Portugal em Campo: Um Exemplo que a Política Insiste em Ignorar

Selecção nacional campeã da Liga das Nações da UEFA

Portugal brilha em campo, derrotando gigantes como Espanha (1) e Alemanha com alma, inteligência e união. Fora das quatro linhas do relvado, porém, reina o conformismo e a mediocridade: uma política sem norte, sem paixão e sem povo. No futebol vemos uma nação inspirada, competente e com talento; na política, um país parado e resignado sempre à espera de comando próprio.

Nas últimas partidas da Liga das Nações, Portugal conquistou duas vitórias memoráveis: primeiro frente à Alemanha, depois frente à Espanha — duas potências históricas do futebol europeu. Em campo, a seleção nacional mostrou ao mundo aquilo que muitos portugueses já sentem: inteligência táctica, espírito de equipa, resiliência, e uma ambição que não se esgota com a vitória. Mas mais do que resultados, Portugal demonstrou algo raro nos dias de hoje — uma união autêntica entre os jogadores, os adeptos e a identidade nacional.

Cristiano Ronaldo, mais do que capitão, simboliza uma geração de futebolistas que não joga apenas por títulos, mas por um país. E essa ligação emocional — entre os melhores e o povo — é um dos segredos do sucesso. Há um laço visível entre a elite desportiva e a base popular, algo que se constrói com mérito, trabalho e verdade. Em tempos de descrença generalizada, é no futebol que muitos portugueses voltam a sentir o devido orgulho coletivo tão menosprezado por ideologias estranhas ao povo e por uma governação reduzida a administração de agendas e directrizes por vezes estranhas à cultura e contra interesses genuínos do país.

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer da política. Onde o futebol dá lições de profissionalismo, superação e sentido de missão, a política nacional mostra-se rotineiramente mais conformada, oportunista, estagnada e sem visão. Governantes evitam assumir erros, não se corrigem, não escutam. Em vez de enfrentarem os desafios com coragem e espírito de equipa, preferem desculpas hipócritas, retórica vazia e o velho hábito de culpar os outros e na incapacidade de canalizar a energia coletiva do povo para algo produtivo. (Na política, reina a arte da desculpa e da fuga à responsabilidade deixando o país entregue a si próprio, como um estaleiro sem engenheiro. O objetivo parece ser contornar o povo, manter o poder e atribuir culpas aos outros, evitando a todo o custo uma análise séria das causas dos problemas.)

A política portuguesa transformou-se num campeonato sem concorrência séria, onde os partidos, enfraquecidos, produzem líderes frágeis. Falta formação, falta exigência, falta ambição. Enquanto no futebol a concorrência entre grandes clubes eleva o nível e cria elites preparadas, na política escolhem-se gestores do status quo, figuras adaptadas que preferem sobreviver ao sistema do que transformá-lo. Bruxelas, que deveria ser parceira estratégica, tornou-se impeditivo e ao mesmo tempo desculpa permanente para a falta de iniciativa nacional. A submissão acrítica a Bruxelas destrói qualquer impulso de iniciativa nacional e transforma uma potencial elite política em meros gestores conformados.

E assim, enquanto em campo Portugal se bate de igual para igual com os melhores, nos gabinetes o país continua a funcionar como um estaleiro sem plano nem engenheiro. A nação é tratada como um projeto provisório, sem rumo, sem liderança clara. Pior ainda: a pátria parece já não dizer muito a quem a deveria servir com mais empenho.

O exemplo da seleção nacional, com a sua entrega, competência e ligação ao povo, devia ser inspiração. Mas para isso, seria preciso coragem política, visão de longo prazo e, acima de tudo, sentido de missão. Até lá, continuaremos a ver em campo aquilo que gostaríamos de ver no governo — e a torcer para que um dia, também fora das quatro linhas, Portugal esteja à altura de si próprio. Para a política fica o aviso do seleccionador de Portugal, Roberto Martínez: “É preciso ter capacidade para sofrer como equipa, ter resiliência “. Doutro modo, Portugal continuará a erguer-se com alma no relvado e a render-se à mediocridade sem rumo nos governos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) A seleção de Portugal venceu a Espanha, no domingo (8 de junho) em Munique, por 5 a 3 nos penaltis após empate em 2 a 2 no tempo normal e sagrou-se bicampeã da Liga das Nações da UEFA (União das Associações Europeias de Futebol).

A Portugal coube ficar em 1° lugar, à Espanha em 2°, à França em 3° e à  Alemanha em 4°.

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/portugal-na-final-da-liga-das-nacoes

https://redactormz.com/no-qatar/

https://www.aveirotv.tv/categoria/opiniao/antonio-justo/

 

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PENTECOSTES: A UNIDADE NA DIVERSIDADE SOB O SOPRO DO ESPÍRITO

A festa do Pentecostes (1) ergue-se como um alto espiritual da Igreja; não como mero acontecimento histórico, mas como perene convocação ao divino no humano. É o esplendor do Espírito Santo que, qual vento impetuoso, desfaz as barreiras confusas de Babel e reconstrói, no fogo da caridade, a unidade na diversidade. Aqui, a linguagem já não é maldição, mas bênção; já não separa, mas congrega.

O Impulso do Espírito envolve-nos na engrenagem da vida através do Pensar-Sentir-Agir!

Na quietude do Cenáculo de Jerusalém, os discípulos, temerosos e recolhidos, são arrebatados pelo Ruah divino. Não se trata de um mero sopro, mas de um ímpeto que os lança para além de si mesmos. Pensar, na economia da fé, nunca é estagnação; é inquietação, é quesito que clama por resposta. Como os discípulos, também nós somos chamados a recolher-nos, a interrogar-nos, para que, no silêncio, o Espírito nos conceda a resposta que não reside em nós, mas para além de nós.

Sentir, por sua vez, é reconhecer que a existência não se esgota no eu. É no encontro com o outro—seja na fragilidade do próximo, seja na grandeza dos génios da história e da literatura—que o Espírito revela novas possibilidades. O amor, afinal, é sempre diálogo, sempre relação recíproca.

No agir está incluído o risco da liberdade. Os Apóstolos, outrora encolhidos no medo, saem a proclamar. A ação, porém, não é isenta de culpa—e aqui reside o paradoxo da condição humana: mesmo quando movidos pelo Espírito, carregamos o peso da falibilidade. Mas Pentecostes ensina-nos que é melhor errar na ousadia do que definhar na inércia. Importante é primeiramente que o que se faz seja feito com boa intenção no sentido do bem.

O Espírito é a graça (amor) de Deus que age e conduz à renovação e à comunhão!

Pentecostes não é recordação, mas presença, que na vivência interior que move o exterior. É o Espírito que, como seiva invisível, faz desabrochar a Igreja em plenitude. O Espírito não se domestica, não acurrala nem se deixa enclausurar em fórmulas. Ele sopra onde quer—nos simples, nos sábios, nos que choram, nos que esperam e transforma o rumo das coisas. É Ele que, qual artista divino, pinta a unidade com as cores da diversidade, fazendo de muitas línguas uma só voz: a do Evangelho.

A Bíblia diz: “Como é que cada um de nós os ouve falar na nossa própria língua?” (At 2,8). Eis o milagre: a Palavra não se uniformiza, mas traduz-se. O Espírito não anula as culturas; santifica-as. Não apaga as diferenças; transfigura-as em comunhão; não se deixa formular em agendas nem em directrizes políticas movidas por interesses tornados força nem tão-pouco em opiniões pacotes a que falte a diferenciação. Por outro lado, não se deixa reduzir à arbitrariedade do relativismo cultural e moral que reduz tudo ao igualitarismo. Sem a procura da natural individualidade, não haveria desenvolvimento na natureza nem na sociedade. O Espírito Santo é o Sopro de Deus, que atravessa as fronteiras políticas e humanas e permanece na natureza e na humanidade como Paráclito, luz divina e Consolador.

O Pentecostes é legado a ser-se sal da terra!

A abertura ao Espírito da Verdade não é mística passiva; é compromisso. No sentir da Igreja Ele concede-nos os sete dons — Sabedoria (espírito do discernimento), Inteligência (entender o mundo na presença de Deus, uma espécie de intuição das verdades naturais e espirituais), Conselho (na entreajuda e no discernimento de atitudes e circunstâncias), Fortaleza (para encarar a vida de frente se se desviar das dificuldades), Ciência (ao nível intelectual, da vivência e da acção para ir interpretando e atuando num mundo em transformação), Piedade (o amor divino presente em nós através da misericórdia) e o Temor de Deus (o dom que nos leva a reconhecer no Outro o centro da nossa ipseidade, ele ensina-nos o respeito às pessoas e à natureza)—não só para nosso deleite espiritual, mas para que sejamos sal da terra, não nos deixando ficar a marcar passo no horizonte do ego. Ou seja: estamos chamados a dar sabor a um mundo insosso e por vezes perverso, para preservarmos a humanidade da mentira, da hipocrisia, da corrupção e do egoísmo.

Deus é Emanuel—o Deus-connosco. E se Ele está connosco, então nenhum medo justifica a covardia, nenhuma rotina justifica a estagnação. Pentecostes é, pois, um eterno recomeço que se expressa na igreja peregrina não nos deixando tropeçar na culpa e no erro.

O Espírito da Verdade é um fogo que como parte da sarça ardente não se extingue!

Hoje, como outrora, o Espírito desce. Não em chamas visíveis, mas no fogo silencioso que arde nos corações que O acolhem. Ele não nos promete facilidade, mas coragem; não ausência de conflito, mas unidade na diversidade.

Que o Pentecostes não seja apenas memória, mas acontecimento—em nós, através de nós, apesar de nós. Para que, no pensar, no sentir e no agir, sejamos, afinal, testemunhas d’Aquele que é, que era e que há de vir.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) https://antonio-justo.eu/?p=6511

https://antonio-justo.eu/?p=9249

https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/pentecostes-e-o-tempo-alto-da-1640805

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PORTUGAL 2 – ALEMANHA 1

 

Uma Batalha de Glória e em glória no Tabuleiro de Esmeraldas onde o Baixo e o Alto se igualam (1)

 

Sob o céu de Munique, num fim de tarde com granizo, onde outrora se desenharam sombras de conflitos antigos, ergueu-se um novo campo de batalha—um rectângulo de relvado, tingido de esperança e suor. Ali, não se cruzaram espadas, mas talentos; não se lançaram projéteis, mas passes precisos como setas douradas. Foi um duelo de alta estirpe, onde as aspirações de duas nações se entrelaçaram num bailado de força e arte, resolvendo-se não pela obstinada actual guerra nem pela violência, mas pelo sublime código do jogo.

 

Portugal e Alemanha, duas nacoes grandes com diferentes destinos históricos encontraram-se, não para dilacerar ou aniquilar, mas para disputar. E que disputa! Cada toque na bola era uma palavra num diálogo universal; cada drible, um verso num poema escrito com os pés. O relvado transformou-se num palco onde os instintos naturais do homem—a competição, a superação, a beleza—floresceram sem a sombra da destruição.

 

Ah, se o mundo compreendesse a lição que emana destes noventa minutos! Enquanto os governantes tecem discursos sobre domínio e poder, erguendo muros e brandindo ameaças, o Campeonato surge como um farol de outra possibilidade: uma sociedade onde os conflitos se resolvem não com tanques, mas com técnica; não com ódio, mas com génio. As legítimas aspirações dos povos poderiam ser decididas em jogos, onde o vencedor leva a glória, e o derrotado, ainda de cabeça erguida, aprende e recomeça na consciência de que a maior parte da vida é jogo.

 

E o espectador, esse juiz imparcial sentado nas bancadas ou diante do écran, não recebe a verdade mastigada pelos arautos do poder. Não—ele vê, com os próprios olhos, avalia com o próprio critério, e celebra ou lamenta com o coração livre. Nada de opiniões pós-fácticas, formatadas em segunda mão por quem quer moldar a narrativa. Aqui, a verdade desenrola-se em tempo real, crua e bela, como um golo que rasga as redes e a alma.

 

Assim foi em Munique. Portugal venceu, a Alemanha cedeu, mas ambos brilharam. E no fim, quando o apito ecoou, não houve vencidos—apenas homens que lutaram, e homens que, por um dia, lembraram ao mundo que a verdadeira grandeza não está em destruir, mas em jogar.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) “O jogo foi marcado por condições meteorológicas adversas e escolhas táticas surpreendentes de Roberto Martínez, incluindo a estreia de João Neves como lateral direito. A Seleção Nacional venceu esta quarta-feira 04.06.2023 a Alemanha, por 2-1, em Munique, e garantiu a passagem à final da Liga das Nações”.

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1.º DE MAIO: O DIA EM QUE AS MÁQUINAS CHORAM POR NÓS

Era uma vez um mundo que trocou as mãos calejadas por dedos de aço, os suspiros dos cansados pelo zumbido infalível das máquinas. Hoje, no primeiro dia de maio, os sinos dobram, mas não celebram—lamentam. Soam por aqueles que ainda se chamam trabalhadores, embora o trabalho já não os reconheça como seus.

Os homens outrora conquistaram este dia como um refúgio no calendário do suor, um instante de respiro entre a servidão dos séculos. Mas que ironia: ganharam um dia e perderam os outros. Os salários, mínimos como esmolas, compram pão, mas não compram horizonte. Sustentam o corpo, mas deixam a alma em jejum. E enquanto os relógios de ponto viram algoritmos, os direitos desmancham-se no ar, como fumo de chaminés abandonadas.

A automação chegou sem piedade, vestida de progresso, e onde pisou, deixou pegadas de desalento. O operário, antes explorado, agora é ignorado. Suas mãos, que moviam o mundo, são peças sobressalentes num mecanismo que se autorepara. O capital desalmado, esfinge insaciável, devora até seus próprios filhos—e os que sobram, assistem, esfaimados de futuro, à decomposição da própria dignidade.

Onde estão os sindicatos? Onde estão os gritos que furaram o céu como fachos? Mudos, encurralados pela engrenagem que não tem ouvidos, apenas rodas dentadas. Resta aos homens uma escolha: render-se como peças soltas ou erguer-se como brasa. Pois a precarização não é só do ofício—é da alma. O trabalho sem rosto cria homens sem nome.

Os governantes, feiticeiros de números, falam em produtividade, em flexibilidade, em revoluções digitais—palavras vazias que rolam como moedas falsas. Suas leis são escritas em código binário, sem espaço para lágrimas ou suor. Enquanto isso, a vida torna-se líquida, escorre por entre os dedos como areia de horas extras não pagas. O Ocidente, outrora farol, agora é um navio à deriva, com velas rasgadas pelo mesmo vento que soprou sobre os colonizados. A roda da história gira, e os de baixo começam a exigir o que lhes foi negado—enquanto os de cima já nem sabem o que é humanidade.

Na sombra deste dia, São José Operário estende suas mãos marcadas pela plaina. Carpinteiro, pai, homem—não algoritmo, não função nem estatística. Se queremos resistir ao dilúvio de cifras, não basta lembrar Chicago; é preciso invocar o milagre do trabalho que não humilha, que não reduz, que não descarta.

E Portugal, pequeno barco neste oceano de ferrugem e silício? Entre o centralismo que esmaga e o globalismo que desfigura, só nos resta a rebeldia das raízes. A Europa será federal ou não será—pois só um mundo feito de pátrias humanas, não de impérios digitais, merece ser chamado de civilização.

A tarefa que nos cabe é antiga como Caim e Abel: lutar contra a exploração que mata o corpo e a alienação que aniquila a alma. Enquanto houver um só homem que levante a cabeça e pergunte “por quê?”, a chama não se apagará. Não por um mundo de máquinas perfeitas, mas por um mundo de homens imperfeitos—livres, iguais em dignidade, donos de seu suor e de seu sonho.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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1.º DE MAIO: UM GRITO POR HUMANIDADE NUM MUNDO EM RUÍNAS

Um momento de reflexão

Hoje, quando as máquinas substituem mãos humanas e a dignidade do homem se reduz à sua utilidade produtiva, o Dia Internacional dos Trabalhadores não é apenas uma data no calendário—é um espelho que reflete a nossa decadência. Celebramos, sim, mas a quem rendemos homenagem? Aos que labutam sob o jugo de um sistema que os esmaga enquanto os glorifica com palavras vazias? Os trabalhadores conquistaram um dia para si, mas os outros 364 permanecem nas garras de grandes senhores que transformam vidas em números, corpos em engrenagens, sonhos em peças descartáveis.

Os direitos arrancados a duras penas—horas justas, salários mínimos, o direito a respirar fora da fábrica—são agora devorados pela sanha de um capitalismo disfarçado de progresso porque aliado do socialismo materialista. A automação, que prometia libertação, tornou-se a nova algema: o homem já não é explorado por sua força, mas descartado por sua suposta irrelevância. O salário mínimo sustenta o estómago, mas não alimenta a alma; garante a sobrevivência, mas nega a existência digna. E enquanto a tecnologia avança, a humanidade recua, esfacelada em funcionalidades, reduzida a algoritmos.

A precarização não é apenas do trabalho—é do humano. O indivíduo, despojado de valor, torna-se mercadoria numa economia que venera máquinas e desdenha de carne e osso. As organizações sindicais, outrora trincheiras de resistência, são esvaziadas por um poder que não tolera coletivos, apenas consumidores isolados. Resta-nos, então, a pergunta: como resistir? A resposta não está apenas em novas leis, mas numa revolução da consciência. É preciso erguer-se não como peças substituíveis, mas como seres irredutíveis à lógica do descarte implementada por medos.

Os governantes, cada vez mais distantes, falam em eficiência, em crescimento, em futuros digitais—mas calam-se sobre fome, sobre cansaço, sobre o desespero de quem não é visto como gente, mas como recurso. Suas agendas são escritas a sangue-frio, em salas onde o humano é abstração e a tecnologia, dogma (num imperialismo mental). Enquanto isso, a instabilidade é cultivada como projeto: vidas informais, trabalhos efémeros, existências sem raízes. O Ocidente, outrora senhor do mundo, vê agora os servos de ontem exigirem dignidade—e descobre, atónito, que já não sabe oferecê-la nem a si mesmo.

No Cristianismo, hoje é dia de São José Operário—o carpinteiro, o trabalhador silencioso que sustentou a sagrada família com suor e dedicação. Se queremos resistir à maré desumanizante que vem de além-mar (e das ideologias materialistas), não basta evocar os mártires de Chicago; é preciso resgatar a ideia de que o trabalho não é apenas produção, mas extensão da própria humanidade.

E Portugal? Entre a Europa centralista e o globalismo voraz, só nos resta uma saída: o federalismo, a força das regiões, a resistência das culturas locais contra a homogeneização que esmaga identidades. O globalismo só será legítimo se nascer de baixo para cima, se for construído por mãos humanas, não imposto por máquinas políticas e por corifeus líderes de ideologias falsas.

A tarefa que nos resta é colossal: libertar-nos não apenas da exploração, mas da alienação que nos faz aceitá-la. Enquanto houver um sopro de humanidade em nós, a luta pela dignidade permanece. Não por um mundo de robots, mas por um mundo de gente. Um mundo onde a dignidade não seja privilégio, mas direito inalienável—de todos, para todos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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