EUTANÁSIA: TODO O SUICÍDIO É UMA ACUSAÇÃO À SOCIEDADE

Um direito contra a vida é antinatural e anticultural

Por António Justo

Como poderá o parlamento lidar tão ligeiramente com o assunto da morte, tenha ela o nome de aborto ou de eutanásia, atendendo ao facto de a legislação constitucional prescrever: “A vida humana é inviolável”.  Sem a inviolabilidade da vida humana tudo o resto se torna comerciável!

 

O assunto é demasiadamente complexo e os deputados, em geral, não têm tempo para estudar o assunto com profundidade! Deixem-se de activismos precipitados e deixem passar mais água no Tejo se pretendem tratar seriamente do assunto e um tratamento sério só poderá ser no sentido de não legalizar a possibilidade de matar nem obrigar médicos a ser instrumentos de um rito contra a humanidade e contra a civilização ocidental.

A legislação sobre a eutanásia não foi anunciada nem fundamentada por nenhum programa eleitoral dos partidos; isto revela desonestidade parlamentar e partidária ao ser colocada extemporaneamente na ordem do dia; os partidos sabiam que, se colocassem a deliberação da eutanásia nos programas para as eleições, seriam castigados pelo eleitorado. O oportunismo não pode ser bom conselheiro numa discussão que deveria ser séria. A lei quer tornar obectivo o sofrimento que leva à decisão quando este é subjectivo. O que a medicina pode é irradiar a dor e esta pode atingir-se sem o subterfúgio do recurso a matar (eutanásia).

Todo o suicídio é uma acusação à sociedade e um contributo para o seu empobrecimento! Aspectos argumentativos em “Eutanásia entre Ideologia, Consciência e Ética” e comentários.

Não se trata aqui de fomentar dogmatismos sejam eles de caracter de opinião individual grupal ou institucional; a vida e a morte correm em todas as forças da sociedade.  Seria uma boa ocasião para se criar uma cultura do diálogo; na argumentação pode seguir-se várias lógicas: a lógica do sentimento, a lógica dos factos ou a lógica da razão. Segundo o evangelho o melhor julgamento será o baseado “nas obras”, nos factos e o seu ingrediente motor adequado é o amor. Como pode a lógica do sentimento destruir, sem mais, a lógica da natureza, a lógica racional? Como pode um Estado permitir-se abolir a lei do não matar? Legitimar a morte por razões pessoais para fugir a um sofrimento implica consigo legitimar a morte de alguém que causa sofrimento aos outros.

 

Os responsáveis políticos parecem estar mais interessados no foguetório emocional que deve substituir o lugar da argumentação e a defesa do “não matar”. Deste modo o governo ganha tempo e promete-se com a eutanásia poupar dinheiro com os doentes terminais. Embora em Portugal os cuidados paliativos não cubram sequer 50% das necessidades; o governo procura assim arrumar mais depressa com muitos deles. Para se dar resposta aos “cuidados paliativos” e possibilitar uma morte digna aos pacientes terminais, o Estado teria de investir muito mais dinheiro neles. Embora o suicídio se torne mais barato, o Estado e a sociedade tornam-se eticamente mais pobres e mais desumanos; é um gesto de afirmação de uma sociedade em estado de tanatofilia e como tal um grande passo no processo da entropia civilizacional. (Além dos cuidados paliativos há a possibilidade da interrupção dos aparelhos artificialmente prolongadores de vida. Neste caso o paciente deveria ter deixado uma declaração de se renunciar a tais meios!).

 

Na discussão não chega a palavra mágica “despenalização” como fundamento de uma lei irreflectida. Na realidade não se trata de penalizar ou culpar ninguém mas cuidar pelo respeito pela vida e precaver-se contra o negócio em torno da morte e evitar uma legitimação superficial do Estado poder, um dia, vir a intervir, em nome da lei, tal como aconteceu no nacional-socialismo alemão.

Como premissa deve estar sempre a defesa da vida, da dignidade humana e da consciência individual contra o poder organizado e o mero instinto da rebanhada!

A discussão não é tão inocente como parece devido em torno da eutanásia  se moverem muitos interesses emocionais, económicos e ideológicos…

O Estado e os seus grupos de interesses, em nome da defesa do indivíduo, quer abdicar da defesa da inviolabilidade da vida humana para esmiolarem a pessoa e o indivíduo daquilo que lhe seria próprio e inalienável para, pouco a pouco, o colonizar e colectivizar; secularizam e materializam aquilo que a pessoa tem de mais sagrado e íntimo que é a vida (consciência colectiva contra a consciência individual) sobre o pretexto de direito individual: um direito é dado por alguém que ao dá-lo melhor poderá subjugar o seu objecto de direito e transformá-lo em manada; procede-se assim a uma expropriação de tudo aquilo que é constitutivo da pessoa, roubando-lhe até a privacidade de modo a um dia poder torna-la só coisa. A dignidade inalienável da pessoa e a inviolabilidade da vida passam a pertencer ao foro comum que mais que por humanidade se orienta por interesses. O totalitarismo de Estado, religioso ou ideológico não ajuda o desenvolvimento, não está empenhado na formação de consciências independentes e libertas, prefere adeptos seja de um direito torto ou de uma doutrina sem vida. No cristianismo (catolicismo) a inviolabillidade da vida é tabu, mas, no foro da consciência individual a pessoa é soberana e responsável mesmo no caso de ser errónea; como tal, é quem manda, muito embora numa comunidade afirmadora da cultura da vida e não da cultura da morte.

Muitos estão interessados apenas em respostas simples de sim ou não numa mentalidade redutora do “ou… ou…”  Os Media, o Estado, grupos ideológicos religiosos e políticos procuram apoderar-se da consciência individual estando mais interessados em criar seguidores do que em levar as pessoas a raciocinar ou a pensar por elas próprias.

Muitas pessoas não se dão conta que o que está muitas vezes em vista nestas discussões superficialmente públicas não é a decisão consciente da pessoa, mas a ideologização delas. As ideologias e as elites não estão interessadas em fomentar a reflexão individual e a decisão individual porque o que querem é adeptos e pessoas dependentes; pessoas reflectidas e sabidas são mais difíceis de governar porque precisam de argumentos para se convencerem não se deixando mover apenas pela lógica emocional.

O tema é demasiadamente complexo e tem imensas implicações a nível de filosofias de vida, de interesses grupais, institucionais ou estatais para poder ser consensual e para se poder reduzir aos termos de um sim ou de um não, pelo menos ao nível de uma opinião que se queira afirmar o mais objectivamente possível. A decisão individual subjectiva de se poder matar ou não deve ser respeitada, sem ter necessariamente de se tornar doutrina a seguir secular ou religiosamente, desde que se aposte na formação de uma cidadania adulta.

O argumento da fuga à dor tem peso, mas não satisfaz sequer a prova dos nove porque a dor faz parte da vida e torna-se difícil discernir do momento em que o sofrimento seria suficiente para negar o valor da vida!

Também há uma pequena diferença entre o permitir que uma pessoa morra (na Alemanha isso é possível sem eutanásia com a interrupção da assistência de aparelhos) e encontrar quem esteja disposto a matar. Imagine-se que a sociedade se torna humanamente mais sensível no futuro e todos os médicos se negam a matar? Ou será que se terá de recorrer à profissão dos carrascos como se dá em países do bárbaro uso da pena de morte?

António da Cunha Duarte Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

57 comentários em “EUTANÁSIA: TODO O SUICÍDIO É UMA ACUSAÇÃO À SOCIEDADE”

  1. Gostei muito do artigo que o Jorge escreveu e que apreciei muito por vir do pensamento de um juiz!:
    Eutâ…quê? Atanásia? O que é isso???
    A propósito das propostas de lei do PS, BE e PAN, que visam “legalizar” a eutanásia, sempre quero ver, como jurista e magistrado aposentado do Mº Pº, como é que os nossos constitucionalistas vão subsumir as normas desses projetos, que na verdade são sim autorizar um assassinato aparentemente pedido pelo paciente, no nº 1 do artº 24º da nossa Constituição (intitulado Direito à vida), que passo a transcrever: “A vida humana é inviolável.”
    Realço do douto artigo (cliquem abaixo) de um ilustre médico:
    “… Logo, porque sou médico e tenho uma visão clara do meu papel enquanto prestador de cuidados de natureza clínica, física e psicológica, espiritual e social, não posso defender a eutanásia, nem nunca a praticarei. Tenho o direito de não querer matar e o dever de não fazer mal. É um juízo profissional, racional, obviamente misturado com emoções, e não confessional, embora moral.
    …”Aos deputados, só me resta pedir que quando legislarem estudem mais. Não, não me peçam para matar ninguém. Já me chegam os que não consegui ajudar a viver. Basta-me o cemitério que carrego…”

    “https://observador.pt/opiniao/eutaque-atanasia-o-que-e-isso/”

  2. Paulo e 1 outra pessoa gerem os membros, os moderadores, as definições e as publicações do grupo Grupo Frente Cívica.
    A Eutanásia só interessa a quem dela necessita. Quem não a quer, é livre de não a praticar. Não tem é o direito de impor a sua vontade à vida ou ao destino dos outros que pensam de forma diferente. A despenalização da eutanásia dá liberdade de escolha a todos não impondo nada a ninguém. Quem quer faz, quem não quer não faz. Isso é que é democrático.
    Paulo Aguiar
    FB

  3. Uma pergunta para quem defende a eutanásia, no caso de um velhinho que é cuidado pelo filho ou neto que passa a vida a ouvir morre, és muito velho, és um peso para nós, etc o velhinho decide pedir ao médico para fazer eutanásia, não porque quer mas porque foi “bullied” até o fazer.. pode o familiar ser acusado de homicídio? Porque muita da vontade de morrer vem deste familiar não dá vontade de morrer mesmo

    No final não vão ser apenas acamados, nem gente que decidiu que queria morrer, mas quem vai decidir são pessoas que estão fartas de tomar conta de outras… O direito de assassinar alguém e dizer que foi uma escolha que a outra pessoa fez..
    Sofia Ribeiro
    FB

  4. Esse é um perigo real e já houve enfermeiros que para se verem livres do incómodo viram-se no direito de darem ao paciente uma injecção que, no seu pensar, libertou a situaç1bo de dois incómodos. O problema é que o que hoje me legitima a matar-me a mim para acabar com o sofrimento amanhã legitimará outro a marar quem lhes cause sofrimento!

  5. Sempre que se tenta colocar Portugal mais próximo dos standards suíços, os portugueses esperneiam.
    Diana Guerreiro
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  6. Gostarámos de um Portugal a pensar por si em relação à Europa como fez no séc. XV e não uma sociedade que anda sempre a correr atrás dos outros limitando o seu progresso à imitação! Muito que é vendido como progresso não passa de retrocesso na História do humanismo europeu.

  7. A liberdade de cada um acaba quando interfere com a liberdade dos outros. Uma pessoa em estado terminal e a sofrer sabendo que vai morrer mais cedo ou mais tarde tem de ser tratada como um cidadão e ter o direito à sua liberdade, quer seja de continuar vivo e a sofrer ou de fechar os seus olhos para não mais os abrir.

    Quem escolhe Eutanásia sabe que depois nao há volta a dar, e estando em estado degenerativo e sem capacidade de fazer a escolha, então os responsáveis por cuidar dessa mesma pessoa decidirão se essa pessoa tem condições para continuar a viver ou não, sendo que, de uma forma menos diplomática se me é permitido, essa mesma pessoa irá interferir com a liberdade de quem tem a responsabilidade de tomar conta do mesmo. Eu considero que escolher dar eutanásia a um pai ou mãe não será uma decisão nada fácil nem será tomada em vão. Casos haverá de filhos decidirem terminar com o sofrimento dos pais com segundas intenções, fruto da educação e morais transmitidos pelos mesmos pais a esses filhos.
    Somos de um país que preza pela Liberdade e temos que a permitir mesmo na hora da morte. Eu sou a favor da legalização da eutanásia, usada por profissionais de saúde escolhida pelo próprio ou pelos seus directos em caso de incapacidade. Ninguém merece sofrer, e forçar uma pessoa a sofrer no fim da sua vida é recusar-lhes o direito à Liberdade.

    Muita gente reclama como se já tivessem visto tudo e, a título de exemplo, muitos destes moralistas contra eutanásia são os mesmos moralistas contra a despenalização do consumo de drogas em Portugal. Os números falam por si e ao fim ao cabo essa foi uma medida de génio e Portugal é hoje um país sem uma epidemia de viciados. Ja visitei hospícios e ja visitei unidades de paliativos, e sem dúvida muitas dessas pessoas claramente não têm condições para continuar uma vida e muitas delas nem têm vontade para continuar a sofrer até que a porta da morte lhes seja aberta. Todo o ser humano tem dignidade e merece morrer com a mesma dignidade com que viveram, assim viverão na mente das suas familias e amigos como a pessoa com dignidade de que tanto amavam e não a pessoa em estado decadente à espera para morrer.

    Eutanásia não é um Ben-U-Ron e não estará disponível na farmácia de serviço mais próxima. Do mesmo jeito que a eutanásia mata, também as balas das armas carregadas por policias sem morais (não todos nem a larga maioria) e de todos com licensa de uso e porte de armas, a diferença é que a eutanásia tira a vida a quem escolhe morrer e uma bala tira uma vida a quem se escolhe matar.

    Menos reclamar e mais pensar. E prender esses ladrões com pena perpétua e multa-los em valores superiores aos roubados, esse é o verdadeiro problema de Portugal, não a adoção de meios de continuar a dar liberdade às pessoas no momento do fim das suas vidas.
    Fàbio Sabino
    FB

  8. Cada cabeça sua sentença e bem assim! O Estado ao penalizar ou despenalizar em questões da inviolabilidade da vida intervem nas cabeças das pessoas; importante é que o Governo deveria respeitar a constituição e antes de a estiolar para ser correcto e não optar pelo jogo das escondidas, deveria remodelar ou remover o nº 1 do artº 24º da nossa Constituição (intitulado Direito à vida): “A vida humana é inviolável.” artigo da constituição. A eutanásia é anticonstitucional! Tudo o resto é conversa como a do gato em torno do leite quente em que cada um puxa a brasa para a sua sardinha. Viva um Portugal livre, consciente, responsável e plural e uno! Meter no mesmo saco os que são contra a eutanásia e os que são contra a despenalização da droga é uma conclusão ilícita até porque quem é a favor da despenalização da droga pode ser contra a despenalização da eutanásia. Uma coisa só tem a ver com a outra na palavra despenalização. A respeito de moralistas, nesta questão, geralmente fala o roto para o esfarrapado, acusando-se um ao outro de moralista ou taxando o adversário como moralista. O problema começa precisamente no momento em que um opinante se reclama para si o “mais pensar” e na consequência o nega ao outro. Aqui importa mais argumentação do que confissões. Deste modo podemos contribuir para um Portugal construído mais na responsabilidade de cada pessoa e dos órgãos do Estado e menos em movimentações afectivas que que enevoam a razão. De resto somos um país livre e tão livre que se pode submeter também ao jugo de outros. Uma coisa é clara na civilização ocidental a liberdade de consciência e e a inviolabilidade da vida e a dignidade humana (direitos humanos) que se sobrepõem ao Estado e à religião.

  9. Eutanásia é contra a constituição, o que dizer em relação ao Aborto? E ultimamente o que dizer em relação ao casamento gay?

    O seu voto terá voz no parlamento aquando a votação, assim como a voz de cada indivíduo que deixou o seu voto dentro da urna. Sendo que eutanásia seja liberada, em nada lhe vai afetar a sua liberdade e direito à vida, a não ser que, e esperemos que não, quando chegar ao fim da linha de isto a que chamamos vida, a opte por usar para acabar com a miséria de resto de vida que terá pela frente. Sendo legal não significa que a vá usar, é uma decisão sua e será respeitada, com o devido respeito que se deve ter para com seres humanos.

    Argumentação incluí conhecimento de factos e claramente o senhor não os têm, visto ser uma pessoa cheia de vida, mas poderia se esforçar um pouco e ver um conjunto de filmes de que tratam a eutanásia na sua forma mais real possível e talvez aí compreenda do que se trata.sendo que a vida humana é inviolável porque damos armas aos nossos polícias… sendo que a vida humana é inviolável porque é que Portugal faz parte da NATO?
    Fàbio Sabino
    FB

  10. Um mal não justifica o outro. O polícia não pode matar; só em caso de autodefesa. A seguir uma outra lógica justifica-se o matar. Matar é sempre um mal e não se pode relativizar a invilolabilidade da vida pelo facto de haver práticas que a contradigam.

  11. A minha querida mãe está em estado termina a morfina. Podia ter ficado no hospital, mas estava melhor na minha casa. Só tenho pena, mesmo que sofrendo a dor que senti, não tenha podido acompanhar o meu pai que morreu num hospital, onde pensávamos estaria uns dias para estabilizar o sangue. Se soubesse, estaria também com ele. Porque não queria morrer e tinha medo da morte. Cumprimentos e creia que antes da morte, exijo aos políticos e a toda a gente que se preocupem em proporcionar aos que vivem, uma vida com dignidade.
    José Barbedo
    FB

  12. O problema é que o texto não dá aso à tal evidência do ser contra ou a favor: o texto ocupa-se de aspectos a poderem ser considerdos e não nega a liberdade de a pessoa se suicidar. A realidade é mais complexa e não pode ser resumida numa só opinião. Não se pode identificar subjectividade com objectividade e por isso nestes termos não poderá haver evidências. O problema está nesta pressa toda em aproveitar-se de uma constelação parlamentar política favorável à eutanasia sem que o tema tão importante tenha sido previsto em nenhum programa de partido em tempo de eleições. Realmente é que a pressa em que se anda está mais preocupada em poupar ao estados dinheiro com os cuidados paleativos e pretende poupar o sofrimento a muitas pessoas que não se querem ver confrontados com o sofrimento; o Estado e a ciência deveriam preocupar-se mais em irradear a dor. Querer irradiar também o sofrimento justifica a eutanasia em qualquer momento. Trata-se de defender princípios da vida e não apenas de encerrar a vida em leis.

  13. Deveria reparar que a lei não vai passar.. infelizmente é uma porcaria de uma lei que deveria ser votada pelo povo e não pelo parlamento, e não existe mais discussão por causa dos interesses financeiros
    Nuninho Teixeirinha
    FB

  14. Se acabar com o sofrimento e a dor, fosse resolvido com a eutanásia eu defende-la-ia, não tolero é hipocrisias. Se a lei for aprovada, nada poderei fazer contra ela, mas para evitar muitas situações de eutanásia, seria aprovarem a lei do enriquecimento ilícito e outras. Com a idade que tenho, já me dá para me rir de muitos e de muita coisa, até da morte que estará bem mais próxima do que a eutanásia que eu poderia usufruir se necessitasse, apenas porque sou pobre e não tenho importância nenhuma. A mim, o médico de família, quando lhe falei numa ressonância magnética, perguntou se eu não estaria a pedir demais. Uns preocupam-se com a forma, eu, com o conteúdo! A morte, seja legal ou não, logo que provocada, não será uma forma se assassínio? -Talvez não, Hoje vejo casais de dois homens ou de duas mulheres… Aceito o amor entre pessoas, do mesmo sexo ou não, a diferença está no termo e não no acto.
    Não se preocupe que se não passa desta, virá a passar nas outras, tal como a lei do aborto. É uma questão de tempo. Tanto numa como noutra, terei a minha opinião segundo a minha sensibilidade, mas… nunca tive voto nas matérias. Cumprimentos.

  15. A sério que dentro de tudo já reparei que temos opiniões completamente diferentes, agora falar coisas sem sentido não vale. No fundo o que está a ser discutido é o poder escolher, panas isso, a eutanásia é para os doentes terminais que estão em sofrimento, não é para as pessoas que acabaram de se reformar e o estado querendo poupar nas reformas as manda para a eutanásia. Já agora deixo a pergunta porque é que as pessoas têm que agonizar para morrer? Não tem direito à dignidade?
    Nuninho Teixeirinha
    FB

  16. Para mim não se tratava tanto de diferença de opinião mas entrar no prazer de argumentar como actividade intelectual numa tentativa de integrar coração e razão, morte e vida cpmo coisas naturais. Às perguntas que apresentou respondeu o nacionalsocialismo com a lei da eutanásia matando em nome dela muitos milhares de paralíticos ou de pessoas a quem a vida era considerada indigna de viver. O Homem é capaz de tudo e ninguém poderá prever as formas de Estado que teremos amanhã. Também por isso é melhor prevenir que remediar!

  17. Eutanásia não é suicídio, não neste sentido. Deve-se estabelecer os limites nos quais pode ser considerada.
    Paula HF
    FB

  18. Numa sociedade em que tantas vezes nos é dito que somos livres, em que tanto de fala de liberdade de expressão e escolha, percebemos nestas alturas que afinal não somos assim tão livres quanto isso. Eutanásia deve sim ser uma opção de escolha para doentes terminais, para pacientes que a morte é a única coisa que têm como certa! Lembro-me perfeitamente dos discursos pro vida aquando do aborto e lembro-me da polémica que foi, mas já nessa altura, Portugal mostrou que evoluiu e nem todos nós somos cidadãos “mascarados” de Santos, de Cruz ao peito e a criticar o proximo (tal como as beatas fazem quando acaba a missa). Não acredito que faltem profissionais para levar a cabo a vontade dos doentes de morrer com dignidade…e tal como o aborto…o que hoje é uma afronta para muitos, passa depois a ser normal. A isto se chama evolução! Deixem viver quem quer viver, mas deixem também morrer quem quer morrer em segurança e pôr fim a um sofrimento que é maior do que podem aguentar! Ninguém merece estar em constante sofrimento e não ter sequer o mínimo de esperança, isso sim, é desumano!
    Joana Cardoso
    FB

  19. O que aqui está em questão não é o direito de morrer nem o de deixar morrer ma apenas o direito de matar legalmente. Será que o que é visto aqui como evolução não será um retrocesso à eutanasia praticada no nacionalsocialismo? Quanto à análise racional, e mesmo ser-se contra a eutanásia e ao mesmo tempo pelo direito de cada pessoa determinar como quer morrer, não tem nada a ver com santidade nem com religiosidade. Ou será que deixamos a defesa da vida só aos cristãos crentes? Aqui trata-se de argumentar e não de ter razão até porque o coração tem razões que a Razão desconhece, como dizia o filósofo Pascal.

  20. O meu pai morreu com um cancro que inicialmente era na bexiga e que em pouco mais de um mês se espalhou por varios órgãos, aquela ultima semana de sofrimento, de horror poderia ter sido evitada se a eutanásia existisse em Portugal, se ele tivesse a escolha no dia que arrancou todos os tubos deixando apenas a morfina e proibiu os enfermeiros e médicos de os voltarem a colocar, nesse dia o meu pai tinha recorrido á eutanásia, sabia melhor que ninguém que não iria sobreviver aquela maldita doença, poderia era ter-se evitado o sofrimento
    Vanda Rodrigues
    FB

  21. Também uma pessoa de minha família tinha cancro mas tinha deixado uma carta com o pedido de não lhe ser prolongada a vida com aparelhos. Em estado final foram-lhe tirados os aparelhos e ele pode morrer sem dores e os familiares com menos sofrimento! Isto é possível, por exemplo na Alemanha, embora não seja possível a eutanásia. A verdadeira eutanásia significa matar, enquanto que a outra hipótese aliada à assistência paliativa é humana!

  22. Muitas das pessoas que advogam a eutanasia parecem confundem dor com sofrimento. A dor é possível ser extinguida porque física, o sofrimento (psíquico) esse faz parte essencial da pessoa e da humanidade; quem o desejar extinguir torna-se deumano e em princípio, legitima a eutanasia em qualquer estado da vida. Há muitas pessoas que praticaram o aborto para evitar a dor física e o incómodo mas depois tiveram de aguentar por muitos anos com o sofrimento por ter optado por tal.

  23. Eu acredito em Viver e Morrer com dignidade, por isso se a pessoa escolhe morrer com dignidade então que assim seja, nao os Familiares a fazer essa escolha mas sim a própria pessoa.
    Ivo Gomes
    FB

  24. Muitas vezes a escolha só é possível entre “o diabo e o belzebu”. Pode acontecer que o paciente se veja obrigado psicologicamente a acabar com a própria vida para não causar sofrimento aos seus entes queridos. Esta é também uma possibilidade que não desculpa uma simples escolha!

  25. É uma das coisas boas que temos, é podermos ter ideias diferentes e as discutir abertamente. Pelas nossas posições dá para ver que temos ideias completamente diferentes, mas até isso é bonito, é o podermos escolher a nossa opinião ou filosofia de vida. Um grande abraço, foi um prazer discutir este assunto consigo. Tudo de bom
    Nuninho Teixeirinha

  26. Penso que é uma opção de escolha.. todos nós deveríamos ter esse direito
    Nuninho Teixeirinha

  27. Não ponho isso em causa. Eu Apenas expressei a minha opinião, e tenho plena consciência que a minha opinião choca com a sua mas nunca o quis ofender ou por em causa os seus ideais. Como já lhe disse, temos opiniões contrárias mas eu respeito a sua da mesma maneira que o se também respeita a minha.
    Nuninho Teixeirinha

  28. Ainda não vi argumentos para concluir que a minha ideia seja contra a sua, ou a sua contra a minha, até porque a aceito, mas naturalmente não sou eu que tem o direito de dizer se a sua ou a minha opinião são as certas. Aqui na pólis, trata-se de jogar com o pensamento para melhor estarmos preparados para a vida..

  29. Exatamente isso que eu quis dizer quando digo que é uma questão de “ poder escolher” na minha opinião eu penso que estou certo, mas sei lá eu se um dia não descubro que afinal estava errado?
    Nuninho Teixeirinha

  30. O que o senhor fizer estará sempre bem feito desde que de acordo com a sua consciência, não precisando entrar aqui na disputa da questão da subjectividade e da objectividade. Cada um de nós é feito de si mesmo e das circunstâncias que o rodeiam e envolvem, por isso é que evoluimos e, graças a Deus, somos diferentes, e por isso é que temos uma natureza tão variada e tão rica.

  31. No texto trata-se de argumentos a favor e contra e não de ataques ou de declarar a própria legítima opinião como dogma ou como superior a outras opiniões. Importante seria pegar nas diferentes teses do texto e argumentar a favor de cada uma delas e contra cada uma delas no sentido de uns e outros podermos ver aspectos que um só não vê. Infelizmente quando os argumentos falham é fácil passar-se ao ataque emocional. O preconceito e a atribuição de culpa ou de ignorância aos outros não ajudam ninguém e revelam a parte escura de uma pessoa, sim porque cada um de nós tem uma parte escura e uma parte de luz!. Na vida seguirá em frente o que for pela pessoa, tudo o que for contra a pessoa tenderá a desaparecer.

  32. E temos tanto que aprender a fazer pela pessoa. O respeito, a ajuda a compreensão o carinho, a paz, a armonia, o amparo, a partilha… tanto mas tanto que não mais tem fim. Mas só vejo a pessoa a individualizar-se cada vez mais, sem a preocupação com o outro, até em família.
    José Barbedo

  33. Realmente, muitas vezes o próprio egoismo não nos deixa ver a parte que criticamos nos outros. A socieade, cada vez mais, no seguimento do “Maria vai com as outras” chega a confundir liberdade com libertinagem, o que não serve a pessoa nem a família. Em nome do direito e da liberdade servimos, muitas vezes, o Homo homini lupus! Infelizmente há ideologias, muitas delas instaladas nos Estados, que seguem uma política contra a família e contra os direitos mais profundos da pessoa humana, o que leva as pessoas, mesmo em família a não serem solidárias e compreensivas.

  34. Desejo poder dar fim a minha vida caso ela não mais seja viável. Quem é contra a eutanásia, que deixe claro que não a deseja. Deixem Deus fora desta discussão.
    Paulo Rollo
    FB

  35. Quando já não puder comer um pedaço de presunto e beber um copo de vinho, podeis eutanasiar-me.
    Mestre Velho
    FB

  36. Finalmente o Antonio levantou
    um ponto valido: é preciso estabelecer limites e protecoes para que nao exista influencia externa e que isso nao se torne algo comum. Ha relatos de pessoas doentes e deficientes que recebem pressao e digas de medicos para tanto, em alguns paises. Isso nao tem a ver com o direito a eutanasia, mas com os limites que devem se estabelecer para que nao haja influencia externa, especialmente em casos contornaveis ou curaveis.
    Paula HF

  37. Tinha alguma vaga ideia de que poderia ter a ver com religiao, obrigada por esclarecer. Ao Antonio, alguem explique que ninguem mais é obrigado por lei a seguir determinada religiao.
    Paula HF

  38. Não estou a falar de religião mas de um princípio ético (filosofia ética) que se foi afirmando, consolidando e desenvolvendo através dos povos e das civilizações. Isto não quer dizer que em todas as religiões como parte de sociedades humanas não tenham infringido esse princípio. A religião,na civilização ocidental, ao contrário de de alguma outra cultura é uma questão do foro individual e como tal pessoal. Nos países ocidentais não há Estado nenhum que obrigue a seguir uma religião.

  39. Nao hoje, mas ja existiu. E nao oficialmente, pois sua influencia perdura. Ve-se nos casos dos paises que proibem aborto ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. Politicos e sociedade exercem, na pratica, crencas de cunho religioso na vida pessoal de outras pessoas.
    Paula HF

  40. Paula HF, de facto há crenças religiosas e crença seculares, teismo e ateismo, e, na coexistência de todas elas se torna a sociedade mais diversificada e mais ricas. O problema vem muitas vezes pelo facto das religiões e dos Estados se meterem demasiado onde não seriam chamados; mas de facto a diferença do pensar e das ideologias (religiosas ou politico-seculares) legitimam-nos indirectamente.

    Felizmente fazemos todos parte de uma “ecologia social” muito rica pelo facto de ter muitos “biotopos culturais”; a diferença é uma característica de toda a natureza e é aquilo que nobilita a pessoa. Quanto menos latifundiários houver, seja em termos políticos, ideológicos ou religiosos mais rica é a sociedade. Na natureza, como na cultura tudo é complementar, embora externamente, indivíduos e grupos se comportam e se querem como exemplos únicos com direito a dominar os outros.

    O facto de crenças políticas ou religiosas terem um nome próprio não quer por isso mesmo que sejam declarados como mal a priori. O Homem é ao mesmo tempo homo faber, homo politicus, homo religiosus, etc. Importante é que nenhum destes caracteres domine o outro. Tudo é complementar e como tal, cada parte, não deve ser colocada em guerra contra a outra; a razão da guerra vem do facto de uma parte querer dominar a outra. A realidade é a-perspectiva e como tal não pode ser reduzida a um ponto de vista. Na soma dos pontos de vista talvez nos aproximemos mais, uns e outros, de umav isão mais correspondente à realidade. A afirmação do elemento deve ter sempre em conta que é parte de um todo e neste todo encontram-se todos os elementos com a necessidade de afirmar a sua individualidade, só que fá-lo geralmente na dinâmica de um elemento contra o outro elemento, esquecendo que os dois elementos fazem parte do todo; por isso é importante a controvérsia mas mais no sentido de jogo do que de guerra.

  41. Nem acabei de ler o texto tamanha a ignorância e desconhecimento sobre o que é realmente a eutanásia e os seus princípios. Como adoramos transpor o nosso egoísmo à vida dos outros.
    Eu sou médica e ensinada a lutar pela vida dos doentes, e eutanásia não se trata de os “matar”. O investimento nos cuidados paliativos é imperativo, naturalmente, mas eutanásia e uma boa rede de cuidados paliativos não são mutuamente exclusivas.
    Beatriz Silva
    in FB “Portugueses em Moçambique”

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