UMA NOVA ÉTICA AO SERVIÇO DE UM IMPÉRIO UNIVERSAL?

Não somos educados a acreditar, mas movidos a fazê-lo!

Por António Justo

A paz mundial só pode conseguir-se numa cooperação dialogal comum entre religiões, e entre religiões e Estados seculares, no reconhecimento e respeito recíproco de instituições, crentes, ateus e agnósticos.

Alguns tecnocratas do globalismo (da política, da economia, da ciência e da filosofia) têm dado a entender que, para se estabelecer a paz mundial, é preciso implantar uma ética secular sem culturas nem religiões (uma espécie de patriotismo/crença do Direito). Trabalham no sentido de criar uma nova consciência e, para tal, secularizar a ética e implementá-la de modo a que a Razão-ciência ocupe o lugar da consciência. Querem, para isso, assenhorear-se do conhecimento (um património público da humanidade), calando que este (como ciência, filosofia e religião) é mais complexo e se encontra sempre em processo inacabado, não podendo, como tal, ser petrificado num sistema dogmático exclusivista, seja ele materialista ou espiritualista, nem tão-pouco numa mundivisão fechada, mesmo com o pretexto de servir uma nova ordem. De facto, os fins não justificam os meios e na realidade orgânica tudo cresce de baixo para cima (do elemento para o complexo) e a solução para que, na floresta, todo o solo tenha sol não seria natural optar-se por arrancar as folhas às árvores. Querem criar um mundo unívoco sob a rasoura de uma razão que aposta num pensamento unívoco ao serviço da ciência e da política.

Partem, para isso, do pressuposto que as pessoas e as instituições na procura da liberdade e do bem se orientam só por princípios racionais. Um outro equívoco dos construtores da polis, a nível mundial, é atribuir um caracter “divino iluminista” à razão/inteligência, pensando que a razão é, por si só, capaz de penetrar nos enigmas do mundo e do ser humano apenas com os instrumentos da observação, experimentação e cálculo, próprios do método da ciência positiva, sem contemplar a espiritualidade transcendente.

Uma tal tentativa levaria a um totalitarismo materialista servido pela absolutização de uma razão prática, que se quer como directriz ao serviço da eficácia utilitária e pragmática, não só para uma eficiente orientação e controlo da humanidade, mas também como orientação da interpretação do mundo.

Esquece-se a advertência do filósofo Pascal que constatava que a vida e o Coração têm razões que a Razão desconhece.

O que acho mais preocupante é ter de constatar, nalgumas teses do Dalai Lama apresentadas no livro “Um Apelo ao Mundo”(1), onde, também ele, serve os propósitos da  luta cultural marxista.

No meio de muitas frases edificantes e cativantes encontram-se algumas teses fundamentais que passam desapercebidas, mas que servem o intento referido, com a cobertura e a embalagem do Zeitgeist.

O Dalai Lama é um ilustre budista que faz tudo pelo budismo e, a partir dele, empenha-se na construção da paz mundial. Pelo que observo de algumas suas teses, serve-se da filosofia existencialista europeia e de Feuerbach, que tem muito de comum com o budismo, para propagar a criação de uma ética secular universal, uma espécie de decálogo da razão de caracter imanentista e materialista (Em jogo está a negação da capacidade humana para a transcendência, a negação de Deus para assim se atirar com as religiões e se poder criar um tipo de religião secular universal de “espiritualidade” materialista no sentido de um futuro governo mundial-ONU). Este artigo é a sequência do texto “O Dalai Lama no Barco do Mainstream” (2).

A sociedade do “pensar politicamente correcto” cria os seus tabus para melhor implementar os seus objectivos, e aproveita-se da boleia de ícones e personalidades que, pelo respeito que gozam ou merecem, não são questionadas. Neste sentido ressalta à vista a esperteza como ONGs se aproveitam do Dalai Lama no sentido dos seus objectivos (Isto é legítimo e não minora os galardões do Dalai Lama, tornando-se, porém, mais eficiente, quando ninguém nota o que acontece por trás dos bastidores; isto sem excluir o direito à dúvida e ao erro que nos faz avançar!). A iniciativa da criação de uma Assembleia Parlamentar Mundial também não pode ser rejeitada de princípio e como tal justifica muitas diligências no sentido de o preparar.

A pretexto da razão e da ciência comercializa-se uma ideologia com os pré-requisitos para, no meu ver, uma transformação socialista da sociedade (A China manda cumprimentos!…). Nem em nome de uma sociedade aberta, nem de um racionalismo crítico (3), nem, tão-pouco,  uma alegada necessidade de se estabelecer uma supraestrutura mundial para a paz, podem legitimar uma organização superintendente da inteligência e da história da humanidade (mesmo em nome de uma ética secularizada em nome da razão!).

Naturalmente que o Homem é ele com as suas circunstâncias não podendo ser reduzido às circunstancias, por muito importantes que elas sejam para o seu desenvolvimento. Em nome do bem geral da sociedade não se deve passar à sacarificação dos diversos “biótopos” culturais e do indivíduo…

Uma atitude meramente mecanicista que prescinda da transcendência, nas mãos de uma superorganização, corre o perigo de considerar o argumento acima das consciências individuais e nacionais (exemplo do estalinismo, maoismo, nazismo, teocracia do Irão, etc.). Não chega mudar o mundo é preciso fazê-lo interpretando-o.

O Dalai Lama afirma a ética contra a religião como se só fosse possível uma posição exclusiva dizendo: “as religiões conduzem à guerra, a religião é algo aprendido, enquanto a ética é inata”! Fala no sentido de algumas ONGs (4) em torno da ONU, aplanando-lhes o caminho, afirmando:” Seguindo princípios de uma ética puramente secular tornar-nos-emos pessoas mais descontraídas, solidárias e sensatas”. E, para confundir, questiona a transcendência das religiões monoteístas dizendo:” vejo cada vez mais claramente que o nosso bem-estar espiritual não depende da religião, mas da nossa natureza humana inata”. Naturalmente, como tudo não passa de matéria adiante, tudo começa e acaba nela!

Em vez de procurar uma via inclusiva e de esclarecer a relação entre religião e moralidade, o Dalai Lama opta, em termos de poder,  pela exclusão da religião, para se pôr ao serviço de uma ideologia materialista secular sob o pretexto de uma ética natural da racionalidade.

(Não quero aqui desvalorizar a laicidade, nem o papel da relação razão-ciência nem o aspecto também positivo que a discussão materialista tem desempenhado em relação a um espiritualismo desencarnado. De facto, se dou uma vista de olhos pela natureza, pela cultura, pela sociedade e até pelo indivíduo, reconheço que tudo neles é complementar, o que, na relação com o Homem e com a sociedade, fala a favor de uma estratégia de inclusão das diversas partes e a isto encoraja-me também o Vaticano II na sua preocupação pela conexão da heteronomia!)

Segundo o Dalai Lama, na continuação da filosofia materialista e da sua religião (que propriamente ele não considera religião), religião seria um constructo social e o bem-estar espiritual é natural (produto da natureza) não tendo nada a ver com uma qualidade religiosa inata nem com um re-ligar (religar o Homem a Deus, o humano ao humano, numa relação transcendental), no sentido das religiões monoteístas. (Chega-se a ter a impressão que aqui o Dalai Lama segue as mesmas pegadas da agenda Gender que quer reduzir características humanas, provenientes de diferenças biológicas, a meros resultados da aprendizagem adquirida através da cultura, no percurso da História.)

O filósofo Wittgenstein advertia:” Os limites da minha língua significam os limites do meu mundo”! Uma adequada paráfrase poderá ser: os limites das minhas perguntas são os limites da minha inteligência (Como esta é de natureza aberta, deixa sempre, a nível intelectual, uma porta aberta para a dúvida metódica).

Hoje mais que nunca precisamos de uma crítica à ideologia. Se muitos se queixam que na Idade Média tudo circulava em torno das catedrais e no mundo árabe tudo circula em torno de Meca, não têm a distância suficiente para notar que hoje na sociedade secular ocidental tudo circula em torno das catedrais da Banca e da ideologia do “politicamente correcto”.

O Dalai Lama serve aqui o plano marxista anti-cultura ocidental na sua luta contra os fundamentos da cultura ocidental e em especial contra o cristianismo, que circula todo ele em torno da filiação divina da pessoa humana e numa visão linear da História.

Na discussão filosófica e científica encontra-se também “provado” o caracter inato (congenital) da religião e não apenas o da ética, como advoga o Dalai Lama.

Já Charles Darwin, no seu livro “A Descendência do Homem e a escolha sexual de reprodução”  descreveu uma evolução biocultural bem sucedida da religiosidade e das religiões para um monoteísmo.

Investigações sociológicas, antropológicas, psicológicas e filosóficas demonstram que a religiosidade é inata. A inclinação religiosa é inata e a fé pertence ao Homem, como se observa nos primórdios da humanidade (animismo, rituais ao sol, ao fogo, ao vento, etc.) não podendo ser reduzida apenas a algo adquirido culturalmente.

Tal como mostram muitos  estudos sobre o fenómeno religioso, o diretor de um projeto de pesquisa (com 57 eruditos de 20 países), Dr. Justin Barret, do Centro de Antropologia e Mente da Universidade de Oxford, conclui, como resultado do mesmo,  quereligião é um aspecto (5) comum da natureza humana e o pensamento humano está “enraizado” em conceitos religiosos. Isso sugere que as tentativas de suprimir a religião tendem a ter vida curta, uma vez que o pensamento humano parece estar enraizado em conceitos religiosos, como a existência de deuses ou agentes sobrenaturais, a possibilidade de vida após a morte, e de algo anterior a essa”.

Outros investigadores do fenómeno religioso e ético dizem ter observado manifestações desses fenómenos até em grupos de primatas. Há macacos que ao pressentirem tempestades fazem a dança da chuva ou quando morre o semelhante ficam em silêncio, de olhar perdido e “pensativo” perante o morto (Naturalmente que estes comportamentos em parte semelhantes a humanos não permitem conclusões apressadas (6).

O facto de a religião proporcionar a visão mística e treinar a capacidade de sair do “aqui e agora” estimulou no Homem a possibilidade da passagem da inocência comum da apatia animal do paraíso terreal, para um estado dialogal de ouvir e dar resposta (Adão e Eva desenvolvem a personalidade numa relação inicialmente medrosa com um Tu transcendente – mais tarde Jesus Cristo destruiu o medo repondo a dignidade no Homem ); daqui surge o assumir responsabilidade no pensar próprio e fazer erros (a capacidade da culpa e do erro, num processo de chamamento – do Adão, onde estás? -, torna-se no motor do nosso desenvolvimento, numa aventura de “erro e tentativa”; esta dinâmica é consagrada no encorajamento da “culpa feliz” que passou da liturgia da Vigília pascal também para o pensamento secular (7). A luz e o chamamento divino levaram-nos a voar em vários mundos (emocional e mentalmente).

A religiosidade dá relevo à capacidade humana de se maravilhar e de conseguir sair do “aqui e agora” sem deixar de se empenhar responsavelmente pela polis!

Numa sociedade que se quer, cada vez mais só aqui e agora, de um relativismo e utilitarismo aferido ao mercado, a espiritualidade parece só vir complicar e distrair do negócio da construção de uma polis que se quer só mercado sob um só poder. Não questiono aqui a ONU/NU, a Carta das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos Humanos, (8) nem as Convenções, motiva-me apenas raciocinar sobre o espíritos que se aninham em torno delas.   (Também não pretendo justificar os males e erros dos poderosos que, muitas vezes, se usaram do medo e da religião como meio de educação e disciplinação do povo, como também hoje é de reprovar o uso dos medos e de leis (do “politicamente correcto”) que tenham como mero objectivo controlar e domar o cidadão, quer por poderes seculares quer por poderes religiosos). Cada tempo tem o seu movimento e mesmo dentro do espaço tempo é essencial não só viver no aqui e agora, mas contemplar também o horizonte que nos leva a levantar o rosto e a viver a existência à luz de uma esperança que chama toda a natureza à imagem do que faz o Sol em relação ao planeta.

Num romance que li há muitos anos, conta-se que um humano foi cruzado com um macaco. Alguém matou aquela criatura que é meio humana, meio macaco. A questão ética que se põe no caso é: aquele que matou este ser assassinou uma pessoa ou matou um animal? Em retrospetiva sobre a sua vida chegaram à conclusão que era um ser humano porque o tinham observado a sacrificar num altar um bocado de carne, ficando assim claro que se tratava de um ser humano porque revelava sentimentos religiosos. Assim o que o matou foi um assassino…

Num mundo necessitado de paz, a estratégia para se resolverem os problemas individuais e sociais, não pode seguir a via da destruição da diferença e da variedade, mas sim o caminho da aceitação e da tolerância mútua, numa consciência de subsidiariedade e complementaridade.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

“Pegadas do Tempo”

(1) https://static.fnac-static.com/multimedia/PT/pdf/9789898873316.pdf
(2) https://antonio-justo.eu/?p=5241
(3) https://portalconservador.com/livros/Karl-Popper-A-Sociedade-Aberta-e-Seus-Inimigos01.pdf
(4) ONGs são associações ou sociedades não governamentais sem fins lucrativos adstritas ao terceiro sector da sociedade civil actuando local, internacional ou e também associadas à sociedade civil global, (isto vem do sociólogo Amitai Etzioni, que distingue três sectores sociais: Estado, mercado-economia e sociedade civil). Por exemplo a OSF de George Soros que em nome da filantropia apoia iniciativas da sociedade civil questionáveis; o mesmo se diga da organização de Aga Kahn . (ONGs preztendem  dar  resposta a problemas que superam as fronteiras e Estados). Ao contrário dos lobistas da economia, o terceiro sector envolve o sector público. São demasiado fortes, mesmo em relação a governos.” Um dos principais objectivos do envolvimento de ONGs no contexto da ONU é influenciar os debates políticos através dos vários canais de comunicação. As ONGs de direitos humanos muitas vezes usam os canais oficiais que a ONU criou para expressar suas preocupações… 3050 ONGs que têm status consultivo junto ao ECOSOC. A ONU desempenha um grande trabalho humanitário em muitas regiões do globo. Algumas ONGs aproveitam-se para espalharem ideologias
(5)  http://www.criacionismo.com.br/2011/05/pesquisa-comprova-fe-em-deus-e-inerente.html
(6)https://www.spektrum.de/news/wenn-schimpansen-trauer-tragen/1030194
(7) “Ó culpa feliz “, o Exultai que a Igreja canta na Vigília Pascal convida-nos à alegria e a romper com todos os medos e a integrar o sofrimento como parte de uma vida sorridente. No Budismo, mais virado para a terra, Buda fixa-se no sofrimento: o nascimento é sofrimento, a vida é sofrimento, a morte é sofrimento e por isso procura a solução no não-ser (nirvana). É o contraditório da “Felix culpa” que nos torna agentes no processo da libertação e salvação! A culpa é aceite como natural e como comum a toda a humanidade e, ao mesmo tempo, como ocasião de felicidade devido à superabundância da graça. Onde se encontra Deus lá se descobre uma solução e uma saída. Deus que é Pai recebe o filho pródigo, não com culpabilizações, ameaças ou castigos, mas com danças e músicas (Luc. 15,11). O pai só confia na esperança do filho que pode reconhecer na casa do pai o melhor abrigo! No cristianismo o errar é visto como chance; o problema é que muitos só conhecem dele o aspecto folclórico do cristianismo e não a sua vivência e filosofia; o que explica tanto azedume e negativismo.
(8) Carta das Nações Unidas: https://www.cm-vfxira.pt/uploads/writer_file/document/14320/Carta_das_Na__es_Unidas.pdf  e Declaração dos Direitos Humanos: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf

CONVERSAÇÕES ENTRE A UNIÃO EUROPEIA E O REINO UNIDO: UM AMONTOADO DE ESTILHAÇOS

Consequência lógica: Passar da EU dos tecnocratas para a EU das Nações

António Justo

Londres pretende renegociação do acordo. O acordo não pode ser renegociado porque a EU já deu a sua última palavra e Teresa May apresentou o plano B igual ao plano A. Mesmo um adiamento do Brexit não traria vantagens nenhumas. Continuariam todos a urinar no rio!

No meio de tanto cinismo e do jogo das escondidas dos políticos ingleses com o povo britânico e perante uma uma atitude orgulhosa da EU que não prestou atenção às anteriores ameaças do RU caso a EU não mudasse algumas políticas que se queriam mais respeitadoras de interesses nacionais, colocou os dois parceiros em situação inviável de uma parte e da outra.

A consequência terá de ser um Brexit irregulado: uma catástrofe para todos os lados. O RU passará a ficar totalmente dependente dos USA e a EU passará a ter pouca relevância no palco internacional por lhe faltar o peso do RU.

O único aspecto positivo para a EU, depois deste amontoado de estilhaços, poderia ser o de ter de passar de uma EU dos tecnocratas para uma EU das nações.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ATENTADO NAS FILIPINAS AO SERVIÇO DA “TERRA DO ISLÃO” (Dar al-islam)

Difamação das Religiões em geral para se branquear o Islão

António Justo

Nas Filipinas, num atentado contra católicos que se encontravam numa Igreja (27.01.2019), foram mortas, pelo menos, 20 pessoas e mais de 110 foram feridas.

Dado a percentagem de muçulmanos já ser grande na região, estes reivindicavam a autonomia na província de Sulu. Os resultados do referendo foram negativos e, como reacção, a milícia jihadista muçulmana vingou-se efectuando o atentado.

O objectivo do jihadismo é espalhar o medo e destruir, ao serviço do Islão.

O pensamento politicamente correcto não quer que se fale de “jihadismo islâmico,” mas que se designe apenas de “terroristas que utilizam a religião para as suas actividades”. O Zeitgeist para encobrir a estratégia islâmica e não ter de a coagir a reinterpretar o islão, no sentido de fomentar uma religião pacifica, prefere, por isso, branquear o islão à custa da difamação geral das religiões (toda a religião deve ser indiferenciadamente metida no sector da agressão e colocada sob difamação geral como se o terrorismo (jihadismo) não tivesse fundamento no islão e não acontecesse ao serviço e em  nome do corão e da Sunnah.

Esta é uma forma de enganar a opinião pública como se o jihadismo violento não fizesse parte da estratégica de afirmação islâmica ao longo de toda a história e não fosse motivação para combater o estranho considerado infiel. Para o não ser teriam de reinterpretar muitas prescrições do Corão e da Sunnah.

Na tradição islâmica jihad significa literalmente “esforço” e esta distingue entre o pequeno e o grande Jihad. O “grande jihad” é pacífico e corresponde ao esforço do crente para encontrar o comportamento religioso e moral correcto perante Deus e os crentes e o” pequeno jihad” é visto como “guerra santa” e como “obrigação da fé” para a expansão do domínio islâmico.

O islão não parte da base da pessoa humana com direitos inalienáveis de caracter universal. Ele distingue a humanidade entre pessoas muçulmanas crentes e as de fora, não crentes, criando assim uma fronteira entre pessoas; por outro lado, os peritos judiciais muçulmanos dividem as culturas mundiais entre a Terra do Islão (Dar al-islam) que são as regiões sob domínio muçulmano e a Terra da Guerra (Dar al-harb), ou Terra da descrença (Dar al-kufr), que é a terra destinada a ser subjugada ao domínio islâmico onde os não muçulmanos terão de se converter ao islão para fazerem parte da nação muçulmana (Ummah)!

Especialmente os muçulmanos salafistas são muito activos no fomento do “pequeno Jihad” recrutando milicianos para o IS e fomentando a “guerra santa”. Disto ninguém fala nem deve falar porque quem mais apoia o salafismo são os países da arábia Saudita e vizinhos que fornecem muito petróleo para a Europa e compram muitas armas e investem muito petrodólar em grandes firmas europeias! Nestes assuntos, como no das finanças, até parece ser melhor não saber verdadeiramente o que se encontra por trás das coisas; o saber faria doer e a hipocrisia deixaria de ser uma oportunidade!

A estratégia da difamação das religiões em geral com o fim de branquear o Islão não passa de um subterfúgio camuflado que se usa do islão como meio para atingir um fim que é o fomento do culto do “politicamente correcto” e assim melhor preparar o cidadão para a servidão.

© António da Cunha Duarte Justo

In Pegadas do Tempo

ALEMANHA E FRANÇA REFORÇAM TRATADO DE UNIÃO EM AACHEN

Que Futuro para a União Europeia?

António Justo

A nova Situação

Pelo tratado de Aix la Chapelle, a Alemanha e a França fortalecem a união, em tempos de Brexit e de nacionalismos (1). Com o divórcio do RU, a Alemanha e a França unem-se, atempadamente, para que a razão económica liberal continue a ser o credo e a União Europeia não vacile.  De futuro, nada funcionará na Europa sem o casal Paris-Berlim (Coração-razão!); é, certamente, também uma tentativa para prolongar a paz na Europa, a longo prazo…

O Tratado de União Franco-alemão

O Tratado de Aachen – Aix la Chapelle, de 22 de Janeiro de 2019 tem sete capítulos e 28 artigos. Nas pegadas de Carlos Magno (pai da Europa), Merkel e Macron assinaram um tratado  (aqui  (1) em francês) que marcará a Europa do futuro.

56 anos depois de, Charles de Gaulle e Konrad Adenauer terem assinado o Tratado de Eliseu, a Alemanha e a França, num momento de grande crise europeia, selaram um novo pacto de amizade, na histórica sala de coroação da Câmara Municipal de Aachen.

Este tratado tem grande importância para toda a Europa pelos aspectos colaterais que provocarão na determinação do destino da Europa. A intenção parece boa; talvez, a partir do centro da Europa, fomentar uma potência da paz, em que se junte o “saber viver” com o “saber fazer”.

Declarações do Tratado

A Alemanha e a França querem, no dizer de Merkel, “de mãos dadas, enfrentar os grandes desafios do nosso tempo”.

Comprometem-se, em política europeia, a fazer reuniões regulares de consultações para tentarem elaborar pontos comuns antes de grandes encontros europeus. Ambas as partes se aproximam nas suas políticas de segurança e de defesa; e no caso de um ataque armado à sua soberania, apoiam-se reciprocamente, militarmente. Intensivam a cooperação na luta contra o terrorismo e contra a criminalidade organizada, bem como nos sectores da justiça, informação e polícia. Os dois países colocam como prioridade da diplomacia franco-alemã a entrada da Alemanha como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Comprometem-se ao fomento do idioma do parceiro nos respectivos países, além da integração e criação de cursos integrados de estudo dual franco-alemão. Também devem ser eliminados os obstáculos aos projectos transfronteiriços “especialmente nos domínios da economia, dos assuntos sociais, do ambiente, da saúde, da energia e dos transportes”. Querem também fomentar a colaboração na política ambiental, a Convenção de Paris 2015 sobre as Alterações Climáticas e a Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável. Na economia propõem-se criar um espaço franco-alemão com regras comuns com harmonização do direito comercial e coordenação das exportações de armas. Ambos os Estados criam um “Conselho franco-alemão de peritos económicos” com 10 peritos independentes (à semelhança do que já existe na Alemanha). Desejam também implementar programas conjuntos de investigação e inovação.

Os partidos dos extremos mostram-se céticos nos dois países. O fatco de o Tratado de Aix-la-Chapelle prever uma cooperação mais estreita nas políticas europeias económicas e de defesa entre a Alemanha e a França faz surgir vários receios que acordam os fantasmas Hitler e Napoleão.

Segundo Der Spiegel, o antigo chefe de Estado checo Václav Klaus acusa de se tratar de um “tratado secreto sobre a fusão de facto da França e da Alemanha”. Segundo ele é de recear que surja um “projecto de integração paralela” com a UE, um novo “superestado”.  

O “primeiro o meu país” não quer significar “o meu país sozinho”! A palavra chave parece ser: cooperação entre Estados importantes e amizade entre os povos!

Há naturalmente muitos trabalhos de casa para resolver! Monsieur Macron tem um problema: a França tem o dobro da dívida (pública) da Alemanha, tem uma economia que fica atrás da Alemanha em termos de concorrência e o desemprego é elevado, quando na Alemanha não há propriamente desemprego. Além disso, a França está muito menos preparada do que a Alemanha para realizar verdadeiras reformas. Mas Macron pensa, por isso mesmo, poder exigir da Alemanha a cedência na criação de obrigações em euros, um Ministério das Finanças da EU e introduzir uma união bancária europeia; disto se aproveitaria a França e todos os membros do Sul. A França tem para oferecer o escudo protector da Bomba atómica e apoiar a Alemanha para que entre no Conselho Permanente de Segurança da ONU.

Uma pergunta relativa à Península Ibérica: basta à Espanha e a Portugal irem à boleia da EU? Será assunto para um próximo artigo.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Com a saída do RU da EU, muda-se o cenário das forças determinantes da EU. Antes a Alemanha e o RU apoiavam-se mutuamente como bloco de política económica de interesses comuns na EU. O agrupamento de interesses por países será mais difícil. Texto:

https://www.bruxelles2.eu/2019/01/18/le-texte-du-traite-franco-allemand-daix-la-chapelle-signe-le-22-janvier-2019/

 

O REINO UNIDO NÃO TEM DE PERTENCER À UNIÃO EUROPEIA

Em Jogo a Ideia de grande Nação e Império

António Justo

A situação

No Reino Unido os nacionalistas pretendem um Brexit desordenado, porque se prometem preservar a soberania nacional e vantagens económicas. Os moderados querem um divórcio regulado, mas sem que o Reino Unido e a Irlanda do Norte fiquem permanentemente dependentes da União Aduaneira com a EU. Por seu lado a EU espera que se realize um segundo referendo. A Irlanda tem medo de perder a vantagem da sua economia e da segurança da ilha e, por isso, insiste numa fronteira aberta com a Irlanda do Norte. A possibilidade de guerra (atentados, a nova IRA) na Irlanda do Norte revela-se como um trunfo para a EU.

O conflito da Irlanda do Norte (província do RU) só poderá ser resolvido com a permanência do RU na EU ou com a criação de uma União Aduaneira entre EU e RU.

Razões de Estado por parte do RU

Na crise entre a União Europeia e o Reino Unido há que considerar não só razões de Estado inglês, como também a consciência nacional dos bretões. A ideia de império continua na Commonwealth que economicamente pode contar com 53 países. Os ingeses têm conseguido estar presente no mundo sem sair do Reino Unido! Privilegiam o intercâmbio com países do Commonwealth.

Para se perceber um pouco da tanta hesitação e medo por parte do RU em delegar competências nacionais a Bruxelas, seria bom ter-se em conta o que Winston Churchill escreveu em 1950: “O Reino Unido pertence à Europa, mas não faz parte dela”.

Um outro aspecto tem a ver com a unificação da Alemanha e com a criação da zona Euro. Margret Thacher opôs-se totalmente à reunificação da Alemanha, mas teve de aceitar a vontade do Presidente dos EUA, Georg H. W. Bush. O Presidente francês Mitterrand temia que a reunificação da Alemanha perturbasse o processo de unidade europeia e, queria em contrapartida o euro como um mínimo de segurança em relação ao poder acrescentado do vizinho, com o que  o chanceler Kohl concordou, embora considerasse o euro como economicamente negativo para a Alemanha; por outro lado o RU manteve a sua independência em relação à moeda mas sentia-se incomodado com a ingerência política de Bruxelas em relação à imigração e à assistência social à mesma.  (Estes aspectos podem ter-se em conta, para melhor compreender o pacto de amizade agora realizado entre a França e a Alemanha!)

O RU é uma nação grande e orgulhosa e, por isso, quer sair da EU, para não se sentir vassala de Bruxelas. Por outro lado, uma Alemanha amarrada à EU não tem outra hipótese senão expandir-se, expandindo a Europa; talvez isto leve os Bretões a realizar um novo referendo.

No meio de tanta crise na EU torna-se incompreensível que os tecnocratas de Bruxelas não pensem numa europa das nações com certos sectores (militares e de política externa) comuns; ou, em vez de lutar contra a maré popular, fazer algo mais em defesa da cultura e do povo e deste modo estabelecer algum compromisso entre regentes e governados; não é lógico que se estabeleçam compromissos só entre os altos parceiros da governação, nem que lóbis e ONGs se aproveitem da EU para desestabilizar a cultura e os Estados europeus.

No caso do Brexit se realizar, principalmente empresas com negócios no RU e na EU já pensam em reorganizar-se para não sofrerem o desgaste da meda Libra em relação ao Euro. Para alguns proprietários de empresas (e não só) que fiquem no Reino Unido talvez não seja má ideia de adquirirem a nacionalidade britânica.

A título de curiosidade: O RU, foi um império que Portugal ajudou substancialmente a crescer através  do dote que a princesa Catarina de Bragança levou para se casar com Carlos II; naturalmente Portugal, com a politica de casamento, assegurava o apoio do velho aliado contra as aspirações filipinas na guerra da restauração. A Inglaterra recebeu, como dote do casamento, a praça de Tânger, na África, e o porto da Ilha de Bombaim, na Índia, além de imensas joias e tesouros.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,