Países envergonhados dos seus “Feitos de Guerra” como Nação querem impor a Países europeus a Vergonha por serem Estados-Nação
Por António Justo
Grupos de artistas de várias cidades europeias, que vão de Salónica a Dublim e de Helsínquia ao Porto, proclamaram simbolicamente a “República Europeia”, a 10.11.2018 às 16 horas.
Muitos teatros e outras instituições participaram no evento em mais de 150 cidades europeias onde foi lido um manifesto. O projeto inclui eventos, entrevistas, debates e intervenções artísticas; nele se envolvem mais de 100 instituições e organizações.
100 anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, no âmbito do “Projecto Europeu Varanda” os artistas pretendem que se transfira „a soberania dos estados-nação para os cidadãos “, quer-se „tomar o nosso futuro em nossas próprias mãos” e que se organize uma Europa das Regiões, mas no sentido de se desestabilizarem as nações, muito embora numa “democracia transnacional”.
Esta é mais uma Peça de Teatro exibida em Teatros europeus – apenas útil para se repensar a Ribalta de Bruxelas
Quem teve a ideia da “República europeia” foi o politólogo e publicista Ulrike Guérot e o escritor Robert Menasse; este escreveu o manifesto! Pretendem, por um lado, “superar o vocabulário centrado na EU e, por outro, obstar às tendências nacionalistas crescentes”. Apostam em um Plano B para a Europa: a República Europeia. Conscientes de que “o nosso continente pode evoluir para um lugar pós-nacional”.
A vertente europeia nórdica (Alemanha), dos “envergonhados” da Nação, pretende continuar a moldar determinantemente a ideologia da Europa e do mundo!
Na Homepage República Europeia, apregoa-se que o bem comum, res publica, serve como princípio orientador de uma futura ordem europeia.
Querem abrir um debate sobre a EU que vá para além do discurso público atual e que ponha em questão e negue a ainda existente “soberania (residual) dos estados-nação”.
Dão a impressão de terem sido danificados pelas grandes guerras, ao partirem da experiência da Alemanha e da Áustria e em vez de assumirem a realidade da sua destruição passaram à ideologização da própria situação (envergonhados da nacionalidade) pensando que o falhanço das suas nações pode ser agora reparado com a luta contra identidades baseadas em Estado-nação.
O pior “nacionalismo” encontra-se no querer (Frankfurter Schule, etc.) levar todos os europeus a pensar que a Europa e a sua cultura são as responsáveis pelo que os países iniciadores das duas guerras mundiais fizeram! Este enredo é usado pela ideologia marxista e aproveitada pelo neoliberalismo para prosseguir a velha luta contra as bases da cultura ocidental, luta esta que assenta no combate a Deus, pátria e família, simbolizados no conceito de nação.
O manifesto tem ideias aproveitáveis, mas, na sua intenção intrínseca, esconde um espírito revolucionário nostálgico a atuar em palco. É mais uma iniciativa que indirectamente serve o burocratismo à la troika (soviética) que, por outro lado, se aproveita de um globalismo sem raízes nem rosto bem como da plutocracia. Mais uma luta pela activação do espírito revolucionário e pela conquista do poder nas instituições da EU, tudo isto, em nome de uma democracia do abstracto (cifrada num regionalismo reduzido a números entre 8 e 15 milhões de cidadãos por grupo (1), certamente a substituir as nações). Além dos interesses que a iniciativa alberga, tem a vantagem de fazer pensar e também o risco de fomentar a moda da “maria vai com as outras”! De facto, “o que está em voga tem um poder extraordinário sobre o pensar das pessoas simples que tudo aceitam sem refletir nas consequências” dizia-me uma ilustre leitora portuguesa que conhece bem a onda que nos leva.
Numa EU em que alguns povos ainda não conseguiram a consciência de nação (problema também de muitos Estados africanos!) quer-se acabar com as nações, com as nações de povos que têm uma certa unidade cultural; da constatação da evidência de a EU não dominar a crise e do facto de uma nação não poder controlar a EU e de Bruxelas ter dificuldade em controlar os Estados-Nação, não pode levar à conclusão que a solução seria a abolição das nações.
Uma identidade de caracter internacional deve assentar num caracter orgânico, reconhecendo que todo o cidadão faz parte de um povo, de uma cultura constituída de identidades individuais, familiares, étnicas, nacionais. Como se pode ser sério ao querer-se, em nome de um cidadão abstracto, querido meramente indivíduo, acabar com os seus factores de identidade familiar, étnica, nacional e religiosa?
É uma utopia, certamente! Mais uma acção PR resultante do impasse em que se encontra a EU do Brexit, dos burocratas, de uma politica de imigração apressada e de um envergonhado nacionalismo! A iniciativa peca, também ela, por se encontrar longe do povo, demasiado concepcional sem uma ideia de representações orgânicas do povo.
O projecto vem, pelo contrário, fomentar radicalmente o burocratismo e as ideologias de que sofre a EU; falta-lhe a capacidade de enquadrar uma Europa de povos-nações e de culturas, além de desconhecerem verdadeiramente a realidade nacional e pré nacional em que se encontra grande parte da humanidade; seria mais óbvio renovar e transformar as instituições da EU no sentido dos seus povos. Criar-se um seguro de desemprego europeu, como quer Olaf Scholz, ministro alemão das finanças seria um bom passo no sentido do cidadão-povo; também a criação na EU de um orçamento separado e um ministro das finanças da UE sob o controlo parlamentar, como propõe Macron, poderiam constituir medidas que desviariam muitos ventos que sopram contra as velas da EU.
Defender a utopia de se terem cidadãos sem estruturas fortes (neste caso sem o Estado-nação) parece encontrar-se na linha directa de uma agenda global turbo-capitalista e antiocidental na sequência de uma filosofia neoliberal totalizante, na linha de um pós-modernismo que quer acabar com a História, com a cultura e com o Homem, dela surgido. A filosofia inerente ao grupo alinha-se na estratégia da agenda globalizadora a que assiste um certo radicalismo anti-cultura, como se observa em muitos grupos Gender.
Ao ler o Manifesto, gostei do seu realismo ao colocarem as suas exigências na categoria de utopia! Também gostei de um certo interesse pelo cidadão, mas pecam por querem um cidadão que não cheire a povo e que seja só embrulhado pelas fraldas de ideologias.
Com o argumento do desenvolvimento, fomenta-se o tribalismo e, de maneira ingénua, adopata-se, indirectamente, um socialismo árabe, como se o regresso à Idade Média e o aproveitamento da propaganda feito por alguns contra os Estados-nações fosse a solução e o suficiente para ignorar a realidade mundial das nações. A ideologia do internacionalismo socialista foi agregada ao globalismo do capitalismo liberalista e à materialização cultural. Isto complica, cada vez mais, um discurso livre e desempenado!
Até a ONU corresponde à realidade das nações, embora a sua agenda subtérrea seja superar-se a elas e deste modo facilitar mais o dirigismo que interessa ao turbo-capitalismo e ao marxismo radical cultural.
Sou pelo regionalismo e pelos biótopos culturais e deste modo pela democratização da governação e da economia; querer acabar com os biótopos Estados nações é um serviço em prol de oligarquias económicas e ideológicas que prescindem do Homem para o tornar máquina num sistema tecnológico em que uns poucos de técnicos, com seus programas e configurações, regulam o funcionamento do povo à margem do cidadão.
Os criadores do “European Balcony Project” têm muita razão quando advogam que o populismo não destrói a UE, mas a UE produz populismo, mas perdem a razão ao quererem combater o vício do nacionalismo com uma agenda anti-cultura ocidental. Não só os nacionalistas prejudicam o estado de direito, mas também o fazem muitos ativistas nas suas cruzadas contra Deus, a pátria e a família.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
- ) O Manifesto visa agora identificar as cidades e regiões em grupos administrativos de 8 a 15 milhões de habitantes e tornar os seus representantes numa instituição para substituir o Conselho Europeu, e assim destruir o poder nacional. Querer-se obstar-se ao nacionalismo mediante a criação de uma organização meramente burocrática é desrespeitar os diferentes factores de identidade e querer formatizar a sociedade no sentido da agenda do turbo-capitalismo e da ideologia radical marxista. Naturalmente que o desalfandegamento dos produtos africanos deve tornar-se prioridade na EU. Tudo isto não deixará de ser música atordoadora bem-sonante enquanto a oligarquia e os movimentos “revolucionários” mais activos continuarem a desproteger a própria cultura.