
D15 – UMA EXPOSIÇÃO PARA ESQUECER!

Os salesianos de Don Bosco permaneceram em Aleppo durante a guerra e durante o terremoto (1) fazendo de Aleppo um oásis para 800 crianças.
O Centro Juvenil Don Bosco de Aleppo também foi um pouco danificado pelo terremoto e agora é o ponto de contato para quem busca ajuda. Mais de 750 pessoas recebem alimentos, assistência médica, cobertores e um lugar para dormir, como informa a revista alemã Dom Bosco (2/2023).
A situação é catastrófica. No início da guerra, em 2011, trocavam-se 50 liras sírias por um dólar americano e hoje um dólar americano custa 7.000 liras sírias, a precaridade é tanta que nem mesmo os alimentos básicos são acessíveis. O relatório do Programa Mundial de Alimentos (PAM) refere que 12,4 milhões de pessoas na Síria, ou seja, 60% da população, passam fome. A situação é extremamente dolorosa principalmente para as crianças; muitas escolas foram destruídas e muitos professores foram levados para o exterior. Do centro salesiano fazia também parte uma escola que foi nacionalizada na década de 1960. Os salesianos esperam do governo a recuperação da sua escola. O Centro Salesiano é um importante foco para a vida cristã em Aleppo.
O padre Gaurie, diretor do centro, diz “nós, Salesianos, estamos empenhados em manter os jovens na Síria”.
De facto, as potências ricas comportam-se como se comportavam os povos colonizadores de outrora, só que de maneira eufemística. Antes traziam os escravos e as mercadorias, hoje trazem os jovens e as riquezas naturais de África. Hoje fala-se muito dos colonizadores de outrora para se fazer esquecer que os mesmos continuam a explorar desumanamente os nativos. Como a política não fala disto o problema é considerado não existir.
Com a sua política de asilo, a União Europeia diz pretender reparar uma política em que se encontra irresponsavelmente envolvida. As potências geoestratégicas em vez de promoverem a paz e investirem na economia de África preferem explorar as matérias-primas de África para importar esta riqueza e ao mesmo tempo importar as pessoas que são vítimas da política mundial e que, como imigrantes, contribuem para compensar a baixa taxa de natalidade europeia e para aumentar a competição no mercado de trabalho.
António CD Justo
Pegadas do Tempo
(1) A Dor não tem Fronteiras: https://antonio-justo.eu/?p=8293
A quarta Revolução industrial vem possibilitar a Simbiose de Socialismo, Capitalismo, Controle social e Vigilância
Agora que o processo da globalização gagueja, o cofundador da Microsoft Bill Gates, o diretor executivo da Apple, Tim Cook, e o diretor executivo da Tesla, Elon Musk, visitaram nas últimas semanas a China em missão globalista. Depois do encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, (16.06.2023) Bill Gates – chefe da Fundação Gates – revelou-se muito satisfeito com as conversações tidas e Xi disse a Gates: “você é o primeiro amigo americano que encontrei em Pequim este ano”. “Sempre depositamos nossas esperanças no povo americano e esperamos uma amizade contínua entre os povos dos dois países”, acrescentou Xi (1).
Como se constata a economia encontra-se empenhada em continuar a determinar o desenvolvimento das políticas conectadas no âmbito de supraestruturas a nível global, no seguimento da doutrina de Davos. Neste contexto, a crise da Ucrânia não passará de um mero episódio histórico na competição selectiva para o apuramento dos global player (jogadores universais) que sincronizadamente determinarão o futuro e a qualidade de vida dos povos das próximas gerações. No nosso sistema social, a política é uma divisão subordinado à economia, embora os políticos tenham de dar a impressão ao povo de que são eles os alquimistas do poder. A China faz brilhar os olhos da esquerda e do capitalismo turbo porque esse sistema conseguiu reunir política e economia em uma só mão.
Para se entender o que se passa é de lembrar que já em 21 de dezembro de 2018, o bilionário Klaus Schwab foi premiado pela China com a ‘Medalha da Amizade da Reforma da China’. Klaus Schwab é uma referência mundial e foi o fundador do Fórum Económico Mundial (WEF) em 1971 que se reúne anualmente em Davos, na Suíça e que conecta funcionários do governo, empresários, académicos e outros líderes de todo o mundo para discutir e determinar coordenadas e questões económicas e sociais globais. Como então dizia Klaus Schwab, “o WEF tem orgulho de trabalhar com a China nas últimas quatro décadas.” O fórum tem uma atitude inequivocamente positiva em relação à China sob a liderança do Partido Comunista, que considera o modelo globalista de uma simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância.
Destes e doutros oligarcas, como Soros, estão a depender as coordenadas da política mundial numa promiscuidade política de capitalismo e socialismo que se servirão das administrações como que se dos braços de um polvo se tratasse. Como em tudo, estes universais player provocam desenvolvimentos muito positivos e também muito negativos no desenvolvimento dos povos. O modelo chinês é ainda orientado pelo partido comunista mas tudo leva a crer, como se observa pelo desenrolar do controlo social actual e da política mundial, que, com o tempo, bastará um executivo central para reger e controlar a informação e com ela proceder à manipulação das mentalidades dos povos de maneira a virmos a ter uma sociedade artificializada dirigida por um grupo de tecnocratas executor das indicações que um novo sistema IA produzirá.
O fórum de Davos tornou-se uma plataforma de elites influentes onde as tendências globais são analisadas e tomadas importantes decisões económicas e políticas para a generalidade dos países. As áreas de influência de Schwab são notáveis, como se pode ver pela participação de personalidades mundiais no fórum de Davos. Foi Schwab que cunhou o termo “capitalismo das partes interessadas”, uma espécie de capitalismo camaleão não vinculado a mundivisões, mas a interesses políticos e económicos. Por influência do Fórum e de outras supraestruturas políticas tudo leva a crer que se prepara a era da indústria do humano.
O termo “capitalismo das partes interessadas”, implementa a ideia de que as empresas estão comprometidas não apenas com os acionistas, mas também com os interesses de todas as partes relevantes – incluindo funcionários, clientes, comunidades e meio ambiente. Daí a eficiência de Agendas e ONG a actuar globalmente no sentido de criar uma conscientização análoga e anónima resultante da conectação das áreas económicas, políticas, culturais e sociais num denominador comum de negócio universal do humano. Schwab criou o termo quarta revolução industrial, que descreve a fusão progressiva do humano através de tecnologias como inteligência artificial, robótica, Internet e biotecnologia conectadas.
Schwab serve-se dos desenvolvimentos tecnológicos na economia, na sociedade e no mundo do trabalho e quer vê-las integradas activamente na governança global através da colaboração e governação globais que se serve cada vez mais do papel de organizações internacionais para pular sobre os interesses nacionais. Em nome de se enfrentar desafios globais e da multilateralidade as grandes potências instrumentalizam a cultura e a arte como forma moderna de deformação da sociedade. Neste sentido devem ser criadas novas formas de intercâmbio entre líderes empresariais e artistas. É verdade que Klaus Schwab se revela como um oportuno catalisador de pensamento e de mudanças a nível global, mas deixa extremamente a desejar o aspecto humano reduzido a um rebanho a viver dentro de um estábulo.
Resumindo: a quarta Revolução industrial de Schwab possibilita a simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância; através de Davos e da ONU conecta políticas, empresários e políticos globais seguindo uma filosofia estruturalista e pragmática a que falta a perspectiva cristã do humano.
António CD Justo
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8603
(1) https://www.dw.com/en/bill-gates-meets-chinas-president-xi-jinping/a-65934535
Numa altura em que na opinião pública se manifesta, em primeiro plano, a luta pelo poder, influência e dinheiro, a devoção ao Coração de Jesus, até parece estranha por apontar para um outro caminho, o caminho do coração e do sentimento. A frase de Blaise Pascal “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, alerta para o facto de o coração estar ligado a sentimentos, emoções e um pouco também à razão, e a razão ao “cérebro”. São dois polos opostos, mas que, no dia-a-dia, pertencem juntos.
O evangelista João diz que depois que Jesus foi crucificado, um soldado perfurou seu lado com uma lança “e logo saiu sangue e água” (João 19:34). O Coração de Jesus é interpretado como símbolo de sua humanidade e como uma expressão de seu amor especial pelas pessoas. O lado aberto de Cristo foi interpretado por teólogos como a porta da salvação da qual brotam os sacramentos: o sangue como símbolo da Eucaristia, a água como sinal do baptismo. “O significado da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus que celebramos hoje é expressar a fidelidade humilde e a bondade do amor de Cristo, revelação da misericórdia do Pai, sempre para descobrir mais e para nos deixarmos envolver por ela”, escrevia o Papa Francisco em 2014.
Quando vemos um coração pensamos geralmente em amor.
A via mística que caracteriza a devoção ao sagrado coração hoje já não parece muito acessível a muitos mas numa época em que se acentua cada vez mais a funcionalidade da pessoa humana torna-se importantíssimo acentuar a relação pessoal e a via do coração na vida, doutro modo distanciamo-nos de nós mesmos na qualidade de seres espirituais e tornamo-nos mais vítimas de doenças corporais, psíquicas e da alma. Para não nos exteriorizarmos a nós mesmos torna-se importante voltar a pensar com o coração como ensinavam os antigos Padres da igreja. O relacionamento com Deus é um assunto profundamente místico e espiritual do coração que consiste em mergulhar-se completamente no amor de Deus.
O coração é o centro da vida. Ele é o lugar das mais diversas emoções, do medo, da coragem e também o centro do espírito e da compreensão – é o centro de tudo -, o que motivava Saint-Exupéry a afirmar: “O essencial é invisível aos olhos”.
O relacionamento com Deus é um assunto profundamente místico e espiritual do coração. A teologia do coração é uma teologia do nós numa permuta de Tu-Eu, de diálogo interior, uma relação mística com Deus num processo de introspeção da alma e da consciência mental. A oração do coração é um caminho espiritual de exercício e experiência; a oração é repetitiva e reiterada como se fosse uma mantra; esta prática de meditação é muito comum na comunidade “via cordis” – caminho do coração – (1) em que se repete uma palavra interior do coração (que cada orante escolhe segundo a sua preferência, como, “meu senhor e meu Deus”, “Jesus Cristo, ajuda-me”, “Coração de Jesus, minha salvação”, etc. em que ela se repete fervorosamente até que essa repetição se extinga em uma oração silenciosa sem palavras. Pode começar-se por respirar em Deus, isto é, ligar a frase ou jaculatória à respiração – sensação corporal – (uma parte à inspiração e a outra à expiração: no meu noviciado comecei a praticar este método que se revelou muito gratificante). Franz-Xaver Jans-Scheidegger recorda: “A oração do coração é um caminho espiritual de exercício e experiência. O objetivo é chegar ao centro do seu ser e descobrir a raiz de todo o ser… Esta forma de oração promove a compaixão pelas pessoas e por toda a criação.” Trata-se de deixar de lado todos os pensamentos e imagens e tornar-se completamente aberto à única razão de ser. “O Senhor te acolheu em seu coração” (Dtn 7:6-11).
António CD Justo
Pegadas do Tempo
(1) Via Cordis: https://www.viacordis.net/herzensgebet
Os media informaram (9.5.2023) que Assange, sofreu outra derrota na sua luta contra a extradição para os EUA. A Suprema Corte de Londres rejeitou o pedido de Assange para uma audiência de apelação.
Julian Assange detido na Prisão de Segurança Máxima de Belmarch há mais de 4 anos, aguardando extradição para os Estados Unidos onde o esperam até 175 anos de prisão. Ainda não foi extraditado para os EUA por se encontrar em condições de saúde precária.
É perseguido por ter posto a descoberto crimes dos EUA em 2010 na guerra no Iraque e no Afeganistão. Através dele foram transmitidos documentos secretos.
Uma prática hipócrita europeia apela para a humanidade na recolha de refugiados políticos de países em que também ela se encontra imiscuída em interesses económico-políticos aceita que o seu grande irmão EUA persiga politicamente os seus. Em Guantánamo encontram-se estrangeiros detidos, sem acusação e sem julgamento desde 2001 (1).
A integridade dos cidadãos em democracia é ameaçada quando os cidadãos criticam políticos poderosos, serviços secretos e operações militares. Na Idade Média, quem questionava os poderosos ou a ortodoxia era punido e hoje quem critica, com razão, políticos poderosos, serviços secretos e operações militares é preso e perseguido em todo o mundo, como é o caso de Assange.
E então o nosso sistema político critica de forma hipócrita outros sistemas que fazem algo semelhante e além disso justifica a guerra na Ucrânia em nome da defesa dos valores europeus. Tudo vale desde que seja na defesa dos próprios interesses económico-políticos.
O que antigamente acontecia de forma aberta acontece em democracia de forma mais branda e discreta. Para isso ajuda uma certa conivência entre governantes e meios de comunicação social.
O jornalista australiano, Julian Paul Assange, foi o fundador da plataforma de divulgação WikiLeaks. (“WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em sua página, postagens de fontes anónimas, documentos, fotos e informações confidenciais relativas a governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis”).
António CD Justo
Pegadas do Tempo
(1) https://www.zdf.de/nachrichten/panorama/guantanamo-gefangene-lager-entlassungen-biden-100.html