A um Papa Doutor segue-se um Papa Reformador

A Verdadeira Promoção é a Promoção à Humilhação

António Justo

Ao Papa Doutor Bento XVIII sucede um Papa Reformador. O papa Francisco está empenhado em criar clareza nos “ministérios” do Vaticano e as reacções já se fazem sentir.

Ao assumir o pontificado pediu aos membros dos dicastérios para ficarem “provisoriamente” nos ofícios até nova decisão. Deste modo revelou logo a sua intenção de renovar a cúria.

Este papa latino-americano que vem do “fim do mundo”, ao não querer ir viver nos tradicionais aposentos do Papa mas na Casa de Santa Marta, demonstra que quer ser um papa sem corte e distanciar-se do poder curial que atafegava outros papas.

A cúria vaticana, demasiado burocrática e italiana precisa dum novo organigrama. A melhor maneira de marginalizar o poder da Cúria foi criar, fora da Cúria, um gabinete mundial de oito cardeais provindos de todos os continentes “para o aconselhar no governo da igreja universal”. São cardeais abertos ao novo e de grande peso mundial. Com este acto demonstra a sua intenção de reformar o Vaticano e corresponde às espectativas de críticos do vaticano como Hans Küng que dizia que o novo papa teria de eleger um gabinete independente por causa da coabitação com a Cúria: „O Papa precisa dum gabinete com homens competentes (e porque não também mulheres) para sair da crise”.

 

Acusações de Fraude no Banco do Vaticano IOR

Francisco quer que o Banco Vaticano (IOR) responda às exigências cristãs, criando para o efeito uma comissão de 5 personalidades (4 homens e uma mulher) para o investigar e elaborar uma reforma estrutural do mesmo. O Banco existe para facilitar transações económicas de instituições religiosas e administra seis mil milhões de euros. Pouco depois de nomeada a comissão, o núncio Scarno, responsável pelo banco e mais dois homens, foram presos no dia 28.06.2013, devido a investigações contra o Banco, por corrupção. Trata-se aqui dum transporte de 20 milhões de euros. Editores, cineastas e autores que ganham milhões com especulações sobre o Vaticano encontrarão aqui matéria propícia para os seus intentos. Os ingredientes com que se criam as histórias são: poder, dinheiro, sexo e controlo. A maior parte das histórias enriquecem pessoas à custa das especulações…

Com a criação da comissão examinadora do IOR, Francisco manifesta uma postura crítica não só em relação ao banco do vaticano mas também relativamente ao mundo bancário em geral que se manifesta corrupto e déspota e se tornou no albergue da corrupção instalada a nível mundial.

Francisco chama-nos a descer à realidade. (Os bancos transformaram-se na boca desenfreada dos ricos. O problema do nosso mundo está no facto de ninguém compreender os ricos mas o dinheiro os compreender. Porque hão-de os peixes grandes comer os pequenos quando um grande seria a festa da pequenada?)

 O banco do Vaticano não pode seguir as práticas comuns noutros bancos dado a conduta cristã dever ser o critério de acção de tal instituição. Prisões em relação com o banco são sinais inequívocos de que Francisco quer clareza e limpeza.  

Francisco critica o carreirismo e dirige-se ao âmago da Igreja com a atitude do franciscano, Santo António de Lisboa que, no século XIII, também expressava a necessidade duma mudança institucional e moral, dizendo: “Livre de vícios tem de estar quem tem o cuidado da correcção das faltas alheias… Se o pregador fala somente sem que a sua vida também se faça ouvir, não sai água da pedra… A linguagem é viva quando falam as obras. Cessem, por favor, as palavras; falem as obras. Estamos cheios de palavras, mas vazios de obras…”.  

Papa com um estilo próprio

Referindo-se a uma mãe solteira a quem fora negado o batismo do filho, Francisco admoestou os clérigos que se comportam como “fiscais da fé”, pedindo que estes se transformem em “facilitadores da fé das pessoas”. . Já Bento XVI dizia “Há tantos caminhos para Deus como há pessoas”. A fortaleza da fé da Igreja Católica é importantíssima no mundo. As alternativas evangélicas não apresentam estabilidade suficiente e têm dificuldade em definirem o que são. São vias paralelas legítimas mas não podem ser o exemplo da Igreja católica. Para mais Lutero não queria formar uma nova igreja.

O carisma deste papa vem-lhe da fé e da experiência da realidade das comunidades e manifesta-se na palavra e no Espírito. Como reformador apela para começarmos por nós mesmos tal como dizia a Madre Teresa: „o Homem tem de se mudar para que as instituições se mudem”. De facto não são as instituições que pecam mas as pessoas; sendo ilegítimo a separação entre os de dentro e os de fora da instituição.

“O papa toma decisões próprias e contacta pessoas, pega no telefone e fala com quem quer, encontrando-se com muitas pessoas, não só com cardeais. Isto cria instabilidade no Vaticano”, testemunha o padre Bernd Hagenkord da Rádio Vaticana.

Este papa simples é um exemplo duma religiosidade profunda, exemplar para toda a Igreja. Ele recomenda: “Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum”… “A luta pelo poder na Igreja não é coisa destes dias”… “Ah, esta mulher foi promovida a presidente daquela associação e este homem foi promovido… Este verbo, ‘promover’: sim, é um verbo bonito; sim, deve usar-se na Igreja. Sim: este foi promovido à cruz, este foi promovido à humilhação. Esta é a verdadeira promoção, aquela que melhor se assemelha a Jesus”.

Também o franciscano António de Lisboa denunciava: “Os prelados do nosso tempo (…) nas cúrias episcopais fazem grande ruído com a lei de Justiniano e não com a lei de Cristo” e acrescentava “os 7 predicados necessários ao prelado da Igreja são: pureza de vida, ciência da divina Escritura, eloquência de língua, instância de oração, misericórdia para com os pobres, disciplina para com os súbditos, cuidado solícito do povo que lhe foi confiado”.

Francisco tem a sorte de ter o papa Bento XVI que o poderá aconselhar. Com ele inicia-se uma nova era na História eclesial e civil.

 

António da Cunha Duarte Justo

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O Primeiro de Maio

Amigas, amigos, caros leitores
O 1° de Maio cada vez está mais distanciado do trabalhador!
Eles comem tudo e, sem se preocuparem com os interesses dos outros, apoderaram-se das terras, do saber e das instituições. Eles subiram ao Olimpo e mataram também os deuses para, sem escrúpulos, poderem escravizar o ser humano. Onde o Espírito não conta, o Homem torna-se selvagem!
«O que se nos depara é a perspetiva de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho, isto é, sem a única atividade que lhes resta». Hanna Arendt
Eles apoderaram-se da terra e do trabalho e criaram uma sociedade onde o trabalho se tornou o único meio de se ser alguém. Quando se chega a este ponto, já a dignidade humana passou!
Apesar de tudo, há muita esperança! O tempo da crise é a época de preparação duma nova era!
Abraço
António Justo

25 de Abril mais um Aborto da Nação – Porquê?

“Mais quero Burro que me leve que Cavalo que me derrube”

UM SISTEMA PARTIDÁRIO GERADOR DE MEDIOCRIDADES

António Justo

“Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”, é o mote encoberto da classe política portuguesa (e da nação), bem descrita na “ Farsa Inês Pereira “ de Gil Vicente. A classe política prefere ser levada por um povo asno (Pero Marques) do que ter um povo esperto (cavalo) que a controle.O mesmo se poderia dizer do povo.

Inês Pereira é uma moça interesseira e preguiçosa que vive insatisfeita na monotonia do dia-a-dia. Por isso pretende arranjar um marido progressista que a tire da pasmaceira duma vida insignificante. São-lhe apresentados dois pretendentes: Pero Marques (conservador, bom, rico, ingénuo e simplório) e o Escudeiro Brás da Mata (progressista, homem com maneiras, controlador e refinado). A dificuldade de Inês na escolha do marido, vem-lhe do conflito que traz consigo. Nela debatem-se duas mundivisões: a medieval (Pero Marques) e a moderna (Cavaleiro). Inês recusa o primeiro pretendente Pêro Marques, mas ao notar que o Escudeiro Brás da Mata (segundo pretendente) é demasiado exigente e não a honra; Inês, logo que se livra dele, casa com Pero Marques. Este é tão bobo e saloio, que cantando e bailando a leva às costas a um ermo onde ela pode dormir com um falso Ermitão (antigo amigo). Inês Pereira é ajudada por vários personagens, todos eles só estão interessados no negócio com o casamento.

Na Farsa, além do fadário do país na sua luta entre a visão tradicionalista e a visão modernista, reconheço a classe política representada pela protagonista Inês Pereira (oportunista) que trai o marido Pero Marques (povo tradicional) e não sofre as consequências disso. Em Inês podemos reconhecer tanto o rescrito da nação como dos partidos. Inês serve-se da esperteza para granjear a simpatia. A classe política também se tem servido da alcoviteira Lianor Vaz e dos judeus Latão e Vidal (TV, Media, etc.), dos Moços (do partido), dos Ermitãos (maçonaria e interesses internacionalistas, republicanismo mercenário, etc.) e da Mãe (Presidentes da República cúmplices dos jogos da classe política), para se servir a ela e aos seus acólitos.

Uma nação incapaz de integrar nela mesma a terra (conservadorismo) e a ideologia (progressismo) está predestinada a não se encontrar a si mesma e a expressar-se partida. Por isso a sociedade portuguesa não cresce organicamente de maneira continuada. A sua evolução dá-se, aos soluços, de crise em crise, num processo de querer adquirir o perdido nunca alcançado. Isto agravou-se a partir do séc. XIX. A partir daqui a ideologia assume o lugar da terra.

A Nação perdeu o Sentido da Realidade

 “Casa onde falta o pão todos ralham e ninguém tem razão”. A crise financeira portuguesa de 1891, (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218726298J7kLR2hh1En65AF7.pdf) acompanhada das revoltas republicanas. culminou na abolição da monarquia em 1910. A Carbonária (“defensores da Pátria”), braço direito da maçonaria matara o rei e o infante em nome da defesa dos interesses nacionais e do modernismo, com a mesma ligeireza com que tinha atraiçoado a pátria ao saudar as invasões francesas como libertadoras. A 1ª república acaba também falida no golpe militar de 28 de Maio de 1926, que instala a ditadura militar até 1933. Com a Constituição de 1933, forma-se o “Estado Novo” (regime autoritário com tendências fascistas mas que não assume o fascismo); este entende-se já não como fruto da ideologia mas como tentativa de reabilitar o Estado através do corporativismo económico e social, compreendendo-se como “um Estado pluricontinental e multirracial”. Salazar tenta dar uma nova tarefa ao país: olhar para a terra e defender o ultramar.

A 25 de Abril de 1974 é demitido o regime autoritário de Salazar. A Junta de Salvação Nacional das FMA nomeou como presidente da República o General António de Spínola a 15 de maio de 1974. Segue-se o período anárquico dos revolucionários em torno do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Surge o 25 de Novembro de 75 a corrigir um pouco a direcção anárquica com o Presidente da República Ramalho Eanes. A impaciência da liderança partidária e a pressão de “estrangeirados” como Soares, Cunhal, etc., interessadas em arrecadar para si o sol de Abril apressam a tarefa de impor os seus interesses partidários. A 25 de Abril de 1976 a terceira república restabelece o regime democrático, com a nova Constituição de orientação comunista e com as eleições.

Com a derrocada do regime autoritário de Salazar, o 25 de Abril de 1974 restabelece o caracter ideológico da primeira república com muitos avanços a nível de ideias e retrocessos a nível da terra. Portugal desconcilia-se ainda mais e continua a viver na superficialidade de ondas de ideológicas. Para Portugal ser fiel a si mesmo e se reconciliar internamente teria que permitir-se uma discussão séria entre conservadores como Salazar e socialistas como Azedo Gneco; doutro modo seguirá o mau caminho de dupla personalidade (esquizofrenia) à medida dum Mário Soares republicano comunista que depois salva a raposa republicana tornando-se socialista estrangeirado. A tática do seu PS foi difamar e defraudar sistematicamente a direita e a Igreja de maneira a criar na opinião pública num anti-conservadorismo como tinha criado com o anticlericalismo na primeira república (perpetuando uma mentalidade mesquinha do contra, seja ela anticlerical ou anticomunista). Assim um republicanismo jacobino consegue, através dum socialismo estrangeirista vaidoso, impor à nação uma prática cultural extremamente ideológica. Torna tabu tudo o que é conservador esquecendo que uma política séria e dinâmica teria de ter um aspecto conservador e outro progressista como partes integrantes e expressões duma só realidade. Enquanto o país não for capaz de equacionar uma política conservadora e uma política progressista teóricas próprias, auto-conscientes e bem fundamentadas, de origem e convergência nacionais, continuará nas mãos dum internacionalismo para inglês ver.

O país ainda não digeriu a revolução liberal (invasão francesa)! Não conseguindo apaziguar a terra com a sua ideia, vivendo ao rumo de ideologias interesseiras e estrangeiras. Também a primeira república, embora engordada pelos bens Igreja não serviu mais que os interesses dos que a fizeram, fomentando os barões do 5 de Outubro que em 16 anos produziu 39 governo e acabou na bancarrota em 1926. Afinal, o benefício do 25 de Abril foi dar à nação o desenvolvimento que os governos dos países vizinhos, sem o desvio da revolução, deram ao seu povo; caracterizou-se, no seguimento da primeira república, por criar novos barões (os novos ricos) quando o que se esperava era que produzisse cidadãos.

Tal como aconteceu na primeira república, a sociedade portuguesa, em vez de discutir objectivamente a melhor maneira de construir um Portugal solidário independente e de impedir a falência do Estado, é levada a cultivar um discurso partidário em torno duma rectórica de culpas e desculpas geralmente à margem da “coisa pública”. O maior impedimento momentâneo para o desenvolvimento do país encontra-se num estado ocupado a nível de estrutura e inquinado por um discurso unilateral do ou… ou… Neste sentido, o desinteresse da nova geração pelos seus pais, que ocupam a opinião política e pública, só poderá ser de benefício para a nação para o momento em que assumam eles a responsabilidade de dirigir o país.

A sociedade desperdiça-se no partido do contra

A sociedade portuguesa tem vivido dum grande equívoco: o equívoco de identificar os interesses de Portugal com os interesses dos partidos e o equívoco de identificar lógica (rectórica) com a realidade objectiva. 

De facto o que temos é uma nação travada pelas peias dos partidos sempre a mancar atrás do acontecimento e com uma classe política (de conservadores envergonhados e progressistas arrogantes a governar no enclave de Lisboa) a viver da improvisação (Cavaleiro) e a servir de manequim à moda que o estrangeiro produz.

Os que levaram o Estado português à ruina apresentam-se como a solução e, o que é mais grave, Portugal não tem alternativa de escolha: só pode escolher entre maus e piores (aliás uma tendência geral contemporânea!). Neste contexto, também o fenómeno Sócrates não é mais que um sintoma dum Portugal adolescente, melindrado e doentio, dum querer ir ao restaurante sem ter de pagar a conta, dum Portugal Inês Pereira.

Uma cultura democrática, que limita o discurso político à satisfação de adeptos, como se o Estado fosse um relvado onde os políticos jogam o seu jogo perante um povo reduzido a assistência, uma população de claques logo satisfeitas com a perda do clube contrário, desautoriza-se e impossibilita, ao cidadão, a capacidade de referência à realidade. Suficiente parece ser o calor da afronta, pertencer-se ao partido do contra; é-se moderno e sabido na medida em que se tem opinião contra isto ou contra aquilo: contra o governo, contra a Igreja, contra a esquerda, contra a direita, contra a justiça e contra a injustiça… A essência do discurso político e popular parece reduzir-se a duas palavras: ser contra, pertencer aos contras dos contrários. O ser do contra acrítico confere estatura moderna e encobre a ignorância do contra e do contrário. Este espírito de contradição impede a formação duma cultura conservadora crítica séria e profunda e impede também a formação duma cultura progressista crítica séria e aferida ao país. A inveja e a pretensão completam-se…

Um povo é levado ao engano pelos modelos que se lhe apresentam. Só lhe resta a oportunidade de comparação entre os que o sistema político lhes apresenta e estes são reles porque o húmus republicano que os produziu, mais que na ideia, baseia-se num pragmatismo parasitário e oportunista condicionado e condicionante: um sistema de pensamento de matriz partidária.

A República Portuguesa, uma realidade muito enredada e mal feita, (talvez demasiado vergonhosa para poder ser contada nas aulas de História!) só poderá tornar-se frutífera depois dum autoexame crítico sem recalques. Sem o reconhecimento dos erros dos conservadores e dos progressistas, a partir duma grelha da cultura nacional, o país não sairá do ciclo vicioso de extremos pendulares. Fruto de ideologias importadas e mal digeridas, a república, têm conduzido Portugal de insolvência em insolvência, não conseguindo produzir políticos, à altura do povo histórico luso, nem da realidade contemporânea. Herdou da monarquia e da Idade Média os vícios que pretensamente queria combater com a mudança, mas que, de facto, ainda exacerbou ao incorporar as aspirações do “Escudeiro”: nobreza (elite) decadente, aventureira e parasita que vive da trafega do vinho azedado em odres novos!

Portugal na Avalanche do Efeito Decoy

Portugal ainda não terminou a guerra civil. Apenas transformou a guerra civil armada em guerras ideológico-partidárias, numa guerra da cidade contra o campo, do moderno contra o tradicional, do povo contra o povo. Os conflitos armados encontram a sua perpetuação através dos conflitos ideológicos nos partidos numa luta desigual de conservadores intimidados e de progressistas atrevidos.

Na tribuna pública da sociedade portuguesa (TV) reina o discurso partidário e a sociedade não se pode resguardar porque não tem infraestruturas capazes de criar alternativas reais e independentes. Não há grupos de imprensa fortes nem correntes de pensamento de relevância nacional capazes de provocar impacto político que obrigue a nação a reflectir para crescer organicamente. Um Estado ocupado por um sistema de bajulações e de “guetos secretos” pouco mais pode produzir que mediocridades a nível económico, político, cívico e social. Neste sistema, a correspondente ascensão partidária favorece a formação de líderes medianos de espírito mais esperto que inteligente, animais políticos, frutos de influências e jogos; expressam neles mais a esperteza árabe do que a inteligência francesa. Na falta de modelos políticos, económicos e sociais consistentes, Portugal não conhece alternativas aferidas à realidade. Apenas conhece alternativas partidárias, que centram a atenção em modelos particulares inferiores.A República só tem vindo a gerar alternativas atrofiantes. Nenhuma delas tem a qualidade de dominar a outra ou de ser integral. A opinião pública, dado adquirir o conhecimento político através da via demagógica, só é capaz de equacionar os problemas em alternativas binárias partidárias ou na irresponsabilidade de partidos pequenos com ideias luzidias mas não aferidas à realidade portuguesa. Considera como satisfação do seu ideal o servilismo a um partido, quando o ideal passaria por uma terceira via, fruto de uma análise científica fria independente, baseada na realidade, que o sistema impossibilita. Mesmo o povo pensante, aquele que não reduz a sua erudição ao saber acomodado da TV, não é confrontado com uma alternativa real, deixando-se levar pelo efeito Decoy. Assim, o sistema político português não gera alternativas adequadas ao povo e às necessidades da nação. São muitas vezes alternativas copiadas de países também elas decadentes porque baseadas na divisão e na exploração do mais fraco.

No seguimento de quem dá a ideologia e o pão

Lugar-comum das nossas revoluções tem sido o adiar da nação em nome de liberdades coloridas: Tal como elites portuguesas se tinham outrora colocado do lado do invasor napoleónico, também no 25 de Abril, os seguidores do mesmo espírito, se puseram ao lado da União Soviética passando as províncias ultramarinas portuguesas para a influência comunista. Agora, o 25 de abril tropeça na própria ideologia, porque, na realidade “quem dá o pão, dá a criação”. No tempo de D. Manuel o magnânimo, tínhamos os quintos das especiarias, depois o ouro do Brasil, as remessas dos emigrantes e os fundos perdidos. A incapacidade política do país, para acompanhar a nação e a evolução dos tempos, leva-a a viver num estado esquizofrénico (de personalidade fendida). Os egos dos partidos têm sido construídos à custa do povo e contra o ego da nação.

Gil Vicente, quando escreveu a farsa de Inês Pereira, certamente já previa na política de José Sócrates o Escudeiro Brás da Mata e, na de Passos Coelho, o Pero Marques! Na rotação, de noivado em noivado, Portugal emigra, envelhece e não gera.

O remédio é acordar e redescobrir a lusofonia!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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José Sócrates – um Vendedor moderno de Ilusões velhas

O Filho pródigo regressa à Casa paterna com Aspirações a ser Presidente

 

António Justo

Sócrates é o homem que melhor retrata o estado doentio dum país renitente que se recusa a encarar a realidade em que se encontra para continuar a viver embalado em sonhos e contos da carochinha. A sociedade portuguesa continua a cultivar poleiros como se o cacarejar de galos com penas de modernidade lhe dessem o pão e lhe pudessem compensar o atraso económico. No panorama português continua a não haver alternativa de escolha, a não ser a opção entre o mau e o pior.

 

O Sistema partidário português, num país de adeptos que não de eleitores, não precisa de se preocupar com questões deontológicas, nem com os verdadeiros problemas da nação; vive das victórias partidárias e o desagradável é resolvido pela rectórica e pelos estrangeiros (Troika).

 

Sócrates regressa a Portugal e entra pela porta do cavalo, recebendo um poleiro semanal de destaque no sacrário da nação (TV). Daí pode ditar as suas sentenças e atirar pedras numa nação partidária devota, habituada a comer e calar e a admirar uma argumentação fomentadora de ressentimentos. A argumentação fascina-os, não a realidade nem o objecto da argumentação. Mas por uma questão de justiça para com o povo português terá de ser dito que o que acontece em Portugal já germina, há muito, na Europa e a decadência começa pelos mais fracos.

 

A TV pública, que privilegia os galadores políticos, está consciente de que pode beneficiar e receber, de braços abertos, o seu filho pródigo sem que os seus irmãos fiéis protestem. Aquele abandonou o país depois de o ter conduzido a uma situação desolada; ciente de que o povo tem memória curta, e como esperto “animal político”, aguentou-se em Paris o tempo suficiente para poder descer de paraquedas ao povoado e poder falar da desolação dum país que ele mesmo afundou, ajudado pelos outros partidos. Apesar da bancarrota e da Troika continuam a ter a razão toda; continuam a falar como se fossem libertadores. É um lugar-comum partidário, ignorar a crise económica e cultural, falar mal dos governos e branquear a própria miséria no tempo da oposição. Num país irreal, José Sócrates, com a sua atitude galante, é a melhor Isca que o PS tem também para frustrações e sonhos femininos. Espectadores, que não distinguem entre o brilho do falar e a argumentação seguem, de olhar fixo, mais uma história de embalar crianças.

 

Um país de tanga, com uma TV jacobina à procura de “audiências”, prefere a demagogia gratuita à informação séria paga!

 

A melhor atitude a assumir neste desapropósito, seria o boicote ao programa de Sócrates, e até apagar a televisão; “para quem é bacalhau basta”! O boicote não se deveria dar por razões partidárias mas apenas por uma questão de honra e de respeito por si mesmo e pela nação. Seria ingenuidade pedir responsabilidade à direcção da TV; ela é fruto de interesses mesquinhos e não duma cultura política. De facto, tão culpado é o PS como o PSD por tal desacato.

 

Os interesses individuais são confundidos com os do Estado

“Um político que desiste de puxar pelas energias do seu futuro não está à altura das suas responsabilidades”. No contexto em que Sócrates proferiu esta frase fala como se a defesa dos seus interesses se identificasse com a defesa dos interesses do Estado. E referindo-se ao seu espaço semanal na TV pública como comentador político, a partir do 7 de Abril, disse laconicamente: “Ninguém tem de ter medo”. Como se a sua entronização não fosse um acto partidário inocente numa TV pública sempre partidariamente politizada nem mais uma encenação para um povo que só conhece a realidade política situada entre as frontes dos interesses partidários. Pelo que se constata, Portugal continuará a viver embalado pelo cantar da cigarra a encantar a formiga!

 

É o cúmulo dos cúmulos o que a classe política portuguesa, aninhada nos bastidores da TV pública, se permite. Não é de admirar porque o manancial do grande saber público é a TV. Sócrates, e muitos outros, podem permitir-se fazer o que bem lhes apetecer porque desonraram o povo português a ponto de fazerem do Estado um bordel! O espírito democrático ainda não chegou aos partidos, doutro modo haveria membros que boicotariam tal disparate que só fala mal de Portugal e dos membros dos partidos que se permitem o que em nenhuma nação europeia de respeito se não permitiria.

 

Quando é que o povo regressa de férias para pôr Portugal na linha? Sócrates como comentador na TV pública, é a melhor prova de que Portugal não tem os pressupostos necessários para poder mudar e que a classe política continua a apostar na corrupção e na demagogia. O Bobo tem pele grossa e não nota o que acontece.

 

A cegueira é tanta que até se argumenta que em nome da honestidade e da representação proporcional na TV se deve tratar a todos por igual. Seria porém desonesto pretender-se, em nome da honestidade, falar da desonestidade. O sistema rotativo confirma que a um presidente PSD se sigue um socialista e o povo, sem entender nada do que se passa em Portugal já se cansou de Coelho como antes de Sócrates. Neste cenário, quem melhor que Sócrates para atrair um público feminino com grande poder na votação!

 

Porque nos encontramos num enredo de desonestidades consecutivas, o povo terá de aguentar uma desonestidade rotativa resumida no progresso da continuidade do banal.

 

Naturalmente que cada qual tem direito a honrar e louvar os seus “santos” mas querer, em nome da desonestidade de uns, afirmar o direito à desonestidade dos outros é perversão e deslealdade para com o todo. Esta tem sido uma constante da república.

 

Eles bem sabem que os cães ladram mas a sua caravana passa. O sistema de mafia branca que vive nas entranhas da nossa república tira sempre proveito tanto do sucesso como da bancarrota. O excessivo discurso partidário inquinou a nação. A luta política tira-nos as forças que poderiam ser empregues na defesa de programas objectivos servidores do povo e da nação.

 

Já outrora o povo gritava: soltem Barrabás. E o sábio sermão da montanha diz: “não oponhais resistência ao mau”. Mas o mesmo discurso diz também: “Bem-aventurados os que têm fome e sêde de justiça, porque serão saciados.”

 

António da cunha Duarte Justo

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Comunicação Social miserabilista

Informação que apela à Lágrima e ao Sentimento

António Justo

Acabo de regressar de Portugal com uma certa melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como um canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo e a raiva assolam um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar em casa.

 

O povo ainda anda de pé mas é conduzido pela mão da Troika e de instalados nas diferentes administrações e representações que o conduzem docemente ao curral dos senhores. Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais negativamente na sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais responsáveis a dignidade humana cada vez é mais ultrajada.

 

Fomenta-se uma mentalidade mafiosa que, a nível de discussão pública, deita achas para a fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo de sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero e da inveja ao racismo. Um Estado sem rumo próprio segue uma política subterrânea jacobina que ganhou especial expressão em Portugal com as invasões francesas e com o republicanismo.

 

A luz do sol e a alegria de viver encontram-se cada vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir e torna-se motivo do não viver.

 

A grande cultura lusa sofre e é depauperada por uma Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular e a leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam dum certo voyeurismo e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.

 

Muitos locutores do dia-a-dia agarrados às banalidades noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens e sentimentos repetitivos lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de inimigos. Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento.

 

Como sanguessugas, até os meios de comunicação social nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas ao sentimento. Quando alguém se enforca logo se juntam os leões e as hienas à volta de imagens e ideias que fomentam a imitação. A TV pública fala de suicídios do foro privado e faz render o peixe, como se se tratasse de suicídios de motivação política realizados dentro da sala do Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um voyeurismo que se alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de rádio. As coisas são repetidas até à exaustão.

 

Observam-se controlos da ASAE a restaurantes e empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem consciência pela realidade local com um comportamento anti-regionalista ao serviço de interesses centralistas anónimos e antinacionais.

 

Um sistema político servidor de interesses individuais e partidários a nível nacional e de autarquias continua a servir o compadrio da avalanche dos arrivistas criando postos de trabalho na administração quando não há trabalho suficiente para os já empregados. Uma mafia de rosto lavado dos lugares cimeiros de Câmaras e administrações procura desestabilizar os seus subordinados criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.

 

Arrasta-se o povo para um pessimismo medroso e amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão, predadores e subjugados; só uma coisa falta: a consciência de responsabilidade nacional.

 

A contestação social mais que objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do povo, sejam eles representantes dos trabalhadores ou dos senhores. Um exemplo disto foi a última greve ferroviária que pretende manter bilhetes gratuitos para os familiares dos empregados. Naturalmente que todos os grupos têm direito a defenderem os próprios interesses; o dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda intransigente e de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.

 

O último sintoma do estado doentio e depravado de quem tem o dizer em Portugal foi o facto José Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos canais da TV pública. Um atrevimento que bradaria aos céus numa sociedade normal! A tal falta de discernimento chegou um povo! A honra dos predadores é legitimada com a desonra da nação. Os interesses partidários afirmam-se mafiosamente sem que haja oposição qualificada. Com esta iniciativa, José Sócrates pretendia aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se preparar para as presidenciais.

 

No meu belo e inocente país os predadores são os senhores!

 

António da Cunha Duarte Justo

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