A Escola e as Diabruras do Ministério

O REGIME MINISTERIAL AUTORITÁRIO DESACREDITA A DEMOCRACIA

Educação é um sector sensível em democracia. Em estados democráticos os funcionários ministeriais e administrativos, no pelouro da Educação, têm grande respeito pelos seus multiplicadores, os docentes e os encarregados de educação. Há uma opinião pública bem formada e o respeito por ela é enorme, dado os meios de comunicação, nestes países, se considerarem um poder do lado do povo. Em Portugal quem se encontra na mó de cima não precisa de contar com consequências para comportamentos desregrados. A julgar pelo comportamento do ME, Portugal ainda se encontra no tempo do ditado de regentes sem preparação nem vocação para o ensino! Quanto à sua democracia, deixa muito a desejar!

Incompetência Estrutural

“Casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. A formação escolar e profissional em Portugal, segundo os resultados de PISA, encontaram-se no lugar do farolim de retaguarda da Europa. Para isso há muitas razões: uma delas está nos governos fazerem do ensino escolar uma cobaia contínua. Na falta duma política nacional de ensino assiste-se a políticas que se servem do ensino mantendo numa instabilidade contínua um segmento nacional que precisa de calma para bem actuar.

Ultimamente, uma esquerda militante instalada nas reparições administrativas do ME que tem uma relação perturbada com a cultura, atribui a miséria escolar ao professorado.

Em Portugal não há nem pode haver um perfil de professor aferido enquanto não houver um perfil de aluno nem de escolas. Isto pressuporia também o levantamento das necessidades profissionais da economia regional e nacional nos seus diversos ramos. Assim, o sucesso escolar é posto em questão logo à partida, atendendo à incompetência estrutural. O ME acaba de publicar um estatuto dos professores indigno e irrealista, fruto de ideias peregrinas formuladas por claques oportunas a viver à sombra dos ministérios. Enquanto ministério, escolas e professores não se compreenderem como elementos componentes do mesmo projecto educativo, com o mesmo espírito pedagógico e democrático, o projecto escolar continuará a fracassar.

Mais que no fomento dos alunos, o ME aposta no fortalecimento da administração contra a livre iniciativa e a experiência directa provinda da comunidade docente e discente. Com a nomeação de paraquedistas, ao vento da ideologia, para as direcções escolares dá-se mais um passo ao serviço do autoritarismo e do alargamento da fazenda partidária.

Por outro lado o centralismo continua a servir as nomenclaturas ministeriais, pelo que a situação continua precária e crónica. O ME, na sua expressão, consegue juntar as falhas do sistema capitalista às do socialista, tornando a vida do cidadão honesto cada vez mais insuportável. A experiência, porém, ensina que “quem semeia ventos colhe tempestades”!

Avaliação dos docentes – Política de desvio das atenções

Neste meio, o critério e o equilíbrio tornam-se moedas raras. O equívoco deste governo tem sido confundir a necessidade de reformas profundas com políticas epidérmicas tendentes ao branqueamento das estatísticas nacionais no concerto comparativo das nações europeias. O Governo, para não deixar vir à tona da nação o fracasso da sua política de educação em comparação com standards estrangeiros, e para desviar as atenções do problema das taxas de insucesso e de abandono escolar, conduz uma batalha contra os professores desautorizando-os e desacreditando as escolas servindo só a burocracia à custa do tempo roubado aos conselhos executivos e aos docentes. Estamos perante um ministério armado em menino bonito à custa da vituperação dos professores e de regulamentações anacrónicas e ideológicas. O ME procura o argueiro no olho dos outros, não vendo a trave que tem no seu olhar.

No passado, quando havia impasses, o ME costumava iludir o problema mudando o nome da tutela ou da repartição. Agora, em vez da mudança do nome da etiqueta, evita a reforma atribuindo as culpas ao professorado.

Um ministério eivado de espírito despótico quer uma escola à sua imagem ao serviço duma democracia para alguns. Um povo que não consome cultura porque lhe falta o essencial tem que ser ajudado mediante uma política concertada e não, como está em voga, recorrer-se à desestabilização duma classe média a favor dum internacionalismo de cunho zebrado favorecedor do grande capital que só conhece barões…

Encarregados de educação e alunos são promovidos a avaliadores de professores como se não fossem necessários critérios profissionais para o poder fazer. Isto é que é democracia! O povo é quem mais ordena!… Uma chicla que dá para cobrir muita miséria!

Fazer subordinar a avaliação de desempenho dos professores, a sua progressão na carreira e remuneração, do sucesso dos alunos, é aleatório e uma maneira fácil de conseguir bons resultados na pauta. (Quando falo disto a colegas alemães eles ficam negativamente admirados) Isto só poderia surgir duma mentalidade proletária e duma ministra formada em económicas mas não para o cargo que ocupa. Esta forma de avaliação do desempenho docente é reprovável e déspota. O despudor dum irracionalismo abrilista tardio encontra-se por detrás de muitas medidas deste governo. Querem o “sucesso” de graça, através de êxito nas estatísticas! Continuam a apostar num Portugal para inglês ver. Nas fileiras do ME, encontram-se muitos fundamentalistas que parecem querer desestabilizar o país. O que o país preciso é de autenticas reformas que assentem numa mudança de mentalidade aferida à realidade portuguesa. Activistas dum certo Abril ainda se não esqueceram dos tempos dos comícios em que se protelavam as decisões para horas tardias, a altura em que a maioria já se tinha retirado para casa restando os militantes mais fanáticos, os da súcia, para a votação e implementação “democrática” do que queriam. O ME socorre-se de tais subterfúgios administrativos tendo reservado para as férias a discussão dos problemas contando assim com a força democrática da distracção.

Será que o ME quer afastar os melhores da escola para a administração poder fazer o que lhe dá na gana?!

É também maldosa a insinuação feita pelo ME com a comparação da assiduidade da classe docente à de outras profissões, atendendo à grande percentagem de professoras no ensino e dado a gravidez ainda não ser um distintivo também masculino. Ou será que se quer voltar aos tempos da velha senhora em que o ideal da professora era ser solteira, ou será que se quer desmotivar as professoras a formar família. Por estas e por outras se vê a falta de realismo e o predomínio do factor ideológico partidário neste governo. Primeiro fomentaram a irreverência e agora segue-se o facilitismo.

Programas escolares sem respeito pelas diferenças de aptidões

Programas orientados para perfis universitários e currículos de via única, tendo como meta o 12° ano, estão destinados a conduzirem ao fracasso, por não contemplarem as necessidades reais de emprego nacional nem as diferentes aptidões e vocações dos alunos. Implementa-se uma discriminação insuportável que prejudica, ao mesmo tempo, os alunos com aptidões de carácter mais abstractas e aqueles que têm mais competências para actividades de carácter prático. Além doutros, há muitos factores não considerados também para um público, muitas vezes, não consumidor da cultura: pobreza, vocação, hiperactividade, agressividade, desconcentração, dislexia, coeficiente de inteligência, motivação, etc.…

Um regime escolar que não contempla a diferença de situações e objectivos diferenciados nos seus currículos fomenta o fracasso social e individual destruindo quqlquer possibilidade de eficiência do sistema e a auto-estima individual. Um curso unificado tão heterogéneo, a manter-se, teria de dispor de muito mais professores, de modo a estes poderem acompanhar cada aluno individualmente, o que se torna impossível quando um professor dá aulas a 100-1500 alunos por semana.

A comunidade escolar tem vários públicos pressupondo-se a existência de currículos diferenciados tendentes para a profissionalização média, para a formação profissional superior e para a formação universitária. O alcance dum tope de currículo deverá possibilitar porém o acesso ao superior que se lhe segue (como acontece aqui na Alemanha). É urgente também a fomentação de Escolas especiais para um segmento da população escolar com características específicas ou com deficiências próprias que exijam pessoal especializado para o efeito com programas exclusivos.

Escolas democráticas

Em democracia seria natural a existência dum projecto educativo integral aferido às diferentes capacidades dos alunos, aberto e por isso não reduzido a um sistema centralista e monopolista. O saber, como as escolas deviam ser de todos e não monopólio do Estado nem de ninguém. O povo dá o dinheiro ao Estado para que este assegure todo o ensino e não apenas as escolas estatais. Liberdade de escolha e de autonomia de projectos educativos são pressupostos duma democracia real. Os mais pobres não podem escolher as suas escolas nem as suas universidades, são obrigados a frequentar a escola estatal que em certas zonas se degradam para escolas do resto.

Os resultados escolares não podem ser indiferentes ao sistema. Estes ajudam-nos a saber onde nos encontramos e assim conhecer o desenvolvimento e o fim.

É fundamental a existência de auto-responsabilidade relativamente às aulas, ao pessoal e ao orçamento, nas escolas públicas, sejam elas estatais ou privadas. O que importa é atingir o objectivo contemplado por lei, independentemente do caminho a lá chegar.

O controlo não pode acontecer na base da desconfiança mas como apoio dentro da concorrência escolar. O controlo, mais que quantitativo, deve ser qualitativo. A escola é auto-responsável. O sistema democrático questiona-se a si mesmo se, ao pretender pessoas autónomas, não fomenta a auto-responsabilidade da escola. O desenvolvimento escolar acontece através das escolas. A avaliação para se tornar eficiente terá de se dar na base da confiança e da responsabilidade. Um controlo que não transmita informações utilizáveis fomenta o autoritarismo. Como podermos ter um povo democrático se a sua administração é autoritária?

O que precisamos é de escolas com autonomia de gestão e com certa flexibilidade na organização dos programas e horários.

António da Cunha Duarte Justo

Docente na Alemanha

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Ensino de Português na Alemanha – Um Bicho-de-sete-cabeças


Desde 1997 tem-se dado um desinvestimento contínuo no ensino de português no estrangeiro. Esta situação, acrescida dos erros crassos duma política míope que leva os professores a abandonar os lugares de colocação, além da instabilidade criada aos docentes, conduz agora a cursos sem aulas de português e gera a necessidade do aumento da verba orçamental para o ensino em cada ano que passa.

O ME revelou não ter vocação nem competência para gerir esta modalidade de ensino. A partir de 1997 surge um partidarismo do ME no subsistema da tutela do “Ensino de Português no Estrangeiro de tal modo militante e autista que hoje será difícil reparar tão grande mal instituído. Talvez isto também explique a reserva e o medo do Ministério dos Negócios Estrangeiros em concretizar a sua integração no Instituto Camões!… Quanto mais tempo isto durar mais uma esquerda desintegrada à rédea solta e seus comparsas, se apoderam dum sector que precisa de calma para bem servir.

Apesar da Constituição Portuguesa garantir o ensino de português aos luso-descendentes e de o ano escolar já se encontrar bastante avançado, as comunidades de Kelsterbach, Hildrizhausen, Pfalzgrafenweiler, Kempten e Garmisch-Partenkirchen ainda se encontram sem aulas. Na área Consular de Frankfurt, em Kelsterbach, temos 17 alunos do 1º-4º ano e 18 alunos do 5º-10º sem aulas.Não chega a boa cabeça de algum funcionário nem de bons docentes para dar resposta aos problemas a surgir. O sistema está todo enfermo!

As propostas, feitas por políticos da emigração, de integrar o ensino de português, como língua estrangeira, nos currículos regulares do ensino na Alemanha não passam de desculpas de maus pagadores ou revelam a ignorância dos nossos políticos em relação às possibilidades que a legislação vigente oferece. Esta, duma maneira geral, possibilita de facto a criação de cursos de português integrados no currículo das escolas desde que haja pretendentes. O problema é que faltam os candidatos à aprendizagem do Português (A comunidade portuguesa na Alemanha é reduzida e encontra-se muito dispersa por toda a Alemanha, o que não possibilita a formação de cursos integrados nas escolas alemãs). Alunos alemães e alunos de outras nacionalidades optam pela aprendizagem do Espanhol surgindo assim a oferta do ensino do Espanhol por todo o lado nas escolas.

Os poucos pretendentes ao português, como não são suficientes para se poder criar um curso de português integrado no horário regular da escola optam também eles pelo espanhol. Tenho muitos alunos que no estudo complementar, optam pelo espanhol em vez do francês ou do inglês porque, não havendo número suficiente para formar uma turma de português, estes, devido à sua bagagem de português, tiram as máximas notas em espanhol, o que não aconteceria com o francês ou com o inglês se continuassem com ele. Assim melhoram a nota do fim do curso complementar, facilitando-lhes também a entrada e a escolha duma universidade a seu gosto. Certamente que, quando Angola, Moçambique e o Brasil oferecerem maior interesse pelas suas riquezas e estas sociedades oferecerem maiores garantias ao investimento alemão e europeu, o entrecâmbio aumentará e com ele a procura do português. O Brasil já é bastante atractivo.

A oferta da escola virtual através da Internet é uma boa iniciativa como apoio. De resto, por enquanto, será um segmento de procura mais aproveitável para os portugueses que residem nas Américas.

Naturalmente que o leque das possibilidades de modalidades de ensino a oferecer aos emigrantes ainda não está suficientemente explorado, no sentido da racionalização e da sua exploração e expansão. Para isso seria necessário mais sentido da realidade e uma vontade forte para se superar a mentalidade das capelinhas e maior colaboração institucional e associativa.

As soluções administrativas e muitas das propostas feitas por iniciativas migrantes na Alemanha pecam por demasiada parcialidade ou mesmo partidarismo.

Certas associações e grupos políticos, como se revela no caso do Conselho das Comunidades, são demasiadamente monolíticos, sem pluralidade partidária, tornando-se as suas iniciativas a nível de opinião pública, um meio de auto-afirmação à custa de problemas filtrados pela sua perspectiva e em serviço próprio. Por outro lado as posições dos deputados da emigração sobrepõem-se, por companheirismo e falta de interesse, agindo com accionismos à margem dos verdadeiros interesses da população luso-descendente. A sua actividade, ao longo dos tempos tem-se revelado como um álibi para a política estabelecida portuguesa. Assim nem as organizações, nem as lobies “representativas” dos emigrantes servem os luso-descendentes nem os interesses de Portugal.

Tudo isto facilita e confirma o desinteresse do governo. Ninguém está interessado em conhecer a realidade nem em contactar os que estão com a mão na massa, ou melhor, os que apenas actuam por amor à causa do ensino e dos portugueses.

Por estas e por outras, ao desinvestimento progressivo de Portugal no ensino acrescenta-se uma apresentação oportunista da realidade que a todos prejudica salvaguardando apenas os interesses de alguns funcionários administrativos e alguns funcionários sindicais que assim vão fazendo e vivendo a sua vida à custa dum mau serviço ao povo e aos governos. O problema é crónico e não terá saída atendendo ao emaranhado da rede monolítica que domina a expressão da população portuguesa na Alemanha. O mesmo ideário esquerdista constitui o substrato que vai do jornal de emigração na Alemanha aos representantes do Conselho das Comunidades Portuguesas e outras instituições.

Também os deputados se encontram condicionados por uma situação sui generis rodeando-se também eles de pessoas com interesses pessoais e assim melhor poderem atingir os seus fins imediatos sem estorvos de qualquer género. É a lei do oportunismo e um partidarismo mal entendido prejudicador e desqualificador duma política de partidos séria. Estes porém sabem-se à rédea solta sem necessidade de prestarem contas às centrais localizadas em Portugal. De facto, no caso destes se interessarem seriamente pelos interesses da comunidade portuguesa quem teria de pagar a conta, num primeiro momento, seria Portugal.

A longo prazo porém, Portugal ganharia se mudasse a sua maneira de estar!

António da Cunha Duarte Justo

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Magros e Gordos na Europa


„Gordura é formosura”, dizia-se antigamente. Também a brancura do corpo e do rosto eram, então, distintivos de quem não precisava de trabalhar ao sol e vivia à sombra dos palácios e do moreno dos que cultivavam o campo.

“Mudam-se os tempos”, mudam-se as vaidades. Nos países da Europa rica, hoje é o contrário. O moreno e a magreza são sinal de quem tem dinheiro e possibilidade de passar férias nas praias soalheiras, de frequentar os solários, de fazer ginástica e de optar por uma alimentação racional.

Um estudo alargado, feito pelo Ministério da Saúde alemão sobre os hábitos alimentares dos na Alemanha, que escalona a análise segundo a idade, o nível escolar e a situação económica, confirma o que o bom-senso comum já pensava. Resultado: os mais gordos encontram-se entre os pobres e entre os que têm menor nível de formação escolar.

Na Alemanha 66% dos homens têm excesso de peso, enquanto as mulheres atingidas pelo mal são 50,6%. O inquérito também revela um problema de falta de peso em meninas na puberdade.

Enquanto que duma maneira geral a juventude revela sobre-peso em 18,1% dos jovens e em 16,4% das jovens, no grupo etário dos 70-80 anos, o excesso de peso atinge 84,2% dos homens e 74,1% das mulheres.

A relação de gordura entre a classe cultural mais desfavorecida frequentadora da escola normal (Hauptschule) e a do liceu (Gymnasium – que dá acesso directo à universidade) é flagrante. Na escola normal há o dobro de gordos em comparação com os do liceu. Quanto mais formação ou perspectivas de formação menos gordura!

Por estas e por outras, os responsáveis pela saúde a nível da União Europeia querem promover uma iniciativa legal contra as glândulas sebáceas. Assim as embalagens terão que indicar a quantidade de açúcar, sal, gordura e amidos. Bruxelas está a preparar legislação para ser aplicada em todos os estados da União, tal como aconteceu com o tabaco.

Na União Europeia encontram-se em acção apóstolos da saúde munidos contra o fumo e actuando já por todos os quelhos da Europa para que no céu desta democracia não se encontrem prevaricadores públicos do vício do fumo. Quer-se uma Europa mais elegante e esguia que a América! A próxima campanha já se prevê. Por toda a parte da Europa já vão surgindo os zelosos contra a adiposidade.

A opinião é barata e pode muito! De facto, se fossemos a ter em conta o resultado da investigação feita na Alemanha, os políticos teriam de se esforçar por enriquecer a camada economicamente desfavorecida que produz mais gordos e de investir mais dinheiro nas escolas para que os mais desfavorecidos a nível escolar e cultural deixem de envergonhar os vaidosos da nação com tantos gordos! O problema é que aqueles estão mais preocupados em branquear as estatísticas do que em remover as causas da adiposidade.

A vaidade, a razão e a beldade é como o sol: está sempre do lado dos que têm!

António da Cunha Duarte Justo

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Caminho Português de Santiago de Compostela

O Caminho Português de Santiago de Compostela

O Caminho Português de Fátima

António Justo

Numa época em que se tem o sentimento de que a vida se realiza a caminho e, por vezes mesmo, o caminho é a meta, seria de dar muita importância ao encontro dos caminhos medievais para Santiago de Compostela. Para Portugal, isto significaria encontrar, em grande parte, um caminho comum ao de Fátima. A Europa, entre caminhos e atalhos, sente saudade de um caminhar que a leve a bom termo.

A crescente necessidade do povo peregrinar, por razões de fé ou outras, acompanhada dos interesses comerciais e turísticos torna óbvia a necessidade de fazer o levantamento e fomento da rede das rotas dos peregrinos por toda a Europa e em Portugal.

Na Europa Central e Nórdica está muito em voga, na camada social que gasta cultura, fazer-se, a pé ou de bicicleta, o caminho de Santiago de Compostela. Em Portugal, este caminho está bem demarcado e bem servido a partir do Porto, com um percurso de 121 km em Portugal e 114 na Galícia, passando-se por 125 aldeias e cidades, podendo o percurso ser caminhado em 10 dias, o que seria pena fazê-lo tão depressa, atendendo a tantas belezas que há para observar e sentir no seu trajecto. Daí o haver muitos estrangeiros (italianos, alemães, franceses e ingleses) que vão de avião até ao Porto, tomando a partir daí o caminho para Santiago.

Do Porto para o Sul ainda não há uma investigação nem um roteiro definido. Noto isso, também, no Chaque, Branca, onde moro nas férias e aonde há um bocado de caminho conhecido como Caminho de Santiago que é, em parte, usado por peregrinos de Fátima que fazem um desvio da Estrada Nacional, a via mais usada como via para Fátima, via esta sem nada de romântico ou espiritual ao contrário da outra. (cf. Artigo “Povo nas Valetas das Estradas” .) O caminho tem muitos traços comuns com antigas estradas romanas. Já a Rainha Santa Isabel, tal como o clero, a nobreza e povo peregrinavam a Santiago o que levava à Construção de Igrejas e albergarias ao longo do trajecto.

Embora seja difícil determinar o caminho mais original em todas as suas especificidades, importante é a existência dum caminho adequado e bem concebido nos trajectos não determinados. Um tal trajecto atrai, naturalmente, todos os possíveis apetites.

Seria relevante fazer coincidir, na medida do possível, o caminho de Santiago com o caminho de Fátima. Para isso é preciso maior consciência e vistas rasgadas e um plano regional bem estudado e demarcado com infra-estruturas que sirvam os interesses dos peregrinos e não se perca nas curvas de interesses de grupos concorrentes.

Na Idade Média os peregrinos faziam a peregrinação como penitência ou para agradecer alguma cura milagrosa, tal como acontece hoje com a peregrinação a Fátima. Paralelamente a intenções religiosas está também o gosto da aventura e a curiosidade cultural e interesses turísticos.

Interesses religiosos e seculares não se mordem, prevalecendo naturalmente a motivação religiosa mais profunda num caso e noutro do que pode parecer. No nosso caminhar, seja ele pelas sendas da terra, ou do espírito encontra-se sentido e orientação. (Como distintivo, o romeiro possui um Cartão de Peregrino, a Concha de Santiago e o bordão de peregrino.)

A caminho, encontramo-nos, grandes e pequenos, sob a mesma plataforma. Daí o facto dos centros religiosos interessar também a crentes doutras religiões e a não crentes. O caminhar é ao mesmo tempo salutar para o corpo e para a alma. O bem que estes caminhos têm, com as suas infra-estruturas de apoio, é serem humanos, naturais e bastante económicos, possibilitando também, à margem do consumo, umas férias baratas paras alguns. Tudo é bom, neste caminhar conjunto.

No peregrinar se entrecruzam e misturam a paisagem natural com a paisagem da alma do peregrino dando-se prolongamento uma à outra e possibilitando o encontro dos mais diversos mundos num mundo tão rico e variado. De facto, o mesmo caminho une os diferentes caminhares e alegra-se com as diferentes motivações. Aqui poesia e oração irmanam-se (Cf.: http://sol.sapo.pt/blogs/ajusto/ )

António da Cunha Duarte Justo

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POR UM PORTUGAL VIRGEM E UM ESTADO EUNUCO

O Despudor Político do “eu posso, quero e mando”

Em Portugal, o Ministério da Educação, na continuação da sua campanha de safar da cultura portuguesa os vestígios do passado cristão e de desportugalizar Portugal, deseja, com nova medida, retirar o nome de Santos às escolas públicas que o tenham. O assunto, a nível superficial, até parece banal: o nome de santos ou de políticos é indiferente para um povo que não gasta cultura porque lhe falta o essencial para viver. O resto é conversa entre crentes políticos e crentes religiosos a arrotar. Eles até têm razão; santos só incomodam numa democracia em que se querem todos pecadores iguais!… A política não suporta desigualdades nem injustiças, a não ser as dos seus. A seu ver, a virtude é reaccionária e conservadora; a nova ideologia deseja-a por isso fora da escola. O seu lugar, se andar com sorte, é nalguma igreja meio abandonada e desapercebida.

Talvez tencionem substituir o nomes dessas escolas pelos dos seus ídolos políticos (os seus santos): Karl Marx, Cunhal, Soares, Stalin, Mao, Fidel Castro, para salvaguarda das sombras do 25 de Abril, para testemunho do seu internacionalismo e para honra de tais padroeiros no adro da sua democracia.

Numa outra ordem de ideias, numa mudança de legislatura, a Ponte 25 de Abril receberá o seu nome original de Ponte Salazar!… No palco das legislaturas cada fracção poderia colocar, alternadamente, em palco, os cenários com os correspondentes predilectos, pelo tempo que lhes é dado pelo povo.

Mas não, na era progressista já não serão relevantes os partidos, apenas interessam ainda os nomes individuais, já não nomes vulgares, mas nomes formatados a caminho da abstracção em que de facto já se superaram as diferenças. Então, numa sociedade “cassete” formatada, instaurarão o politeísmo correcto como garante da sua diferença. O problema é que numa fase posterior também os deuses passarão a estorvar a divindade comum.

A Caminho do Acobardamento

Por enquanto, enquanto não nos habituarmos aos seus desmandos, alguns cépticos ainda vão afirmando que aqueles querem dar continuidade aos extremismos do Marquês de Pombal, mas sem a contrapartida do que ele fez pela nação. Comportam-se, por vezes, como estrangeirados envergonhados da nação chegando a actuar como mercenários de interesses estrangeiros e de ideologias extremas. O internacionalista têm de se camuflar para não dar nas vistas e para poder agradar a toda agente lá fora; o internacionalista moderno tornou-se uma espécie de pacote só invólucro. Hoje em dia os cartuchos são tão bonitos!

Senão veja-se o que acontece até já no futebol: para que a cruz do seu emblema não faça sombra à meia-lua turca, que protestou pelo facto da camisola dum clube português em campo ter a cruz, a reacção imediata do portuguesito foi tornar a cruz imperceptível. Este é um exemplo concreto do respeito à diferença. Estamos a chegar ao auge dum Portugal de “português” para inglês ver, ou será que o nosso estado já terá conseguido desalmar a nossa cultura? Esquecem que no próprio símbolo comunista, da foice e do martelo, se encontra a cruz.

Na próxima vez quando os nossos clubes forem jogar à Turquia coloquem nas suas camisolas a meia-lua. Este será o melhor testemunho de internacionalismo progressista. Certamente que o governo concederá um subsídio para o efeito e os turcos se sentirão vitoriosos na derrota pela vitória conseguida!… Em questões de futebol, o governo não se preocupa com o dinheiro: basta recordar os milhões oferecidos por Portugal aos palestinianos para o campo de futebol!

Na Cultura do Papel Higiénico

Se querem uma cultura portuguesa virgem e um Estado português eunuco terão também que acabar com os nomes, geralmente másculos, sejam eles políticos ou quejandas que ocupam o espaço público nas instituições, ruas, praças, etc. Será necessário começar por fazer o seu saneamento para, no tempo do Homem Adulto, se acabar com todos os nomes.

Se pensarmos em termos políticos progressistas, de facto, todo o nome é um testemunho de capitalismo, porque significa personalização / individuação que é incompatível com o actual ideal socialista e o espírito colectivista proletário, que pretende um homem como massa; sim massa mesmo, massa para poder ser comida mesmo sem colher, porque a colher é símbolo de cultura e esta é o papel higiénico com que se limpará o sim-senhor, na Nova Cidade Progressista, onde, só alguns, já não senhores mas assenhoreados, vivem da tal massa onde o vício da cultura já não atrapalha e a generalidade da massa já não precisa da outra massa porque lhe chega a outra massa da cultura macarrão, trabalhando liberta em casernas com obediências a generais e seus espias no serviço da generalidade. Os escutas, desregrados, como parte da massa, tornam a lei supérflua, ficando na cabeça de uns e de outros apenas uma operação: a lei do cálculo oportuno. Neste Estado do Proletariado Progressista já não haverá nem santos nem senhores que mandem, só se conhecerá o céu da nomenclatura anónima! Atendendo ao seu estado de evolução, a gente já não manda nem precisa de mandar; aí o povo só demanda a desmanda da manada mandada para mandar.

Com o evoluir da sociedade progressista, até dos nomes das ruas, das instituições e das pessoas se prescindirá! No primeiro estádio o argumento da democracia ainda serve, pelo que se organizarão listas de camaradas e companheiros relevantes para a nomenclatura ideológica numa proporcionalidade de igualdade de homens e mulheres, de crianças e adultos. Esta é a fase nominalista, o estádio preparatório do anónimo. Nesse paraíso já não há trabalhadores: trabalha-se. Também já não há chefes: manda-se, obedece-se.

Com o tempo não se tornará fácil para o aparelho burocrático pôr tanta gente na haste pública e menos ainda quando cada pessoa se der conta que também é povo, nação e nomenclatura ao mesmo tempo, e passe, consequentemente, a exigir para si o direito ao nome da rua onde vive. Então a filosofia progressista nominalista tornar-se-á um imperativo de estado. Já não será preciso nome, chega a rua!

No Reino dos Neutros

Para facilitar, a nomenclatura acabará com o artigo masculino e feminino optando pelo neutro. Para simplificar a relação de convivência prática, põem-se já os comités da genética a trabalhar para que ao chegar-se ao tempo da democracia plena não haja distinção entre homens e mulheres mas que se vá já dando um jeitinho para que cheguem a ser todos hermafroditas. Entretanto vão-se fazendo leis – leis de desquite – que dificultem a aberração primitiva da heterossexualidade. Assim acaba-se de vez com as desigualdades diferentes e com toda a fricção. Quanto ao problema do orgasmo, também esse se resolve através do progresso, passa a ser mental, a acontecer na cabeça. Excepção seja feita só para o arem da nomenclatura onde já não se encontrarão mulheres mas sim a virgindade genuína, aí os corpos já não complicam, no Céu do céu tem-se a vivência da faísca eunuca da igualdade diferenciada. Então o povo, para espairecer da felicidade indiferenciada, falará baixinho, à laia de ladainha, do prazer e das diferenças do sexo dos anjos da Nomenclatura Proletária…

O Portugal do futuro, que querem construir, já não será do povo português, mas dum povo número. O tal Portugal do Futuro é um Portugal mais que Portugal, um Portugal internacional numérico. Portugal numérico porque abstracto e sem conotações ideológicas de virtude ou desvirtude. Por fim chegaremos a um Portugal virtual global com alguns numerões socialistas e conformes que viverão já não do biberão da manada mas da mama da massa virtual internacional. No Portugal numérico já não haverá problemas, a não ser o da igualdade/desigualdade numérica: é que uns números são maiores que os outros. Também este problema se resolve acabando também com os números porque, no mundo da fé laica, afinal de contas, também os números são reaccionários: na sua desigualdade acentuam a diferença.

Como apogeu do progresso social, a nomenclatura proletária, para resolver o problema dos números, da massa e do papel higiénico, acabará com o ser humano. Chegou-se à hora científica do Portugal abstracto – transcendente.

Uma vez desaparecido o povo, só ficará a nomenclatura e, desta, subsistirá a virgindade genuína como ideia singela, como ideia viril dum sexo transparente, dum sexo sem espermatozóides positivos e negativos, sem androceu nem gineceu, um sexo sem género porque um sexo do prazer da igualdade progressista. Um prazer genital mas sublime, sem acto, na realidade do novo céu e da nova terra dum socialismo então consumadamente social.

Valeu a pena sacrificar-se, não por uma realidade factual, mas pela ilusão duma ideia, a igualdade no mundo das ideias. Viva, não a realidade, mas a ideia igual!

Afinal “tudo ‘valeria’ a pena se a alma não ‘fosse tão’ pequena” para tal sociedade.

O Cristo era ladeado por dois ladrões. Agora que tiraram o Cristo e o Santos das escolas consolemo-nos com os ladrões.

Mas, diga-se, em abono da justiça: os nossos políticos não são mais que a medida do nosso desenvolvimento superficial!…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, Janeiro de 2008

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