VATICANO TRAVA A PROTESTANTIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA NA ALEMANHA

Comissão sinodal permanente pretendia o Primado político sobre o espiritual

O Vaticano dirigiu uma carta dura (16.02) à Conferência Episcopal Alemã impedindo os bispos da criação de uma Comissão Sinodal permanente. Este seria um órgão supremo de governo das dioceses alemãs. Nele bispos e leigos teriam paridade de voto; na prática a Comissão permanente sobrepunha-se ao múnus episcopal e desta forma anulava a função petrina declarada no Evangelho. Indiretamente corresponderia à institucionalização de uma igreja nacional que levava a Igreja Universal a um Beco sem Saída ou a criar-se um cisma.

A votação dos estatutos estava prevista para a conferência episcopal reunida de 19 a 22.02 em Augsburgo. Após a intervenção vaticana aquele ponto foi retirado da ordem de trabalhos. Para Dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal, a proibição expressa pela instrução da Santa Sé foi, no dizer dele, “um soco no estômago” obrigando-o a tirar da agenda o ponto relativo ao Conselho Sinodal!

Com a criação de uma comissão sinodal nacional alemã, que transformaria a função dos bispos em executores das determinações daquele órgão, seria introduzido na Igreja Católica o processo de sua protestantização pela porta do cavalo!  À pressa e sem esperar pela reunião da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos em Roma no mês de outubro de 2024, a Conferência episcopal alemã queria antepor-se a Roma. No caso será de dizer “Roma locuta causa finita”! Uma Alemanha, que está mais focada na mente do que no coração, queria aproveitar a oportunidade de influenciar melhor o mundo através de processos rápidos. No cristianismo, o protestantismo está mais focado na mente – uma característica de caracter mais nórdica – e o catolicismo está mais focado no coração (atitude) – uma característica mais acentuada no Sul! Numa época em que o sul global se encontra em desenvolvimento corresponderia a uma falta de visão continuar a afirmar o racionalismo nórdico como a única forma de orientação.

O movimento reformista pretendia introduzir decisões que estavam fora do direito canónico, de modo a que a igreja local (alemã) tomaria decisões determinantes do próximo encontro do mundo católico em Roma. Tal antecipação viria criar divisões desnecessárias nas decisões a tomar no sínodo mundial em novembro. Então haverá posições importantes a decidir como o diaconado para mulheres com um clero de caracter misto, segundo consta de pessoas próximas ao Pontífice Francisco. É melhor um pássaro na mão do que dois a voar!

Mesmo em termos progressistas esta medida corresponderia a colocar o carro à frente dos bois porque o primeiro passo normal seria a liberalização do celibato e a criação do diaconado para mulheres e, assim, incluir as mulheres no clero.

Seguir à risca o caminho sinodal alemão, com o seu objetivo de estabelecer um “Conselho Sinodal” como alternativa à conferência episcopal da igreja católica na Alemanha, significaria uma rotura substancial na estrutura orgânica institucional da igreja global porque colocaria um grupo acima dos bispos, muito  embora com os bispos (vinculando as suas decisões a um grupo formal); deste modo se  criaria uma igreja paralela como já foi o caso do protestantismo alemão do século XVI e que levaria a mais uma rotura dentro da Igreja provocada pelo pensar alemão sobre o pensar e sentir latino e à margem da missão espiritual do Evangelho.  O sector político-social democrático queria aqui impor-se sobre o caracter da comunidade de fé, e provocar assim o abandono da teologia e da tradição para se dar uma sujeição à sociologia e a um espírito do tempo que passam como outros anteriores passaram (dados estatísticos sobre a convicção e vivência individual). Este seria um passo de subjugação ao secularismo quando hoje mais que nunca se precisa do discernimento para poder dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

A Igreja católica é universal e grande modelo até para as estruturas políticas a nível global. Também por isso, a Igreja e a sociedade devem distanciar-se da absolutização do racionalismo ocidental para se tornarem abertas a visões mentais não científicas e a mundivisões de outras civilizações de caracter menos racionalistas. Essa fixação exige comportamento autoritário e desumano. Também deveria ser permitido não questionar tudo de acordo com as regras geralmente aplicáveis (aqui a esquerda teria bastante para recuperar!). Isso abre a oportunidade de adquirir conhecimento e a capacidade de ver e discutir além das fronteiras disciplinares ou de sistemas.

A criação de um Comité Sinodal nesta forma alemã tornar-se-ia num assunto demasiado sério em termos de doutrina! O tema celibato e a clericalização de mulheres são temas marginais em termos de doutrina eclesial se os compararmos ao do Comité Sinodal.

Nota-se a tendência para, no sentido socialista marxista, se acabar com o conceito de comunidade espiritual cristã e substituí-lo pelo conceito coletivo secular, a caminho de uma sociologia sem teologia! Os problemas sérios que hoje se manifestam entre bispos católicos alemães e o Vaticano são uma amostra em ponto pequeno da luta cultural em que nos encontramos hoje no mundo secular de maneira sub-reptícia a nível político de luta entre civilizações e ideologicamente entre socialismo e capitalismo.

Não seria católico identificar sinodalidade com democracia dado o Conselho Sinodal ficar então reduzido a um processo de luta de interesses ou de processos burocráticos (segundo o modelo legislativo secular) com poder de ordenar também em questões de fé.

Deixar-se-ia de compreender a função da teologia e o envolvimento teológico-sociológico na sociedade e na Igreja. O diálogo e a  discussão teológica ao longo dos tempos, foram as melhores formas de possibilitar a integração dos sinais dos tempos na pastoral sem perder o caracter individual da fé enquanto a nova criação se revela como um nascimento de cabeça submetendo o magistério da igreja  a ordens e orientações de caracter administrativo e sociológico, à margem da espiritualidade, da fé e da moral.

Dar-se-ia a subjugação do múnus divino ou o plano da missão da mensagem evangélica ao múnus humano (plano de caracter democrático secular). Cristo e o Espírito Santo são os constitutivos e não as visões profanas que vao aparecendo no decorrer do tempo. O Comité sinodal, seria uma contradição porque como bem resume o cardeal Gerhard Ludwig Müller “não pode em princípio anular o ofício sacramental do bispo, os presbíteros/sacerdotes e os diáconos”. De facto, a igreja eclesial universal não pode ser sujeita a visões regionais ou ao politicamente correcto, nem tão pouco ao “sexismo ateu, ao sexualismo, ao pensamento «woke», ao transumanismo ou à religião climática apocalíptica”, como adianta o cardeal conservador.

O “comité sinodal” coloca exigências contra a unidade da Igreja fundada por Pedro. A sua institucionalização teria como consequência uma divisão do catolicismo na própria Alemanha entre uma elite de obediência mais modernista que espiritual – uma igreja de funcionários e activistas – e uma grande maioria dos católicos alemães interessada na espiritualidade católica; tal criação corresponderia a uma luta cultural interna no seguimento de Lutero com a consequência de assistirmos então a uma secularização sem teologia. O fundamento da Igreja é espiritual e um sistema político, a sociologia e a psicologia não podem, como pretende o espírito marxista acabar com a espiritualidade e com a teologia. A mensagem evangélica não pode ser submetida a dados meramente sociológicos

A igreja oficial alemã – em regime económico de simonia – não pode pretender ser modelo para outros povos porque a nível institucional sofre de funcionalismo e de uma atitude demasiadamente abstrata.

Também não é de estranhar que isto aconteça numa Alemanha onde um bispo com um ordenado de “funcionário “de 11.000 a 13.000 Euros mensais possa ser levado a um estilo de vida demasiadamente comprometida com a política e com o espírito do tempo.

Ainda recordo com tristeza a imagem do cristianismo dada pela atitude do Cardeal Max de Munique aquando de um encontro com representantes muçulmanos no Médio Oriente tirou a cruz do seu peito para não ferir suscetibilidades muçulmanas.

A impressão que tenho dos muitos anos de vida na Alemanha e da admiração pela cultura alemã é um misto de tristeza e de resignação ao ter de constatar que a própria Igreja católica alemã sofre e vive dentro dela a luta iniciada por Lutero e que corresponde a uma luta entre o espírito germânico e o espírito latino e na tendência a uma luta entre marxismo e cristianismo. O triste da situação é o facto de o secularismo se afirmar no sentido marxista e servir-se até de um ressentimento protestante contra o que é romano-católico quando as duas igrejas nas suas diferentes maneiras de estar constituem uma expressão certamente enriquecedora do mundo cristão!

O caminho sinodal perderia o seu significado e sentido se levasse a Igreja a um beco sem saída porque falha o aspecto da missão Petrina da Igreja e afirma o aspecto orgânico sobre o espiritual!

Membros da Comissão Sinodal não bispos expressaram a sua oposição à intervenção de Roma e pretendem que os bispos enfrentem Roma de maneira a se tornar um conflito aberto entre a Conferência Episcopal Alemã e o Vaticano e isto em nome de uma cumplicidade recíproca dado muitos bispos serem pelo curso reformista. Esta estratégia já foi seguida por Lutero contra Roma quando Lutero sabendo ser apoiado por parte da nobreza alemã e do povo que pagava o contributo para Roma; hoje os reformistas radicais sabem-se apoiados pelo espírito do tempo e por um engarrafamento de reformas. Também o Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK) financiado pelas dioceses alemãs (que recebeu 2,522 milhões de euros em 2020 (2) se mostra descontente com a proibição de Roma.

Na Alemanha chega-se a ter a impressão que na verdade “o dinheiro governa o mundo” e este espírito parece dominar cada vez mais principalmente o mundo anglo-americano.

A lealdade devida à mudança deve também implicar lealdade à fé e à Igreja. E comprometer-se com uma igreja com futuro não significa apenas a afirmação da crença em valores abstratos apresentados e representados por um grupo formal.

O argumento apresentado de que “não há credibilidade para os valores fundamentais que a Igreja defende” não se resolve só com medidas burocráticas ou de adaptação à expressão momentânea da sociedade, pois a acção do clero e dos leigos transcende a ordem político-democrática.

É preciso mesmo remodelar algumas coisas dentro da Igreja, mas dentro do evangelho e da fé. O catolicismo alemão marcado por uma cultura democrática tem de entender os limites que também a democracia tem e o erro que pode ser seguir votos maioritários.

A Alemanha não precisa de mais um grémio sinodal, dado já possuir o ZdK que reúne agremiações católicas de toda a Alemanha.

Representantes do Conselho Sinodal têm medo de serem marginalizados e por isso procuram ganhar os bispos alemães e o ZdK para a sua causa. Em questões doutrinais não se deve tratar apenas de um acto mental de convencer uns ou outros ou de coacções como é normal em política. A convicção de que o evangelho continuará sempre a ser convincente não justifica a tentativa de desmontar a estrutura católica porque dentro dela há a possibilidade de agrupamentos de espiritualidades variadas e específicas. 

O projecto alemão tem também inspirações ricas para a pastoral, necessita, porém, de uma atitude construtiva e em consonância com a fé católica e com a Igreja global. Os alemães tomaram a sinodalidade demasiado a sério ordenando-a na perspectiva de baixo para cima mas isso nem em democracia é possível.

A frase apresentada como argumento de que os bispos devem ser guiados pela lealdade aos crentes, revela uma compreensão estranha e meramente mental política do cristianismo já fora da sua atitude individual espiritual como se tratasse de uma comunidade de votantes!

A intervenção da Santa Sé não pode ser reduzida a uma interposição de caracter jurídico ou burocrático pois a preocupação base do que está em causa é a fé e o magistério da Igreja. A fé é o substrato que deveria ser comum para possibilitar um diálogo argumentativo de caracter mais pastoral sem questionar fundamentalmente a jerarquia eclesial. Doutro modo cria-se um poder estrutural ao lado do outro e em que se coloca o primado político sobre o espiritual. O diálogo com os críticos não significa igualar as posições à margem de um diálogo de crentes e como tal sem diferenciação de competências a nível de decisão numa mesma responsabilidade compartida. Precisa-se de um Caminho Sinodal da igreja que no espírito do evangelho se escute a si mesma antes de escutar o apelo do mundo.

Também Jesus foi tentado no deserto pela voz do mundo, mas não se deixou levar pela sedução do abuso do próprio poder, nem da sua proximidade com o poder político nem da elite intelectual (escribas e fariseus).

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

Pegadas do Tempo

 

(1) Carta do Vaticano de 16.02.2024 ao bispado alemão : https://www.domradio.de/glossar/brief-aus-dem-vatikan-die-deutsche-bischofskonferenz

https://www.synod.va/content/dam/synod/news/2023-12-12_towards-2024/POR_Documento_ATE-OUTUBRE-DE-2024_XVI_II-Sessao.pdf

“A aprovação dos estatutos da Comissão Sinodal seria, portanto, contrária à instrução da Santa Sé emitida por mandato especial do Santo Padre e representaria, mais uma vez, um facto consumado”. A Igreja na Alemanha não estava autorizada a estabelecer um órgão de governo conjunto composto por membros leigos e clérigos. A Comissão Sinodal seria, portanto, contrária à instrução da Santa Sé. De 19 a 22 de fevereiro, será realizada em Augsburg a Assembleia Geral da Conferência Episcopal Alemã (DBK), na qual serão votados os estatutos da Comissão Sinodal. (1) O parágrafo 5 da referida resolução oficial define o Conselho Sinodal como um “órgão consultivo e de decisão” que aconselha “sobre acontecimentos significativos na Igreja e na sociedade” e “nesta base toma decisões fundamentais de importância supradiocesana sobre planeamento pastoral, questões futuras da Igreja e questões financeiras e orçamentais da Igreja que não são decididas a nível diocesano…

Advertência vaticana em 2023:  https://www.domradio.de/glossar/brief-aus-dem-vatikan-die-deutsche-bischofskonferenz

(2) A assembleia geral do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK) tem cerca de 230 membros. 97 membros são eleitos pela Associação de Organizações Católicas na Alemanha (AGKOD), 84 membros vêm dos conselhos diocesanos e 45 membros são eleitos individualmente.

VALE A PENA LER!

Coloco aqui este texto de Francisco porque me identifico com ele no pormenor e na totalidade!
“Você pode ser defeituoso, ansioso e às vezes irritado, mas lembre-se que a sua vida é o maior negócio do mundo.
Só tu podes impedir que ele decline.
Muitos são aqueles que te valorizam, te admiram e te amam. E vc não sabe, mas há pessoas pra quem vc é especial
Gostaria que você lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhar sem acidentes, trabalhar sem cansaço, relacionamentos pessoais sem decepções.
Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no medo, amor na discórdia.
Ser feliz não é só valorizar o sorriso, é também refletir sobre a tristeza.
Não é só celebrar o sucesso, é aprender com o fracasso.
Não é só ter alegria com aplausos, mas sim ter alegria no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que a vida vale a pena viver apesar de todos os desafios, tristezas, desentendimentos e períodos de crise emocional e econômica.
Ser feliz não é um destino, mas sim uma conquista para quem sabe viajar no seu próprio ser.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar ator da sua própria história.
É como caminhar por desertos fora de si mesmo, mas ser capaz de encontrar um oásis no fundo da nossa alma.
É agradecer a Deus todas as manhãs pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É tudo sobre saber falar sobre si mesmo.
Ter a coragem de ouvir um “não” mesmo de quem você ama.
É sobre ter a segurança de receber críticas, mesmo que seja injusto.
É abraçar crianças, acariciar pais, ter momentos poéticos com amigos, mesmo que eles nos machuquem.
Ser feliz é deixar viver a criatura livre, feliz e simples que vive em cada um de nós.
Ser maduro é dizer “eu estava errado”.
Tendo a coragem de dizer ” perdoa-me. ”
É ter a sensibilidade de dizer “eu preciso de você. “
É ter a capacidade de dizer que te amo.
Que sua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz..
Que você seja um amante da alegria em suas fontes.
Que você seja um amigo de sabedoria e paz em seus invernos.
E quando você dá errado no caminho, você começa de novo.
Bem, vocês serão mais apaixonados pela vida.
E você vai descobrir que ser feliz, não é ter uma vida perfeita.
Mas use lágrimas para tolerar água.
Use as perdas para aprimorar sua paciência.
Use fallas para esculpir serenidade.
Use o prazer para afastar a dor.
Use obstáculos para abrir janelas de inteligência.
Nunca desista…
Nunca desista das pessoas que você ama.
Nunca desista da felicidade, pois a vida é um espetáculo imperdível! » Papa Francisco.
Aqui, o Papa Francisco chama todos, independentemente de onde estiverem, fé ou religião, para um momento de recolha, meditação ou oração pela paz. Todo o planeta se une em oração pela PAZ

VIVA A VIDA ENTRE MARÉ BAIXA E MARÉ ALTA

Quarta-feira de Cinzas é também Dia dos Namorados

O fluxo das marés do mar provocado pela Lua é semelhante ao da tristeza e da alegria na psique humana, na consequência do fluxo do amor. A amplitude das marés e dos estados de alma assemelham-se à gravidade do amor.

O amor activa todos os mecanismos de sentimentos positivos no cérebro e na alma e, assim, mesmo em situações escuras, se passa a ver o mundo com óculos cor-de-rosa. A paixão amorosa entusiasma e melhora tudo. Com ela até os inclinados ao pessimismo sentem mais momentos soalheiros e nesgas de sol na própria vida.

Este ano o Dia dos Namorados e a Quarta-feira de Cinzas celebram-se no mesmo dia; a coincidência até poderia parecer ser uma contradição, mas pode tornar-se numa indicação de que a vida é feita de noite e dia e ao mesmo tempo um apelo a pessimistas e optimistas a darem-se as mãos numa dança de vida. No ritmo da alegria e da tristeza sobrevive a música do amor que tudo sustenta.  No crucificado e no ressuscitado se junta a vida completa.

De acordo com uma pesquisa da Bitkom na Alemanha, 59% dos interrogados acham mais fácil flertar na Internet do que na vida real! E em França, segundo a HNA, a proporção de jovens adultos que se abstêm de sexo aumentou desde 2006 de 5% para 28% até agora; e isto porque os de agora preferem ver séries da Netflix.

Para cada vez mais pessoas, a Internet está a tornar-se um mundo substituto. Isso reduz as aptidões sociais e a verdadeira relação pessoal. De facto, o que realmente conta é a verdadeira proximidade humana. Mas, às vezes, esta oportunidade falta e situações de vida também têm em conta uma loucura normal da existência.

Mas a busca pelo sentido real da existência continua válida e a Quarta-feira de Cinzas indica o sentido!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

AGRADECIMENTO – AMIGAS, AMIGOS E FAMILIARES

Na impossibilidade de responder pessoalmente a cada “gratulante” manifesto aqui um obrigado de coração reconhecido. Também para todos vós desejo o melhor. Agradecido a Deus pelo dom da vida sinto-me agradecido a vós também pela alegria que me destes num gesto de transmitir vida também.
Grande abraço e beijinhos
António Justo
QUEM SOU
Um rio, um mar
Um monte, um vale
A Freita no Arda
Ao Douro a chegar
Um casco sem velas
A quilha do convento
No capricho do vento
Só espuma a formar
Sou Arouca no porto
A nação a boiar
Nas ondas de um povo
Sem rumo levar
António CD Justo, in “NAS PEGADAS DA POESIA”, OxaláEditora, 2018
NOITE MINHA AMA
Minha noite querida,
meu escuro à luz do dia,
Nos teus braços agasalho
minhas mágoas da alegria!
Noite que em mim passas,
na procura de um sol que não passa!
Tenho medo da alvorada,
quero em mim soluçar o dia.
Tu és a noite, aquela que é só minha,
a vivência de um sonho que não passa.
Já não durmo, a noite dorme em mim!
António CD Justo
VOCAÇÃO
Verdade e VERDADE
Sou um aprendiz da verdade
A seguir os passos dela,
sempre a andar e a caminho
Toda a vida sem a ver
Um dia a Verdade
Encontrou-me a caminho
E logo me senti dentro dEla,
não na mente, mas no coração!
A mente não gostou
Julgava-se acima dele
E eu já de entre meio
Entre mente e coração
Sou caminheiro da verdade
Na certeza de ela ser Pessoa.
António CD Justo

A CAMINHO DA CONSCIÊNCIA PÓS-HUMANA

Do Contacto com a Inteligência Artificial

Hoje em dia o ser humano está a ser provocado. Essa provocação cria crise e também sofrimento, mas crise possibilita igualmente desenvolvimento. Várias agendas e iniciativas que hoje se encontram  na política e na economia  a interferir directamente na nossa vida individual e social pretendem alienar a consciência humana e expropriar os traços da nossa personalidade e os meios que as sustentam.

Quer-se apagar a memória do passado para no buraco engendrado se criar no cérebro um modus de aprendizagem ambientalmente modificado e assim, a partir de um cérebro tabula rasa, ser mais fácil, através de neuro-informações criar-se uma nova sociologia com um novo tipo de “pessoa”. Deste modo arruma-se com o pensamento crítico dando lugar a sistemas totalitários e a uma cidadania de cordeiros.

Por isso torna-se urgente proteger o nosso cérebro, defendendo a experiência da própria vida passada e orientar a nossa observação para a realidade e as condições/necessidades da vida,  não se deixando monopolizar o próprio cérebro por um discurso meramente mental.

Para não ficarmos totalmente dependentes, é importante não se contradizer a própria narrativa biográfica nem a história da humanidade (embora reconhecendo alguns fracos delas), e para tal pôr o travão às ideias e aos que tencionarem criar um novo ser humano reduzindo a sua visão (consciência) a processos meramente tecnológicos e mentais.

Além disso, os biótopos culturais baseados na tradição (a trilogia Deus-Pátria-Família, que tem sido difamada pelo marxismo, maoismo e globalismo mação), na família e na nação oferecem a melhor protecção possibilitando um desenvolvimento pessoal e social natural e não meramente artificial. É claro que isto não deve impedir uma visão de mundo sempre em tranformação, nem o desenvolvimento de uma moralidade sexual diferente para não se permanecer encerrados em polos contraditório reduzíveis a um maniqueismo dualista  tipo  cidade (polis) contra aldeia. Urge preservar e defender o que é bom, manter-se aberto ao novo e aclarar o progresso, segundo um princípio conservador.

Neste ambiente de coisas mais ou menos complicadas, há semanas, fiz a seguinte pergunta (1) à IA, ChatGPT:

Chegamos a um ponto de desenvolvimento da consciência humana que poderia ser considerado em estado limite, atendendo ao relativismo vigente, à manipulação da informação e da mente e a um desenvolvimento da consciência fora da moral. Que transformações futuras são de esperar na consciência e identidade humana?

E a ChatGPT (IA) deu-me a seguinte resposta: “A questão sobre o futuro da consciência e identidade humana é complexa e sujeita a diversas interpretações. Várias tendências e desenvolvimentos estão em curso, e é difícil prever com precisão como as coisas vão evoluir. No entanto, podemos destacar algumas áreas que têm potencial para influenciar a consciência e a identidade humanas no futuro:

Tecnologia e Integração com o Cérebro: Avanços em interfaces cérebro-máquina e neurotecnologia podem permitir uma integração mais direta entre a mente humana e a tecnologia. Isso poderia levar a mudanças significativas na forma como percebemos a realidade e interagimos com o mundo ao nosso redor.

Inteligência Artificial (IA): O desenvolvimento contínuo da IA pode ter implicações profundas na forma como os humanos se relacionam com a inteligência e a consciência. A criação de entidades conscientes artificiais levanta questões éticas e filosóficas sobre a identidade e a moral.

Realidade Virtual e Aumentada: Avanços em realidade virtual e aumentada podem levar a experiências imersivas que desafiam as fronteiras entre o real e o virtual. Isso pode influenciar a percepção da realidade e, por consequência, a construção da identidade.

    Ética na Tecnologia: À medida que as tecnologias avançam, questões éticas tornam-se mais prementes. A sociedade precisará abordar questões relativas à privacidade, manipulação da informação, e a linha ténue entre aprimoramento humano e perda de identidade.

Expansão da Consciência Coletiva: A conectividade global e a interconectividade constante podem levar a uma expansão da consciência coletiva, onde as identidades individuais se fundem em uma compreensão mais ampla e global da humanidade.

Desenvolvimento da Consciência Pós-Humana: Algumas visões futuristas sugerem a possibilidade de uma consciência pós-humana, transcendendo as limitações biológicas. Isso pode incluir upload de mente, cópias digitais da consciência ou formas de existência além do corpo físico.

    Transformações Culturais e Filosóficas: Mudanças na consciência e identidade também podem surgir através de evoluções culturais e filosóficas. Novas formas de pensamento e valores podem emergir, influenciando a maneira como as pessoas se percebem a si mesmas e o mundo ao seu redor.

É importante notar que as mudanças na consciência e identidade humana serão moldadas pela interação complexa de fatores sociais, éticos, tecnológicos e culturais. O futuro é incerto, e as respostas dependerão das escolhas que a sociedade faz ao lidar com esses desenvolvimentos.”

Fiz a pergunta porque, devido aos sinais dos tempos que carecem de interpretação e pelo que se pode já observar no que acontece e que está a determinar a nossa consciência, encontramo-nos numa mudança axial da história que é crucial pelo facto de nos poder desligar do desenvolvimento até aqui observado através da História. Já se observam iniciativas e tendências no sentido de transformar o humano numa função e a sociedade numa máquina sem que haja alertas suficientes para o que acontece já a nível de consciência humana. Por isso, quer a nível de factos quer a nível especulativo, é, cada vez mais válida a tarefa de acordar a sociedade, mas no respeito do estádio de consciência em que cada pessoa, grupo ou ideologia se encontra, embora com espírito crítico para não deixar o desenvolvimento da nossa espécie e da sua consciência só nas mãos de alguns!

A bússola do nosso pensamento e agir não deve ser apenas determinada por regras, tecnologias e interesses imediatos, mas sim ser complementada por categorias éticas e morais no seguimento do magnetismo divino que lhe confere perspectiva e sustentabilidade. Tentar fazer da humanidade um Olimpo de deuses é missão falhada como nos ensina o comportamento dos deuses do Olimpo no mito grego.

Não se deve fazer do ser humano objecto instrumentalizado, mas sim fomentar sujeitos existencialmente interessados. Diferentes visões do mundo existirão sempre porque o desejo natural de liberdade está ancorado na natureza. O mundo está chamado a desenvolver-se e melhorar-se, mas sempre com as pessoas a bordo. Para tal, a liberdade não deve ser acorrentada em sistemas ou ideologias; ela deve prosperar fora dos sistemas; só assim as oportunidades de desenvolvimento e compreensão permanecem abertas.

A grande missão será tornar as pessoas mais humanas num mundo natural de todos para todos e num mundo social de humanidade transversal. Portanto a tarefa não é adaptar ou destruir a identidade das pessoas, mas adaptar a tecnologia e o saber no sentido de servir as pessoas numa humanidade mais humana, ou humano-divina para a qual aponta o modelo Jesus Cristo. O legado do grande pensador medieval Tomás de Aquino: „Fé, razão e imaginação” continua a ser garante de desenvolvimento em humanidade individual e social.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) As respostas da ChatGPT dependem das informações que há na “nuvem”. Por isso é de grande relevância pessoas tomarem posição na Internet sobre os diferentes posicionamentos porque da sumula do colocado na internet alimenta-se o “cérebro da IA.

Fazer perguntas faz parte da curiosidade genuína, que nos leva a ir ao encontro do outro e do mundo e deste modo à abertura para novas descobertas e aventuras. Ao fazer-se uma pergunta já se entra numa interação. O ser humano cada vez se expressa mais como ser em processo interactivo e interveniente na própria história e na natureza.  

Um outro instrumento que nos ajuda ao desenvolvimento é por um lado a confiança e por outro a dúvida.

As perguntas excitam as nossas mentes e a capacidade intelectual no uso da razão.

Os conhecimentos são adquiridos na observação e na análise das próprias vivências corporais e das realizadas por outros além das vivências espirituais.

A dimensão de massa e a dimensão de tempo no conhecimento levam à dimensão do comprimento. De esperar será o mergulhar no nível espiritual que consistiria a constante de sustentabilidade no desenvolvimento. Naturalmente também este factor não poderia ser equacionado em termos de uma consciência estática.