Futuro da Religião e da Sociedade

Atendendo a alguma crítica, que agradeço, feita ao meu artigo “Mística – O Futuro da Religião e da Sociedade” de 29.12.06 em que alguns comentadores relegando Deus exclusivamente para o foro subjectivo místico negavam competência à religião para falar do divino, pretendo acrescentar algumas considerações leves ao assunto começando com analogias. Na discussão não se trata de entrarmos num pensar sectorial e exclusivista. Temos que aceitar a pessoa e a sociedade, as instituições como dados necessários a melhorar, restaurar segundo a divisa: “Ecclesia semper renovanda”. Toda a discussão da crítica pela crítica é irresponsável e autocrática. A instituição e o indivíduo precisam dum factor comum que lhe dê identidade e continuidade. Ou será que o nosso irrealismo chega ao ponto de negar o humano pelo facto de ter a gene que lhe dá continuidade? Trata-se de aprendermos a grande lição da natureza. Nela nada se exclui, tudo se transforma.

Não conheço melhor imagem de Deus do que o Homem (o ser humano). E a melhor imagem do ser humano é a sua palavra., a palavra actuante.

Tal como o Homem é a sombra de Deus, a ideia é a sombra do objecto. A ciência está para Deus como a forma para a matéria.

Assim a negação de Deus implica a negação da filosofia tal como a negação da palavra implica a negação da noção de realidade, a negação do Homem. O Logos, a palavra, o conceito, mantém uma relação com o objecto que lhe deu o ser.

Se partíssemos do pressuposto que a pedra é vida ou espírito materializado, certamente que não poderíamos dar o passo seguinte em frente na perscruta da realidade se a reduzíssemos à pedra como a forma da vida (a sua oportunidade). Agimos semelhantemente ao aceitarmos como única forma de acesso à realidade a dialéctica. Provocamos o mesmo curto-circuito ao materializarmos processos históricos em cadáveres conceituais ao serviço duma ideologia que em nome da vida se alimenta de imagens mortas, das sombras da vida passada ou futura.

A religião católica está bem consciente da revelação bíblica quandonela Deus afirma: “tu não deves fazer nenhuma imagem nem forma de Mim”. Este foi o grande papel judaico e cristão da desmitização de Deus e continuará a sê-lo. Naturalmente que a religião tem um carácter esotérico e outro exotérico. O facto de Deus ter proibido ser adorado sob qualquer forma ou imagem de Deus “quer do que está no céu quer do que está na terra” não quer dizer que Ele o que dá forma a tudo, embora imperscrutável, não esteja presente na forma do mistério. Para o cristão todo o falar de Deus é sempre o seu falar humano. No falar de Deus usamos imagens tal como no expressar da própria vida, dos próprios sentimentos se utilizam palavras, imagens condicionadas pelas nossas potencialidades. Não seria adequado identificar a expressão com a “ coisa em si”. Uma coisa é a dor em si e outra coisa o seu conceito expresso na palavra dor. Seria ingénuo e desumano querer eliminar os antropomorfismos da nossa realidade humana.

O antropomorfismo, o símbolo, a imagem faz parte da religião como a palavra faz parte da língua falada. O facto de não podermos identificar a ideia, a palavra com o objecto que a ideia interpreta não podemos renunciar à palavra pelo facto de ela não ser a realidade mas apenas a ideia dela.

O ser humano não pode atingir a Realidade, a Verdade de forma imediata mas apenas mediatamente. Seria pensar em curto-circuito se exigíssemos do ser humano outras formas de abordar a Realidade que não através dos sentidos e das capacidades que nos estão à disposição. O ser é mais do que o que os sentidos possam apreender e expressar dele; para lá do ser criado”existente” há o transcendente, o mistério. Nós estamos condicionados a viver na esfera espacio-temporal na tenção entre a Realidade e a Ideia ou experiência que possamos ter dela. Já Platão nos chamava a atenção à sua maneira para não identificarmos o mundo da realidade com o mundo das ideias. Há muito sofrimento no mundo pelo facto de vivermos no mundo das ideias e ideologias que nos impedem de ver a realidade.

Se conseguíssemos a identificação existencial da ideia com o objecto alcançaríamos a felicidade, tornar-nos-íamos divinos. Sombras desta realidade são já os tais momentos místicos.

Quem ridiculariza os antropomorfismos e segue este caminho para atacar a religião ou para ridicularizar a teologia não percebeu nada do aspecto esotérico da realidade, da religião, isto é, reduz a realidade à linguagem não se dando conta da correlação – distinção entre ideia e objecto, nem tão-pouco da dialéctica subjacente. O ser do Homem é determinado pela palavra. O falar humano será sempre antropomórfico o que religiosamente inclui a consciência do discernimento! A distinção entre “Deus” e a “palavra de Deus” são pressupostos elementares, tal como é elementar a distinção entre o objecto e a ideia que o descreve! A realidade, Deus também não pode ser reduzida a uma experiência subjectiva, por mais iluminados ou esclarecidos que possamos ser individualmente.

A identificação da palavra de Deus com Deus na pessoa de Jesus Cristo, é percebida como mistério. O inexprimível nome de Deus (ser de Deus) expressa-se (toma forma) em Cristo. No processo trinitário manifesta-se a relação completa, a Realidade actuante. Isto porém já assume o carácter místico do cristianismo, a que se não chega sem uma caminhada.

Na proibição bíblica de se fazerem imagens de Deus já está bem subjacente a experiência dum Deus vivo para lá das imagens, para lá da percepção ou dos conceitos. Assim distingue-se entre o aspecto cúltico e o aspecto litúrgico. No culto foi sempre proibido a forma, a imagem de Deus. Aí há realização, acontecer e não mera recordação, projecção ou introspecção. A proibição por Deus de O representar sob qualquer forma não quer dizer que Ele, aquele que dá forma careça de forma. Na tradição bíblica, babilónica, grega e romana encontra-se a ideia de Homem como a “imago dei”.

Na Bíblia só a voz de Deus pode constituir a ponte com a transcendência com o consequente problema de também o ouvido ser sensorial. “Deus é indescritível por palavras” diz Isaías, 6. Deus é puro espírito e portanto sem corpo e sem forma. Os antropomorfismos mantêm sempre o seu carácter metafórico não excluem o espírito incorporal divino. Ele permanece como o outro, o termo comparativo vizinho. As expressões bíblicas referem-se mais à acção de Deus e não ao conceito. Quanto ao aspecto conceptual, os especialistas eram os gregos!

A tradição cristã conhece duas vias especiais na abordagem de Deus, além de outras: uma via dá-se através da palavra, da revelação, procurando assim ascender à transcendência; a outra é a via da experiência mística, através da experiência de Deus imanente.

Interessante é o facto de, segundo a Bíblia, Deus ter proibido imagens cúlticas de Deus, tendo criado o homem à sua imagem e semelhança. A única imagem de Deus passa a ser o Homem. Deste modo já se diz muito sobre o ser humano, a realidade e a verdade. Além da procura e do sentimento de se estar a caminho tudo permanece mistério. Querer materializar a realidade, a verdade numa opinião, numa sentença seria meter o carro à frente dos bois.

Para lá das definições filosóficas de Deus como o “sou o que sou” e do Homem como “penso logo sou” de característica mais helenista há muitos caminhos que levam a Roma. Entre outras vias do reconhecimento poderíamos adiantar “sinto logo existo”, “actuo logo existo”, “relaciono-me logo existo”. De novo entre Deus e o Homem, entre a realidade e o Homem, a “imagem”. A imagem da imagem é proibida de adorar imagens da “imagem”. Uma relação como luz e sombra. Aí está a semelhança. Assim a proibição das imagens tem a ver com a necessidade dum ser sujeito dum ser relação. O fundamental é o entrarmos em relação e não nos ficarmos pelos conceitos que são quando muito sombras da realidade que nos podem indicar o sentido da caminhada.
António Justo.

António da Cunha Duarte Justo
Social:
Pin Share

Ecologia – Ignorância versus Dignidade das Árvores

Modelo de sociedade relvado: Sobreiros – Vítimas do olhar assassino!

Sim! Eles, os da administração da Branca (e de quantas Brancas há por esse mundo fora), os eleitos arboricidas do sítio, numa acção de golpe baixo, mataram os sobreiros centenários, lá ao lado do cemitério. (Na sorte destes sobreiros está o destino de tanta árvore maltratada e desconsiderada por essas cidades fora!) Sem piedade, envoltos no manto da indiferença geral, mandaram arrancar as árvores em cuja copa o amor e a admiração de muita gente pendia. Não os deixaram morrer de pé, aqueles monumentos solitários testemunhos da arboridade, da personalidade na paisagem. Morreram por um motivo ignóbil; para darem lugar à calidez do cemitério, e assim deixarem de ser uma provocação à morte e ocasionalmente oportunidade de sombra para visitantes.

Na cabeça o corta-relva
Sim! Lá na Branca, para deixarem os mortos na torreira, cortaram os sobreiros. Assassinados pela calada da noite, não lhes valeu a menção de protegidos por lei, nem sequer depois a recordação num jornal local, embora eles fizessem parte da imagem da Branca. Morreram incógnitos tal como acontece à relva humana. Deles só resta na paisagem a sua ausência e o sentimento ferido de quem tem respeito pela natureza!

Não, não quero ficar prisioneiro da consideração, no respeito pelos desrespeitadores.
Eles, sem vida no cemitério da administração administram a morte. Mas, não têm culpa, não sabem o que fazem! A ignorância mata muitos inocentes principalmente quando as instituições trazem o corta-relva na cabeça!…

O dia a dia e a administração deram-se as mãos perdendo a relação com a vida, com as plantas. De tanto olharem para a mata já não vêem as árvores, cada uma das árvores; chega-lhes a ideia delas. São pessoas estudadas, cientistas, arquitectos, paisagistas, doutores: chega-lhes a ideia. Mataram o espírito da mata na árvore. A ciência, a função estragada já o não vê, usa os óculos da biologia ou os da economia. O olhar administrativo, científico não desperta para a vida para o espírito, ele divide, ele mata, assassina.

Para certa gente aqueles sobreiros eram de tal modo elevados que constituíam uma afronta à igualdade, ao moderno! Querem ver as pessoas a olhar para baixo, para o cemitério da vida! Uma árvore aponta para o céu tornando-se um perigo, uma contestação do ordinário da vida, uma exigência. (Outros também nas querem desenraizadas para que as pessoas de tanto olhar para cima tropecem na vida…). O espírito do tempo transmite uma mentalidade em que cada vez custa mais às pessoas olhar para o que as supera, como se isso constituísse um atentado à sua personalidade. Chega o olhar “clínico”, o olhar matreiro para se desenrascar da vida!

Este olhar científico, desintegrador, recebemo-lo com o leite materno citadino. A mentalidade da ciência, que outra coisa não é que o pensar da igreja secularizado, vive da classificação. A igreja classificava as árvores de criaturas, a ciência classifica-as de plantas. Assim as desenraízam da terra e impedem o olhar para o céu, a união entre céu e terra. Eles querem-nos apenas produtos, produtos desenraizados comerciáveis na praça pública da economia global.

O nosso amor elementar pela natureza perde-se e com ele aumenta o nevoeiro científico reduzindo tudo a ideias, a abstractos. No templo da escola ensinaram-nos a classificar as árvores como plantas, madeira, etc… Não ensinam a aprender a realidade, querem é cabeças cheias de imagens da realidade. Eles enganam-nos dizendo que amor é sentimento, romantismo sentimental. Mas não amor é relação, é acontecer sem passar pelo altar do intelecto onde os cientistas realizam o sacrifício…

Instrumentalizamos as árvores classificando-as à nossa maneira. Roubamos-lhes assim a alma. Na biologia classificamo-las de plantas, na economia de madeira, na teologia de criaturas de Deus. Cada um usa e abusa delas à sua maneira desenraizando-as da realidade que é a-perspeciva.

Acesso à realidade através da poesia nela inerente
Sim, o verdadeiro homem também acaricia as plantas, não as reduz a árvore de natal ou a lenha para queimar!

Aquele que tiver acariciado uma árvore e falado com ela já não sacrificará árvores sem mais. Quem ama a árvore, gosta da mata, ama o mundo. “Quem não ama o mais pequenino dos mais pequenos não entrará no reino dos céus” recorda-nos o sermão da montanha. Este prega a devoção do mundo porque sabe que nele mora a poesia e esta é a que torna o ser mais humano, isto é ajuda-o a descobrir a sua verdadeira relação. Religião e ciência deveriam inclinar-se e alimentar-se da poesia que repousa na outra lógica e na devoção do mundo. Então o Homem tornar-se-ia adulto e como tal portador do mundo em si. Perder-nos-íamos para nos encontrarmos nele e viveremos todos na amizade manifestada na experiência da relação. Então, sem medo, poderemos perder-nos e encontrar-nos no mundo da árvore e assim entrar na ressonância do amor do mundo universal trinitário.
Então tornar-nos-emos conscientes da desafinação dessa ressonância que deixa morrer a árvore, num mundo desafinado pela turvação da relação científica, económica ou teológica que troca a relação com a árvore pela relação com uma ideia dela.

Na base da turvação (e no nevoeiro científico e religioso) está a miopia do banal. O segredo do negócio está no facto de, a todos os níveis, tudo ser subjugado ao hábito, ao normal, ao ordinário factual. O ordinário quer tudo subjugado, tudo sacrificado à ordem da rotina gratificante do hábito castrante. A nossa ordinariedade reduz tudo ao preceito do pragmático ordinário. Aí não há lugar para o segredo, para o mistério. Ao eliminarmos o extraordinário da vida, o insólito, matamos o mistério e ao matarmos o mistério começamos com a eliminação do espírito das árvores para depois passarmos ao extermínio do Homem. O credo da normalidade, do ordinário, do tal real e factual, não tem limites conduz-nos à banalização total à perspectiva niilista. O niilismo do dia a dia torna-se niilismo diário no culto do vulgar, do banal! O credo niilista anula, destrói, é o último acto da ciência na sua fábrica de cadáveres. Não querem ninguém a olhar para o céu, só aceitam uma perspectiva, a da terra. Da árvore conhecem apenas a madeira, do ser humano o corpo: o uso, só cadáveres! A existência do animal é reduzida ao conceito carne, como o de árvore a lenha ou celulose. Tudo não passa de material na banalidade do dia a dia. Tudo é ordinário, o culto da banalidade não permite a festa, o outro tempo, a conexão das coisas.

O mistério da vida é o propulsor do desenvolvimento
A banalidade é alérgica ao mistério, por isso desconhece a vida, é alérgica a perguntas. Na ilusão da luta contra o mistério destroem a vida, roubam-lhe a alma. Colocam tudo na vala comum da massa. Os mais consequentes com a sua ideia tiram-se a vida a si mesmos, talvez confundam o carácter purificador dum determinado niilismo para o transformarem em credo absoluto. Chega o fascínio das ideias, não há lugar para pensar! E assim, damos os nossos passos de ideia em ideia, na auto-estrada das ideias sem tempo para notar a vida ao lado!

O mistério é o único legitimador da pergunta. Quem acabar com ele abdica de pensar, acaba com a vida. Quem encalha no mundo material só terá a resposta do não sentido porque nesse porto já não há lugar para perguntas. Mas a pergunta é que faz o homem e esta provém do mistério, a realidade de que o Homem é formado. À primeira vista um labirinto!…

A mesma turvação condiciona o espírito do ser religioso e do ser científico na sua capacidade de apreender a realidade. O tal espírito banal de semana, de vida masturbada, de vida parasita.

A árvore é relação entre céu e terra visível na analogia das raízes e das folhas. Não deve ser reduzida a mero objecto, a uma ideia. Se não desmistificarmos a ciência, reduziremos tudo a cadáveres. Então defrauda-se o ser, rouba-se à árvore a sua dignidade, a sua arboridade, o seu ser de templo de Deus.

Já passa da hora, mas talvez ainda seja tempo de recuperar o perdido. Seria sacrilégio continuar a reduzir a árvore a madeira ou a árvore de natal. Se aparece no Natal será para nos reencontrar com ela. Se aprendermos a encontrar o sagrado na árvore realizamos o mistério do encontro do céu e da terra. O caminho para o sagrado é o segredo do ser humano.
E aqui, no mistério humano é que a arboridade faz parte do humano. Então o encontro com a árvore tornará o Homem mais humano. O grande segredo do mundo, do Homem e de Deus é o relacionamento, tal como o segredo trinitário o equaciona: a relação absoluta, a individualidade do nós.

Naturalmente que o reduto niilista não suporta o sobressair das árvores. Estas superam-se nos arranha-céus a custo do estropiamento da humanidade em nós. Na arquitectura das cidades não se olha para as árvores. Os únicos sinais permitidos contra a horizontalidade vulgar é a verticalidade dos bancos.

Ao matar Deus a sociedade vulgar não aceita árvores sobranceiras. Um dia, na sua ilusão ideológica, o homem a criar terá de ter a mesma estatura para que a igualdade não seja questionada pela preguiça, pela vulgaridade. A individualidade e a diferenciação parecem ser difíceis de suportar!

Um modelo de sociedade relvado
As árvores sobressalentes, ao serem transformadas em ideias na câmara escura da razão, tornam-se símbolos do fascismo por isso é preciso cortá-las como se faz com Jesus e outras árvores crescidas. Os representantes da democracia ordinária (presente no consciente de todos os partidos), estão interessados em derrubar as árvores grandes. São as árvores fascistas e comunistas (religiosas ou ateias) que fazem sombra ou incomodam num mundo que se quer relvado! Em vez dos sobreiros centenários querem apenas arbustos ou erva rasteira, tudo em nome da igualdade, tudo ao serviço duma ideia da realidade, à margem da mesma. Aqui fascismo e democracia tocam-se!…

A mentalidade tecnocrata inclina-se ao arroteamento. No seu andar não notam a dignidade dos montes, das árvores; apenas lhes interessa o alcatrão e construções técnicas.
O domínio da banalidade não tem o campo visual da tradição e da alma encoberta nas coisas. Este espalha-se despercebido em todas as camadas sociais, tal como o espírito fascista se espalhou na época nazi.

O génio da destruição não suporta a honra de plantas e animais, não quer ninguém honrado (no máximo condecorado!). O espírito do tempo só aceita plantas rasteiras onde limpar os sapatos ou relva baixa para calcar!

Para se dar o passo do ordinário barulhento, do dia a dia ao extraordinário pacífico da bênção duma árvore, pressupõe-se uma mudança de mentalidades. Esta não pressuporia a ideia de construirmos cidades em que a arquitectura do planeamento urbano se orientasse pela altura das árvores. Bastaria um cheirinho desta ideia, já que para alguns o homem se define pelo pensar! Melhor será pensar, sentir e agir na unidade da dinâmica relacional.

António Justo
“Pegadas do Tempo”

António da Cunha Duarte Justo
Social:
Pin Share

Paralelismo entre a saúde das pessoas e o estado do tempo

Estima e reconhecimento
O grande rápido da vida passa com tanta veemência, com tanta energia que se não estamos atentos somos reduzidos a folhagem por ele arrastada. Um dos pressupostos, para não nos deixarmos reduzir a cena outonal duma paisagem, é uma atitude vigilante e o cultivo da auto-estima. Esta pressupõe sobretudo competência de observação e de inter-relação. Quem estiver habituado a observar e sentir com a natureza e com o corpo notará que na natureza se dão as mesmas mudanças de estado (bom ou mau) como no nosso corpo-alma. O paralelismo dos factores influenciadores é flagrante. O sol está para o bom tempo na natureza como a alegria, a boa disposição para a saúde do nosso corpo, etc. A auto-estima é fundamental na regulação do estado climático da nossa paisagem psicossomática.

Pessoas com baixa auto-estima são inclinadas a andar pela faixa sombria da vida, viradas de semblante para a terra mas de espírito ausente no sonho, fazendo juízos generalizados sobre a vida e os seus papéis sociais. Falta para elas a capacidade de se situar segundo o princípio “eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Não se presta atenção ao específico de cada situação mas tende-se a olhar para um horizonte ideal que automaticamente nos aliena da realidade. À caça de sensações gratificantes perdemos a capacidade de nos relacionarmos.

Uma boa opinião sobre nós mesmos traz-nos mais alegria na vida mais gosto de viver e consequentemente mais sucesso. Para um aumento da auto-estima pressupõe-se a capacidade de se aceitar como se é, o que pressupõe atenção e força para reconhecer o próprio comportamento que automaticamente criticaríamos. Naturalmente que como na natureza há factores mais ou menos determinantes dum tipo de carácter tal como na natureza a proximidade dum deserto ou de um oceano são factores importantes na influência da situação do tempo, do espírito. Daí ser muito importante a observação consciente do ambiente.

Quem tem pouca auto-estima terá de procurar deixar de ser o legislador das próprias acções com contínuos julgamentos sobre si mesmo. “Não julgues e não serás julgado” vale também para nós. Não se trata de ser como se deve mas de se ser próprio, de se descobrir a si mesmo e se aceitar como se é. Esta é a base de toda a transformação e desenvolvimento.

O reconhecer e aceitar a pessoa com o seu comportamento cria nela espaço para nova realização, para a efectivação de imensas potencialidades que dormem nela. Doutro modo não deixaremos de andar com a coleira ao pescoço puxados pela trela da lei, do ideal, do que os outros poderão pensar, etc. Não nos tornamos adultos. Em nós há uma multiplicidade de comportamentos, como cães na casota à espera que lhe abramos a porta. Só que essa casota tem muitas portas com chaves diferentes. Cada chave está dependente da atenção que conduz ao reconhecimento das nossas necessidades e do sentido. Esta atenção leva-nos a descobrirmo-nos como somos, a encarar a vida de frente sem que esta seja apenas vista através do preconceito de ideias espelhadas. Estas, e o nosso eu ideal mantêm-nos prisioneiros deles mesmos. Já não sou eu que vivo, a ideia é que vive em mim.

Nós mesmos ao longo da nossa vida, além de normas inatas fomos internalizando outras criando ao mesmo tempo uma instância, um tribunal que nos dita como devemos ser e o que devemos fazer. Este tem uma função orientadora e motivadora, só que muitas vezes é irrealista exigindo mais do que se pode no momento. Pessoas com baixa auto-estima colocam os seus objectivos demasiadamente altos. É preciso muita auto-reflexão para se aceitar não ser o melhor, não se tornar escravo duma ideia, que parecendo o melhor não é o possível tornando-se ela impedimento para realizar o presente, o momentaneamente possível. Doutro modo correremos sempre arquejantes e banhados em suor atrás das nossas pretensões ou propósitos.

Geralmente não deitamos contas à vida. Não se presta atenção ao exagerado preço a pagar para se atingir certos objectivos. Muitas vezes me lembro de pessoas que no momento da morte me confiavam: tudo foi em vão! A solidão e a dor que não admitimos na vida espera-nos mais tarde na forma de desespero!

O segredo do bom viver está em pararmos, em deixarmos de correr atrás dum eu insaciável, em abrir-nos à natureza, possibilitando em nós um estado aberto de ressonância com o ser em que momentos intensivos de felicidade surgem, não pelo facto de os termos querido ou trabalhado para eles mas simplesmente por estarmos abertos, à disposição, para podermos saborear o que recebemos.

Não se trata de dar lugar à preguiça. Trata-se dum querer sem querer, um agir sem reagir. Se nos encontramos divididos entre baixa auto-estima e uma exigência ideal é natural que surja uma reacção boicote. A realidade e a ideia desqualificaram-se uma à outra. Então dá-se uma espécie de fuga irreflectida para a frente. Aí se estoira muita energia psíquica sendo natural a reacção de se querer olhar para o ar e assim iludir uma obrigação excessiva. A este estado aéreo junta-se a falta de ordem e disciplina.

O óptimo é inimigo do bom! E Roma e Pavia não se fizeram num dia…

Antrónio Justo
Pedagogo

António da Cunha Duarte Justo
Social:
Pin Share

Auto-realização – O seu preço

Auto-estima
O sucesso na relação com o outro, com o parceiro, depende do equilíbrio e da reciprocidade na troca de estima, serviços e sentimentos. A falta de equilíbrio leva o parceiro a sentir-se menos valorizado. Quem é reconhecido e estimado sente-se bem e reage produzindo mais e melhor, segundo mostram investigações americanas. A falta de reconhecimento conduz a depressões, diabetes, stress, doenças de circulação e do coração.

Geralmente ansiamos por um futuro melhor, por prestígio e respeito. Não chega o reconhecimento económico, é preciso também o emocional. A saúde tanto no lugar de trabalho como na família dependem da consideração tida pelas necessidades do parceiro, do subalterno. Se na relação não houver um equilíbrio entre o dar e o receber a relação torna-se doentia dando origem a atitudes de insegurança no caso de falta ou a atitudes evasivas no caso de excesso. Onde faltar a consideração e a estima aí falta o Sol, aí surge uma depressão. O desprezo, o ignorar e a crítica têm um efeito de dia chuvoso sobre o corpo e a alma. Estes, como a natureza, precisam da noite e do dia, do Inverno e do Verão para a regeneração e um desenvolvimento são.

No Outono as pessoas são mais depressivas porque lhes falta o sol que regula determinadas funções da pele e do sistema nervoso. Na paisagem do corpo e da alma humana dá-se o mesmo processo. Se se vive num ambiente de reconhecimento e estima ou num ambiente de desinteresse ou de crítica o centro do sistema nervoso reage diferentemente, lançando mais ou menos Dopamin, activando mais ou menos as hormonas do stress, o que automaticamente provoca diferentes estados de alma e do corpo, primeiro como manifestações sintomáticas para depois se tornarem em doenças psicossomáticas.

Na minha actividade de pedagogo e de familiar pude verificar que o louvor fomenta a criatividade e a alegria. Uma pessoa reconhecida e estimada sente-se realizada. Este sentimento cria novas rampas de lançamento para novas possibilidades até então encobertas. O incentivo dado no novo momento rotineiro cria novas energias. O riso e o choro têm funções purificadoras tal como o sol e a trovoada na natureza.

A psicologia diz que pessoas muito produtivas precisam de mais reconhecimento e estima. O reconhecimento é para a acção o que o oxigénio é para a respiração. Maior actividade e maior produção exigem mais oxigénio mais reconhecimento. Os homens sofrem mais com a falta de reconhecimento no trabalho do que as mulheres porque a profissão é fundamental na definição da sua identidade enquanto que a mulher vai buscar reconhecimento também a outras fontes (relação com outras pessoas, etc.).

A necessidade de ser louvado corresponde a uma necessidade fundamental de ser reconhecido como pessoa e apreciado pelas próprias capacidades e realizações. O reconhecimento torna-nos independentes. O amor porém é mais profundo e pode mesmo colocar todas as leis fora de acção.

Demasiado centrados nos problemas, geralmente exageramos com a autocrítica, que pode conduzir à preguiça. Esta às vezes torna-se cómoda. Então prefere-se viver na sombra da vida, procurando dar razão a toda a gente na auto-negação.

Em vez de examinarmos as falhas que paralisam seria interessante pôr-nos à descoberta das coisas bem sucedidas. Estas aumentam as potencialidades. A estima pela pessoa e o reconhecimento do seu agir estão na base de toda a nossa motivação e honra. O louvor revela que se fez algo com sentido

A nossa personalidade depende da imagem que fazemos de nós. Esta é uma espécie de sombra de Deus pelo que nunca está completa, é processo. A autoconfiança ou a falta dela influencia o nosso sentir e agir. A consciência de se dominar algum aspecto fomenta a tolerância de frustração e a persistência.

Quem se respeita a si mesmo, presta atenção à sua dignidade e é mais alegre e confiante, consequentemente é mais corajoso e tem mais sucesso. Como não se questiona sistematicamente aceita melhor a crítica. A base da auto-estima é o amor-próprio e a confiança em si mesmo. Estas capacidades possibilitam a fidelidade a si mesmo e o equilíbrio na relação com o outro, numa dinâmica de pergunta e resposta de seres em processo, em mudança.

A auto-estima depende muito do alimento do sentimento na infância. Se olhamos para nós positivamente e tivermos consciência de nós, sabemos que agimos a partir da própria força; esta depende também da educação. O próprio valor é mais que os trabalhos feitos. É evidente que o sucesso fomenta a auto-estima.

Demasiada auto-estima pode ser vista como orgulho e este espanta os pardais. Pelo contrário a modéstia fomenta amigos. Esta fomenta a empatia porque pressupõe a capacidade de se colocar na pele dos outros. Tudo depende também do ambiente em que nos movimentamos.
Aquele que está contente consigo mesmo, sem narcisismo, sente-se bem com os outros. Quem entra no labirinto dos sentimentos negativos precisa de muita força e ajuda para sair da crise. Um pessimista é como a tempestade a caminho. Alguns encalham facilmente nalgum buraco da história ou esbarram-se na vida dos outros.

Não há remédios fáceis para a cura atendendo a que saúde e doença são estados duma forma de vida. Há aspectos que podem ajudar a encontrar o caminho para si, como: sentido da vida, confiança, bondade e amor ao próximo (solidariedade), Autogenes Training, Imaginação, Meditação, Biofeedback, etc.

Trata-se de descobrir as potencialidades que jazem enterradas em nós. Cada um de nós é uma mina de diamantes por descobrir.

António Justo
Pedagogo

António da Cunha Duarte Justo
Social:
Pin Share

Saddam Hussein – Um Assassino Assassinado

Saddam foi condenado por ter assassinado 148 Schiitas em 1982.

No tempo de revoluções não se pergunta pela justiça dos processos

Crimes contra a humanidade deveriam ser julgados por tribunais internacionais. A consciência política internacional é muito paciente. Tolera crimes contra a humanidade até que surja uma revolução, uma mudança de regime. Os revolucionários que assumam a responsabilidade.

O instrumento da pena de morte como meio de implantar uma democracia é uma perversidade da democracia. É um instrumento ditador sem respeito pela vida.

A lógica parece ser sempre: quem ganha tem razão. A vingança torna-se lei. Os vencedores querem rapidez na execução dos rivais depostos para evitar que o povo pense; para oposição bastaram eles…

Internacionalmente ninguém protesta contra o assassínio apressado. O melhor trunfo é o silêncio aliviador. Assim, para já não se vem a saber muita coisa que Saddam teria para contar sobre os seus amigos de ontem.

António da Cunha Duarte Justo

Social:
Pin Share