesmos e da família sermos reduzidos à prática do eu penso, quero e compro; dessa distância poderemos observar o modo como somos sorvidos pela atracção do espírito do tempo na enxurrada social.

Então, quando me transformo já não me encaixo neste modo de viver social, mas como a transformação não pode ser alcançada sozinha, presto atenção a com quem vou. Aí mais sentirei a necessidade de criar ou me integrar numa comunidade própria.

Precisamos todos de uma interajuda mútua e autêntica. Isto pressupõe experienciar-se a si próprio, interna e externamente, e não menosprezar a actuação; essa entreajuda não se dá tanto como ajuda a alguém, mas como um ajudar-se a si próprio a experimentar o outro e a si próprio em comunidade.

Na sociedade civil as relações movimentam-se entre grupos de interesses em que cada grupo normalmente trata de proteger os bens/interesses da própria sociedade ou grupo. Como cada organização, cada partido, luta para a sua comunidade, a solidarização grupal impede, geralmente a solidariedade geral, porque lhe falta o interesse comunitário (cofunde-se a defesa do bem do grupo com o bem comum). Isso não implica que se recuse a homogeneidade entre os grupos.

Por isso uma sociedade solidária necessita de uma formação não só a nível de indivíduo e de sociedade, mas sobretudo a nível de pessoa e de comunidade!  Para uma educação para cidadãos adultos e consequentemente para a paz, não chegam os dados sociológicos nem as leis; para isso é necessária a vida transmitida pela filosofia, pela ciência e pela religião!

Cito de um autor desconhecido: “Não importa o tamanho do primeiro passo, mas sim em que direcção ele vai”. Para chegarmos à redescoberta da pessoa, da dignidade individual de cada um poderia ajudar um processo maiêutico de educação, como queria Sócrates como método filosófico para chegar ao saber.

António CD Justo

Teólogo e pedagogo

©Educação, in Pegadas do Tempo

 

  •      (1)  Em grande parte, encontramo-nos envolvidos num ensino e num discurso público enganadores! Fala-se de educação, querem-se mudanças, mas apenas de discurso: repudiam-se ovelhas e pastores, para os substituir por súbditos e tecnocratas (estes vestidos com a pele de ideias abstratas). Na sequência segue-se um ensino baseado em ilusões na peugada de convicções ideológicas ou de ideias gerais.
  •      (2)  Necessita-se de uma aprendizagem que dura toda a vida como resposta a um chamamento de fidelidade a si mesmo e à comunidade, tudo envolvido, a caminho numa pedagogia libertadora reflectida, num pensar e agir a vida a partir da pessoa, do povo (que não dos interesses corporativos), ou seja, a partir de Deus.

NOTÍCIAS NEGATIVAS ATRAEM MAIS A ATENÇÃO

O Abuso com as más Notícias nos Media

António Justo

As pessoas reagem mais fortemente às más notícias do que às boas notícias, segundo confirma um estudo da universidade de Michigan, na revista científica “PNAS” (1).

Os resultados oferecem a demonstração transnacional  (experimentação feita em 17 países e 6 continentes) mais abrangente dos preconceitos de negatividade até ao momento, mas também servem para destacar uma variação considerável em nível individual na capacidade de resposta ao conteúdo de notícias”.

As notícias negativas atraem a atenção do humano deixando mais rastos no seu caminho; também por isso os  jornais e noticiários das TVs se servem de tantas más notícias.

Um ambiente de Media (meios de comunicação socia) diversificado não deveria subestimar o público, deixando-se orientar pela tendência da massa nem por interesses meramente mercantis.

Em geral os “feitores” de notícias e as redacções dos jornais e TV conhecem a psicologia do ser humano. Talvez este, na sua reacção  siga a lembrança ancestral dos tempos em que ainda vivíamos  na selva, expostos a toda a espécie de perigos! Nos tempos primordiais, o perigo viria dos animais e actualmente parece vir do próprio homem.

Por isso reagimos primeira e primariamente a tudo o que pode constituir  perigo ou é negativo: a reacção de medo ou de indignação tornam-se naturais.

O que acontece em muitos Media mostra observar-se  em algumas áreas da arte! Aí faz-se uso do escândalo como método de activar a atenção para o instinto, reagindo por primeiro a emoção em alarme de defesa ou de ataque contra algo. O medo e os problemas da herança passada encontram-se presentes em todos nós, mas, por vezes, compensámo-los noutros sectores da vida do dia  dia!

Um grande abuso e injustiça a que hoje assistimos e em que somos envolvidos  é a tendência de filmes e de agências noticiosas para se fixarem no negativo da História ou de acontecimentos; deste modo manipulam a consciência de massas indefesas que não têm, muitas vezes, pré-informação suficiente de assuntos complexos apresentados de maneira a serem compreendidos só a preto e branco.

No “ar do tempo” que nos envolve tudo se fixa no negativo, numa atitude de autodefesa,  talvez para irmos tendo a sensação, como o homem primitivo, de que o perigo vem de fora; ao registarmos que o perigo está fora ficamos com a sensação que nos encontramos acolhidos em lugar seguro!

Precisamos de uma cultura da benevolência e da esperança que não abuse do medo nem do instinto primário. Ao continuarmos a mesma estratégia de in-formação pela negativa somos levados a viver num cenário de ameaça, com o perigo de assumirmos a  a atitude do melro que no jardim vai picando a terra para descobrir a minhoca que quer comer e, a cada bicada que dá, levanta a cabeça, olhando à esquerda e à direita, antes de se atrever a nova bicada.

O medo e o perigo movimentam em nós mecanismos de defesa que, por vezes fomentam a necessidade de  controle de tudo e de todos! O medo e o prigo, criam em nós o inimigo e fomentam o outro como adversário.

Em tempos sentidos perigosos  mais atenção é dada à negatividade. O bem que fazemos (optimismo) passa desapercebido e o mal fica no horizonte da observação (pessimismo). Uma criança que não sentiu o calor do coração humano num regaço e uma sociedade determinada pelo egoísmo fixado nas necessidade primárias, é natural que sofram e desenvolvam um horizonte  sobretudo pessimistas e se refugiem  numa atitude de auto-controlo e de controlo social numa cultura virada para a morte!

Qual será o selo branco, a estampagem que nos leva a caminhar em direcção contra o sol e nos leva a ver a realidade do que nos envolve, dentro da própria sombra? A falta original já foi remida; seria agora a hora de começarmos a andar em direcção à luz!

António CD Justo

Reflexões, Pegadas do Tempo,

A LUTA INTERCULTURAL NUMA TERRA AINDA PATRIARCAL

Israelitas e Ismaelitas lutam por Canaã a terra prometida a Abraão

Por António Justo

A guerra faz-se em nome do bem; a luta é sempre feita em nome do “deus” de alguém!…

O conflito israelo-árabe é, em parte, a continuação das lutas e rivalidades entre as tribos das terras da palestina/arábia; agora tem-se a agravante de nos encontrarmos em período de globalização, o que permite transformar os conflitos regionais (tribais, nacionais) em conflitos culturais de caracter internacional ou mesmo mundial. Hoje como ontem trata-se de uma luta pela posse de identidade, de território e de poder hegemónico cultural-político-militar (ontem operava-se, para isso, em nome de uma imagem de Deus, hoje em nome de uma ideologia e de interesses económicos; ontem lutava-se em nome de Deus, hoje luta-se em nome da democracia/povo (valores ocidentais) e no mundo árabe em nome de Alah). O jogo de ontem, como o de hoje é o mesmo, só algumas regras mudam. Cada qual usa o seu trunfo na tentativa de ganhar o jogo, seja a pretexto de tribo, de povo, de nação ou de globalismo, as elites encontram sempre um caminho e um “deus” que o justifique). De observar também que enquanto na África se luta pela identificação no sentido de formar “nações”, na Europa  domina a tendência para voltarmos a um tribalismo que justifique um poder universal hegemónico:  enquanto na África se luta pela identificação cultural na Europa luta-se pela desformatação (desidentificação) cultural e contra os valores que enformaram a cultura europeia e ocidental.

A História testemunha a evolução de sistemas patriarcais (tribais), para sistemas de povo (povo judeu que conseguiu, à luz do Antigo Testamento, a sua identidade em torno do monoteísmo: deus da identificação de Israel (1) que se tornaria depois com Jesus Cristo no Deus pai de todo o ser humano e de todas as nações). O busílis da questão é que um Deus único não discriminaria pessoas nem nações, ao contrário do que a “evolução” quer demonstrar! O que se passa é uma guerra cultural,  uma guerra de raiz de identificações culturais transformada subtilmente numa guerra política intercultural semítica que se poderia tornar no preâmbulo de uma futura guerra mundial entre culturas (A África continua a ser uma zona politicamente vulcânea e a China ainda terá muito a dizer nesta história de competições!). A palestina simboliza a terra das tribos e patriarcas com raízes hegemónicas de Pan-Semitismo, Pan-arabismo, Pan-Asiático, Pan-turquismo (2).

A guerra e guerrilhas entre os povos das terras da “Palestina” é milenária como se pode ver da Bíblia (capítulos 16 e 17 do Génesis): as tribos provenientes do Isaac filho de Abraão e Sara (Isaac foi, por sua vez, pai de Jacob/Israel) e as tribos provenientes de Ismael filho de Abraão e da sua escrava Agar. Ismael será o patriarca das tribos árabes (3).  Neste ambiente conflituoso viveram os diversos povos semitas (4) e ele prolonga-se de maneira anónima entre capitalismo e socialismo, ou em nome de um ou do outro!

O conflito tribal afirma-se e parece desenvolver-se em favor dos interesses árabes que, graças a Maomé, sob a bandeira de Alá reuniu as diferentes tribos descendentes de Agar dando-lhes assim autoconsciência e possibilitando-lhes a identidade cultural árabe em torno da religião e da língua. Quanto a Jerusalém sempre foi cobiçada por diferentes potências e culturas: “Jerusalém” é símbolo e meta que une todos os povos nas suas lutas pela sua posse!

Nesta eterna guerrilha (já que com guerras se criam períodos históricos mais estáveis) tudo se move em torno de interesses de lutas cultuais a pretexto de territórios (datas, mapas e identidades) e de direitos humanos de um lado e culturais do outro.

Enquanto não houver um pacto de paz entre culturas, religiões e os representantes das mesmas, o povo (e seus alegados valores e interesses) continuará a servir de alibi para benefícios das instituições culturais e dos seus líderes.

Nesta luta localizada e concreta a responsabilidade é global, não só bilateral. A nível imediato a autodefesa de Israel e do seu povo é prevalente e não comparável com uma palestina em que o Hamas quer impor um estado policial.

A polarização num conflito tão opaco não pode ser reduzida aos polos de quem está certo-errado ou do bem e do mal como querem os que pretendem que o conflito continue; para isso querem uma realidade pincelada a preto e branco. As opiniões tornam-se monocolores, embora a questão tenha muitos matizes.

Enquanto na palestina se continua a lutar com métodos da guerra antiga na europa encontramo-nos envolvidos numa guerra moderna de conquista de cérebros e de mentalidades; serve para isso as armas da propaganda e da informação a ser feita com elementos altamente comoventes. O discurso altamente emocionante e polarizado corresponde, na nossa sociedade, aos estilhaços das bombas dos velhos campos de batalha. Um povo alarmado perde a cabeça sendo dominado pelo medo e quem ganha são os poucos generais de um globalismo anónimo!…

No campo de batalha israelo-palestinense estão em jogo duas coisas: os interesses de Israel (5) e os interesses do Islão; quanto ao povo esse encontra-se irmanado no “lameiro” dos valores. Deste modo a situação quer-se confusa e dificilmente se pode mediar e ter um efeito moderador, atendendo a tantos interesses conflituosos, no âmbito regional e internacional. Da traição dos acordos, fica a solidão da vida.

Se Israel não estivesse tão armado uma coisa seria certa: o mundo deixaria as coisas seguirem o seu ritmo. Independentemente da geografia e dos regimes, o que o povo espera é pão e paz!

Para muitos dos portugueses é doloroso o que tem acontecido na região, até porque todos nós portugueses temos uma costela judia e outra árabe. Já Jesus, que vivia naquela região, dizia para não se resistir aos maus, mas para os evitar.

O povo é o chão das guerras por onde passam e bem se passeiam os que fazem uso delas!

© António CD Justo

Pegadas do Tempo

  • (1)  Golda Meir, Primeira Ministra Israelense: -“Nunca aceitei a ideia de que o povo judeu é o povo eleito por Deus. Parece-me mais razoável acreditar que os judeus foram os primeiros na história a eleger Deus – e isso foi uma ideia realmente revolucionária”.
  • (2)  A Wikipédia diz: Pan-Semitismo é o nome dado a dois conceitos políticos diferentes, cada um dos quais pode ser atribuído a judeus e árabes, ambos chamados povos semíticos.          A visão de Mosheh Ya’akov Ben-Gavriêl, que defendia a unificação de todos os povos semitas como precursora de uma confederação fraternal de povos asiáticos (Pan-Asiático), foi adoptado pelos judeus que em 1948 tinham sugerido o estabelecimento de um Estado binacional da Palestina em vez de um Estado judeu de Israel, e que continuaram a defendê-lo durante as guerras subsequentes. Isto vem de uma ideologia ou visão pan-árabe da história, que (semelhante à teoria pan-turca) se apropria das civilizações avançadas semíticas do Antigo Oriente Próximo – Akkad, Assur, Babilónia, Fenícia, mas também os Arameanos – como pré-árabes ou árabes do Norte, especialmente porque (de acordo com a visão tradicional) todas as tribos semíticas tinham surgido do interior da Arábia em tempo passados.
  • (3)  Árabes e Judeus são povos da mesma família chamada semita (os chamados descendentes de Sem, filho de Noé, e da linha da descendência de Abraão. Interessante que os principais apoiantes das organizações terroristas islâmicas radicais não são árabes mas sim a Turquia e o Irão: os Mullas estão prontos a lutar até ao último judeu.
  • (4)  Repetem-se os tempos bíblico em que os filisteus (povo de Canaã, politeístas vizinhos dos israelitas) eram inimigos dos israelitas. Segundo a Bíblia os filisteus ter-se-iam originado de Casluim, o qual teria sido um dos filhos de Mizraim, patriarca dos egípcios, e neto de Cam. Ainda, segundo Gênesis 19.30-38, deu-se origem o povo Moabita através de um incesto, promovido pela filha mais velha de Ló, sobrinho de Abraão, logo após a destruição de Sodoma e Gomorra. … Elas embebedaram o pai e conceberam cada uma, um filho do próprio pai.https://www.google.de/search?q=filisteus+sao+descendentes+de+quem&source=hp&ei=J5qjYOitDtGKlwT3lI-ACw&iflsig=AINFCbYAAAAAYKOoNw-30Axq4iwF02_JU3W1wksfOJl0&oq=filisteus&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYAzIECAAQEzIECAAQEzIECAAQEzIECAAQEzoICAAQsQMQgwE6AggAOggIABDHARCvAToLCAAQsQMQxwEQowI6BQgAELEDOggILhCxAxCDAToFCC4QsQM6CwguELEDEIMBEJMCOgUILhCTAjoHCAAQsQMQCjoMCAAQsQMQChBGEPkBOgQIABAKOgQIABAeUNoQWO4sYMp1aAJwAHgAgAFwiAHpBpIBAzUuNJgBAKABAaoBB2d3cy13aXqwAQA&sclient=gws-wiz
  • (5)  O Estado de Israel foi fundado por uma decisão da ONU e foi invadido no dia da sua fundação por exércitos de Estados islâmicos vizinhos. Também, em 1967 Israel foi atacado e como reacção recuperou vários territórios, dentre eles, Jerusalém Oriental (Guerra dos 6 dias). O objectivo das guerrilhas do Hamas e do seu braço político, rival da Fatah do Presidente Mahmoud Abbas na Cisjordânia, é o extermínio de Israel, negando-lhe o direito à autodefesa. Outros artigos: Um Beco sem saída: https://antonio-justo.eu/?p=5400; ANTISSEMITISMO – UM CARCINOMA: https://antonio-justo.eu/?p=4499 ; União antissemita alarmante entre extrema esquerda e extrema direita: http://antonio-justo.blogspot.com/2019/10/documentacao-sobre-o-odio-aos-judeus.html?m=1

O que a Terra não dá, promete a Ideologia: https://bomdia.eu/o-que-a-terra-nao-da-promete-a-ideologia/ Das conquistas geográficas para as conquistas ideológicas: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/das-conquistas-geograficas-para-as-conquistas-ideologicas

 

 

 

CURSOS DE PORTUGUÊS

POSSIVEL CRIAÇÃO DE CURSOS DE AULAS DE PORTUGUÊS EM KASSEL, AROLSEN, BAD WILDUNGEN, SACHSENHAUSEN, HESSISCH LICHTENAU, etc. QUEM ESTÁ INTERESSADO?
Mínimo de participação por curso: 12 alunos
A responsável pelo ensino de português no Estado do Hesse, Dra. Maria Cristina Arad, contactou-me dizendo que haveria disponibilidade da Coordenação Geral do Ensino da Embaixada para a possibilidade de criação de cursos de aulas de português na região Norte Hessen (Professor seria enviado pelo Instituto Camões).
Sugeriu que se fizesse o levantamento dos possíveis alunos e possíveis localidades para um arranque dos cursos.
Para a abertura de um curso são necessários 12 alunos. Nestes doze podem estar incluídos vários níveis de aprendizagem. A divisão e o agrupamento serão decididos depois, conforme os casos concretos e competências de cada um.
O coordenador do ensino na Alemanha, Dr. Rui, também disse que os pais podem e devem fazer sugestões em relação à escola que preferem; no entanto, a decisão fica sempre dependente da colaboração com as autoridades alemãs que terão que ceder as salas.
Importante é que em cada terra haja alguém que recolha uma lista de possíveis alunos para se desenvolver uma estratégia.
Em Schsenhausen a Gaby Mourão já começou a fazer o levantamento e em Bad Wildungen prontificou-se o Elísio Silva. Seria bom que noutras terras surgissem pessoas prontas a fazer o levantamento para depois poderem combinar a melhor maneira de organizarem os contactos oficiais.
Não se esqueçam que a língua é a nossa pátria; outros dizem que “a pátria de cada um de nós é a infância”. É importante estarmos preparados e termos assas para, querendo, podermos voar ao sabor de qualquer vento!
Se necessitarem de outras informações para já digam!
Também há possibilidade de contactos directos com Wiesbaden ou com Berlim. Atendendo a que são diferentes cidades a fazerem o levantamento seria bom que depois fosse, entre elas, determinado um dos pais ou encarregado das zona a ficar com a incumbência dos contactos com Wiesbaden e com Berlim! Para já trata-se de saber se há interesse e suficientes participantes.
Agradeço que enviem esta notícia a possíveis pessoas de contacto nas diferentes zonas!
Em breve colocarei aqui o link onde podem ser lidas as informações em relação aos cursos (propina, com os devidos descontos para situações com mais do que um aluno por família ou casos específicos de situação financeira, certificação de aprendizagem, manuais escolares, etc.).
Um abraço amigo
António CD Justo
Pegadas do Tempo

DIA DE PORTUGAL – Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas

Reaprender a ser português

De celebração em celebração vamos empacotando os símbolos vivos da nação, na banalidade da rotina factual comemorativa, como se tratasse de sardinhas embrulhadas em folhas de jornal. Festa de desobriga com golfadas de incenso para o corpo de uma nação quase sempre moribunda.

A 10 de Junho de 1580 morre Luís de Camões, o Homem que cantou o alvorecer e expandir de Portugal. Camões conseguiu, na sua incomparável epopeia “Os Lusíadas”, imortalizar o espírito português. “Os Lusíadas” tornaram-se o livro da identidade portuguesa. Identidade esta, com o tempo desbotada pelo sol desgastante da ideologia e pelas ondas enleantes das revoluções. Camões é o símbolo de um Portugal caminhante que tem de descobrir mundo para se ir realizando através da história.

Os descendentes dos Homens-bons afirmam que, à morte de Camões, Portugal também morreu. Seguramente, uma afirmação certa no que respeita à classe política dos governantes de Portugal. Esta já não entende Camões nem entende a alma portuguesa, hoje residindo no borralho das cinzas do povo. Um governo “fraco torna fraca a forte gente…” escrevia aquele visionário que ao morrer terá dito Morro com a Pátria”! Este vaticínio

Não, Portugal não morreu. Só morrerá quando deixar de possuir aquilo que o criou, ergueu e tornou específico: a fé e a coragem. A grandeza de Portugal foi construída à sombra do cristianismo. O povo assumiu a missão cristã tornando-a sua. Pátria e fé eram uma coisa só, era então Portugal. O povo sabia conjugar o “heroico” com o “imortal”. Assim, os portugueses descobrem o mundo como missionários da pátria. Com o andar dos tempos perdeu-se o povo e com ele a pátria também. Agora, dela pouco mais resta do que massas à deriva e um Estado de abutres que voam sobre elas.

A obra à nossa frente não será menos arrojada e grandiosa do que a dos descobrimentos. Já não chega uma restauração, é necessária uma nova descoberta. Hoje, os Homens Bons” terão de se lançar à missão de, primeiro, descobrir o povo e a pátria, na redescoberta do cristianismo e da energia lusitana que nos deram rosto! Isto se não pretendermos continuar a ser um país a viver, geralmente, de mão estendida e na dependência das maresias de fora!

Para ressurgir terá de descobrir “mares nunca antes navegados”. Terá de ultrapassar a “Taprobana” do materialismo institucional estatal e religioso. Terá de, como os nossos “egrégios avós”, possuir a coragem de se lançar no fluxo da vida, arriscar e ousar “pecar corajosamente” para abandonar as certezas dos “Velhos do Restelo” que, agarrados às velhas ideologias materialistas, fizeram o 25 de Abril, embrulhando, com elas, um povo inteiro. Filhos da escrava, da russa Agar, da gálica Libertas, continuam a enxovalhar, inconscientes, a grei.

Portugal, desembrulhado, voltará a descobrir-se povo e então redescobrirá a missão que o levará à vitória sobre o nevoeiro estranho que embacia o cérebro das nossas elites e tolhe a vida moura do país.

Então, alijará as formas mecanicistas do seu pensar para poder proporcionar o salto quântico da nova física, a nova consciência. Uma nova mundivisão, surgida já não de revoluções de interesses oportunos e subjugadores, mas dum impulso genuíno de verdade, dum desejo de liberdade criadora e universal.

Não teremos a ajuda dum infante D. Henrique que concatenou então saber e engenho e energia universal. Seremos ajudados por um processo paulatino desformatizador das formas do medo, do ganho, da avidez e do poder. O sofrimento e o desespero duma natureza cada vez mais atrofiada despertar-nos-á para uma nova criatividade, um novo pensar. Então sonho e realidade serão as formas do mesmo pensar. Então seremos tão livres que não saberemos onde a liberdade começa nem acaba. Então navegaremos à tona do mar como se esta fosse o seu fundo! Descobriremos no céu do horizonte novos mundos com caminhos diferentes. Nesse mundo da nova consciência a dignidade já não é apenas humana, passa a ser natural!

No novo mar português, o Povo já não descobre; ele pode criar porque a nova cultura já não é poder nem ter, mas sim relação.

Até lá vamos rasgando a cobertura das ideologias do céu português. Das aberturas surgirão novas auroras e do céu baixarão as cores do arco-íris. Então todas as relações e ligações serão libertadoras e benditas porque, entre uns e outros, deixará de haver muros, para nos delimitar chegarão apenas as cores do arco-íris.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

Publicado a 10.06.2009, in Moçambique para todos: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/