Por António Justo
Na sociedade observa-se uma onda americana de se ter de ver tudo pela positiva! A palavra de ordem é “pensar positivo”!
Isto tomado de forma leve pode implicar também riscos pessoais e ter como consequência uma certa abdicação do espírito crítico e da própria personalidade.
Naturalmente um temperamento soalheiro é benéfico onde se encontre. Contudo, a estrutura mental de cada pessoa é diferente havendo uns cérebros mais inclinados para a positiva e outros para a negativa, uns mais espontâneos, outros mais refletidos…
O que está em voga tem um poder extraordinário sobre o pensar das pessoas simples que tudo aceitam sem refletir nas consequências.
Embora o “pensar positivo” possa ajudar em muitas situações, noutras pode levar ao descuido e prejudicar; o cúmulo do optismo, tornado ideologia, chega a justificar uma falta de precaução, uma falha tida, em consequência do demasiado optimismo, como positiva, pelo facto de proporcionar uma má experiência e com ela se poder aprender. (Não conta com a possibilidade de uma pré-reflexão que poderia levar a temperar o optimismo e evitar a falha).
Entre os judeus da América corre um dito macabro: No regime de Hitler muitos judeus optimistas confiaram na situação social alemã e ficaram na Alemanha; por outro lado, judeus pessimistas não confiaram e emigraram para os USA. Resultado: muitos judeus optimistas foram parar aos campos de concentração e os pessimistas conseguiram uma vida risonha nos USA.
A onda do pensar positivo tem os seus efeitos positivos, principalmente relativamente ao momento presente, mas pode esconder o grande perigo de surpresas posteriores desagradáveis e de se ser direcionado no sentido de um desenho social que se quer leve e dirigível.
É verdade que pensar faz doer, mas abdicar dele pode ter consequências irreparáveis. A onda quer-nos transmitir a ideia de que somos os obreiros de nós mesmos; esquece, porém, que somos formados de nós nas circunstâncias. É importante ter-se um espírito forte aberto e confiante, não ficando embalados nos braços quentes do positivo nem sermos batidos por atitudes ou ideias negativas!
Escrevi isto porque vi pessoas boas e inocentes adiar a sua vida devido a charlatães e conheço uma pessoa amiga que confiava tanto no pensamento positivo, que influenciou o marido a a deixar o médico; em vez disso, , durante dez anos, ocupava-se com visualizações de cura e com a aplicação de mezinhas caseiras. O marido, também ele uma pessoa de natureza acolhedora e alegre, não seguiu o conselho médico e, por fim, quando se viu obrigado a ir ao hospital, já era demasiado tarde, o câncro da próstata já estava muito avançado. Agora sofrem os dois! Mas verdade seja diga: continuam a ter uma atitude positiva, apesar do encurtamento de vida.
O optimismo ajuda, mas, em certos casos, precisa de ser doseado com critério, para se evitar um pessimismo adquirido.
Há um provérbio português que resume a história: “Confia na Virgem, não corras e verás o que te acontece”!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Um comentário em ““PENSAR POSITIVO” UMA ONDA AGRADÁVEL QUE SE PODE TORNAR PERIGOSA”