LÍBIA NAS PEGADAS DO IRAQUE


Vitória da Rebeldia mas não da Democracia

António Justo

A coligação rebelde – uma aliança paramilitar de 40 grupos díspares habituados a disparar para o ar (como as imagens têm mostrado) – acaba com um regime para instalar outro. É verdade que a rebeldia norte-africana unida apenas ao islão traz ventos novos mas não os ventos da democracia e dos direitos humanos como demonstram o Irão, o Iraque, o Kosovo/Albânia, o Afeganistão e outras sociedades onde a violência se espelha nos rostos e nos gestos da praça pública.


Para quem esteve atento, aos Meios de Comunicação Social ocidentais, estes, nos últimos sete meses, só apresentaram, imagens e entrevistas com os rebeldes; a voz dos fiéis a Kadhafi foi oprimida independentemente da maioria querer ou não a revolta. Amplia-se a voz de quem fala mais alto, a voz de quem serve os “nossos” interesses. O Ocidente manipula e determina assim, através dos Média, a opinião dos seus súbditos obrigando-os a ter a impressão que só está na ordem do dia a voz dos rebeldes. Encontramo-nos perante um sistema de lavagem cerebral refinada e o povo até pensa que tem uma opinião bem formada, pelo facto de viver em democracia. A má intenção, aliada à ingenuidade e à ignorância, pode muito.


Direitos humanos, liberdade e democracia são produtos sociais ocidentais ainda muito enfezados no próprio Ocidente. A sua concretização precisou de muitos séculos para se ir tornando realidade numa sociedade europeia de história muito conflituosa. O Ocidente não faculta aos árabes a sua luta paulatina pela conquista das suas liberdades. Interesses económicos, que não humanos, apoiam, conforme o estado do tempo, alternadamente, regimes que impedem a colonização interna do país em benefício dum colonialismo suave exterior. O preço são povos continuamente prostrados e violentados em nome de humanismo e democracia. Continuam, a ser povos subjugados por uma cultura prisão, que os põe ao serviço dos interesses mesquinhos de poucos.


Depois de 42 anos de domínio de Maomé al-Kadhafi, o seu poder corre pelas ruas. O seu paradeiro é a “tenda”, três dos seus filhos acham-se nas mãos dos rebeldes e o preço do petróleo baixa.


A Líbia parece juntar-se aos rebeldes sob a orientação do presidente do Conselho Nacional Provisório (Governo Provisório) Mustafa Abbdul Dschalil (antigo ministro do regime de Kadhafi).


Que será depois do ditador Kadhafi? Um lugar da anarquia, um alfobre de islamismos?


Anseios duma liberdade não realizada projectam-se sobre uma sociedade de grupos rebeldes unidos apenas pela mão forte e violenta dum Corão imprevisível. Liberdade e democracia não fazem parte da sua filosofia. Democracia é um produto ocidental, não oriental, tido como parte da colonização.


A América e a Europa ou são cegas ou querem enganar os seus cidadãos ao atestarem vontade democrática ao povo líbio, quando este luta por outras realidades, e o Ocidente, o que pretende é petróleo, querendo, para adquirir estabilidade para o negócio, impor ao mundo árabe um sistema de valores a este alheio.


Sociedades, sem partidos, sempre confiantes em caudilhos ou no poder militar, ainda não chegaram ao Renascimento europeu e menos ainda às lutas entre forças religiosas e forças seculares.

Os nossos políticos certamente que não têm conselheiros isentos em assunto de antropologia, de sociologia árabe nem de islão.

Por isso o Ocidente perdeu a guerra do Iraque sendo a emenda pior que o soneto; também sairá vencido da guerra do Afeganistão e terá que pagar bem caro, económica e culturalmente, as palhaçadas que se permite na África do Norte.


A Líbia encontra-se numa situação pior que o Egipto ou a Tunísia. Sem um exército e com uma sociedade tribal unida apenas pelo islão, a Líbia propõe-se mais à desmoronarão.


Profecias de al-Kadhafi

Kadhafi, como berbere, confessa: “Eu sou um combatente, um revolucionário a partir duma tenda… vivo no coração de milhões… morte, vitória é igual, nós não desistimos… Estas pessoas (os líbios) chegarão um dia à posição de levar esta luta à Europa e as vossas casas, escritórios e famílias tornar-se-ão alvos – legítimos alvos militares – tal como vós usastes as nossas casas como alvos…”. (extractos de citações do HNA, 23.8.11).


Um “eu” no nós, um nós no eu, constituem a força duma civilização que parece incompreensível ao ocidente. Esta confissão revela uma estratégia islâmica que só conhece vencedores e, no caso de fracasso, se alegra com o martírio, o último valor que esperam os guerreiros do Deus/Alá.


É muito cedo para se poder prever o caminho líbio. O deserto é grande e propício às mais diversas tendas. Uma sociedade com muitos canteiros de obras só com o cimento do Corão e da Sharia, mitigada por ideias e interesses contraditórios de berberes e migrantes, não constitui fundamento para esperanças aleatórias de liberdade e democracia. Pior ainda quando democracias ocidentais mitigadas pela corrupção se armam em exemplo para uma sociedade de corrupção estrutural?


O futuro próximo da Líbia não se adivinha melhor que antes, tal como aconteceu com o Iraque. A embriaguez do petróleo impede o Ocidente de ver e de pensar com clareza, prejudicando irremediavelmente o seu desenvolvimento bem como o desenvolvimento social dos árabes.


Restará à América e à Europa aguentar com os riscos e com os custos do estacionamento (“construtivo”!…) de militares da Nato na Líbia. Em nome da comunidade internacional e de “medidas humanitárias” enganadoras, a política justificar-se-á, abdicando do bom senso.


O Ocidente oferece aqui mais uma oportunidade à estratégia de al-Qaida na sua guerra contra a economia ocidental.


O papel da Europa e dos USA é deprimente. Na sua arrogância não tomam o islão a sério nem os seus representantes. Confundem o desejável com o praticável. A mudança não é possível com coacção. Nos Media usa-se a palavra-chave democratização como capa da corrupção, da censura e da violência.


A distância da Líbia à democracia está na proporção da distância do Corão aos direitos humanos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Europa em Ebulição – Magmas Culturais e Económicos


Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter

António Justo

Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.

Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.

Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!

Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.

Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.

Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.

Violência atrai violência

Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.

À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!

A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.

Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.

Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.

O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!

O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

A União Europeia destruiu a Indústria tradicional portuguesa e agora pede-lhe Contas


O Negócio com as Dívidas dos Países sob Observação da Troica da EU

António Justo

A tragédia da Grécia arrasta-se, de maneira humilhante, sem que haja uma perspectiva honrosa para as partes. A crise financeira em que se encontram os países sob observação da Troika é consequência dum crise das instituições da EU e da desarmonia das suas economias.

Assistimos a um conflito macabro entre a Europa do Norte e a Europa do sul; fundamentalmente um conflito entre os países carentes e os países fortes.

Os países ricos querem vender /exportar para os países pobres, sem contrapartidas de investimento sério nestes países. Como macro-produtores colocam, os seus produtos a preço de concorrência com os produtos das empresas locais. Em Portugal, a União Europeia destruiu as indústrias do calçado, das pescas, dos têxteis e em parte a agricultura. A princípio, as multinacionais internacionais instalaram-se provisoriamente nos países da periferia para se aproveitarem dos fundo perdidos da EU. Depois de passar o prazo de compromisso assumido começaram a abandonar o país ou a reduzir a produção. Ficam redes de intermediários que passam a servir o mercado com produtos importados. Resultado: a fraca economia é ainda mais enfraquecida ao ver as pequenas e médias empresas desaparecerem.

Em Portugal pude observar isto na zona de S. João da Madeira. Uma empresa alemã, aproveitando-se do saber especializado da região em calçado, instalou, lá e noutras zonas, grandes fábricas de calçado. A sua concorrência levou muitas empresas pequenas e médias à falência. Depois a empresa fechou uma fábrica e racionalizou outras para se irem aproveitar doutras zonas mais baratas fora de Portugal. Para trás ficam os trabalhadores sem capacidade de compra. Estes servem-se dos produtos chineses baratos mas de má qualidade.

O turbo-capitalismo passa pelos países como um furacão arrastando tudo atrás dele. Deixam o país com maus hábitos explorando-os depois através dos abutres financeiros.

A Europa é um projecto político que está a ser destruído por interesses económicos turbo-capitalistas demolidores de nações. São de tal modo grandes que obrigam os países a pôr tudo à venda e a privatizar tudo no seu interesse.

Atendendo às diferentes tradições na economia não se pode chegar nunca a uma solução satisfatória, com agravante da moeda única. Como a política económica europeia é inconsequente, torna-se consequente a exigência da Chanceler alemã Merkel ao exigir que os bancos apoiem os países fracos. Os credores têm de renunciar a uma parte das suas exigências através dum acordo de dívida, para que Portugal e a Grécia se libertem de parte da sua dívida. Consequentemente alguns bancos entrariam em crise.

Só uma prorrogação dos períodos de reembolso para os títulos do governo e créditos de apoio com juros baixos poderão dar tempo ao país para reorganizar e disciplinar a sua economia. Só neste caso se poderia compreender a intervenção duma Troika controladora. Portugal para cumprir o memorando da Troika terá de renunciar à sua soberania e transformar os portuguesesem assalariados do grande capital, sem capacidade de se erguer com dignidade.

Temos uma EU com economias de diferentes tradições. O Norte, exportador e disciplinado está interessado num euro forte devido aos interesses financeiros mundiais e o Sul que não consegue produtividade concorrente e que pelo facto estaria interessado na desvalorização do Euro, para assim poder exportar os seus produtos mais baratos em relação a outras moedas. Como os países fortes não instalam empresas de grande alcance internacional nos países da periferia, estes, para manterem um nível alto de vida, recorrem à importação e ao crédito financeiro internacional. Assim passa um país inteiro a viver “com as calças na mão.” Terá de hipotecar também os esforços de estabilização não lhe restando fundo de meneio para investimentos próprios.

No caso de não haver na Europa uma distribuição equitativa das fontes de produção, o Norte Europeu terá de fazer grandes transferências de capitais (fundos de solidariedade) para os países pobres. Assistimos a um jogo de batoteiros em que uns têm os trunfos e os outros a “canalha”. A  Troika vela pelos interesses do grande capital! Os deuses europeus parecem agarrar-se à vaca da europa mas só enquanto ela dá leite.

Faltam os investimentos; os créditos de apoio financeiro estrangulam povos enações. Este apoio revela-se apenas em favor dos accionistas e dos países com economias fortes. Precisa-se uma política de investimento económico, de firmas alemãs e dos países criar fábricas e lugares de trabalho nos países da periferia. Doutro modo encontramo-nos numa divisão do mundo em países ricos produtores e em países pobres consumidores. Assiste-se, ao mesmo tempo, à concentração do saber especializado nas mãos de alguns e do saber proletarizado para a generalidade.

O programa de assistência financeira visa assegurar o pagamento aos credores internacionais. Estes vêm dos países fortes, que se vêem divididos entre a defesa dos seus bancos interessando-se por isso em facilitar os créditos para que os governos possam pagar os juros aos seus Bancos. Seguem assim uma política anti-contribuinte.

Um país como a Alemanha consegue créditos no mercado financeiro internacional a 3% para depois poder emprestá-lo a Portugal a 7% e à Grécia a 11%. Facto é que Portugal também disponibilizou dinheiro para a Grécia ganhando algum; não muito porque não tem o crédito/confiança internacional duma Alemanha. Este sistema só beneficia os especuladores bancários com os seus accionistas e promove a irresponsabilidade.

Na União Europeia não há honestidade.

António da Cunha Duarte Justo

Antoniocunhajustogooglemail.com


Alemanha à Frente da Revolução energética


Povo obriga a Política a abandonar a Energia atómica

António Justo

A Alemanha determinou abandonar gradualmente a produção de energia até 2022, de modo, a partir de aí ver encerradas todas as suas centrais de energia atómica. A política determina assim, de maneira unânime, um marco miliário na viragem da política atómica.

Depois da catástrofe de Fukushima, o povo alemão assustou de tal modo os diferentes partidos políticos que estes deram o seu aval à política antiatómica que os VERDES (partido ecológico) já há muito exigiam.

Com a decisão dos partidos da coligação governamental CDU/CSU (Cristãos Democratas/ Cristãos Sociais) e a cedência do FDP (Liberais), inicia-se não só o abandono da energia nuclear mas também, com ele, o abandono do FDP da arena política alemã na sua qualidade, até agora, de terceira força para possibilitar coligações. O FDP fazia alternadamente coligação com o SPD e com a CDU/CSU conforme as relações de maioria destes o permitiam. Os VERDES passarão a ser a terceira força partidária possibilitando coligações não só por razões aritméticas mas pelo facto da cor ecológica se encontrar cada vez mais forte também nos partidos conservadores. Até ao presente a política da energia atómica da CDU/CSU abria uma trincheira inultrapassável entre os conservadores e os VERDES que tornava impossível a sua coligação. A estreia duma coligação com os VERDES já se encontra à vista. O panorama político na Alemanha, a nível governamental mudar-se-á radicalmente.

Entretanto as bases dos VERDES, para não deixarem passar para a CDU/CSU a sua motivação principal, querem o abandono da energia nuclear já em 2017 e não querem que se reserve uma central de energia atómica em Stand-by (como tecnologia de ponte) para casos imprevistos no fornecimento de energia.


Os lobistas das finanças procuram fomentar tempestades contra o novo curso da CDU/CSU. A indústria de energia atómica iniciou um processo jurídico contra o Governo exigindo indemnização pelo facto da determinação do encerramento das centrais atómicas. Por seu lado os estados federados aprovaram o encerramento mas exigem ainda maior fomento da energia ecológica por parte do governo central.

A decisão tomada pelo governo e pelos partidos acarreta consigo também alguns riscos. Nos invernos podem surgir problemas de abastecimento energético na Alemanha, no caso de a França não fornecer energia por precisar dela para satisfazer as próprias necessidades de consumo. O abandona da energia nuclear pode pressupor a fomentação de centrais eléctricas de carvão e com isto o problema da poluição com o CO2. Por outro lado, o preço da energia é um factor importante para a manutenção da localização das empresas.

A Alemanha é um país com uma cultura de estabilidade e progresso tecnológico. Com a medida radical que tomou, contra a energia atómica, a Alemanha abre as portas ao fomento de novas tecnologias, em favor dum mundo mais ecológico. A Itália, naturalmente, influenciada pelas decisões tomadas na Alemanha, já se declarou, no último referendo, contra a energia atómica.

Naturalmente que em muitos países se levantarão os Velhos do Restelo, por razões financeiras, contra a política assumida pela Alemanha, principalmente aqueles que vêem a natureza e a humanidade como presa.

A voz do povo da Alemanha tornou possível o que a economia e alguns políticos viam como impossível. Quando há uma vontade encontra-se sempre um caminho. A lição alemã mostra que quando o povo acorda as coisas se mudam, tornando-se possível o que se apregoa como impossível. A natureza e os pobres sofrem mais porque por todo o lado o povo continua a dormir e descansado com os analgésicos que a opinião publicada lhes injecta.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Brasil – País em Ascensão assume Modelos decadentes

Facilitismo ocidental é mau Exemplo para Países no Vigor da sua Juventude

António Justo

“É proibido proibir”,” tudo é relativo!”, “quem manda nos substratos inferiores é a opinião”! Defendem os novos profetas da política, da psicologia e da sociologia, oriundos de povos desenvolvidos mas já virados para o pôr-do-sol da civilização. Nações jovens deixam-se combalir por ideias e práticas de declínio, válidas talvez para civilizações decadentes mas não para nações ou culturas ascendentes à tribuna do desenvolvimento…

Uma rede de elites, a nível internacional, une-se para, do alto do seu mirante, ditar as suas sentenças e impedir o desenvolvimento dos biótopos culturais, tal como fez, na paisagem, uma economia que devastou as florestas naturais. Ao colonialismo económico parece seguir-se o colonialismo cultural. Este parte de areais cerebrais aparentemente anónimos e ávidos de poder! As nações abdicam de si mesmas para estarem atentas aos deuses do Olimpo no seu arrastar das cadeiras. Aqui troveja o deus da sociologia, acolá pontifica o deus da moda, mais além ribomba um deus da universidade com outros deuses da jerarquia. E ao povo, mesmo culto, resta-lhes levantar a cabeça e cacarejar como habitantes dum galinheiro.

Enquanto nações culturalmente conscientes se preocupam em fomentar a qualidade do ensino, observa-se, em certas nações, a tentação de educar para o facilitismo. Em nome duma socialização do ensino, baixam-se os critérios de qualidade e as exigências na maioria dos estabelecimentos de ensino estatal. Por outro lado as classes dominantes, conscientes da importância da qualidade do ensino ministrado inscrevem seus filhos em escolas de qualidade (longe das favelas) ou no ensino privado, vocacionado para a qualidade.

Uma ideologia da igualdade momentânea exige: todo o aluno tem de passar de ano automaticamente, num sistema de ensino indiferenciado. Isto é fraude às classes sociais precárias e menos atentas. Estas só descobrem o dolo e o tempo perdido ao chegarem ao mercado de trabalho.

A divisão do país começa com a divisão da língua!

O MEC (Ministério da Educação e Cultura do Brasil) distribuiu um livro por 4.236 escolas para quase meio milhão de alunos que estabiliza barbaridades do discurso popular falado, como estas: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar os livro?”, “nós vai”. Naturalmente que é dever da escola pegar no aluno, com respeito por ele, no estádio onde se encontra, independentemente do nível da linguagem, mais ou menos adequada, por ele usada. É natural que na perspectiva do meio popular a criança ao dizer “nós vai „não comete erro porque seguia o padrão social ambiental. Onde não há ciência não se pode culpar a consciência.

Apesar dos reparos ao livro distribuído, por cientistas da língua, para o MEC, ele corresponde aos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) –normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didácticos. O MEC argumenta: “A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala”, afirma o texto dos PCNs.

O MEC parece considerar o ensino um acto colonizador sentindo-se mais propenso a incrementar um analfabetismo funcional. A eterna questão entre educar e instruir!

A escola não pode querer a bagunça da língua nem pode esgotar-se no combate ao “preconceito linguístico”. A vida social, com as injustiças sociais a ela inerentes, só se melhora ajudando os alunos a estarem preparados para enfrentarem a vida social e profissional com dignidade. A fonte do “preconceito” está na injustiça da desigualdade de oportunidades e esta começa pela língua. Quem vai para a escola acredita na ascensão social. Também é natural que qualquer variedade da língua se adequa a uma situação. O aluno deve ser especialmente preparado para se desembaraçar nas situações mais exigentes. A má consciência duma sociedade que discrimina à nascença não remedia a situação recorrendo apenas a eufemismos de linguagem. Apenas se desobriga sociológica e psicologicamente. Facto é que o emprego duma linguagem inadequada pode constituir um erro para a vida pretendida.

Sem esforço não se avança. A água não sobe pelos rios. Para subir tem de se “espiritualizar” em vapor. O mesmo se diga duma pessoa, dum povo ou duma cultura. Criar a impressão que o progresso se alcança sem disciplina (regras gerais), sem vontade de subir, sem liberdade criativa é discriminar pela negativa. Para baixo anda a chuva! Pensar faz doer, o ensino pressupõe uma pedagogia desadaptada da sociedade dominante. Doutro modo como aprenderão os alunos, em tempo útil, a “levar a água ao seu moinho”?

Para andarmos na estrada precisamos de regras (código ou regras de trânsito); para circularmos na sociedade precisamos de conhecer as regras da língua (a gramática). Doutro modo passaremos a vida a andar por carreiros ou por estradas camarárias sem termos a possibilidade de entrar nas auto-estradas da vida social.

As elites hodiernas, sem conteúdos nem ideias humanos, optam pelo simplismo. Para oferecerem aos distraídos da vida têm sexo, diversão e opinião! Isto é de graça para todos; o poder e o melhor pão, esses são para os que se empenharam na sua formação.

No mundo da opinião toda a gente tem razão. Só que a língua é anterior à filosofia e para se” ter razão” não chega a opinião, é precisa a razão que advém da sua fundamentação. No mundo do dogma da verdade da opinião preparam-se as pessoas a ter opinião sem razão e assim a aceitarem a opinião sem destrinça. Nisto está interessado um globalismo que pretende reservar para poucos a capacidade de pensar e vê na formação séria da maioria um impedimento às suas arbitrariedades. Manter um povo na incapacidade de se expressar é o melhor pressuposto para uma ditadura consistente e para impedir a concorrência de possíveis competidores treinados.

A defesa e empenhamento pelo proletariado não podem abdicar da qualidade; não chega o „para quem é, bacalhau basta”.

O Homem define-se e desenvolve-se pela Língua

Na capacidade de diferenciações dentro duma língua, podemos observar a maior ou menor capacidade de expressão dum povo. Ela é como que a sua matriz e dá testemunho do seu maior ou menor grau de desenvolvimento intelectual.

A língua é ao mesmo tempo a minha casa e a minha Ágora. Ela é não só abrigo mas também expressão de relação. Para se abrigar, tanto chega uma palhota, uma favela, como um palácio. Como vivemos num mundo do “homo homini lupus” temos porém que preparar o aluno/a com instrumentos adequados. Antigamente dizia-se: “pela aragem se vê quem vai na carruagem”.

Um espírito decadente e uma proletarização da cultura estão cada vez mais na moda.

Quem defende a proletarização da língua, ao orientar-se por um padrão minimalista e miserabilista, atraiçoa o interesse do proletariado. Este tem de exercitar o seu intelecto e aprender formas mais complicadas de entender uma realidade complexa. A cúpula da pirâmide não desce à base proletária; esta é que tem de se preparar e consciencializar da subida. “Para cima só os anjos ajudam; para baixo todos os diabos empurram!”

Em geral reconhece-se que a matemática e o latim são grandes meios auxiliares de estruturação do cérebro e do pensamento.

O ensino sério duma gramática coerente é certamente o primeiro instrumento de organização e ordenação mental que não deve ser recusado ao povo, seja ele o mais pobre e alheio à cultura oficial! Regras não inibem a criatividade. São pelo contrário o seu pressuposto. A criatividade ordena o caos. Pressupõe inteligência e esforço!

Um país que ainda não atingiu o apogeu do seu desenvolvimento não se pode deixar orientar pelo relativismo decadente vigente nos povos ocidentais interessados em não caírem sozinhos.

Um país como o Brasil, para assumir a liderança do continente sul-americano tem que arrogar-se responsabilidade apostando sobretudo na formação do povo. O relativismo decadente assumido em política de língua pode ser um sinal de que o Brasil não se quer preparar para assumir tal posição! O país não se pode perder em repetir experiências de povos decadentes. Deve ter a coragem de errar por si para aprender; tem de crer para poder!

” Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece”, Nietzsche (citado em JORNAL DE OLEIROS).

Boa noite Brasil!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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