IMPOSTO DE SOLIDARIEDADE EUROPEIA DESTINADO A ECONOMIAS FRACAS SERIA A SOLUÇÃO

O que vale para a Alemanha deveria valer para a Zona Euro – Porque não?

Por António Justo

A criação de um imposto de solidariedade europeia em todos os países da Zona Euro (à imitação do que fez e faz a Alemanha para recuperar economicamente a sua antiga zona socialista), que anualmente seria canalizado para as zonas periféricas e mais fracas da UE, evitaria a política de austeridade imposta aos mais fracos e criaria mais justiça, numa sociedade de concorrência livre, que beneficia de sobremaneira, já por si, as nações mais fortes e mais centrais. A via do imposto de solidariedade conseguiu quase apagar as distâncias abismais que existiam entre as economias da zona DDR e zona BRD. As economias periféricas da Zona Euro encontram-se em situação semelhante à da então zona da Alemanha pobre.

Porque é que o que vale para a Alemanha no seu processo de reunificação (no sentido do alinhamento da economia e nivelamento do nível de vida da Alemanha de leste à Alemanha ocidental) não é posto em consideração numa estratégia europeia de tentativa de solução dos problemas da zona Euro? A política de Bruxelas até agora seguida não mete no seu barco a população nem os países periféricos. Permanece renitente deixando a economia oligárquica, levar tudo de enxurrada.

Porque abandona a UE o sistema de economia social do mercado europeu (um capitalismo de rosto humano) para seguir o sistema de economia liberal anglo-saxónico (um capitalismo para os oligarcas do capital e da ideologia)? Deste modo a Europa abandona pouco-a-pouco a tradição humanista que deu rosto à Europa, vendendo assim o fundamento da sua identidade questionado.

Uma outra medida justa seria vincular o pagamento de juros ao crescimento económico do país. Uma tal cláusula obrigaria os credores a investir na economia produtiva do país a quem emprestaram o capital para poderem ter direito a receber os correspondentes juros do capital emprestado. Doutro modo o papel dos credores reduz-se a um jogo de casino.

Interessa também a criação de regras comuns conectadas de tal modo que um só país não possa criar problemas a toda a UE. O alerta da Grécia a Bruxelas implicaria uma grande reforma das instituições da UE mas estas não mostram qualquer sinal de arrependimento nem de interesse; sentem-se bem no papel de disciplinadoras dos países europeus de que tiram o proveito imediato. À união monetária será necessária seguir-se uma união económica real que culminaria com uma união fiscal.

Juros da dívida pública querem-se investidos no fomento das economias que os pagam

Os juros que Portugal paga pela dívida pública deveriam ser aplicados pelos fiadores em Portugal para não se continuar a desviar os recursos públicos para fora do país sem qualquer contrapartida que reverta no investimento económico nacional. Neste sentido seria consequente também a distribuição das centrais das multinacionais por diferentes países especialmente nas zonas que precisam de maior desenvolvimento, o mesmo se diga das instituições da UE. A democratização da economia suporia uma correcção substancial da ideologia centralista. Torna-se intolerável que uma democracia política se deixe governal pela ditadura económica isente.

Doutro modo a Dívida só serve para pagar os gastos do estado e para engordar as instituições internacionais credoras, as únicas que beneficiam dos juros da dívida. De facto, os 12 maiores bancos do mundo compram em leilão os títulos da dívida que o Tesouro Nacional vende e por outro lado também são eles que emprestam dinheiro aos Estados, como testemunham peritos no assunto. Forma-se assim uma corrente mafiosa de credores e compradores dos títulos da dívida nacional. Assim os países devedores tornam-se na mama dos sistemas financeiros.

Portugal vai gastar este ano 8.836 milhões de euros para pagar juros da dívida pública, o que corresponde a 5% do PIB. Uma sangria de um país que trabalha para os credores sem que estes invistam produtivamente em Portugal. Imagine-se a situação de derrocada em que nos encontramos. Para pagarmos 5% teríamos que ter um crescimento económico de 10%, quando ele não chegará aos 2%. O Governo português quer antecipar o pagamento do empréstimo ao Fundo Monetário Internacional para evitar ser vítima do sistema progressivo das dívidas. A dívida é de tal ordem que destrói qualquer boa vontade.

Concluindo; os credores são ao mesmo tempo os compradores dos títulos de dívida pública nacional e como tal especuladores que beneficiam só eles dos juros e do estado carente dos países. Quanto mais os países devem, mais ganham os jogadores do sistema financeiro. Os juros que Portugal paga pela dívida pública deveriam ser aplicados pelos fiadores em Portugal. Esta seria a única maneira de controlar este ciclo mafioso a que os Estados estão amarrados e obrigados a ter um povo inteiro a trabalhar e poupar para pagar a soberba e a usura dos oligarcas.

No cenário partidário nacional não se encontram programas eleitorais de partidos onde se encontrem propostas de medidas concretas semelhantes às que refiro e que exijam responsabilidade ao capital especulativo internacional e que impeçam o seu papel simultâneo de sanguessugas dos contribuintes e de destruidores das soberanias nacionais. Não se apresentam alternativas; o actual sistema está de tal modo elaborado que mesmo os de boa vontade não podem sair dele; serve os interesses de quem está à frente por isso a opção será continuar a administrar a miséria do sistema. Deixar de o ser não é tarefa natural nem fácil porque os tentáculos do polvo são universais.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

A ENCÍCLICA ECOLÓGICA EM DEFESA DA “NOSSA IRMÃ E MÃE TERRA”

A “nossa Casa comum” sente-se ferida, adverte Francisco I

António Justo

Na sua encíclica verde, o Papa denuncia a destruição do ambiente, a embriaguez do consumismo, a degradação ambiental e cultural, e a submissão da política à economia.

A encíclica Laudato Si (Louvado seja) do Papa Francisco, dedicada à ecologia e ao ambiente, põe em primeiro plano a protecção, conservação e recuperação do ambiente natural e ecológico da “nossa irmã e mãe terra”, no seguimento de S. Francisco de Assis, Padroeiro dos ecologistas. Por isso o Papa inicia a encíclica com as palavras de S. Francisco “Louvado seja” no seu “Cântico das Criaturas” que compôs em 1225 (Texto em: https://antonio-justo.eu/?p=3183).

O pontífice constata que o planeta “está a ser destruído” e estabelece uma “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta”. Dirige-se “a cada pessoa que habita o planeta” e não só aos católicos e às pessoas de boa vontade; descreve a natureza como “a nossa casa comum” apelando para a necessidade de “uma conversão ecológica global”.

Alerta para o facto de a terra parecer transformar-se num “imenso aterro sanitário” que reage com catástrofes de maremotos, furacões, desertificação de algumas regiões e inundação de outras. Apelida o planeta de “terra irmã e mãe” e atesta: “Nunca tratamos a nossa casa comum tão mal e ferido como nos últimos dois séculos… o ritmo do consumo, do desperdício e a mudança do ambiente superou a capacidade do planeta de tal modo que o actual estilo de vida só pode conduzir à catástrofe”.

O domínio absoluto da finança sobre a política

A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. “Qual é o lugar da política? É verdade que, hoje, alguns sectores económicos exercem mais poder do que os próprios Estados. Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos”.

“A subjugação da política à tecnologia e às finanças torna-se visível na falta de sucesso da cimeira mundial…”. “A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura”.

Crescimento à custa dos pobres

O rápido crescimento dos países ricos acontece à custa dos pobres: “sabemos que o comportamento injustificável daqueles que consomem e destroem, cada vez mais, enquanto outros não conseguem sequer viver adequadamente a sua dignidade humana”. Uma “verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”. «Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres»

Propõe que se diminua o crescimento: “Por isso, chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes”.

A liberdade de consumo ilude a falta de uma liberdade mais profunda

Apela para a reflexão da própria liberdade que não se esgota na liberdade de consumir como o sistema faz crer “quando na realidade apenas possui a liberdade a minoria que detém o poder económico e financeiro”. “A velocidade da mudança … contrasta com a lentidão natural da evolução biológica.”

Critica a privatização da água “recurso escasso” que não se deve comercializar porque tal como “o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos.”

Também questiona o direito de empresas ricas poderem comprar direitos de poluir a atmosfera afirmando que “a estratégia de compra-venda de «créditos de emissão» pode levar a uma nova forma de especulação”.

“Os mass-media e o mundo digital quando se tornam omnipresentes, não favorecem o desenvolvimento duma capacidade de viver com sabedoria, pensar em profundidade, amar com generosidade.”

Património humano e cultural ameaçado

O globalismo económico liberal, em nome de uma supraestrutura (um governo do mundo, interesses económicos supranacionais, EU, USA, etc), impõe-se de cima para baixo, centralizando tudo: avassala o regionalismo e desrespeitando as identidades culturais e democráticas dos países, organicamente elaboradas ao longo de séculos. “A par do património natural, encontra-se igualmente ameaçado um património histórico, artístico e cultural”. Recorda também que existe uma “ecologia do Homem” como dizia Bento XVI que «também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece“.

O preço do crescimento é pago com a saúde e com o roubo à dignidade dos povos: „O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza”, devendo tornar o seu “estilo de vida conciliável com a defesa integral do ambiente”.

Ecologia e Cristianismo

A crise ecológica apela à “conversão ecológica”. “A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco”. Cita João Paulo II que diz: «Deus deu a terra a todo o género humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém». E continua: “Na tradição judaico-cristã dizer «criação» é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projecto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado.” “Toda a natureza, além de manifestar Deus, é lugar da sua presença”. «Sentir cada criatura que canta o hino da sua existência é viver jubilosamente no amor de Deus e na esperança» …” “Quando o coração está verdadeiramente aberto a uma comunhão universal, nada e ninguém fica excluído desta fraternidade”…

Em Jesus Cristo encontra-se resumida toda a realidade espiritual e material: ”o destino da criação inteira passa pelo mistério de Cristo, que nela está presente desde a origem…

“O antropocentrismo moderno acabou, paradoxalmente, por colocar a razão técnica acima da realidade, porque este ser humano «já não sente a natureza como norma válida nem como um refúgio vivente.” ” …A finança sufoca a economia real”…

“O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal… Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial”.

Inicialmente os monges refugiavam-se do mundo para viverem em meditação e oração; São Bento de Núrsia, imbuído do espírito cristão, promoveu a união da oração, estudo e trabalho manual, dignificando-o na fórmula «Ora et labora ». Francisco I: “Esta introdução do trabalho manual impregnada de sentido espiritual revelou-se revolucionária”.

“A criação encontra a sua maior elevação na Eucaristia. No Pão Eucarístico, «a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador».

A relação entre todas as criaturas verifica-se na Trindade, que é a matriz de toda a realidade. Penso que os teólogos do futuro, os místicos e os cientistas da física quântica encontrarão na fórmula da Trindade a fórmula do mundo e a verdadeira fórmula de toda a realidade.

O papa adianta: “Para os cristãos, acreditar num Deus único que é comunhão trinitária, leva a pensar que toda a realidade contém em si mesma uma marca propriamente trinitária”…: “O Pai é a fonte última de tudo, fundamento amoroso e comunicativo de tudo o que existe. O Filho, que O reflecte e por Quem tudo foi criado, uniu-Se a esta terra, quando foi formado no seio de Maria. O Espírito, vínculo infinito de amor, está intimamente presente no coração do universo, animando e suscitando novos caminhos. O mundo foi criado pelas três Pessoas como um único princípio divino, mas cada uma delas realiza esta obra comum segundo a própria identidade pessoal. Por isso, «quando, admirados, contemplamos o universo na sua grandeza e beleza, devemos louvar a inteira Trindade».

A encíclica do Papa foi recebida com grande entusiasmo na Alemanha enquanto nos USA se levantaram vozes críticas, certamente os que beneficiam com as injustiças do regime económico. O Papa, porém, tem de falar deste tema e criticar o sistema, (embora isto não agrade a muitos) porque o problema ecológico atinge as pessoas e as regiões mais vulneráveis e consequentemente a fome e a emigração em massas.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

MAOMÉ PROFETA EM MECA E GUERREIRO EM MEDINA

Uma Solução para o Futuro: Identificar os dois Rostos do Corão

Por António Justo
Para tentar resolver o conflito inerente ao Corão (1) e às Hadith (1) e possibilitar a sua interpretação pacífica no Islão, peritos da religião muçulmana defendem que será indispensável conhecer e reconhecer os dois rostos de Maomé: o do seu período de profeta e o do seu período de guerreiro (chefe de estado), ambos incluídos no Corão. Só assim se poderá ordenar e compreender as revelações ocasionadas pelo arcanjo Gabriel que Maomé teve durante 23 anos e que se dividem nas suras de Meca e nas suras de Medina. Em Meca, Maomé acreditava poder convencer as tribos árabes que praticavam o politeísmo em torno da Caaba e poder reuni-las sob a religião do seu livro em elaboração para o povo Árabe, um livro à semelhança da Bíblia do povo judeu e do povo cristão. Os mequenses não aceitaram a sua mensagem, obrigando-o a abandonar Meca com os seus sequazes. Depois da Hégira para Medina, (Hégira = fuga de Maomé de Meca para Medina, que marca o início (622) do calendário islâmico). Em Medina, Maomé organizou-se como homem de Estado conseguindo subjugar Meca e alargar o islão. Serve-se das revelações de Medina para vincular no Corão a união de Estado e Religião. Esta estratégia revelou-se muito profícua para a época, contribuindo para a expansão do Islão em períodos posteriores.

Os Conteúdos das Suras do Corão nas Épocas de Meca e de Medina

O Corão é formado por Suras/versos que se dividem em revelações do tempo de Meca e em revelações do tempo de Medina. As suras de Meca eram curtas e dirigidas principalmente aos mequenses; as suras de Medina eram longas e dirigidas principalmente aos habitantes de Medina. Há critérios que os imames usam para distinguir umas das outras. As de Meca ocupam-se com a reverência, o temor de Deus, o castigo de Deus para os pecadores, as provas da existência de Deus, a vida depois da morte, as histórias de Maomé e eventos de gerações passadas e as suras de Medina tratam das normas da sharia, direito civil e de culto, de assuntos de governo/estado, da adesão ao Corão e da luta por Alá (jihad) e da lida com a guerra e seus despojos.

Segundo a análise da maioria dos estudiosos muçulmanos as suras de Medina são as seguintes: 2, 3, 4, 5, 8, 9, 24, 33, 47, 48, 49, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 65, 66, 110. As restantes 82 suras são as revelações de Meca com excepção de 9:42 revelada em Tabuk e de 43:42, revelada em Jerusalém. Quanto às suras 1, 13, 55, 61, 64, 83, 97, 98, 99, 112, 113, 114 os peritos do Islão não estão certos se são suras das revelações de Meca ou de Medina.

O conteúdo entre as suras (revelações) de uma época e da outra são tão contraditórias que literatos chegam a afirmar que Deus mudou de opinião.

O antigo imame e professor de história islâmica da Universidade do Cairo Al-Azhar, no seu livro “Islam and Terrorism” adverte, sob o pseudónimo Mark A. Gabriel, que os imames recebem instruções para, na apresentação do Corão, darem mais relevo às suras de Maomé como guerreiro (as suras de Medina).

O Islão com a sua reivindicação de validade universal atrai intolerância fomentando a radicalidade dentro da comunidade islâmica em relação aos de fora do islão e, como reacção, a intolerância dos de fora em relação ao Islão. O perito em estudos islâmicos DR. Abdel-Hakim Ourghi apela aos muçulmanos para não esconderem os aspectos violentos de Maomé (Corão). Segundo refere ele, no Bonner General-Anzeiger, Maomé podia ser considerado profeta fundador de uma religião na sua fase de Meca, entre 610 e 622. “Após a sua emigração de Meca para Medina, temos a ver com um estadista que repetidamente tomou medidas violentas contra outras religiões, contra judeus e cristãos”.

De facto, o Corão e a Sharia precisam de ser submetidos a uma análise histórico-crítica para possibilitar nele um rosto mais pacífico, a valorização do indivíduo e o reconhecimento do próximo (não muçulmano) como ser com igual dignidade. Uma cultura que subjugue o indivíduo e não reconheça a igualdade da dignidade de homem e mulher, está condenada a ficar presa em estruturas sociológicas do passado, tendo de empregar a violência ad intra et ad extra para poder subsistir. Tudo o que não serve o Homem e a Humanidade tornar-se-á supérfluo. O desenvolvimento e a excelência de uma sociedade pode ser comprovado através da maneira como tratam a mulher e o indivíduo.

O mundo islâmico, principalmente através de emigração de seus fiéis em massa para a Europa, experimenta um choque de culturas, que vai, pouco a pouco, provocando, no seu meio, a autorreflexão do Islão e o surgir de pessoas como o DR. Ourghi que conseguem elevar a discussão do Corão e da Sharia a um nível filosófico, antropológico e sociológico abertos. Muitos estudiosos do Islão na Europa procuram ultrapassar uma interpretação, até agora limitada à jurisprudência e à história, para possibilitarem a criação de uma ciência teológica no sentido de iniciarem uma teologia muçulmana baseada numa abordagem científica histórico-crítica possibilitadora do seu desenvolvimento no sentido de um Islão com um novo rosto adaptado à realidade circundante e ao tempo e que possibilite uma imagem de Deus/Alá não só ligado a uma cultura mas aberto à globalidade e à multiplicidade das culturas. Para o cientista islâmico DR. Ourghi, uma renovação só poderá ser conseguida “quando o Islão não se compreender como comunidade militante que luta pelo domínio sobre todo o mundo” como apregoam as revelações e os ditos de Maomé de Medina.

O permanecer na insistência e alegação de o Islão ser o possuidor e senhor da verdade universal, (e até legitimar com ela a violência contra outras crenças) além de fomentar a intolerância, dá perenidade à perseguição e à guerrilha islâmica impedindo um diálogo aberto e não fingido com outras religiões. De facto, a grande maioria dos peritos e representantes do Islão entrincheiram-se em citações de lindas e poéticas revelações do Corão, calando a verdadeira realidade de uma estratégia baseada no Maomé de Medina. A secundar esta ideia está a prática islâmica de que uma mentira em benefício do Islão é considerada uma verdade ao serviço de Alá.

O muçulmano Ourghi critica também a hipocrisia reinante em sociedades islâmicas, atestando de moral dupla estados que têm o Islão como religião de estado, dizendo: “O ‘Islão cruel’ e a Sharia são válidos apenas para a população pobre, os dominantes não se comportam segundo o Islão.

No terceiro „Phil.Cologne“ da cidade de Bona na Alemanha, Ourghi também se expressou criticamente, sobre os organismos de tutela muçulmana na Alemanha. Segundo testemunhou as organizações coordenadoras dos diferentes grupos islâmicos, tal como a União Turco-Islâmica, são controladas por órgãos governamentais dos países de origem.

De facto, tabém isto constitui um grande problema porque impede a capacidade de integração de muçulmanos noutros países que se sentem obrigados a terem de se afirmar em contraposição às culturas de acolhimento. A abundância de dinheiro concedida por países islâmicos e magnates para a construção de mesquitas e instituições fomentadoras do islão no estrangeiro torna os países de acolhimento cegos na concessão de direitos para tais planos. Catar e a Arábia Saudita investem centenas de milhões na implantação do islão mais radical na Europa.

A ambivalência de Maomé de ser profeta para os de dentro e guerrilheiro para os de fora, possibilitou-lhe a conquista e consequente construção de um grande império muçulmano, vendo-se este hoje obrigado a procurar as melhores suras do Corão para demonstrar o seu espírito pacífico. Esta estratégia torna-se ineficiente num tempo em que cada pessoa passa a ter acesso à formação, à informação e à cultura. A evolução dos povos e das armas de combate na disputa entre religiões e culturas já não é a mesma que no passado, o que pressupõe uma mudança de estratégia. A expansão do Islão no mundo ocidental revelar-se-á como precário dado combater o saber global e, de momento, contar apenas com o apoio de forças políticas e económicas europeias que se vêem obrigadas a engolir cobras e lagartos para poderem captar o capital árabe, mas, numa outra conjuntura, facilmente mudarão de estratégia. As resoluções da Cimeira G7, na sua decisão de até ao fim do século reduzir as energias fósseis determinarão o total enfraquecimento económico dos países produtores de petróleo e de carvão.

Em tempos de globalização, manter-se preso no tempo e na cultura árabe impossibilita o desenvolvimento e a adaptação ao Homem e ao tempo; a cultura árabe, para poder acompanhar a mudança de paradigma da sociedade ocidental terá de submeter a sua religião a um aferimento científico que a torne capaz de dar resposta ao desenvolvimento do cidadão e poder viabilizar o seu contributo indispensável para a sociedade ocidental que precisa urgentemente de correcções que a civilização árabe poderia ajudar a efectivar.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
In: www.antonio-justo.eu

(1) O livro sagrado do Islão. No Cristianismo temos a encarnação de Deus e no Islão a inlibração de Deus.

(2) Actos, afirmações, opiniões, aplicações do Corão e modos de vida de Maomé.

NOTÍCIAS PARA LEITORES COM PRESSA – ESCRAVIZAÇÃO DE MULHERES POR UM MAÇO DE CIGARROS – Parabéns à Turquia etc.

Por António Justo

ESCRAVIZAÇÃO DE MULHERES POR UM MAÇO DE CIGARROS

Segundo informações da enviada da ONU, Sainab Bangura, os jiahdistas do “Estado Islâmico” vendem mulheres e meninas” pelo preço de um maço de cigarros”. A escravização de mulheres em massa é um factor decisivo para o recrutamento de combatentes estrangeiros.

PARABÉNS À TURQUIA

Os resultados das votações na Turquia depois de terem sido contados quase todos os votos revelam a perda da maioria absoluta do presidente islamita Erdogan (AKP) que esperava atingir 330 deputados e conseguiu apenas 41%/259 deputados, (para atingir a maioria absoluta seriam necessárias 276 assentos) revelam. Em segundo lugar ficou a esquerda CHP com 25,2″%/131 deputados; a ultra-direita MHP atingiu 16,9%/84 deputados; a HDP pró-curda alcançou cerca de 13% (79 deputados).
O sistema eleitoral turco não permite grande variedade de partidos no ciclo parlamentar, pois para um partido ter assento no Parlamento tem de superar os 10% dos votantes. A oposição conseguiu 291 deputados.
Erdogan queria mudar a Constituição para consolidar os seus poderes presidenciais à maneira de “sultão”. Para tal precisaria de 330 deputados. 56,6 milhões de turcos estavam chamados a votar. A participação nas eleições foi de 85,4%. Da Alemanha houve 480.000 turcos que votaram.
Tudo isto revela que o povo turco é distinto e mais democrata do que queriam fazer dele. Felizmente a Turquia está mais moderna que a maioria dos seus chefes.

PRISÕES NO ESTADO DO HESSE NA ALEMANHA

O Estado do Hesse tem 21 114,9 Kms quadrados e 6 045.000 habitantes. De momento encontram-se detidos um total de 4.500 prisioneiros. Destes 8% são mulheres.
Ultimamente tem-se assistido a uma diminuição de prisioneiros. Em Kassel há uma prisão com três prisioneiras e 18 funcionário do Estado que se revezam em três turnos. Um escândalo por tanto desperdício por falta de quórum.
Segundo o Ministério do Interior, a causa da diminuição deve-se à mudança demográfica que cada vez produz mais idosos e pessoas idosas não cometem tantas infracções à lei. Uma outra causa apresentada para a calmaria nas prisões é a boa situação económica do país!

G7 COM RESULTADOS PROMETEDORES

A G7 mostra a o cunho de Merkel que se empenha por palavras e obras na defesa da energia limpa. Na cimeira foi decidido durante o séc. XXI organizar a economia de tal modo que deixe de usar se energias fósseis. Até 2050 a redução do carvão e do petróleo deve ser de 40 a 70%. Propõem-se que o aquecimento da Terra não supere os dois graus em relação ao período anterior à industrialização. Até 2030 propõem-se tirar 500 milhões de pessoas da fome e da subnutrição. Greenpeace louvou os resultados da Cimeira.

REFUGIADOS: CARTA DE CONDUÇÃO POSSÍVEL SEM DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO

Um candidato a asilo na Alemanha, proveniente do Afeganistão (2009), não tinha cartão do cidadão nem outros documentos que o identificassem mas queria tirar a carta de condução na Alemanha mas as autoridades distritais de Main-Kinziga negaram-lhe o direito pelo facto de não possuir nenhuns documentos afegãos que o identifiquem ou refiram o lugar e data de nascimento; o Tribunal Administrativo considera a exigência dos documentos como não necessária porque o Registo Federal Central para Refugiados e a carta de Condução tornam possível a pessoa identificável. Assim o afegão recebeu luz verde para tirar a carta de condução.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

Cidadania Integração e Identidade – Maneira de estar Lusa

Fraqueza de identidade nacional faz do Português o Imigrante modelar

António Justo
O emigrante português é feito de céu e terra, movimenta-se entre cidadão e estrangeiro sendo sua bandeira a saudade onde ventos estranhos movem a recordação. Nele mora o fado, aquela dor do mundo que o torna irmão de toda a criatura e de todos os povos. Como a onda do mar sente que o seu eu se constrói a partir do nós, por isso sofre o todo na parte e goza a parte no todo. Sob o cânone luso “à terra onde fores ter faz como vires fazer”, o português torna-se num imigrante adaptado. Neste sentido, talvez o português e o brasileiro sejam dos povos menos complicados e mais agradáveis, nos países de recepção, porque reconhecem e vivem a interculturalidade na consciência de que são ao mesmo tempo onda e mar (parte de um todo). O Povo português é especialista em integração como revela a sua maneira de estar diferente da de outros povos, quer em termos de colonização quer na qualidade de imigrantes.

Presença lusa e Visibilidade da Identidade cultural

O português não é estranho nas nações onde chega porque estranha é já nele a condição. Enquanto outros estrangeiros se integram e outros constroem as barricadas dos seus guetos, o português, geralmente, deixa-se assimilar reservando a portugalidade para a alma. É do génio português ter uma cidadania alargada (ser francês com os franceses, suíço com os suíços, alemão com os alemães…), nele palpita a alma universal. O emigrante é ele e as suas circunstâncias – é cidadania sem cidade na procura de uma identidade alargada. Nas suas asas traz o longe, nos seus pés traz o perto e no seu desejo a vontade de se tornar uma personalidade implantada.

Numa sociedade de templo profanado em que cada um faz dela um mercado, seria óbvio que o português acentuasse a sua identidade e expressasse não só como indivíduo mas como povo com missão universal; é importante tornar mais visível, no âmbito das instituições, a sua característica portuguesa, de humanidade e universalidade através de maior intervenção activa social, cultural, política e empresarial. Portugal que deu mundos ao mundo precisa de reflectir a sua identidade, não acentuando tanto a ideologia que ele assimilou da França nos tempos modernos mas mais o espírito europeu que o tornou grande no mundo, ao tornar-se expressão da Europa, através dos descobrimentos e da emigração. Neste sentido, tem também na Suíça o bom exemplo de uma nação pequena, mas também ela grande por ter sabido manter viva e cultivar no seu povo, a tradição do seu génio. A comunidade portuguesa radicada na Suíça pode reconhecer na bandeira suíça aquele sinal comum característico da sua identidade que os tornou grandes e lhes concederá perpetuidade.

Toda a vida individual e cultural é processo de identificação, um contínuo fluir para a realização e para a verdade. Nascemos como indivíduos, formando pouco a pouco a nossa identidade / consciência, num acumular de camadas formadas de educação e experiência de vida que determinam o nosso ser de pessoa. A formação da identidade consciente (personalidade – aquilo que dá visibilidade) acontece de maneira privilegiada num espaço livre que proporciona vestígios individuais e culturais adaptados à geografia e à cultura em diferentes ramos de expressão.

Portugal tem de recuperar a consciência de si não esbanjando a força da tensão que o tornaria forte se não resolvesse muitos dos seus problemas apenas com o tubo de escape que é a emigração. Antoine de Saint-Exupéry constatava: “O mundo inteiro afasta-se quando vê passar um Homem que sabe para onde vai”! (Esta é a diferença que marca na migração um cidadão ocidental e um cidadão muçulmano). Aquilo que se pode revelar como fraqueza de identidade nacional e faz do português o migrante modelar não é só fraqueza é também testemunho de alma grande e de ideário universal. O português não se deixa aprisionar em termos de cultura, quer ser ele e mundo sem ser metido numa gaveta.

A nossa existência não se expressa só como indivíduos mas também como comunidade. A ignoração da identidade do povo conduz à apatia das massas e à morte da colectividade. O português, na qualidade de cidadão e de povo, continua a ter algo especial que é o seu sal, muito necessário para ajudar a temperar a vida dos povos do mundo numa consciência simples de irmãos que em conjunto querem celebrar a festa da vida.

Os portugueses no estrangeiro sobressaem pela fraqueza de identidade nacional que os torna, por vezes invisíveis onde vivem e consequentemente muito queridos em todas as sociedades acolhedoras. Enquanto outras etnias se afirmam, por vezes, pela negativa, contrapondo-se à cultura que os acolhe, os portugueses deixam-se assimilar facilmente, perdendo já na segunda e terceira geração o perfil exterior de português. Tanto a afirmação pelo gueto como o desaparecer pela assimilação não passam de extremos que deveriam ser resolvidos através de uma integração consciente na sociedade acolhedora. Não somos apenas indivíduos mas também povo. Uma política baseada na multicultura e no gueto contradiz o desenvolvimento cultural e social dos povos; este acontece num processo natural de intercultura, numa atitude aberta e benevolente de dar e receber, tal como mostraram os portugueses com o interculturalismo no Brasil. Acolhedores e acolhidos enriquecem-se mutuamente dando assim oportunidade ao desenvolvimento.

Não chega fortalecer elos pessoais de ligação urge criar estruturas

Portugal e os portugueses são portadores de uma grande cultura, não precisam de se esconder; com os descobrimentos, foi o povo da Europa que no século XIV e XV mais contribuiu para o desenvolvimento da humanidade, criando pontes entre continentes e civilizações. Daí a naturalidade de uma auto-estima que se quer mais presente num assumir de responsabilidades nas instituições culturais e políticas dos países hospedeiros. O esforço dos partidos portugueses no sentido de estarem presentes na emigração através dos deputados torna-se anacrónico se não acompanhado por uma política e uma estratégia de integração de emigrantes nas diferentes instituições dos países de imigração. Seria um equívoco centrar o discurso político em torno de quatro deputados (partidos) para a emigração e deste modo distrair o português da iminente necessidade de ele se integrar nas estruturas políticas das nações onde se encontram. Estas manifestam o grau de cidadania e de identidade dos grupos inseridos numa sociedade.

Uma identidade individual fraca enfraquece a identidade da comunidade e vice-versa. Numa altura em que a prática política europeia se manifesta doentia será preciso que cada pessoa e cada país redescubram a substância da sua identidade para poder assumir a responsabilidade e a missão como cidadãos e comunidades na construção de uma Europa à altura dos seus antepassados.

O 25 de Abril de 74, na resposta às exigências inovadoras do Vaticano II bem como à revolução 68 e à necessidade de democratizar Portugal, possibilitou novas experiências numa sociedade cada vez mais complexa a agir como colectivo no concerto das nações europeias. Como identidade colectiva histórica que sempre construiu pontes interculturais, resta-lhe consciencializar-se da sua tarefa e corporalidade necessárias em diáspora. A identidade é processo vivo, nunca acabado, entre cidadão e sociedade na construção da própria casa, da casa portuguesa, da casa onde nos encontramos e da casa universal, a que demos resposta outrora com os descobrimentos. Numa altura em que a Europa atravessa uma forte crise de identidade torna-se importante a consciencialização e fomento da própria identidade na relação com as identidades vizinhas. A diferença (identidade) é a constante natural na evolução de um todo feito de complementaridades (A Suíça é um país com uma democracia onde toda a Europa pode aprender).

Atendendo à fraca capacidade organizativa das comunidades portuguesas seria lógica uma preocupação primordial do Estado português em fomentar o associacionismo, tal como fez a Igreja nos princípios da emigração dos anos 60 na Europa. Não chega o amor dos portugueses e seus descendentes pelo país de seus pais e avós, é preciso que os governos implementem activamente a organização associativa no sentido de Portugal se tornar social e institucionalmente mais visível e presente. Não chegam elos de ligação, são precisas estruturas organizadas que possibilitem um rosto colectivo que mantem vivas as tradições e ideais do Portugal maior. Portugal é festa é celebração e como tal precisa de mais organização para melhor possibilitar uma sociedade global em festa…

Toda a sociedade civil política e religiosa deverá empenhar-se no sentido de impedir os défices de identidade. A nova geração emigrante traz pressupostos que lhe facilitariam uma maior visibilidade social. As diversas associações sociais, religiosas e culturais têm aqui uma missão de relevo de modo a preencher também o vácuo da burocracia diplomática e parlamentar. Como contraposto à ilusão política permanece a acção individual e associativa. Necessita-se mais e mais construir uma nacionalidade espiritual, o portuguesismo de rosto universal, a ser reconhecido pelo sistema político parlamentar para que nessa qualidade fomente as associações e iniciativas num agir intercultural inclusivo. Em comunidades passadas a influência da massa era esmagadora, hoje espera-se mais do indivíduo na renovação das comunidades.

A verdadeira integração dá-se na convivência do dia-a-dia com os vizinhos e expressa-se no mercado de trabalho, a nível empresarial, na cultura e na política. A identidade social organiza-se principalmente em torno da língua e da cultura (religião) o que, contudo, nos não deve levar aos exageros da estratégia árabe. Não existe uma sociedade concreta nem abstracta que se possa basear apenas num senso comum de paz, liberdade e justiça. Isto permanece um sonho que deverá levar à formação de identidades abertas nesse sentido mas nunca se conseguirá porque a identidade pressupõe a diferença. O filósofo Auguste Comte defendia a ideia de que uma sociedade sem religião não pode subsistir, desintegrando-se com o tempo nas redes da polis. De facto também a autonomia é um sonho necessário mas não alcançável. A solidão experimentada na contemplação do mar ou das estrelas cria a consciência da necessidade de um todo.

Facit: Torna-se urgente uma maior participação na vida social do país de acolhimento e na política através de uma participação activa e filiação nos diferentes partidos do país de acolhimento. Esta seria a melhor exemplo de integração, um testemunho de cidadania e uma maneira de dar rosto a Portugal.
António da Cunha Duarte Justo
in: www.antonio-justo.eu