O Filho pródigo regressa à Casa paterna com Aspirações a ser Presidente
António Justo
Sócrates é o homem que melhor retrata o estado doentio dum país renitente que se recusa a encarar a realidade em que se encontra para continuar a viver embalado em sonhos e contos da carochinha. A sociedade portuguesa continua a cultivar poleiros como se o cacarejar de galos com penas de modernidade lhe dessem o pão e lhe pudessem compensar o atraso económico. No panorama português continua a não haver alternativa de escolha, a não ser a opção entre o mau e o pior.
O Sistema partidário português, num país de adeptos que não de eleitores, não precisa de se preocupar com questões deontológicas, nem com os verdadeiros problemas da nação; vive das victórias partidárias e o desagradável é resolvido pela rectórica e pelos estrangeiros (Troika).
Sócrates regressa a Portugal e entra pela porta do cavalo, recebendo um poleiro semanal de destaque no sacrário da nação (TV). Daí pode ditar as suas sentenças e atirar pedras numa nação partidária devota, habituada a comer e calar e a admirar uma argumentação fomentadora de ressentimentos. A argumentação fascina-os, não a realidade nem o objecto da argumentação. Mas por uma questão de justiça para com o povo português terá de ser dito que o que acontece em Portugal já germina, há muito, na Europa e a decadência começa pelos mais fracos.
A TV pública, que privilegia os galadores políticos, está consciente de que pode beneficiar e receber, de braços abertos, o seu filho pródigo sem que os seus irmãos fiéis protestem. Aquele abandonou o país depois de o ter conduzido a uma situação desolada; ciente de que o povo tem memória curta, e como esperto “animal político”, aguentou-se em Paris o tempo suficiente para poder descer de paraquedas ao povoado e poder falar da desolação dum país que ele mesmo afundou, ajudado pelos outros partidos. Apesar da bancarrota e da Troika continuam a ter a razão toda; continuam a falar como se fossem libertadores. É um lugar-comum partidário, ignorar a crise económica e cultural, falar mal dos governos e branquear a própria miséria no tempo da oposição. Num país irreal, José Sócrates, com a sua atitude galante, é a melhor Isca que o PS tem também para frustrações e sonhos femininos. Espectadores, que não distinguem entre o brilho do falar e a argumentação seguem, de olhar fixo, mais uma história de embalar crianças.
Um país de tanga, com uma TV jacobina à procura de “audiências”, prefere a demagogia gratuita à informação séria paga!
A melhor atitude a assumir neste desapropósito, seria o boicote ao programa de Sócrates, e até apagar a televisão; “para quem é bacalhau basta”! O boicote não se deveria dar por razões partidárias mas apenas por uma questão de honra e de respeito por si mesmo e pela nação. Seria ingenuidade pedir responsabilidade à direcção da TV; ela é fruto de interesses mesquinhos e não duma cultura política. De facto, tão culpado é o PS como o PSD por tal desacato.
Os interesses individuais são confundidos com os do Estado
“Um político que desiste de puxar pelas energias do seu futuro não está à altura das suas responsabilidades”. No contexto em que Sócrates proferiu esta frase fala como se a defesa dos seus interesses se identificasse com a defesa dos interesses do Estado. E referindo-se ao seu espaço semanal na TV pública como comentador político, a partir do 7 de Abril, disse laconicamente: “Ninguém tem de ter medo”. Como se a sua entronização não fosse um acto partidário inocente numa TV pública sempre partidariamente politizada nem mais uma encenação para um povo que só conhece a realidade política situada entre as frontes dos interesses partidários. Pelo que se constata, Portugal continuará a viver embalado pelo cantar da cigarra a encantar a formiga!
É o cúmulo dos cúmulos o que a classe política portuguesa, aninhada nos bastidores da TV pública, se permite. Não é de admirar porque o manancial do grande saber público é a TV. Sócrates, e muitos outros, podem permitir-se fazer o que bem lhes apetecer porque desonraram o povo português a ponto de fazerem do Estado um bordel! O espírito democrático ainda não chegou aos partidos, doutro modo haveria membros que boicotariam tal disparate que só fala mal de Portugal e dos membros dos partidos que se permitem o que em nenhuma nação europeia de respeito se não permitiria.
Quando é que o povo regressa de férias para pôr Portugal na linha? Sócrates como comentador na TV pública, é a melhor prova de que Portugal não tem os pressupostos necessários para poder mudar e que a classe política continua a apostar na corrupção e na demagogia. O Bobo tem pele grossa e não nota o que acontece.
A cegueira é tanta que até se argumenta que em nome da honestidade e da representação proporcional na TV se deve tratar a todos por igual. Seria porém desonesto pretender-se, em nome da honestidade, falar da desonestidade. O sistema rotativo confirma que a um presidente PSD se sigue um socialista e o povo, sem entender nada do que se passa em Portugal já se cansou de Coelho como antes de Sócrates. Neste cenário, quem melhor que Sócrates para atrair um público feminino com grande poder na votação!
Porque nos encontramos num enredo de desonestidades consecutivas, o povo terá de aguentar uma desonestidade rotativa resumida no progresso da continuidade do banal.
Naturalmente que cada qual tem direito a honrar e louvar os seus “santos” mas querer, em nome da desonestidade de uns, afirmar o direito à desonestidade dos outros é perversão e deslealdade para com o todo. Esta tem sido uma constante da república.
Eles bem sabem que os cães ladram mas a sua caravana passa. O sistema de mafia branca que vive nas entranhas da nossa república tira sempre proveito tanto do sucesso como da bancarrota. O excessivo discurso partidário inquinou a nação. A luta política tira-nos as forças que poderiam ser empregues na defesa de programas objectivos servidores do povo e da nação.
Já outrora o povo gritava: soltem Barrabás. E o sábio sermão da montanha diz: “não oponhais resistência ao mau”. Mas o mesmo discurso diz também: “Bem-aventurados os que têm fome e sêde de justiça, porque serão saciados.”
António da cunha Duarte Justo