Islamistas europeus em Luta pelo “Estado Islâmico” afligem a Europa

Portugal tem 12 Jihadistas, do Brasil não se conhecem Estatísticas
Solução: Apoiar os Muçulmanos democráticos reformistas

António Justo
No Iraque e na Síria encontram-se cerca de 30.000 jihadistas (guerra santa) estrangeiros de 83 países, que se aproveitam da experiência aí feita para uma melhor organização de redes de grupos terroristas internacionais. Estes, quando regressam aos países de origem, fomentam o terrorismo, em nome da resistência islâmica.

Segundo estatísticas da revista alemã Cícero-11.2014, há na Síria e no Iraque 1.000 combatentes da França, 600 da Inglaterra, 550 da Alemanha, 300 da Bélgica, 250 da Austrália, 120 da Holanda, 100 da Dinamarca, 70 dos USA, 50 da Noruega, 60 da Áustria, 30 da Irlanda, 30 da Suécia, etc..

Na Síria já morreu um jihadista português em combate pela instauração do Estado Islâmico (EI). Portugal tem 12 guerrilheiros na guerra santa (jihad), dos quais dois são mulheres (muitas mulheres jihadistas oferecem o sexo para os guerreiros de Alá, talvez no sentido de anteciparem o paraíso dos homens!). Há também jihadistas brasileiros mas não são abrangidos por estatísticas; O Brasil tem redes de recrutamento e propaganda em meios salafistas (fluxo rigorista do Alcorão) e outros grupos islamistas ou talvez jihadistas como: (http://islam-maranhao.blogspot.com). Na Europa abundam as redes de organização, como: Sharia4Belgium ou “Profetens Ummah (Noruega) e na península ibérica especialmente o grupo Sharia45Spain que, além do mais, quer minar as Constituições dos 2 países ibéricos. O recrutamento preferido dos jihadistas processa-se através das suas estruturas logísticas da internet. Este atinge sobretudo a camada jovem atraída e radicalizada sobretudo por grupos em torno dos salafistas, da Sharia e outros.

A Europa está inquieta com os novos mujahedin internacionais. Já se conta, na Europa, com atentados de decapitação e outros. Afeganistão formou uma geração de bombistas nas décadas passadas e agora sucede-se-lhe o Estado Islâmico.

Muitos jihadistas ficam desiludidos, quando notam que na Síria os próprios sunitas se combatem uns aos outros. Por isso no regresso de terroristas islâmicos às nações deveria haver mais diferenciação no seu trato, porque os há que em contacto com a realidade se desiludiram, outros ficaram traumatizados e outros ainda mais radicalizados.

Muçulmanos e não muçulmanos têm medo de Islão

Assiste-se a uma radicalização religiosa e política principalmente da juventude que se encontra desempregada e num vácuo entre a família paterna e uma família a fundar; são pessoas perdidas que não sabem onde pertencem e encontram na ideologia islâmica um sinal a brilhar no seu caminho escuro; a mais fácil forma de sobressair é converter-se ao islão e colocar-se ao seu serviço. O salafismo apresenta um projeto contra a sociedade ocidental, que se serve da música Rapper para, no sentido jihadista lutar contra a corrente e contra o ocidente, como fazem Jihadi John e Deso Dogg, que figuram como estrelas pop. Por isso, os salafistas encontram-se na Alemanha sob observação do Estado! Em nome de uma revolução hegemónica, justificam-se os meios bárbaros e a intenção de chamar a atenção para a causa islâmica. Nas mesquitas prega-se normalmente em turco ou árabe sem preocupação por esclarecer e continua a defender-se a separação em relação aos não islâmicos, apelidados de incrédulos ou infiéis. Nas mesquitas entram à vontade moderados e extremistas.

O islão extremista vive de teorias de conspiração do ocidente, dos judeus e até dos xiitas, contra o Islão (Sunita), e fundamenta-se no Corão e nas Hadith; os imãs nas suas mesquitas, no dizer de gente inside, não se declaram criticamente em relação aos versos do Corão que apelam à violência, não falam do direito a determinar o próprio modo de vida (calam os casamentos forçados), calam a violência da sharia, silenciam o aspecto problemático do uso do lenço e do chador, ocultam a discriminação da mulher, etc. Chega-lhes a jihad, o esforço interior e contra o exterior.

O Flerte cínico cultivado entre Figurantes da Tolerância religiosa

Em muitos dos nossos colóquios universitários sobre o Islão e nas rondas públicas de tolerância ad hoc, os conferencistas falam de permuta de ideias acentuando o lado pacífico do Islão. Ao omitir-se os aspectos críticos, e ao não convidar-se muçulmanos críticos, como referentes, impede-se uma discussão séria, de olhos nos olhos. Peca-se assim por omissão e fomenta-se a intolerância do Islão institucional contra um islao que se quer modernizar e contra muçulmanos críticos que ao criticar versos agressivos do Corão e dos hadith (Hádices) de Maomé, são hostilizados pela generalidade, e chegam mesmo a colocar a própria vida em perigo dentro das suas fileiras islâmicas. A estes, que poderiam contribuir para a evolução do islão tira-se-lhes o tapete. Deste modo, intelectuais não islâmicos tornam-se cúmplices de um islão conservador e segregador porque reservam o mícron aos conformes ou oportunos.

Mulheres e homens islâmicos corajosos, porque críticos de irracionalidades islâmicas, precisam de um palco que permita a modernização do Islão. Quem dá a palavra a estes é verdadeiramente amigo do islão; quem dá guarida e projecção aos conservadores islâmicos e aos falantes suaves islâmicos serve, muitas vezes, a hipocrisia. O islão precisa de reforma e quem precisa de palco público, para motivarem outros irmãos, são os reformistas. O resto é show de mútuas vaidades brilhantes mas um mau serviço ao Islão, porque quer o status quo, não apoia a formação de um islão tolerante. Afirmo isto também devido à longa experiência de convivência e até apoio a grupos islâmicos da cidade.

Nenhuma Constituição de um país civilizado legitima o terrorismo, nenhum país civilizado aceita o facismo; o Corão e as Hádices fazem-no e tudo aceita isso como um dado religioso aceite e indiscutível pelo facto de trazer a etiqueta de religião. Não podemos legitimar o islão como arma aceitando também a premissa islâmica que uma mentira em favor do Islão é uma virtude! É preciso modernizar o Profeta Maomé, não o deixando preso num patriarcalismo avoengo do Antigo Testamento. A ignorância e o oportunismo engravatado perante o Islão contribui para que este não passe da sua idade média nem do referido patriarcalismo próprio de zonas pobres e nómadas.

A jornalista turca de Berlim, Güner Yasemin Balci afirma em Cícero: “Muçulmanos e não muçulmanos têm medo do Islão. O Islão é uma arma carregada, devemos finalmente descarregá-la”.

As causas da violência e do não desenvolvimento no islão vêm-lhe da falta da ausência de pensamento autocrítico e da presunção dos que não querem reformar o Islão para manterem uma atitude de desprezo perante as outras religiões.

Urge ajudar as forças reformistas dos muçulmanos e não manter o Islão institucional em banho-maria como se faz em muitas agremiações, conferências e confrarias.

A honradez é o tesouro mais profundo que cada pessoa tem a guardar, mas na consciência de que a honra que nos é devida se encontra no próximo a respeitar.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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O Papa falou à Consciência dos Deputados do Parlamento Europeu

A EU precisa de um Enquadramento que “faça prevalecer a Lei sobre a Tirania do Poder”

António Justo
A Europa encontra-se à disposição de um capitalismo feroz e de ideologias que não respeitam a dignidade humana nem as nações. Neste contexto, Francisco I veio falar à ágora da Europa onde não faltam os vendilhões.

Ontem (25.11.2014), o Papa falou em Bruxelas aos 751 deputados do parlamento europeu que representam mais de 500 milhões de cidadãos.

Referiu-se, indirectamente, ao perigo dos acordos (TTIP) que estão a ser preparados entre a EU e os USA; estes constituem um atropelo aos países membros que passarão a ser economicamente controlados por poderes económicos e burocráticos internacionais sem que o Estado possa intervir. Seria fatal uma dupla moral que traz na boca a solidariedade europeia mas cede às multinacionais privilégios e direitos que deveriam ser inalienáveis do povo. De facto, as democracias encontram-se ameaçadas pela “pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história.”

A dignidade humana encontra-se ameaçada pela discriminação e por interesses económicos desmedidos. “Que dignidade é possível sem um quadro jurídico claro, que limite o domínio da força e faça prevalecer a lei sobre a tirania do poder?” Apelou à solidariedade e subsidiariedade.

Uma Europa que obriga os jovens a prepararem-se para o trabalho até aos 18 – 25 anos e deita ao abandono 6 milhões de jovens desempregados, perde o crédito, ao deixá-los à porta da sociedade e da vida, sem trabalho nem perspectiva. Daí, para o Papa, a urgência de se “promover as políticas de emprego” e a necessidade de “ devolver dignidade ao trabalho” pois «quanto mais aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária».

Francisco verifica que a Europa se tornou um continente cansado e envelhecido: : “De vários lados se colhe uma impressão geral de cansaço e envelhecimento, de uma Europa avó que já não é fecunda nem vivaz”. A EU tem vindo a ceder os seus ideais ao “tecnicismo burocrático das instituições”, tem criado estilos de vida caracterizados pela “opulência indiferente ao mundo circunstante”. “O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida – como vemos, infelizmente, com muita frequência –, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças mortas antes de nascer.”

A Europa está velha porque alberga muitos Junckers, Sócrates e oligarcas sem alma europeia. Francisco I sofre com o desmoronamento duma Europa que, com uma política que endurece na elaboração de regras, não se preocupa seriamente com o futuro, perdendo os seus ideais em favor da burocracia e do mercado. Criticou o pensar consumista e egoísta que se espalha como um nevoeiro pela Europa.

Admoestou os países ricos, criticando o curso de poupança da Troica que castiga especialmente os países do sul, tendo o problema surgido do fomento da flexibilização de um mercado liberal que “não respeita a estabilidade nem a segurança das perspectivas de trabalho”.

Solicitou mais solidariedade com os refugiados. É um escândalo ver-se o Mediterrâneo transformado num cemitério para muitos que procuram refugio. O problema da migração tem de ser resolvido em conjunto questionando assim as Directrizes de Dublin.

“Uma das doenças que, hoje, vejo mais difusa na Europa é a solidão, típica de quem está privado de vínculos”. “Vemo-la particularmente nos idosos, muitas vezes abandonados à sua sorte”, bem como nos “jovens privados de pontos de referência e de oportunidades para o futuro; vemo-la nos numerosos pobres que povoam as nossas cidades; vemo-la no olhar perdido dos imigrantes que vieram para cá à procura de um futuro melhor”. Os deputados também devem: “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas” e estarem atentos à «cultura do descarte» e do «consumismo exacerbado».

Falou também do abandono a que a política deitou as “minorias religiosas, especialmente cristãs, em várias partes do mundo. Comunidades e pessoas estão a ser objecto de bárbaras violências: expulsas de suas casas e pátrias; vendidas como escravas; mortas, decapitadas, crucificadas e queimadas vivas, sob o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.”

Apelou para a importância da defesa da ecologia e da natureza de que somos “Guardiões, mas não senhores. Por isso, devemos amá-la e respeitá-la; mas, «ao contrário, somos frequentemente levados pela soberba do domínio, da posse, da manipulação, da exploração”; a par duma ecologia ambiental, é preciso a ecologia humana, feita do respeito pela pessoa.

Resumiu o ideal europeu recorrendo à seguinte imagem: “Um dos mais famosos frescos de Rafael que se encontram no Vaticano representa a chamada Escola de Atenas. No centro, estão Platão e Aristóteles. O primeiro com o dedo apontando para o alto, para o mundo das ideias, poderíamos dizer para o céu; o segundo estende a mão para a frente, para o espectador, para a terra, a realidade concreta. Parece-me uma imagem que descreve bem a Europa e a sua história, feita de encontro permanente entre céu e terra, onde o céu indica a abertura ao transcendente, a Deus, que desde sempre caracterizou o homem europeu, e a terra representa a sua capacidade prática e concreta de enfrentar as situações e os problemas.”

Recordou que o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento». Deus preserva-nos do domínio das modas e dos poderes do momento.
Recordou também um autor anónimo do século II que escrevia: «os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo».

Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que deve girar, não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana e dos valores inalienáveis. Concretizando: precisamos de uma nova geração de políticos e de executivos que não se tornem pastores dos lobos mas que defendam as ovelhas dos lobos!
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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À procura do Pai no Universo

A Nave espacial Philae com a Sonda Rosetta “acometa” depois de dez Anos

António Justo
A 13.10.2014 a nave Philae acometou, depois de dez anos de viagem, em Tschuri. O cometa desloca-se a grande velocidade, a uma distância de 5000 milhões de km da Terra.

O objectivo do projecto espacial é analisar a composição do núcleo do cometa, a temperatura, e a natureza do seu solo, para, deste modo, se conseguir informações sobre a origem do sistema solar.

A nave de desembarque Philae (1), como o nome indica, revela o esforço por decifrar o texto do universo, numa tentativa de descobrir a origem do cosmo e da vida.

Como pode a técnica do homem (brinquedo dele), por meio dela, descobrir Deus no seu brinquedo que é o Universo?

O projecto é arrojado; é como tentar encontrar o Espírito divino, no provisório do tempo (no corpo morto de Cristo). A intenção é útil e o projecto também, porque, para lá das diferentes velocidades a que andam as inteligências humanas, o facto reúne-nos a todos no encruzamento do espaço e do tempo, naquele entremeio/intervalo, onde começa o nevoeiro interstelar feito de mistério. Aqui, para lá de constelações e opiniões, encontramo-nos todos no início da mesma viagem.

Na experiência do universo, tal como na da ressurreição, o tempo pára, a vida flui, só se ouvindo o ecoar do divino por todo o universo – um eco no coração do Homem a repetir-se na eterna pergunta: Pai, onde estás?

Na repetição desse eco outros ecos se ouvem no receio de uma resposta órfã vinda da técnica para filhos órfãos, na sombra da vida… Os cientistas permanecem presos em campos magnéticos, em distâncias e em conjecturas que partem de um pressuposto próprio. De facto um deus que se pudesse atingir não seria Deus. O que está por trás de tudo isto e tudo puxa e ordena, não lhes interessa. Cada um, cada criatura encontra o que pretende, parece também isto ser uma lei da natureza. O homem moderno corre o perigo de se dissipar no útil e factual perdendo a capacidade de sentir o pulsar de um poder superior na natureza.

Entre Deus e a sua obra corre o fluido do nada calado, a deixar espaço para perguntas a que o acaso ajuda mas não responde. Onde se encontra o eterno tecelão, que, da sua fantasia, fia a vida com os fios duma ordem misteriosa e perturbadora, de tal modo ordenada que se perde a meta e o sentido?

O desamparo do Homem, na procura do Pai (das origens), gira na órbita entre dúvida e convicção. A decifração da vida precisa não só da luz fria da razão mas também do calor da fé. Doutro modo a vida gelaria ou seria reduzida a um pesadelo num palco obscuro que em vão tentaria coar o brilho do Sol.

Neste mundo tudo gira na procura de uma meta! No emaranhado dos movimentos, a fé gera asas que o ateu não tem. A viagem da sonda Rosetta, materializa a fé da ciência na procura dos sinais da vida, tal como a viagem da fé, na procura do sentido do sentido, tenta dar sentido ao sonho que a vida é.

Todos, no mesmo espaço, viajamos em diferentes velocidades e órbitras mas num sentido comum de um céu estrelado com as energias das leis da física, da moral e da razão, tudo alinhado no seguimento das pegadas do mistério no universo. Todos nós, indivíduos e culturas, estamos na nave Philae.

Cada época, cada cultura, cada pessoa tem o seu centro de gravidade – o seu Sol – em torno do qual giram sentimentos e pensamentos que determinam uma acção própria no decorrer do mesmo empreendimento de desenvolvimento e descoberta.

Philae perdeu as forças, esvaziou as baterias depois de dois dias. Resta-lhe esperar pela luz do Sol que lhe carregará as baterias para seguir a viagem da esperança.

Procuramos nos testemunhos da órbitra do tempo o que se encontra fora dessa órbitra. A procura é para o homem o que é para a sonda a velocidade da nave.

Na vivenda do mundo
A nave Philae
Com coragem vai
Em busca do Segredo
Na Sala de Parto
À procura do Pai!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

(1) Pedra de Roseta é um fragmento, em três línguas, descoberto em 1799 no Egipto e que, juntamente com a descoberta de um outro fragmento, na ilha Philae, possibilitou a decifração dos hieróglifos egípcios.

Sínodo sobre Casamento, Família e Sexualidade

Amor e Sexo são grandes Garantes de Felicidade e Equilíbrio

António Justo
Cerca de 200 padres sinodais estiveram presentes, durante 15 dias, na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos reunidos em Roma; esta terminou a 19.10. 2014 com um documento final sobre sexualidade, casamento e família. As discussões continuarão nas comunidades locais até encontrarem concretizações no sínodo de Outubro de 2015.

A primeira semana do sínodo esteve subordinada ao tema “ouvir as realidades das famílias da igreja mundial.” Esta foi uma fase muito enriquecedora e aberta onde os bispos apresentaram diferentes perspectivas culturais, políticas e sociais à maneira de um caleidoscópio da igreja universal.

Na segunda semana a preocupação e o medo dominaram as discussões do sínodo, o que motivou o Papa, na sua declaração final, a referir-se às diferentes tentações.

O Relatório final, por eles elaborado, é um documento de trabalho. Teve aprovação com maioria relativa. Insiste na “união indissolúvel entre o homem e a mulher”. Reconhece aos casamentos civis, divorciados e recasados uma participação “de forma incompleta” na vida da Igreja.

Da votação dos documentos fica-se com a impressão que um terço dos bispos é bastante conservador. O documento dá relevo a soluções a partir da perspectiva pastoral.

No final do sínodo, o Papa falou das tentações observadas na assembleia sinodal e na Igreja em geral, ao tratarem os problemas do casamento, família e sexualidade. As tentações referidas são: a)- a tentação dos «tradicionalistas», e também dos intelectualistas (“dos zelantes, dos escrupulosos, dos cautelosos”), é “a tentação do endurecimento hostil, ou seja, o desejo de se fechar dentro daquilo que está escrito (a letra) sem se deixar surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito) ”; b)- a tentação dos «bonacheiristas», dos temerosos e também dos chamados «progressistas e liberalistas», que se revela na “tentação da bonacheirice destrutiva, que em nome de uma misericórdia enganadora liga as feridas sem antes as curar e medicar; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes”; c)- a tentação do deserto, “tentação de transformar a pedra em pão para interromper um jejum prolongado, pesado e doloroso (cf. Lc 4, 1-4) e também de transformar o pão em pedra e lançá-la contra os pecadores, os frágeis e os doentes (cf. Jo 8, 7), ou seja, de o transformar em «fardos insuportáveis» (Lc 10, 27)”; d)- a “tentação de descer da cruz, para contentar as massas…, de ceder ao espírito mundano”; e)- a “tentação de descuidar o «depositum fidei», considerando-se não guardiões mas proprietários e senhores ou, por outro lado, a tentação de descuidar a realidade, recorrendo a uma terminologia minuciosa e uma linguagem burilada, para falar de muitas coisas sem nada dizer!”
Francisco quer uma “Igreja que não se envergonha do irmão caído nem finge que não o vê”. O Papa chama a atenção dos bispos para não ficarem na atitude passiva de receber os tresmalhados; mais que recebê-los é preciso “ir ao seu encontro”.Para quem desejar pode encontrar na rádio vaticana outras informações sobre o sínodo: http://pt.radiovaticana.va/indice.asp?Redasel=11&CategSel=19

A fidelidade conjugal torna-se, cada vez mais, num desafio

No meu entender a fidelidade matrimonial não é lineal; é um valor alto mas não deve dar-se à custa de um cônjuge; há que reflectir bem, quando, na relação conjugal, se chega a uma atitude antagónica causada por doença psíquica objectivadora e interacções insuportáveis, ou como consequência de diferentes e divergentes desenvolvimentos individuais ao longo do tempo. Em certos casos pode tornar-se tão problemático o divórcio como a continuação da fidelidade conjugal… Uma fidelidade morta (tal como um divórcio superficial) pode impedir o desenvolvimento e o renascimento de pessoas. O matrimónio implica, já na sua etimologia, maternidade (mãe, fonte), pressupondo crescimento e desenvolvimento; o desenvolvimento não se pode limitar à geração de filhos.

É bem verdade que, também na noite brilha a Lua, mas essa luz não é, por vezes, suficiente para se reconhecer/realizar o mistério de Cristo, quando as perspectivas dos olhares são inflexivelmente diferentes… Eu não sou só eu com as minhas limitações, sou também aquilo que o outro permite que eu seja numa relação de mutualidade. A luz da fé ilumina a alma mas o corpo pode encontrar-se, por vezes, gelado sem o sol, devido à tormenta do dia.

A máxima bíblica, “O Amado é meu e eu sou dele” (Cântico dos Cânticos 2,16), pressupõe o encontro de almas num espírito humilde e realizado, que só é possível na união através da oração e da leitura espiritual comum (Um encontro a três!) numa atitude de pessoas livres, responsáveis e adultas. A maioria das pessoas subsiste irreflectidamente, também porque a sociedade a obriga a isso. A maioria vive como a água de um rio que segue o leito já preparado sem chegar à consciência do ser da água.

O plano do Papa continua em aberto

A próxima assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos será de 4 a 25 de Outubro de 2015, sob o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Até lá as comunidades paroquiais e episcopais continuarão a discutir o tema no sentido de ser elaborada uma proposta cristã sobre a família.

Uma Igreja em serviço e ao serviço tem de dar erros, atendendo às diferentes situações e perspectivas das comunidades, num globo tão caracterizado pela diferença. ”Quem serve, não traz um colete branco, mas sim um avental. Isto pode ler-se no Evangelho do lava-pés; Jesus usou um avental” dizia o Cardeal Marx. “

É a hora das igrejas locais, das conferências nacionais e dos cristãos discutirem e se pronunciarem na procura de “novos caminhos”. Precisam-se novas discussões no que respeita à fidelidade à Igreja e à abertura aos sinais dos tempos. Não se pode continuar na espectativa, precisam-se respostas concretas; a Igreja não pode ficar fora de jogo em questões de sexualidade, matrimónio e família.

Não adiar o futuro escapando a soluções

A escolha da data da beatificação do Papa Paulo VI, como conclusão do sínodo, recebeu um caracter simbólico especial, deixando em muitos progressistas um sabor amargo, porque Paulo VI é vulgarmente conhecido como o papa da pílula. Foram adiadas conclusões sobre a pastoral familiar. A força dos cardeais conservadores organizados esteve muito activa, já antes do Sínodo, emperravam o desenvolvimento, procurando isolar o papa.

A Igreja continua a ter uma relação conturbada com o sexo. Vai sendo tempo de se admitirem aos sacramentos, pessoas divorciadas, recasadas ou que vivam em coabitação, desde que sejam casos bem fundamentados. Seria de desejar maior celeridade e competência aos bispos na declaração da nulidade de matrimónios.

O ser humano encontra-se em processo de contínuo desenvolvimento pelo que não pode ser reduzido a um teorema intelectual, nem tão-pouco, a sua espiritualidade pessoal ser condicionada à abstenção sexual. Também a espiritualidade dos “eunucos pelo reino de Deus” não seria desvalorizada com a abolição do celibato para os padres seculares. Doutro modo, seria, por um lado, pôr a cultura/espiritualidade em contradição com a natura e, por outro, um acto de irreverência perante a natureza, ao obrigar-se o pároco a não casar, em nome da espiritualidade.

Embora seja verdade que, também devido à disciplina sexual cristã, a posição individual e social da mulher ocidental se desenvolveu e enriqueceu muito, em comparação com o papel da mulher da sociedade muçulmana ou asiática, isto não justifica a superregulamentação da vida sexual de indivíduos e casais. Sem cair na arbitrariedade nem no relativismo, a função da Igreja não é culpabilizar mas desculpabilizar. Seria irresponsável exigir-se uma pessoa qualquer  o seguimento de uma moral superior sem que esta tenha uma infraestrutura consciencial que a suporte. (Um grande problema da Igreja católica hodierna, está no facto de ter uma exigência moral bastante elevada, ao contrário de outras religiões, ou espiritualidades à la carte). Se queremos Homens temos que formar Homens e não apenas seres humanos! Pessoas que se separam merecem um trato mais respeitoso; muito embora a situação matrimonial seja da responsabilidade dos cônjuges, esta, terá que comportar a possibilidade de inocência, pelo menos, de um deles. Seria anacronismo continuar a fixar-se em leis que carecem de “adaptação à nova realidade social” no que respeita à vivência da sexualidade, tal como reconheceu o Vaticano II.

As relações sexuais e interpessoais são de tal ordem complicadas (únicas) que não podem ser resumidas ou encaixilhadas em normas rígidas; a pastoral teria aqui uma palavra competente e privilegiada a dizer… Por vezes, na vida conjugal, surgem situações tão doentias e imutáveis que, a serem mantidas, levariam à negação de um dos parceiros (extremos casos de bipolaridade, de borderline, etc.). O Cristianismo quer liberdade, autonomia e responsabilidade do Homem livre, não podendo exigir de ninguém que se torne num “Cristo”; Ele quer ver o ser humano livre de qualquer cabresto para se tornar capaz da comunidade profunda, baseada naquela liberdade e relação que fez de Jesus o Cristo. Uma fixação teimosa na impossibilidade do divórcio pode, em alguns casos, levar pessoas a terem de passar uma vida a viver ao lado de outras, sem possibilidade de realizarem comunhão.

O códice de conduta não se pode limitar a pequenos retoques cosméticos, se a Igreja quiser continuar a ser uma voz importante no mundo e a constituir orientação também para meios menos afectos à religião. O propósito e o proposto não são fáceis, atendendo ao facto de, mundialmente, pessoas e culturas se encontrarem em diferentes estádios e com díspares velocidades. Atendendo à maioria dos católicos não viver em países europeus nem na América do Norte e, considerando que religiões retrógradas e simplicistas como o Islão entusiasmam espíritos confundidos (simples), não será fácil aos padres sinodais encontrar respostas consensuais para um universo de culturas divergentes.

Temos um ideal que é o resumo de toda a escritura, como refere também Paulo (Rom 13,8-10): o amor a Deus e ao próximo. O cristianismo (e com ele a Igreja) é testemunho e garante do desenvolvimento universal, tal como o foi para a civilização ocidental nos últimos 2.000 anos. O próximo não tem confissão nem parâmetros culturais definidos; esta é a grande inovação do cristianismo.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
www.antonio-justo.eu

Ética da Responsabilidade pressupõe uma Educação para a Liberdade

A liberdade passa pela revisão da gramática – Nossa matriz da vida

Por António Justo
É essencial o empenho pelo estudo dos problemas humanos sob a perspectiva duma ética da insubmissão, porque a prática do hábito e da submissão levou a História a repetir-se, na continuidade de um poder medíocre e violento, que governa o mundo.

Hoje já se reconhece a submissão, a rotina e o medo como factores que impedem o desenvolvimento humano e sociológico, porque conduzem à subjugação, à técnica e aos automatismos do imediato consumista e a uma moral ad hoc. Albert Einstein advertia: “Os grandes espíritos sempre sofreram oposição violenta das mentes medíocres. Estas últimas não conseguem entender quando um homem não se submete, sem pensar, aos preconceitos hereditários e usa a inteligência com coragem.”

Não se trata de educar para uma revolta violenta contra os sistemas vigorantes (isso foi o que se fez durante toda a História em lutas, guerras e guerrilhas reactivas); a consistência ou inconsistência dos Estados actuais é o resultado dessa prática do grupo mais forte que impôs o regime, em que cada país se encontra no momento. Enfim, a História tem sido uma cadeia ininterrupta de assaltos e contra-assaltos. Como este é um dado de sustentabilidade negativa, no prolongamento de um passado centrado na violência e no poder, sem sentido pelo viver, será necessária a propagação de uma revolta integral da consciência (alma e inteligência acordadas e reunidas na intuição) que possibilite uma maneira de estar pacífica centrada na pessoa e não nos grupos de força, de maneira a acordarmos para o sentir integral da vida.

O conhecimento oficialmente propagado é confuso e baseia-se na divisão e confusão que conduzem à concorrência, ao conflito e à violência; isto porque assim se estabiliza os grupos de atitude violenta.

A acção pragmática e a razão, no seguimento da ambição, conduzem à eficácia mas não produzem felicidade; em vez de integrarem os polos extremam-nos no sentido de dividir para imperar (veja-se a definição partidária na sua dinâmica contra o integral); comporta uma dinâmica do abstrato e da generalização, distante da vida baseada na moral da lei, mas não no indivíduo concreto; o sistema da autoafirmação na definição contra o outro já assume, em si, o princípio da corrupção e da violência.

Como vimos no quarto estádio da ética, o estádio do amor que integra as partes numa dinâmica de maximização do indivíduo e da comunidade (à imagem da fórmula trinitária) a perspectiva deve incluir todas as perspectivas centradas na pessoa. (O aspecto utópico talvez se situe apenas no momento de projectar a acção e responsabilização individual para o grupo).

A mudança qualitativa só poderá dar-se mediante a mudança da gramática! Aprender a aprender para libertar/responsabilizar o Sujeito

A actividade escolar orienta-nos para o utilitário e eficaz impondo a luta competitiva numa estratégia do ‘alarga os ombros e deita abaixo’, se queres subir. Trata-se de uma educação irreflectida, feita de automatismos que conduzem a um viver no sótão do pensamento muito longe da vida concreta e em que se procura compreender tudo menos a nós mesmos, menos o nosso sentido e o sentido do nosso viver. Não respeita as características do indivíduo. Começa por forçar o intelecto e negligenciar a emoção e a acção, não se preocupando com o desenvolvimento da personalidade.

A escola e a educação partem de diretrizes e planos de enquadramento destinados a encaixar o cidadão numa dada intenção política, que ensina, à sua maneira, a perceber o que é, mas não a perceber o como é nem o como podia ser. Instrumentaliza-se o indivíduo, a vida e até os ideais dela. Na escola, deixa de haver indivíduos concretos para serem desvirtuados no mundo do rebanho centrado num pensar abstracto desresponsabilizador. Na sociedade, tal como na escola, só há lugar para a manada de complementos tornados predicativos de sujeitos indeterminados. Há que personalizar e reabilitar o sujeito indeterminado. A frase com o seu sujeito, predicado e complementos torna-se no símbolo de uma sociedade (massa) e de uma vida empedernida em funções sem respeito por cada termo em si; aplica-se uma gramática/didáctica que não compreende o termo/palavra independentemente da sua função e, deste modo, não lhe possibilita liberdade nem responsabilidade própria. Uma gramática das funções contrapõe-se à realidade da mudança contínua porque fixa os termos/pessoas no tempo cronológico e num meio já determinado. Para mudarmos a sociedade e a vida teremos que começar por consciencializar a gramática, nosso rescrito de vida, para assim, consciencializando-nos dos seus parâmetros, sermos capazes de criar novos, o que pressupõe começar por revolucionar a gramática (reflectindo o seu caracter estigmatimo) ou pelo menos a sua didáctica! A mudança qualitativa só poderá dar-se mediante a mudança da gramática!

Aristóteles e a Platão apresentam-nos achegas de reflexão sobre os valores perenes que nos resguardam de um viver de slogans alienantes formadoras de atitudes e virtudes oportunas para o momento socioeconómico em que se vive. O valor perene é integrante e como tal não define (é inclusivo não colocando o fim, o limite), destrói barreiras porque parte de uma visão integral da vida que deixa de ser esquartejada no tempo e consequentemente desconhece o medo enfreador. Onde há medo há sofrimento, há um ferido e uma batalha perdida. Quem propaga o medo é inimigo do homem e da liberdade. Por isso a missão é libertar todo o homem, seja ele muçulmano ou cristão, seja ele socialista ou capitalista, porque só então cairão as correntes e as muralhas dos prisioneiros que se encontram dentro e fora dos muros. O autoconhecimento conduz à experiência do suor de sangue no Horto das Oliveiras e à expressão individual de cada um na qualidade de ressuscitado.

As palavras são como o vento que passa e o exemplo é como a torrente que arrasta. O problema da mudança permanece bicudo pelo facto de um sistema só se mudar qualitativamente quando os seus membros se mudarem, isto é, quando grande parte dos indivíduos se mudarem, o que significa um processo de mudança imensamente lento, porque centrado em cada pessoa.

Obedecer/desobedecer para crescer!

A lei, a ideologia, o pensamento não muda basicamente, o que faz mudar é a atitude, o comportamento. Enquanto construirmos a nossa identidade identificando-nos com um sistema, país, religião, filosofia ou cultura, estamos a fugir de nós e a procurar a segurança fora de nós. Esta é a tragédia. Esperamos de fora no ter o que não somos conscientemente (no ser interior). Isto não quer dizer que não devamos pertencer a um partido, a uma religião, ou a um grupo qualquer, como meio e campo de acção, mas não como algo de identificação ou onde se procura a honra ou o poder. A natureza não conhece nenhum elemento que em nome do grupo se mate ou mate alguém. Só o Homem chegou a tal corrupção desnaturada prescrevendo a morte de pessoas em nome do grupo ou instituição; tal corrupção é tão descarada a ponto de a inscrever como norma em livros sagrados! E o que é mais grave a palavra mágica “religião” serve para conter as inteligências políticas e os intelectuais que se desobrigam na confusão das interpretações ao gosto da bondade ou maldade do cliente, em vez de se centrarem na qualidade da filosofia da religião.

O país, a nação, a política, a ciência e a religião não existem para serem servidos, devem ser meios de servir e fazer o bem. O ser humano é superior às instituições, está antes delas; estas são para o servirem e não o contrário. É contra a natureza o fanatismo bem como considerar uma instituição material ou espiritual como o bem. Estas pecam por delimitarem, definirem (ao determinarem o limite, o fim) de uma realidade que o não tem. O poder reside na divisão! Toda a ideologia como toda a instituição comete o pecado de se arrogar e usurpar a bondade que se encontra na pessoa. Só a pessoa é o lugar do bem e do mal. As instituições e até o sistema mental transferem a vida individual para as ideias e para as relações humanas de maneira a serem servidas por estas; conseguem-no ao determinarem a sua identidade na fronteira que separa o que deveria estar unido e rouba ao indivíduo a sua auréola pessoal transladando-a para a instituição e fomentando a dependência do indivíduo em vez da sua independência (Confrontar o dolo e o beija-mão de personalidades mesmo non gratas à população!). O Jardim infantil das sociedades em que nos encontramos faz lembrar a dança em torno do bezerro da Babilónia! Age-se sob o pressuposto que o que as pessoas precisam é de uma música qualquer para poderem dançar, independente do valor ou ética da “música”. Fala-se de emancipação mas na realidade a mesma sociedade que a defende, a rebaixa, entregando a dignidade humana às feras da praça pública. Isto não elimina o reconhecimento dos dons e do serviço em comunidade, com a comunidade e para a comunidade. Na comunidade há uma relação de sujeitos e não de objectos (o lado oposto da moral de Nicolau Maquiavel) o que permite uma outra interpretação dos dons e serviços porque a comunidade amplia o membro na complementaridade, não o rouba. É necessário criar uma pedagogia da certeza do incerto. Para isso são necessárias pessoas adultas e de boa vontade.

A Certeza do incerto

Temos de reconhecer também os limites do nosso sistema de pensamento e tornarmo-nos conscientes do seu condicionamento ao preconceito; de facto não há conceito sem preconceito. As forças de poder material ou ideológico usam do preconceito sem passarem pela reflexão; usam até da lógica para embrulharem a razão; servem-se na escola do preconceito, ensinando-nos a viver dele sem nos consciencializarem de que o preconceito é apenas um instrumento necessário para chegarmos à apreensão da realidade intelectual, sendo ao mesmo tempo uma oportunidade e um perigo falsificador de realidade. O problema da realidade começa com a ideia dela.

Se atribuo a uma percepção ou ideia a mesma realidade existencial (o mesmo conceito de existência) que dou à realidade das coisas, identifico imaginação ou ficção com a existência do objecto, dando-lhe assim uma outra forma de existência. Daqui o necessário respeito por cada instrumento de acesso à Realidade seja ele os sentidos, o sentimento, o intelecto ou a intuição. Aqui se situa o busílis da questão entre real e irreal, religião (fé) e ciência (opinião). Por isso prefiro situar-me na realidade da metáfora ao descrever ou interpretar as manifestações de um real mistério que é o mistério do real presumido na metáfora ou nas diferentes parábolas físicas, linguísticas ou culturais. Razão é a capacidade de julgar entre duas ideias, no caminho da crença ou da opinião; o problema começa com a valorização do juízo feito.

O primeiro passo a encetar será a consciencialização e auto- consciencialização da estrutura falsa e falsificadora vigente em nós mesmos e nas diferentes estruturas sociais. Não podemos destruí-las porque se o fizéssemos destruiríamos o homem e a sua a cultura. Uma nova educação terá de tender a distinguir entre os preconceitos necessários e os preconceitos nocivos e a encarar a resolução de problemas sob uma perspectiva individual responsável que parta da perspectiva do nós para o eu gratificado.

Não se encontra a certeza no ser pelo que, para o bom viver, há que se dedicar aos modos de ser. Na falta da certeza há que descobrir e experimentar como é o falso e como é o verdadeiro. Trata-se de começar a gatinhar.

Urge uma revolução cultural centrada na formação individual para se poder libertar a pessoa de velhas estruturas para tornar possível a transformação do homem e, através deste, da sociedade; uma revolução que parta do interior integral e se oriente para o interior de cada um (autoconhecimento, consciência da ipseidade) através da aquisição de um novo sistema de pensar e dum novo conhecimento. O entendimento e o pensamento são como a língua; a linha da fronteira de uma língua limita o horizonte do falante; limita o horizonte intelectual e limita a circulação fora dela. Trata-se portanto de criar uma linguagem universal que toque o coração de cada indivíduo e a inteligência das instituições.

O ser humano é um milagre em contínua criação que não deve ser domesticado nem encarneirado por instituições em quem a manada projecta a aura e o horizonte do próprio ser, com desejos provindos de recalcamentos num eu não consciente. Também a borboleta para poder voar teve que passar pela mudança progressiva. A meta da pessoa não é o paraíso nem o nirvana, mas sim a sua floração no ressuscitado.

A degradação do Homem e da sociedade parece irreparavelmente inexorável porque as instituições que a constituem (fruto da precaridade individual), são incapazes e, consequentemente, produtoras de crises. Neste sentido torna-se inoportuna uma avaliação dos valores que nos conduzem à precaridade da consciência (hipocrisia, inveja, sede de poder, nacionalismo, racismo, etc.). Temos construído a casa sobre a areia, partindo do princípio que se alcança paz com mãos de guerra. Enquanto a esperança se basear no medo não haverá solução pacífica. Por isso Cristo resume a vida integral: “eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Para lá chegar é preciso aprender a pensar fora dos modelos que nos prendem.

À maneira de conclusão

Se queres ver a Lua não esperes pela noite, o seu melhor rosto é ao pôr-do-sol. Porque não vivemos o presente na realização da felicidade, adiamo-lo e com ele a nós para um amanhã em que projectamos esperanças (tornamo-nos progressistas ou conservadores sem ter consciência do agora que culpa o passado ou espera no futuro, encobrindo, deste modo, a própria violência interior, que se revela na carência do presente). Reféns da causalidade, adiamos a resolução da paz para outros, para os vindouros, tornando-a um energúmeno do futuro que nos leva a fugir de nós e a distrair do presente. O passado (é a memória feita tempo), presente (o acontecer no eixo do tempo/fora do tempo) e futuro (é projecção feita tempo); passado e futuro são aspectos de algo que deveria ser só presente (Kairós), o fora do tempo. A vida inteira é viver e morrer, esforço e paz, contínua mutação num processo de integração dos próprios polos.

A via tem dois sentidos e a vida também. Seguindo no sentido contrário da via dificultamo-nos a existência, dando-lhe pernas de aflição e ambição/conflito, porque atados à trela do tempo. O hábito e a acomodação é tempo morto na rotina que nos empedernece.

No escurecer do pensamento levanta-se o amor que não é desejo mas sensação inocente do infinito; então chega a intimidade da noite escura onde só as estrelas falam do milagre que o universo faz brilhar nos nossos olhos. Só na noite surgem as estrelas, só no silêncio da mente se ganham asas para voar até ao firmamento onde o muro das ideias, culturas, anseios e preocupações já não fazem sombra.

Somos levados pelas ondas das influências políticas, religiosas, individuais e sociais de que nos temos de libertar. Eu noto em mim uma grande prisão, que é a consciência da defesa de valores cristãos que reconheço como inalienáveis para o futuro mas que me levam a ter medo do Islão. Um medo que me leva a não viver no presente com o medo do que acontecerá no futuro.

Num mundo em que se aspira a autoridade e posição social já não se é livre, o mesmo se diria pela ânsia de ser virtuoso ou bom; contudo, na falta de liberdade é melhor estar-se preso pela ética, desde que se tenha consciência disso. Se tenho a força de ser eu já não tenho medo de ser bom nem mau; na virtude e no pecado assumo ser eu conscientemente. Então desta perspectiva compreenderei a própria compreensão e a dos outros, ciente de que nesse entremeio se realiza a transformação que possibilita o milagre. Se me compreender compreendo o mundo e ao compreender-me viverei em paz com ele. Uma cultura ou uma pessoa fechada na própria órbitra como a Terra em volta do Sol circunscreve-se a si subestimando a realidade do universo. Se queremos descobrir o universo teremos de não dar relevo à própria giratória. Esta é a diferença entre um satélite e uma estrela.
©António da Cunha Duarte Justo
Jornalista e Ex-professor de filosofia aplicada
www.antonio-justo.eu