Emigração empacotada em Papel couché

Da Força muscular à Energia cerebral- Colonialismo e Desenvolvimento

António Justo

Ontem era a pobreza da terra e do interior que obrigava a emigrar. Hoje juntou-se-lhe a pobreza das cidades e dos Estados a testemunhar uma EU de política desigual. A emigração das periferias para os centros serve a exploração dos povos ricos sobre os pobres. No tempo em que as máquinas precisavam da força muscular, os países fortes importavam a força muscular humana, hoje que nos encontramos no tempo das tecnologias de ponta, importam as energias cerebrais humanas, sorvendo o pessoal formado à conta dos povos marginais.

A crise na Europa alastra com tal raiva que muita da classe média já se encontra quase no mesmo pé que a baixa antiga. Em nome da nova mobilidade, das pessoas em direcção às máquinas, continua-se a refinada e velha tática de levar as pessoas às máquinas e não as máquinas às pessoas. O sistema da velha colonização mantem-se, evoluiu apenas a fineza! Os países fortes antigos são apelidados de colonizadores, os de hoje dá-se-lhe o meigo nome de desenvolvidos!

A tristeza é grande e ainda se faz propaganda dela! O snobismo, de um Portugal novo-rico, testemunha a falta de patriotismo e de formação, ao estimular, oficialmente, académicos desempregados, a procurar trabalho no estrangeiro. Em 2012 emigraram 120 000 portugueses e em 2013 outros 120 000 num total de 240.000. Destes, 20% tinham um curso superior.A Incompetência do Estado dá sustentabilidade à emigração.

A carência portuguesa actual passa agora a ser empacotada com papel de lustro académico; este deve substituir a miséria do antigo papel de embrulhar bacalhau e salpicões; a nova diáspora distingue-se pela diferença do lustre que deve limitar a vergonha à antiga.

A elite do nosso Estado, como atestam os escritores dos últimos dois séculos, sobressai pela sua situação parasita a viver dos impostos do Estado e das remessas da emigração. A classe política fala agora desavergonhadamente da “nova diáspora” dos emigrantes com estudos, no desdém pelos antigos.

Fala-se da necessidade de se aproveitar “a potencialidade” da “nova diáspora”. Tal é a crueldade dos bastardos da economia, tal é a fome canina que se aproveita das migalhas deixadas pelos portugueses obrigados a sair para o estrangeiro. Portugal nunca deixou de “ tirar partido” das remessas dos emigrantes para cimentar a inércia governamental e a preguiça mental da Assembleia da República.

Quem sai não grita e ainda manda uns milhões! Segundo o Banco de Portugal, as remessas dos emigrantes atingiram, nos cinco primeiros meses de 2013, 1,14 mil milhões de euros, o que correspondeu a uma subida de 9,12%.

Portugal tornou-se num país sem capacidade empreendedora. Na TV e na discussão pública não há lugar para quem produz nem para as firmas de sucesso; a arena pública é ocupada pelos conhecidos sobas dos partidos e por algum boçal mais letrado. Quem berra, fá-lo de estômago bem recheado, continuando a fazer por um Portugal da meia-luz onde a esperteza tenha conjuntura à custa da inteligênciasoterrada na virgindade do povo.

O Português novo-rico perdeu o espírito de risco, o espírito de empreendedor, para viver do espírito de funcionário. A estrutura suporte do pensar português, para lá da fantasia, contenta-se com coisas pequenas que possa controlar, satisfazendo-se a olhar para o resultado que pode ter do que faz. Cada um é módico, contenta-se em ter algumas ovelhas que o admirem ou verga-se a qualquer coisa.

O problema do povo português vem do facto de tudo correr por amor à camisola sem se preocupar com o que ela encobre!

Portugal encontra-se hoje, tal como no século XV e XVI, à frente da civilização. Outrora à frente da expansão e agora à frente do seu colapso.

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

2 comentários em “Emigração empacotada em Papel couché”

  1. Saudações aos participantes.
    Interessante visão critica. Um dos problemas que vejo na emigração de pessoas qualificadas, é que perde sua população de origem, que indiretamente é quem arca com os custos desta preparação. Quando a preparação é no setor público, são os impostos pagos por todos nós que financia tal preparação, quando privado (instituições pagas pelo estudante) , indiretamente é esta mesma sociedade quem arca com parte dos custos (neste caso, mitigado em parte pelo pagamento individual).
    Para Países que recebem esta mão de obra, tudo lhes é lucro, pois suas populações ganharão duplamente: por não terem arcado com os custos desta qualificação e por receberem o lucro que ela lhes gerará.
    Este mecanismo é tão sofisticado que é utilizado transvertido de uma elegante roupagem que lhe dá a aparência de política humanitária ou de boa convivência.
    Deixo como reflexão a seguinte pergunta: Por que nenhum país traça políticas de atração de imigrantes pouco qualificados, preferencialmente formada por famílias inteiras, não apenas por sujeitos solteiros?

    Abraços aos participantes,
    Vilson
    in Dialogos_lusofonos

  2. Saudações amigas!
    Sim, caro Vilson! O país investiu na formação da inteligência e põe-na a funcionar para a concorrência!
    A Europa assiste agora, em alguns casos, a uma imigração de pobres, para a assistência social! Por isso há mais gente a servir-se da xenofobia. Os países ricos não estão interessados em importar pobres nem pessoas sem formação profissional e académica porque os empregos que têm são cada vez mais sofisticados e as pessoas carentes viriam aumentar a carência! Falta de formação é pobreza!
    Com a experiência que tenho de emigração e imigração vejo toda a imigração para a Europa e para a América como um grande enriquecimento, atendendo também à diminuição da taxa de natalidade. O problema que há refere-se apenas, duma maneira geral, aos imigrantes muçulmanos pelo facto de, normalmente, não se integrarem e, como testemunham as revoltas muçulmanas por todo o mundo, se autoafirmarem em relação aos autóctones. Penso porém que este problema se solucionará com o tempo, quando os chefes maometanos permitirem a abordagem histórico-crítica do Corão e da Sharia e a religião não for usada como estratégia de poder.
    Grande abraço
    António Justo

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