A Intuição reflecte a Verdade – Como tomar Decisões


A Vida não engana, as ideias é que nos enganam! (1)


António Justo

Num mundo complexo, como o nosso, massacramos a cabeça na procura de soluções para os problemas que a vida traz. Por outro lado, os charcos das opiniões e das informações são tantos que se torna difícil encontrar caminho sólido para andar sem cambalear. Na tentativa duma solução, uns são levados a filtrar a realidade com o crivo da razão quando outros fazem passar as ideias pelo filtro do sentimento. Será melhor tomar uma decisão racional ou confiar na intuição?

Há decisões de carácter pessoal e decisões que têm a ver com uma organização ou firma. As decisões relativas a estruturas e firmas são de carácter lógico cognitivo precisando de fundamentação baseada em regras e factos. O dono da firma, esse poderá servir-se da intuição como última instância. As decisões ditas da intuição podem também elas falhar, quando têm um preconceito de premeio. Assim, um patrão pode recusar intuitivamente o melhor candidato pelo facto de ele lhe fazer lembrar, inconscientemente, o pai, com quem tem uma má relação. O que aqui será visto como intuição não passa duma transferência psicológica.


Na opinião de investigadores modernos, no dia-a-dia, as decisões espontâneas, em questões complexas, são mais exactas e dão maior satisfação do que decisões pensadas. Sociólogos abonam em favor da intuição contra o intelecto afirmando que este só consegue trabalhar 7 informações ao mesmo tempo (40 a 60 bits por segundo). O inconsciente é 200 000 vezes mais rápido que a inteligência. Confirma-se, assim, a espiritualidade antiga que diz que a alma trabalha uma infinidade de informações ao mesmo tempo porque não se encontra limitada às dimensões do espaço e do tempo, porque vê a realidade a partir de dentro dela.


O sociólogo Ap Dojksterhuis, da Radboud Universiteit Nijmegen, defende que, quando se trata de tomar decisões complexas, em vez de se pensar muito, é melhor “recolher, a princípio, uma pequena quantidade de informações sobre o tema; dar um pouco de tempo e deixar o seu inconsciente trabalhar a resposta”.


A própria experiência nos diz que, uma vez colocado o problema a resolver ao nosso espírito, se espere por sinais somáticos, isto é, por um sentimento agradável ou desagradável, que será a resposta interior ao problema posto. Uma sensação no ventre ou nas costas pode ser um indicativo da resposta. Um outro método será colocar-se a pergunta, antes de se ir para a cama, e esperar pela resposta num sonho. Muitas vezes, ao contarmos o sonho tido a uma pessoa amiga, descobrimos ou sentimos a resposta que se encontrava codificada em símbolos. Por vezes, a resposta ou alternativas, tornam-se já visíveis no ambiente envolvente do sonho. Por vezes também se tem uma resposta directa do coração.


O filtro da razão é, por vezes, demasiado selectivo e não abrange as partes a-racionais que implicam uma boa decisão. Há também o obstáculo do perfeccionismo que fomenta o nevoeiro do medo na decisão. O perfeccionista, e o tímido, nunca estão satisfeitos consigo, sendo levados a adiar sempre a decisão; o viscerotónico, porém, decide mais com o ventre encontrando-se mais satisfeito consigo e com a vida. O controlo provindo do medo é tão perigoso como a exuberância precipitada.


O veto da razão, na análise de factos, tanto pode ser uma âncora de salvação como uma muleta a que se encostam os fracos para se adiarem, adiando a vida.


A sociedade de hoje, à moda sociológica, geralmente só exige decisões para o próximo momento e não para a eternidade…


As ideias são como que o mimetismo exterior que revelam o estado do tempo ambiental e os sentimentos são o mimetismo interior que revelam a situação interna. Ideias e sentimentos encontram-se numa relação como de inspiração e expiração. Quando inspiramos o fumo das ideias poluídas logo nos sentimos mal. Mesmo o ar puro inspirado contem elementos tóxicos como o carbono, que só o mais interior do nosso sistema respiratório poderá distinguir e aceitar.


Na vida do dia-a-dia tudo é limitado, tanto o gozo como, o seu outro lado, o sofrimento. É o que se pode reconhecer, numa paragem, à sombra do espírito, no silêncio. Aqui, o sentimento profundo torna-se no filtro das ideias. Daqui se pode observar as pressões e depressões causadas pelos ventos de ideias e sentimentos que movem a paisagem à superfície do ego. Então, os medos e as ideias encrostadas desaparecem para dar lugar ao fluxo da vida. Ao sol da intuição, regras e ideias entorpecidas dão lugar à fusão. É vida, tudo flúi.

A Vida não engana, as ideias é que nos enganam!

António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo e teólogo

antoniocunhajusto@google.com



ANIMAIS NÃO SÃO MERCADORIA


Penso logo existo – Quem não pensa não tem direito a existir?

António Justo

Uma vaca gera tantos gases de escape (azoto, anidrido carbónico, metano, etc.) num ano como um automóvel que anda 18.000 km. Segundo a FAO a produção dum quilo de carne prejudica tanto o ambiente como uma viagem de 250 km com o carro. Um alemão consome 90 kg de carne por ano e os americanos, no mesmo espaço de tempo, uma média de 120 kg por habitante. Em 2008 foram consumidas no mundo 280 milhões de toneladas de carne e 700 milhões de toneladas de leite.


Segundo uma investigação das UN a agricultura ocupa metade da área da terra e utiliza 70% da água consumida globalmente; produz 20% das emissões de gases estufa, 60% de emissões de fósforo e azoto e 30% de emissões de venenos.


O olhar dum animal, a sua expressão de sentimentos revelam-nos uma sensibilidade que não pode continuar a ser encoberta pela razão humana. Razão e emoção podem-se manifestar não só na empatia duma pessoa com um animal doméstico como até ser verificada em plantas. Observações confirmam que até as plantas brilham mais e dão melhores frutos quando recebem dedicação carinhosa de alguém. Na dedicação cresce uma relação digna a nível profundo onde flúi muito de comum à nossa alma.


“Penso logo existo” é o slogan que nos tem conduzido também a uma certa unilateralidade cruel no agir. Na prática, a inteligência emocional é recalcada e quem não pensa não tem direito a existir. Isto vê-se confirmado nos grandes “campos de concentração” que a indústria agrária cria para os animais e na quantidade de animais que os talhantes imolam sem pudor nos seus matadouros, para depois serem expostos como cadáveres e vendidos nos talhos. Sem honra nem dignidade, os animais são anonimamente criados para se tornarem em bifes e chouriços, depois comidos, sem o mínimo de respeito e de sintonia com eles.


O ser humano ao resumir a sua identidade na fórmula filosófica “penso, logo existo” limita a humanidade à sua espécie, esquecendo que antes do pensar vem o sentir: sinto logo existo. A falta de solidarização com os animais e a carência de compaixão tornam-se num índice da desumanização do homem e consequente violação da natureza por ele. A filosofia e a ciência estão interessadas em considerar a vida emocional dos animais como inferior ou como insuficientemente investigada, para poder continuar a abusar dela e justificar a sua desumanidade como natural. Desde René Descartes fomos instruídos que decisões racionais são o ideal e que decisões do sentimento não valem muito. A injustiça e o opróbrio causado aos animais bradam já aos céus. A maneira como são tratados até ao matadouro não respeita a sua natureza nem os seus sentimentos. Somos campeões em recalcar os nossos sentimentos para com a vaca, o porco, a galinha, etc. Se víssemos neles o destino do nosso cão ou do nosso gato, talvez o sentimento acordasse a nossa razão embotada! Vai sendo tempo da política e da religião dar voz a estas vítimas sem voz. Se não ouvimos a voz da natureza também não nos podemos ouvir a nós! Nas suas veias corre parte do nosso sangue! A nossa desumanidade para com os nossos irmãos de espécie não é argumento para continuarmos a não ouvir a voz dos nossos irmãos da natureza!


A legitimação do ser é mais abrangente do que a razão tem demonstrado. No sentir se encontra a compaixão e a complacência dos seres uns com os outros.


Um aumento da sintonia do Homem com a natureza e consequente alargamento da consciência poderia conduzir à redução do consumo da carne. Se reduzíssemos o consuma da carne no mundo a 10%, o aquecimento da Terra seria evitado e a maioria dos problemas ecológicos seriam resolvidos.


O movimento dos vegetarianos deve ser visto com respeito e implementado, sem entrarmos no jogo de pingue-pongue da culpa, e à margem de qualquer moralismo elitista.


Se os consumidores de carne passassem a ser vegetarianos seria poupada 21% da área que hoje é utilizada para a criação de gado, uma área correspondente à Índia (www.provieh.de). Numa população mundial de 6,7 mil milhões de habitantes, há 75 milhões de vegetarianos, 1,45 mil milhões são tão pobres que não se podem dar ao “luxo” do consumir carne; 500 milhões comem raramente carne e 4,6 mil milhões comem-na regularmente.

Quem não pode ser vegetariano pode, pelo menos, reduzir o seu consumo!

Se quisermos salvar o Homem comecemos já empenhando-nos em favor dos animais e das plantas!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Pegadas do Espírito


PORTUGAL COM “SUCESSO” NA VENDA DA DÍVIDA PÚBLICA – Turbo-capitalismo e Globalização selvagem


Sucesso falso porque hipoteca Próximas Gerações e apenas serve o Governo

António Justo

Portugal conseguiu o empréstimo de dinheiro novo, no mercado do capital, no valor de 1250 mil milhões de Euros. Os portugueses têm de pagar, pelas Obrigações do Tesouro (dívida pública vendida), juros relativamente baixos. Como refere a imprensa internacional, do crédito recebido, paga 5,4% pelas Obrigações terminadas em Outubro de 2014 e 6,7% pelas que terminam em 2020.


As condições são relativamente favoráveis, atendendo à recessão de 1,3% da economia portuguesa prevista para 2011, à montanha de dívidas e aos juros a terem de ser liquidados no ano corrente.


Muitos observadores internacionais admiraram-se pelo facto de o Governo português não ter recorrido ao crédito do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEER), financiado pela EU e pelo Fundo Monetário. A renúncia ao FEEF, embora de juros mais baixos, explica-se pelo facto do Governo não querer dar já parte de fraco, como fez a Grécia, e ir aguentando até depois das eleições a realizar, este ano, em Portugal.


Técnicos internacionais prevêem para Portugal o recurso ao FEEF porque vai precisar de pedir um empréstimo de 20.000 milhões de euros em 2011, através da edição de Obrigações do Tesouro.


O fundo de resgate europeu já conta com a necessidade de 100 mil milhões de ajuda a Portugal.


Portugal, apesar da retórica contrária de Sócrates, terá de recorrer ao fundo de resgate europeu. No entender da França e da Alemanha, Portugal não poderá receber, por muito tempo, crédito do mercado do capital. Depois das eleições presidenciais, a realizar ainda em 22 e 23 de Janeiro, os portugueses serão confrontados com novas dívidas a fazer. Na filosofia económica em voga, então só o FEEF os poderá salvar. O Governo poderá então explicar melhor ao povo o porquê da necessidade de recurso ao fundo de resgate europeu e consequente intervenção da EU no controlo das finanças portuguesas.


Os credores internacionais concedem crédito porque sabem que a EU fará com Portugal como fez com a Grécia. O economista americano Nouriel Roubini revelou ao semanário alemão Der Spiegel: “Finalmente será utilizado o dinheiro dos contribuintes alemães para acabar com a crise de dívidas noutros países”. Certamente que a Alemanha tem sido a que mais beneficia com o Euro e a exportação. Apesar de tudo, muitos alemães expressam, cada vez mais, a saudade da sua antiga moeda, o Marco alemão. Se os alemães e os franceses tiverem de apertar mais o cinto, os portugueses muito mais o apertarão.


Os estados fortes da EU tremem com medo da inflação do Euro. O português, José Manuel Barroso, Presidente da Comissão Europeia, preocupado em “fazer o necessário para defender a estabilidade financeira”, alerta a EU para a necessidade de alargar o fundo de resgate europeu (FEEF) .


Espera-se que na Cimeira da EU a 4 de Fevereiro suba o actual fundo para 750 mil milhões de Euros. A chanceler alemã não se pronuncia sobre o assunto. Este é um ano de muitas eleições na Alemanha e aqui o cidadão contribuinte é bastante contra medidas de que ele, ao fim e ao cabo, é o único fiador. Interessante que o seu ministro das finanças Wolfgang Schäuble quer que se elevem os fundos de salvação europeia para um milhão de milhões de euros. Ele sabe que Portugal só poderá ser safo com o apoio do FEEF.


Turbo-capitalismo e Globalização selvagem


Schäuble já prevê os próximos candidatos à insolvência, Espanha e Bélgica. Uma Europa e um mundo livres, a nível financeiro, tornam-se em parasitas das economias nacionais. O que o contribuinte paga para a FEEF e para a salvação dos Bancos torna-se num buraco sem fundo a ir parar aos bolsos dos Bancos e das Bolsas.


O que está a acontecer na Europa e no mundo, a nível financeiro, é um crime a saldar pelos nossos filhos e pelos filhos dos nossos filhos. A banca rota dos estados preanuncia-se numa queda como as peças de dominó.


Em Bruxelas, os chefes de governo exibem-se ma dança dos símbolos. Irrealistas, querem melhorar a capacidade de concorrência mas tudo à custa dos trabalhadores. No mercado financeiro as regras não são iguais para todos vivendo este à custa de economias fracas. A chance dos bancos fortes está na insegurança das finanças dos estados. Por isso estabilizam num lado para desestabilizar no outro. Encontramo-nos no caminho falso, de engano em engano, adiando a derrocada. Naturalmente que muitos dos medos que correm provêem duma vida saturada a perder o arrecadado. Quem começou por vender as jóias arrecadadas dos valores culturais não se pode admirar se no fim lhe for apresentada a conta do desregramento.


A ditadura mundial do capital financeiro encontra, na globalização selvagem, a sua maior oportunidade. As suas estruturas são falsas e falaciosas. A sua ética destrói toda a ética social e desonra a consciência do cidadão que, imperceptivelmente, se torna cúmplice dum sistema injusto e corrupto.


Já Jean-Paul Sartre dizia que, para se amar o Homem, se tinha de odiar o que o oprime! Isto pressupõe a domesticação das estruturas, dos estados, dos partidos e dos boys das grandes organizações nacionais e internacionais. A Terra e o Homem encontram-se a saque! Tudo vê mas ninguém nota! Tudo se queixa mas confia na “bênção” dos Bancos e na “metafísica” do mercado que promete a realização do paraíso no consumo.


Não se pode continuar a reduzir a ética das finanças e da economia a uma ética do bom tempo. Os lucros não podem continuar a ser comprados com a moral, o sangue do povo!



António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


FELICIDADE – UM BEM A DESCOBRIR


Na infelicidade andamos desencontrados de nós mesmos

António Justo


Numa altura em que vivia em comunidade, foi assinalada, com surpresa, a minha afirmação de viver feliz mas sem gozo.


A felicidade, a alegria interior, não tem razão para o ser. Acontece no centro de nós mesmos, à margem de razões para isso. Já o gozo não; ele depende das circunstâncias, depende também do outro. Geralmente andamos à nossa procura, angariando fora de nós o que está dentro. Distraídos esquecemo-nos que dentro e fora são pólos duma mesma realidade mais profunda; a verdadeira vivência (felicidade) acontece no centro de nós mesmos onde se encontra um tesouro soterrado.


No cruzamento do nosso corpo com o nosso espírito encontra-se a onda de ressonância com o todo, com o universo. No chão (no nivelado) do espaço e do tempo não há só a dimensão do horizontal, a linha do passado e do futuro nem apenas a linha vertical do alto e do baixo, do céu e da terra. A Realidade é a-perspectiva, nela tudo flúi, tudo é complementar. Os extremos tornam-se becos sem saída, verdadeiros desvios da Realidade. A felicidade acontece no meio, no aqui e agora duma Realidade mais abrangente entre o pólo material e espiritual. Os extremos tocam-se e no seu limiar ressoa a onda do transcendente e do imanente. Acontece incarnação e ressurreição numa complementaridade de ciência arte e religião.


A felicidade depende de nós, é uma condição de espírito, do nós a caminho. A felicidade é um filão que jorra no nosso íntimo sem passado nem futuro, sempre presente na vivência dum presente no todo a acontecer (kairos). Não pode ser procurada no passado nem no futuro, na recordação nem na aspiração. Estas são a parte de fora de nós, uma visão numa perspectiva determinada. Aí, as ideias e os sentimentos circulam sem nós e até mesmo contra nós. Do mirante do nosso intelecto apenas podemos fotografar a realidade, à margem da mesma, com as tonalidades positivas ou negativas das nossas ideias que determinarão a matriz (o negativo) dos nossos sentimentos. Aquele formata grande parte da vida que passa a ser uma cisma sobre ideias e sentimentos: um depender de ideias, um viver em segunda mão. Em vez de actores da vida tornamo-nos espectadores perante um palco de ideias positivas ou negativas. Geralmente permanecemos numa ideia positiva ou negativa ampliada num sentimento de gozo ou de sofrimento. Por isso andamos desencontrados de nós mesmos, longe da Realidade e consequentemente distantes da felicidade.


Assim a procura da felicidade torna-se vã pois não reconhece a realidade de nós e do mundo. De facto, a vida, tal como a natureza tem altos e baixos, vales e montanhas, Inverno e Verão. Ela é mudança sendo-lhe subjacente a alegria de viver. A felicidade não está no pensamento como o ano, a natureza, não se reduz ao tempo. A vida, a felicidade encontra-se na graça do viver.


A realização de desejos é apenas como a brisa que passa, que movimenta as folhas na sua superfície dando-lhes o gozo da frescura. A mesma brisa, porém, no Inverno acentua o sentimento do frio presente. Se reconhecemos, no nosso ser, o ser da temperatura, o frio e o calor serão apenas momentos da sua realidade. Se no Inverno nos tornamos infelizes por não termos o Verão procuramos fora de nós o que está dentro de nós, o verão e o Inverno, o gozo e o sofrimento. Não podemos colocar a nossa felicidade no aparecer das folhas primaveris porque então a sua perda no Outono trará consigo a lamentação. O acto de dar à luz é processo, faz parte integrante do acto da geração e da gestação. “No princípio era a Informação (o Verbo) e esta se fez carne” constatava João e Paulo tinha a experiência do “Cristo (o Outro) vive em mim”.


O gozo e o sofrimento são como o ir e vir, como a melodia, em tom maior ou menor, do acenar das folhas das árvores no passar do vento. Também nós, como o tempo e o vento, sempre em fuga descontente, fugimos à mudança na procura dalguma folha fixa. De nós e da realidade registamos apenas a fuga, a passagem, as folhas puxadas pelo vento que caem no Outono, sem percebermos que na sua queda se abre um novo horizonte, que no cair da folha se mostra o ser da árvore. O sentimento profundo da felicidade acontece na mudança, na metanóia e não num momento cristalizado duma queda aparente. Nela a melodia da felicidade trespassa os tons do gozo e da dor.


Num registo linear da vida somos levados a registar apenas os momentos de alegria e de sofrimento, numa realidade mais profunda. Não somos só palco; somos mais que o tempo, mais que as estações do ano, mais que obrigações e necessidades do dia a dia. Somos mais do que o clima e o tempo que parece e aparece.


Partindo duma pedagogia dialéctica para dominar o dia a dia, e chegarmos à felicidade há que começar por abdicar de ideias e de sentimentos negativos e esperar pelo despertar da Primavera em nós. Então virão os passarinhos abrigar-se nos nossos ramos, nas hastes da nossa natureza e farão nelas os seus ninhos. E nós, como parte da sua melodia, ingressados no seu espírito, estaremos, então, preparados para tomar decisões na ressonância com o todo.


Estamos chamados a dar à luz a realidade e não só a pensá-la a partir do de fora dela. Será preciso gerá-la no nosso interior e libertar-se dela, num acto de partilha e libertação, como o da parturiente… Para isso há que mobilizar a vontade na descoberta da essência do nosso ser e descobrir o ciclo das próprias dependências e hábitos. Então reconheceremos em nós a essência da natureza com as suas estações à superfície, o nosso ser de árvore que para dar novos frutos (alegria) perde as folhas (sofrimento) arrastadas pelas ventanias do Outono. Pressupõe-se um processo de desprendimento de ideias e de desapego de sentimentos, um deixar de ter e possuir para ser. Abertura e desprendimento não significam engolir sem mastigar mas pressupõem uma atitude de reconhecimento e agradecimento perante tudo e todos. Tudo é oferta, e, uma vez em sintonia com o todo tornamo-nos benevolentes, passando a abençoar-nos ao abençoarmos o mundo.


A alegria antecipada é a irmã do medo. Podem, por vezes, implicar alívio. Não é o outro que me pode tornar feliz ou infeliz; com ele posso ser feliz. Não se trata de ter uma alegria, um gozo ou uma tristeza. A felicidade acontece a nível não do ter mas do ser. Ela vem de dentro e não de fora. De fora vem o gozo e o sofrimento que se dão no ego. Muitas vezes usamos como substitutos da felicidade o sexo, o álcool, a comida. Procuramos apenas ter, dominar e receber reconhecimento, quando o essencial seria procurar entrar na ressonância com o outro.


A felicidade é um estado que suporta o gozo e a dor. Quem procura o gozo ou foge à dor anda sempre dois paços atrás da felicidade e três atrás de si. Parte da falta e não da abundância. A felicidade encontrada e vivida é como o Sol que traz calor à paisagem. No interior sábio, de cada um de nós, encontram-se as correntes das melhores ideias e dos melhores sentimentos. Trata-se de abrir caminho para elas e então virão ao de fora na estação apropriada. Então chegará observar sem analisar para descrever sem explicar.


No teatro da vida actua-se, não se prestam provas. Cada qual tem o seu ciclo de tempo com os seus ciclones e anticiclones, pressões e depressões. Uma nova consciência da realidade, na complementaridade da pequenez e da grandeza, do espírito e da matéria, do eu e do outro, conduz a uma nova vivência da Realidade una e diversa. A participação na divindade conduz à compenetração do que o Evangelho descreve como experiência do reino de Deus. Aí acaba a imanência e a transcendência. A transcendência emerge na criação como o som musical da guitarra na harmonia das notas. Aí acontece individuação na consonância da tríade eu tu nós. Ao tocarmos as cordas do nosso interior possibilitamos a experiência da felicidade em nós como ressonância do divino no ser que Ele também é. Uma vez entrados na casa do ser onde mora a deidade as tempestades e bonanças das nossas ideias e sentimentos passam a ser parte integrante da vida sendo vistas e sentidas como o ruído que o vendaval provoca ao passar no telhado, na distância do aconchego da casa.


Para lá do alto do conhecimento e da profundidade do sentimento há outros horizontes a descobrir: os horizontes da experiência alargada da ipseidade e alteridade em tudo presente e a tudo comum. Na sua relação se realiza a individuação, que se torna pessoa.


Para além do horizonte do nosso eu descobrimos um tu possibilitador do nós. Aí no mar do mistério adquirimos uma dimensão consciente da totalidade. Para lá do horizonte do nosso eu, entramos no fluido da mudança realizado na fórmula Tríade que resume a mística ocidental. Então passaremos da consciência do diálogo para a dinâmica do triálogo. Aí chegados, a nova consciência entende a dicotomia não se deixa enredar nela.


António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo e Teólogo

Pegadas do Tempo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Warum werden die Christen in der Welt am meisten verfolgt?

Verfolgung der Christen im Wort und Tat

Selbstmordattentat in Alexandria mit 21 Toten

António Justo

Die  Christen sind die am meisten verfolgte Gruppe der Welt. Sie sind Zielscheibe von Rassisten und sogar von so genannten Antirassisten. In der arabischen und asiatischen Welt werden sie mit gewalttätigen Anschlägen und Diskriminierung verfolgt, im Westen mit der Waffe des Wortes. Es ist salonfähig, in der Presse und Öffentlichkeit Anti-Christ zu sein oder die Attacken gegen Christen mit der Vergangenheit zu rechtfertigen. Ein hinterlistiger Kampf von Militanten des Säkularismus gegen das Christentum versucht alles, was an Abscheulichkeiten in der Geschichte bezüglich Ökonomie und Politik geschah, nicht auf die Burger im allgemeinen, sondern auf die Christen zu lenken. Es ist chic, von Antisemitismus, anti-arabischen Vorurteilen zu sprechen, aber es schickt sich nicht, von Anti-Christentum bzw. von Anti-Katholizismus  zu sprechen.

Die Christenverfolgung mit seit 100 Jahren mehr Todesopfern als in der gesamten Geschichte des Christentums wird in den Massenmedien selten thematisiert, was aufgrund der Wehrlosigkeit von Christen nicht auffällt. Ja, in der deutschen Umgangssprache existiert eigentlich gar nicht der Begriff „Anti-Kristentum“. Was nicht in den Begriffen nicht existiert, existiert auch nicht im Bewusstsein. Man verteidigt die einen, während man  gegen den anderen hetzt. Das Anti-Christentum wird in den Medien vernachlässigt. Es scheint dass wer kein Feindbild Islam etc. hat, braucht das Feindbild Christentum. Der Kulturrassismus zeigt sich mitleidig gegenüber der Diskriminierung kleiner Minderheiten anderen Kulturen.


Es wird mit zwei Maßen gemessen. Was in islamischen Staaten geschieht, wird als Werk von Extremisten betrachtet, was jedoch in unserer Kultur in der Vergangenheit an Schlechtem geschah, wird als Werk von Christen gesehen! Es fehlt die Einsicht und die Menschlichkeit. Die Verleumdung von Minderheiten wird als Vorurteil gesehen, die Verleumdung von der Mehrheit wird legitimiert.


Vorurteile gegen Muslime werden geächtet, während Vorurteile gegen Christen  gepflegt werden. Die Medien sprechen in den Überschriften von „Gewalt nach Anschlag auf  Kirche“, die Menschen, die in der Kirche getötet wurden, bekommen eine kleiner gedruckte Zeile.


Warum werden die Christen in der Welt am meisten verfolgt?

Das Christentum ist ein Störfaktor für alle Machthaber, weil es die Interessen des Menschen in der Mitte stellt und Interessen von Ökonomie, Ideologien und Kulturen an zweite Stelle setzt. Alle Machtstrukturen sehen es nicht gern, dass eine Struktur wie die Weltkirche für Menschen ohne Stimme spricht. Viele Machthaber stellen fest, dass immer da, wo Christen waren, die Demokratie, politische und religiöse Freiheit und Menschenwürde angefangen haben zu keimen. Das Christentum ist nicht gebunden an eine Rasse, an eine Kultur, ein System oder eine Idee; sein Ort ist der Mensch, und sein Gott befindet sich in der Mitte jedes Menschen unabhängig von seinem religiösen Bekenntnis. Das stört und wird zur „Bedrohung“ für jeden, der sein Geschäft machen will auf Kosten des Menschen. Das Christentum wird überall verfolgt, weil es mehr als eine Religion ist, weil es nicht einer Kultur angehört, sondern eine Religion, eine Philosophie des Menschen ist. Die Menschenwürde liegt im Menschen selbst und nicht in der Kultur, Religion oder Nation! Der Ort Gottes ist der Mensch und das stört alle Machtstrukturen und Ideologien. So können sie nicht die ganze Macht über die Menschen haben. Deswegen versuchen Machthaber, sich seiner zu bemächtigen oder es zu verfolgen.



Am Weihnachten wurden in Nigeria 86 Christen ermordet; auf den Philippinen verletzte eine Bombe 11 Christen in der Weihnachtsmesse; im Irak wurden die Weihnachtsfeierlichkeiten verhindert wegen Drohungen, und an Silvester wurden 21 Christen ermordet und 97 verletzt in einer Kirche in Ägypten, etc.


Der jüdische Philosoph Bernard Henry Levy stellt fest: „Die Christen bilden heute auf planetarischer Ebene die Gemeinschaft, die auf die gewalttätigste Weise verfolgt wird bei größter Unanfechtbarkeit der Täter.“ Diese Wirklichkeit wird verschwiegen und sogar gerechtfertigt, als ob die ganze Misere der Welt und der ganze Kolonialismus Werk von Christen wäre.


Der Mordanschlag in Ägypten wird zwar dem Terrornetz außerhalb des Landes zugeschrieben, und die ägyptische Regierung tut so, als ob Kopten gleichberechtigt wären. Sie werden aber massiv diskriminiert. Andererseits versucht man, sie durch finanzielle und berufliche Angebote zur Konversion zum Islam zu bewegen, weshalb ihre Zahl stetig abnimmt. Die islamische Welt geht immer in die Offensive, wenn sie mehr als 50 % der Bevölkerung einnimmt, in der Art, dass versucht wird, Minderheiten auf die eine oder andere Art zu reduzieren.

Die Verfolgung der Christen in der Türkei zeitigte „Erfolge“ mit dem Holocaust an den armenischen Christen, so dass die christliche Bevölkerung in der Türkei innerhalb von 100 Jahren von 25% auf 0,1% der Bevölkerung fiel. Eine ähnliche Entwicklung, wenn auch ohne Holocaust geschah in Ägypten und anderen Ländern. Im Irak sank der christliche Bevölkerungsanteil nach dem Sturz von Saddam Hussein von 1,5 Millionen auf weniger als eine halbe Million. Islamische Länder sind entweder die Hölle oder das Fegfeuer der Christen. Aber unsere Politiker glauben nicht an der Hölle, deswegen gibt es für die Christen in Ländern, in denen sie verfolgt werden, auch keine aussicht auf den Himmel.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com