O MISTÉRIO QUE NOS TECE: A TRINDADE É O CANTO DO UNIVERSO
A Fórmula do Céu na Terra: Expressa na Dança Quântica e no Abraço Trinitário
Num mundo que insiste em nos dividir — entre ciência e fé, entre eu e tu, entre guerra e paz —, a Santíssima Trindade surge como um sopro de unidade. Não é apenas um dogma, mas um convite ao assombro: um só Deus em três Pessoas, uma dança eterna de amor num mundo feito de sombra e luz.
Celebrar a Trindade é celebrar o poder da relação. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são peças de um quebra-cabeça teológico, mas o coração pulsante da realidade. O Pai, fonte de tudo; o Filho, o Amor que se fez carne no Tu do irmão; o Espírito, o fogo que arde sem consumir, sopro que transforma e une.
Esta não é uma matemática divina para ser decifrada, mas um mistério para ser vivido e vivenciado. Assim como três notas formam um único acorde, a Trindade revela-nos que a essência de tudo é comunhão.
Desde o Pentecostes, o Espírito Santo não é uma ideia, mas uma presença tangível que nos move — um impulso para o bem, um vento que empurra a história para frente. Ele é o Paráclito, o Consolador que sussurra: “Nada está perdido”. Quando o mundo nos diz para competir, Ele lembra-nos que fomos feitos para partilhar.
E o Filho, Jesus Cristo, é Deus connosco (o Emanuel), não em conceitos, mas no rosto do próximo, mesmo no do Jesus abandonado. Ele é a prova de que o divino habita o humano, de que o sagrado se esconde no ordinário. Cada encontro é uma Eucaristia.
Deus-Trindade não cabe em definições. Ele é mais que doutrina, mais que sermão. É o amor que tece o cosmos, a força que mantém as estrelas no céu e os átomos em harmonia. Se a física quântica nos fala de partículas entrelaçadas, a Trindade revela-nos que tudo está ligado pelo mesmo amor. (Charles Darwin legou-nos um ensinamento mutilado: a “sobrevivência do mais forte” tornando-se no hino de uma era violenta. Faltou-lhe o outro lado da moeda: a cooperação, a simbiose, o tecer invisível que une todas as coisas. A arqueologia e a história confirmam que fomos feitos tanto para a luta como para o abraço.
Neste Domingo da Trindade, não celebramos uma teoria, mas um chamamento. Se Deus é relação, então nós — feitos à Sua imagem — só somos plenos quando nos abrimos ao outro. Quando rompemos as barreiras do egoísmo e percebemos: o “eu” só existe no “nós” como cada pessoa divina existe na divindade comum.
Enquanto a humanidade se perde em conflitos, a Trindade segreda-nos: “A paz é possível”. Enquanto a ciência e a religião parecem rivais, Ela lembra-nos que toda a verdade é uma só. Enquanto nos isolamos em medos, o Pai, o Filho e o Espírito estendem-nos as mãos e dizem:
“Vem. Faz parte desta dança. Ama, une e cria.”
Na realidade, a Trindade não é um enigma a ser resolvido, mas um abraço a ser vivido (1).
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo
(1) A vivencia espiritual fomenta uma atitude de vida honrosa e enobrecedora.
Ver: https://antonio-justo.eu/?p=9284
A CHAMADA PARA O ENTENDIMENTO COMPLEXO (PENSAMENTO MÍSTICO): https://antonio-justo.eu/?p=8580
O PODER DIGITAL E A PERDA DO AQUI NO AGORA
Reduzidos ao Presente – a mero Entremeio – sem Passado nem Futuro
O mundo digital, na sua vertiginosa dança de luzes e algoritmos, quer-nos reduzidos a funções, engrenagens silenciosas de um mecanismo que celebra o agora sem raízes, sem o aqui. Vivemos na superfície do tempo, como sombras que crepitam na tela, efémeras, sem deixar marcas na terra firme da existência. O ego, inflamado de estímulos, esquece-se do “eu mesmo” e do nós, e assim caminhamos, isolados em multidões digitais, consumindo presentes contínuos sem jamais habitar um lugar.
Ou será que nos deixamos reduzir a ruídos pensantes, partículas minúsculas no universo das mentes, sujeitas à mesma força de atração que mantém os astros em equilíbrio. Mas há uma escada a ser escalada: o pensamento analítico e crítico. Ele é o único meio de elevar-se acima do turbilhão, de vislumbrar, ainda que por um instante, o jogo das coisas sob a luz do sol — não como meros espectadores, mas como participantes conscientes. Num mundo onde a história nos assombra e as massas nos arrastam, é preciso transcender a rotina das instruções de utilização, essa prisão invisível que nos ensina a funcionar como expressões do tempo, mas não a ser.
Crescemos numa cultura de guerra, de utilitarismo rasteiro, onde o sonho é visto como luxo e a fantasia, como fuga. Mas é justamente no reino da fantasia, na filosofia que bebe do cristianismo e do mito, que encontramos o poder criativo — a coragem de aspirar a algo maior que o prático, algo que nos liberte da tirania do imediato. As coisas da vida aguardam o nosso toque pessoal, como notas dispersas que só se tornam música quando ordenadas pela mão do compositor que devemos ser. Criar é responder ao que a vida nos apresenta, é emprestar-lhe a nossa essência, tal como o gesto divino insuflou vida no barro. Sem isso, sem nós mesmos (conscientes), as coisas morrem, e nós com elas.
Urge estarmos alerta (alerta física, espiritual, mental e emocional): as novas tecnologias não são neutras. Elas moldam a nossa percepção, o nosso modo de ver, de sentir, de amar. E se não vigiarmos, tornamo-nos cartões de crédito cerebrais, consumidores de impulsos, servos de poderes anónimos que nada sabem de nós, excepto nossos dados. Desmaterializamo-nos, trocamos a carne pelo algoritmo, o aqui pelo agora vazio. Abandonamos o processo de in-formação — de nos tornarmos forma, de assumirmos uma identidade — para ficarmos presos no em (no processo in), num limbo onde nunca chegamos a ser. Queremos tudo à disposição, e assim nos reduzimos ao que está disponível. Ambicionamos a omnipresença, e, no processo, perdemos o eu que habita o aqui e agora. Contentamo-nos com o agora num mero estar sem ser reduzido a momento.
E assim, construímos um universo de meteoritos errantes — sendo fragmentos sem estrelas, sem órbitas, sem calor. Konrad Paul Liessmann alerta: “se no século XX combatíamos a reificação (a transformação do humano em coisa), no século XXI teremos de combater a desreificação, essa abstração que nos dissolve em pura informação, esvaziando-nos de matéria e alma”. O mercado das opiniões não tem ruas, só becos. E a felicidade, exige esforço. É no atrito que a criança — o novo, o possível — nasce.
Mas preferimos a “ditadura do relativismo”, como bem nomeou Bento XVI, onde tudo vale precisamente porque nada importa. E assim, sem raízes, sem chão, sem aqui, flutuamos no vazio digital (e até social), reduzindo-nos a funções sem rosto, agora sem memória, ego sem eu nem nós.
Por que continuar a deixar-nos reduzir ao fugaz intervalo do agora e, deste modo, sermos condenados ao presente líquido, onde passado e futuro se evaporam, como se fossemos o relâmpago cósmico do acaso: só visível porque a vida, frágil e obstinada, ergueu lentes contra o vazio.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
Pegadas do Tempo
EXTREMISMO E POLARIZAÇÃO SOCIAL NA ALEMANHA
Em 2024, as autoridades alemãs registaram um total de 57.701 crimes com motivação extremista, refletindo um cenário preocupante de radicalização no país. O Gabinete de Protecção da Constituição (BfV) identificou dados alarmantes sobre o extremismo em 2024:
Extremismo de direita: 50.250 indivíduos, dos quais 15.300 são considerados propensos à violência.
Extremismo islâmico: 28.280 pessoas, com 9.540 em risco de adopção de métodos violentos.
Extremismo de esquerda: 38.000 activistas, com 11.200 de tendências violentas.
Tudo isto tem a ver com a polarização social e cultura do confronto.
O relatório não se limita aos números, alertando também para uma degeneração do clima social. A sociedade alemã está cada vez mais dividida, com discursos políticos e mediáticos que privilegiam o conflito em vez do diálogo.
Assiste-se a um reducionismo perigoso: Debates públicos são dominados por uma visão maniqueísta (“bem vs. mal”), ignorando nuances e aprofundando divisões.
Guerra e propaganda: Temas complexos, como conflitos internacionais, são simplificados em “a favor ou contra”, eliminando espaço para análise crítica e objectiva.
A falta de coerência política, a hipocrisia, o dogmatismo e o cinismo são factores que alimentam a desconfiança e o radicalismo.
O relatório da Protecção Constitucional Alemã serve como um alerta urgente: a radicalização e a polarização estão a corroer a coesão social. Para combater o extremismo, é essencial promover diálogo, transparência política e rejeição de narrativas simplistas que alimentam o ódio e fomentam o desequilíbrio.
Segundo um provérbio alemão, “o peixe começa a feder pela cabeça”.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Dia de Portugal – Um Canto Renascido
10 de Junho de 1580 – Luís de Camões parte, levando consigo o último suspiro de um Portugal dourado.
De celebração em celebração, embrulhamos a alma da pátria em folhas de jornal, como sardinhas de feira popular. Queimamos incenso sobre o corpo ainda quente da nação, enquanto ela, entre golfadas de fumo e discursos vazios, agoniza em festa.
Camões, o trovador do destino lusitano, cantou-nos quando éramos aurora. Nas páginas d’Os Lusíadas, o sangue dos heróis ainda corre, mas secou nas veias dos que nos têm governado. O sol da ideologia queimou as cores da nossa bandeira, e as revoluções, como vagas traiçoeiras, arrastaram para o abismo o que nos restava de identidade.
Dizem que, ao morrer o poeta, morreu Portugal. Talvez. Mas a terra não sepultou a semente. A classe política, sim, é cadáver – um fantasma que vagueia pelos corredores do poder, surdo ao ritmo do povo, cego à chama que ainda bruxuleia nas cinzas. “Fraco torna fraca a forte gente…” E nós, filhos de uma escrava e de revoluções alheias, deixámos que nos vendassem com os trapos da Libertas, da Agar, de todas as quimeras que nos roubaram o rosto.
Mas Portugal não morre apesar de muitas loucuras ideológicas e nos últimos tempos dos interesses do deus Mamon de Bruxelas que suborna os humanos para obter suas almas. Não morre enquanto respirar fé e coragem, enquanto lembrar que foi à sombra da cruz e da espada que conquistámos o mundo. Pátria e fé eram uma só carne, um só destino. Hoje, porém, perdemos o povo no labirinto das ideologias, e sem ele, a pátria é apenas um nome esvaziado, um barco à deriva sob o voo circular dos abutres.
Agora, a missão é outra: não basta restaurar – é preciso redescobrir. Os Homens-Bons de hoje não partirão em caravelas, mas em busca da própria alma. Terão de navegar “mares nunca dantes navegados”, não de água salgada, mas de consciência. A Taprobana a vencer já não é a distância, mas o materialismo que nos engoliu, o Estado que nos devora, a religião que se esqueceu de rezar.
Teremos de ousar, como os “egrégios avós”, mas sem infantes que nos guiem. A bússola será a dor, o desespero de uma terra que já não nos reconhece. E quando acordarmos, talvez descubramos que a verdadeira liberdade não tem fronteiras – é como o mar, que não sabe onde começa nem onde termina.
Então, Portugal não será apenas um lugar no mapa, mas um verbo: criar. Já não conquistaremos terras, mas relações; já não levantaremos impérios, mas consciências. E quando o céu se rasgar por fim, não serão canhões que ecoarão, mas as cores do arco-íris, derramando-se sobre nós como uma nova aliança.
Até lá, seguimos. Entre a névoa e o sonho, entre os Velhos do Restelo e os loucos que ainda acreditam. Porque um povo que já foi mar não pode viver eternamente de joelhos.
Viva um Portugal que se redescubra à luz do bem e da verdade e se empenhe na construção de uma cultura da paz e abandone a cultura da guerra!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do tempo
Notas explicativas:
Os Lusíadas: epopeia nacional portuguesa, escrita por Luís de Camões no século XVI. Glorifica os descobrimentos e as viagens heróicas portuguesas, sobretudo a viagem de Vasco da Gama à Índia.
“Os fracos enfraquecem a forte gente…”: De “Os Lusíadas”, expressão para a decadência moral que mina a antiga grandeza.
Libertas, Agar: Figuras simbólicas. “Libertas” representa um falso ideal de liberdade; Agar, a serva bíblica, é aqui uma metáfora da alienação cultural e da heteronomia.
Mamon de Bruxelas (símbolo da ganância ou dos valores materialistas): Crítica à influência económica da União Europeia na soberania nacional, particularmente através de subsídios, burocracia e lobby. A UE é aqui apresentada tanto como parceira como objecto de escrutínio crítico – particularmente devido à sua política de interesses económicos e à progressiva alienação de identidades culturais.
Homens Bons (Conselheiros do rei): Termo histórico para cidadãos respeitados que participavam nos conselhos portugueses na Idade Média – hoje um símbolo de actores íntegros e responsáveis – com integridade moral – na sociedade. (Representavam os interesses populares das regiões no Conselho Real.)
Taprobana: Nome antigo para o Sri Lanka, em Camões um símbolo do desconhecido – aqui como alegoria aos desafios interiores e espirituais da modernidade (metafórica “fronteira final”).
Velhos do Restelo: Figura dos Lusíadas, um velho que profere palavras de advertência na partida da frota portuguesa. Símbolo de pessimismo e hostilidade ao progresso.