A Cultura Portuguesa – Um Bem a Inserir na Constituição Portuguesa
2006-03-23
Carta aberta a Sua Excelência o Presidente da República:
Senhor Presidente da República Prof. Dr. Cavaco Silva
Excelência!
Solicitação: A Cultura Portuguesa – Um Bem a Inserir na Constituição Portuguesa
Hoje como no século XVIII e XIX as elites parecem usar o discurso como subterfúgio do pensamento em que a ideia continua ao serviço da forma. Longe do “saber de experiência feito” e da reflexão, a nação continua no seu miasma geral do privilegiado saber teórico dogmático sempre submerso a tudo o que vem de fora.
O 25 de Abril falhou em muitos aspectos porque se limitou só a uma revolução política conquistando apenas a rua. A revolução de Abril, justa nos objectivos, foi conduzida por ideologias mal mastigadas nas mãos de mercenários. Portugal encontra-se agora emperrado numa máquina de estado monstruosa e encalhado no turbo-capitalismo. A nação sente-se insegura.
O povo tem sido, desde há séculos, reduzido a palco para os mesmos protagonistas, os traficantes de ideias e de “drogas”, os beneficiados das revoluções.
O que mais urge é uma revolução intelectual e moral, uma mudança de mentalidades. É óbvio que um tratamento adequado terá que começar por se ocupar com a identidade e a cultura portuguesas. Nesse sentido urge incrementar o respeito pela cultura nacional, como liturgia do dia a dia numa língua com valores, hábitos e mentalidade próprios. Consequentemente seria de inserir na Constituição Portuguesa um artigo em que se declare a cultura nacional como um valor a defender… A nossa época já não se pode contentar com os profetas marxistas nem com os ardinas do dia a dia. Pelo contrário terá de redescobrir a grande herança judaico-crista sempre a ser renovada e os valores que tornaram a nação grande. A vontade e a fé, a fé nas teses e em teorias aferidas conduzirão ao progresso. Os Portugueses foram no século XV os pioneiros na aplicação da grande descoberta – a terceira dimensão da realidade – a lei da perspectiva (Leonardo da Vinci) que levou o Homem à descoberta do espaço (aos descobrimentos). Portugal conseguiu então ser a expressão do espírito, a nova consciência. Hoje teremos que estar atentos ao novo salto qualitativo no desenvolvimento da consciência humana, à nova consciência do tempo como quarta dimensão da realidade (união tempo-espaço) – teorias da relatividade e dos quantas – que nos obrigará a uma nova maneira de estar no mundo e a arredar definitivamente do materialismo do século XIX e daqueles que teimam em conduzir Portugal com essas muletas. Tal como o Infante D. Henrique temos que nos dedicar ao estudo da física, da biologia e da mística.
Tal como é comum nos artistas em relação à arte, Portugal tem de reencontrar o seu específico, o inconfundível do nosso povo e da sua história.
Numa estratégia de futuro, para o fomento da identidade nacional, faz falta a elaboração duma fenomenologia, duma exegese e duma sinopse do ideário e da praxis nacional portuguesa, ao longo dos tempos, em comparação com as outras nações, especialmente com os Estados Unidos da América, a Franca, a Inglaterra e a Alemanha. Assim se tornariam mais evidentes virtudes e vícios do nosso ser, num esforço de diagnosticar e de elaboração de estratégias.
Todos juntos, podemos reconstruir o nosso barco renovado com as madeiras do pinhal de Leiria. Trata-se de nos baptizarmos no Douro e recomeçar uma vida nova para assim chegarmos a Belém, à foz do Tejo na descoberta do mundo. Não podemos continuar a adiar o futuro. Na história, na literatura e no nosso povo temos um fundus, uma mina sem limites, um médium de humanismo, portuguesismo e de universalismo.
Não queremos um país de Bela Adormecida nem de ardinas. Queremos um país dinâmico e crítico onde o espírito se expressa na voz do mar que é ao mesmo tempo eco e ânsia dum povo por justiça, fraternidade, solidariedade, bem-estar, eternidade e transcendência.
Senhor Presidente da República solicito a V. intervenção no sentido do referido. Auguro-lhe muita força e saúde no exercício de tão nobre cargo ao serviço do cidadão, no serviço do Homem!
Junto envio um texto que expressa espontaneamente o sentir da necessidade duma discussão sobre a cultura portuguesa e a inserção da sua defesa num artigo da Constituição.
Atenciosamente
António da Cunha Duarte Justo
Alemanha
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Comentários:
– – – 2006-03-25 Prezado Senhor Pedro Valdoy É-me claro o que diz. A intenção porém duma carta aberta é provocar uma discussão pública. Atenciosamente António Justo |
– – – 2006-03-25 De: Pedro Valdoy para: António da Cunha Duarte Justo Meu caro amigo: os poderes do Presidente da República, infelizmente tem certos limites. Ele não pode alterar a Constituição. Pode sugerir ao governo, somente. Qualquer alteração à Constituição tem que ter pelo menos 2/3 dos votos da Assembleia Geral. Depois irá para aprovação do Presidente que nessa altura poderá vetar ou aprovar a alteração PORTUGALCLUB |