Razões da Situação Precária de Portugal


O Narcisismo do meu País

António Justo

Portugal tem uma população muito trabalhadora mas economicamente ineficiente. O maior problema da sociedade portuguesa está no facto de ter uma classe média acomodada e presunçosa com falta de espírito empreendedor, geralmente colada ao Estado e a burocracias ineficientes.


Em nome do progresso, o povo foi submetido a um ritmo de mudança tal que perdeu a visão geral dos problemas, entrando num processo desorientação e numa despersonalização que se expressa no exagerado consumo de antidepressivos em relação a outros países. Encontramo-nos perante um país com um Estado cobaia sempre a importar novos conceitos mas sem tempo para os digerir nem para desenvolver conceitos próprios com base na própria experiência (isto pude constatá-lo durante 30 anos nas formações anuais do Ministério da Educação – uma semana por ano). A vida dura leva-o a sonhar: ir ao shoping, ver futebol não restando tempo para ler.


Enquanto países como a Alemanha se preocupam em receber imigrantes qualificados para as suas empresas, Portugal fomenta a emigração duma juventude sem lugar para ela na sociedade.


Como emigrantes, os portugueses, são bons camaradas e ao mesmo tempo amigos do pratão. Enquanto os portugueses no estrangeiro aforram, na terra gastam mais do que produzem. Os não emigrados, julgando que os “emigrantes” ganham o dinheiro sem suor, vêem-nos de resvés. A inveja não suporta outros de cara lavada.


A assimetria no desenvolvimento de maiorias e minorias fomenta a inveja. Uma política partidária narcisista tem acentuado o problema.


Enquanto na França há 1,99 crianças por mulher, na médias dos 27 países da EU 1,58, Portugal consegue, com 1,32 por mulher, ser na Europa, o país que menos filhos gera. Portugal ainda os poucos filhos que tem obriga-os a emigrar, não criando espaço económico para eles. Sangra-se. Paulo Morgado denuncia, com objectividade, Portugal com um Estado colosso como um polvo que tudo abafa não permitindo concorrência na vida económica e cultural portuguesa. “O mercado português ainda se move mais pela parte relacional do que pela competência”. Isto podemos constatá-lo desde a administração pública às Câmaras Municipais, onde há chefes de si mesmos (sem um mínimo de pessoal a administrar) com projectos artificiais (para colocar amigos).


O Estado não se tem preocupado com política familiar, castigando quem tem filhos; não se tem preocupado com o fomento de empresas pequenas e médias, aquelas que poderiam criar emprego e produção portuguesa. Cada um, onde está faz por si. Na arena pública da nação são constantes os discursos políticos; a discussão económica tem sido pouco séria, muitas vezes apresentada sob uma perspectiva de autodefesa ou de culpabilização dos outros. As empresas e o discurso cultural encontram pouco espaço na discussão pública.


A classe política, na sua incompetência da gestão pública, desqualificou-se ao deixar chegar o país à beira da insolvência.


A via para sair da crise será “o saber de experiência feito”

“Porque é sono o não saber”, constatava já Fernando pessoa.

As instituições não têm assumido responsabilidades. Os problemas políticos, sociais e económicos, são em geral discutidos nos Media sob uma perspectiva político-partidária, o mesmo se dando no parlamento. Nota-se falta de competência económica, no discurso nacional. Muito discurso é meramente teórico sem experiência adquirida nas empresas e nos laboratórios das universidades. Muitos dos assessores têm apenas um curso universitário e o cartão do partido. Perdemos o ideal que pautava os arquitectos dos nossos descobrimentos: “o saber de experiência feito”.


Seria esclarecedor da situação se se fizesse um estudo sobre a proveniência profissional dos deputados com acento no parlamento: quantos são empresários, quantos provenientes do serviço público, quantos ecónomos, engenheiros, juristas, pedagogos, médicos, etc. Assim se saberia os modelos de pensamento que dominam o parlamento. Daí se poderia concluir da sua competência económica e social. O jogo de xadrez do poder político cada vez descarrega mais figuras políticas na liderança de grandes empresas de relevo nacional. A objectividade cede a interesses encostados às burocracias. Um tal sistema fomenta um espírito providencialista e parasita. Um bom tema de doutoramento seria uma investigação séria sobre as grandes empresas nacionais e o número de quadros vindos da política.


Já chega de “português para inglês ver“. Em Portugal  Tudo fomenta um narcisismo latente na administração e na sociedade. O sistema fomenta a ascensão de pessoas narcisistas como se pôde verificar no currículo de Sócrates. Exagerado senso de auto-estima sob o substrato duma realidade deprimente. Ciumentos estão sempre prontos a dar a culpa aos outros e com dificuldades de relações pessoais autênticas concentram-se, por isso na sua carreira: os fins justificam os meios. Geralmente, pessoas que se encontram à frente do pelotão não sentem empatia pelos outros. Em vez da empatia têm um sentimento de grandiosidade sem limites. Querem admiração sem crítica, não se importando, a nível prático, com a exploração dos outros. O que conta é dinheiro, poder e prestígio. No mercado das opiniões, sentem-se vítimas colocando os outros no lugar do transgressor.


Vive-se uma vida ad hoc. Quem não produz mais que consome age contra a natureza! Já David Hume constatava que “não é a razão que nos orienta na vida mas o hábito”. Daí a necessidade de vozes da consciência nacional que chamem a atenção do perigo da inércia, o perigo dum hábito irreflectido em que tem vivido toda a nação: uns da cópia e os outros da imitação. Por isso a primeira exigência que se coloca a um cidadão formado é ser um cidadão céptico mas consciente de que a crítica esconde a desilusão. Não se pode continuar a viver segundo o lema: já que não se tem o que se quer, aceita-se o que se não quer. Na sociedade portuguesa por onde quer que nos movimentemos tropeçamos no narcisismo. As ondas do narcisismo que emanamos são tão perigosas como as ondas de radioactividade atómica.


A primeira república portuguesa rendeu-se ao estrangeiro, a actual também. O futuro está nas nossas mãos de cidadãos! Portugal ou acorda agora ou quando acordar já não é Portugal.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com



LÍBIA NAS PEGADAS DO IRAQUE


Vitória da Rebeldia mas não da Democracia

António Justo

A coligação rebelde – uma aliança paramilitar de 40 grupos díspares habituados a disparar para o ar (como as imagens têm mostrado) – acaba com um regime para instalar outro. É verdade que a rebeldia norte-africana unida apenas ao islão traz ventos novos mas não os ventos da democracia e dos direitos humanos como demonstram o Irão, o Iraque, o Kosovo/Albânia, o Afeganistão e outras sociedades onde a violência se espelha nos rostos e nos gestos da praça pública.


Para quem esteve atento, aos Meios de Comunicação Social ocidentais, estes, nos últimos sete meses, só apresentaram, imagens e entrevistas com os rebeldes; a voz dos fiéis a Kadhafi foi oprimida independentemente da maioria querer ou não a revolta. Amplia-se a voz de quem fala mais alto, a voz de quem serve os “nossos” interesses. O Ocidente manipula e determina assim, através dos Média, a opinião dos seus súbditos obrigando-os a ter a impressão que só está na ordem do dia a voz dos rebeldes. Encontramo-nos perante um sistema de lavagem cerebral refinada e o povo até pensa que tem uma opinião bem formada, pelo facto de viver em democracia. A má intenção, aliada à ingenuidade e à ignorância, pode muito.


Direitos humanos, liberdade e democracia são produtos sociais ocidentais ainda muito enfezados no próprio Ocidente. A sua concretização precisou de muitos séculos para se ir tornando realidade numa sociedade europeia de história muito conflituosa. O Ocidente não faculta aos árabes a sua luta paulatina pela conquista das suas liberdades. Interesses económicos, que não humanos, apoiam, conforme o estado do tempo, alternadamente, regimes que impedem a colonização interna do país em benefício dum colonialismo suave exterior. O preço são povos continuamente prostrados e violentados em nome de humanismo e democracia. Continuam, a ser povos subjugados por uma cultura prisão, que os põe ao serviço dos interesses mesquinhos de poucos.


Depois de 42 anos de domínio de Maomé al-Kadhafi, o seu poder corre pelas ruas. O seu paradeiro é a “tenda”, três dos seus filhos acham-se nas mãos dos rebeldes e o preço do petróleo baixa.


A Líbia parece juntar-se aos rebeldes sob a orientação do presidente do Conselho Nacional Provisório (Governo Provisório) Mustafa Abbdul Dschalil (antigo ministro do regime de Kadhafi).


Que será depois do ditador Kadhafi? Um lugar da anarquia, um alfobre de islamismos?


Anseios duma liberdade não realizada projectam-se sobre uma sociedade de grupos rebeldes unidos apenas pela mão forte e violenta dum Corão imprevisível. Liberdade e democracia não fazem parte da sua filosofia. Democracia é um produto ocidental, não oriental, tido como parte da colonização.


A América e a Europa ou são cegas ou querem enganar os seus cidadãos ao atestarem vontade democrática ao povo líbio, quando este luta por outras realidades, e o Ocidente, o que pretende é petróleo, querendo, para adquirir estabilidade para o negócio, impor ao mundo árabe um sistema de valores a este alheio.


Sociedades, sem partidos, sempre confiantes em caudilhos ou no poder militar, ainda não chegaram ao Renascimento europeu e menos ainda às lutas entre forças religiosas e forças seculares.

Os nossos políticos certamente que não têm conselheiros isentos em assunto de antropologia, de sociologia árabe nem de islão.

Por isso o Ocidente perdeu a guerra do Iraque sendo a emenda pior que o soneto; também sairá vencido da guerra do Afeganistão e terá que pagar bem caro, económica e culturalmente, as palhaçadas que se permite na África do Norte.


A Líbia encontra-se numa situação pior que o Egipto ou a Tunísia. Sem um exército e com uma sociedade tribal unida apenas pelo islão, a Líbia propõe-se mais à desmoronarão.


Profecias de al-Kadhafi

Kadhafi, como berbere, confessa: “Eu sou um combatente, um revolucionário a partir duma tenda… vivo no coração de milhões… morte, vitória é igual, nós não desistimos… Estas pessoas (os líbios) chegarão um dia à posição de levar esta luta à Europa e as vossas casas, escritórios e famílias tornar-se-ão alvos – legítimos alvos militares – tal como vós usastes as nossas casas como alvos…”. (extractos de citações do HNA, 23.8.11).


Um “eu” no nós, um nós no eu, constituem a força duma civilização que parece incompreensível ao ocidente. Esta confissão revela uma estratégia islâmica que só conhece vencedores e, no caso de fracasso, se alegra com o martírio, o último valor que esperam os guerreiros do Deus/Alá.


É muito cedo para se poder prever o caminho líbio. O deserto é grande e propício às mais diversas tendas. Uma sociedade com muitos canteiros de obras só com o cimento do Corão e da Sharia, mitigada por ideias e interesses contraditórios de berberes e migrantes, não constitui fundamento para esperanças aleatórias de liberdade e democracia. Pior ainda quando democracias ocidentais mitigadas pela corrupção se armam em exemplo para uma sociedade de corrupção estrutural?


O futuro próximo da Líbia não se adivinha melhor que antes, tal como aconteceu com o Iraque. A embriaguez do petróleo impede o Ocidente de ver e de pensar com clareza, prejudicando irremediavelmente o seu desenvolvimento bem como o desenvolvimento social dos árabes.


Restará à América e à Europa aguentar com os riscos e com os custos do estacionamento (“construtivo”!…) de militares da Nato na Líbia. Em nome da comunidade internacional e de “medidas humanitárias” enganadoras, a política justificar-se-á, abdicando do bom senso.


O Ocidente oferece aqui mais uma oportunidade à estratégia de al-Qaida na sua guerra contra a economia ocidental.


O papel da Europa e dos USA é deprimente. Na sua arrogância não tomam o islão a sério nem os seus representantes. Confundem o desejável com o praticável. A mudança não é possível com coacção. Nos Media usa-se a palavra-chave democratização como capa da corrupção, da censura e da violência.


A distância da Líbia à democracia está na proporção da distância do Corão aos direitos humanos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Europa em Ebulição – Magmas Culturais e Económicos


Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter

António Justo

Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.

Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.

Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!

Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.

Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.

Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.

Violência atrai violência

Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.

À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!

A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.

Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.

Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.

O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!

O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Como democratizar os Partidos – Proibir a Filiação partidária aos Funcionários do Estado


O Poder dos Partidos contradiz a sua Constitucionalidade

António Justo

A moral despede-se da política. A democracia autodestrói-se. Os jornais tornaram-se no muro das lamentações. Povo e instituições queixam-se num lamuriar hipócrita e auto-enganador. É um masoquismo a espalhar-se e a encontrar satisfação numa queixa que não passa de masturbação.

Isto constata-se tanto em Portugal como no mundo em geral. Por todo o lado se ouve muito boa gente a dizer que é preciso purificar o sistema Sócrates. Afirma-se que o “Pinóquio” manda vir e outros é que pagam a factura. Quem assim argumenta, omite, porém, que José Sócrates é o melhor produto dum sistema partidário em que para se subir no sistema se tem de deixar para trás uma ética séria e responsável. Olvida que para enganar se pressupõe alguém disposto a ser enganado e que a mentira, a curto prazo, dá bons rendimento para alguns organizados. Para mais, o povo não é tão povo que não consiga reflectir!

De facto, por toda a parte se tem a impressão que, em política, o trabalho de edificar e avaliar se tece com a agulha da mentira. Em democracia, no aparelho do estado e nas grandes instituições nacionais, as melhores colocações são submetidas à crença no partido. Para o constatarmos bastaria darmos um giro pela administração do estado e pelos conselhos consultivos (conselheiros de supervisão/fiscalização) de bancos e empresas ligadas ao Estado. Neles domina a razão partidária. Os arrabaldes da política, os locais de chefia, direcções encontram-se nas redes dos partidos: uma globalização interesseira, de interesse só para alguns. Com o tempo chegarão computadores e uma gestão burocrática de beneficiados do sistema, anexos a uma pequena elite, para substituir a democracia. E o argumento do preço dos eleitos até lhes quer dar razão! A alternativa artificialmente posta até convence qualquer preguiçoso mental: temos políticos corruptos a culpa é da democracia!

Em ministérios e administrações onde os camaradas do partido mandam, há dezenas de anos, qualquer controlo falha. Já não se fala do quarto poder! Este transformou-se em programa de entretimento. Coitado do Zé, seria injusto submetê-lo às dores de parto do pensamento.

Uma democracia séria, com um Estado que se preze teria de proibir a filiação partidária aos funcionários do Estado. Doutro modo andaremos a jogar à democracia.

Na era do relativismo total de valores torna-se anacrónica a argumentação dualista e a consequente posição partidária dogmática. O global tem-se revelado contra o particular, só nos partidos não. Continuamos com uma moral imperialista nos partidos e nos parlamentos, quando ao povo se fala de abertura, globalidade, democracia, liberdade, igualdade e fraternidade.

Montesquieu dizia que poder só pode ser limitado com poder. O poder dos partidos emancipou-se do povo e da democracia. A nação criou a divisão de poderes no Estado mas os partidos ocuparam-nos com o seu pessoal em todos os órgãos decisivos. Só o poder do povo e da lei os poderá levar ao rego. Para isso pressupõe-se que o povo acorde e se torne adulto. Pressupõe-se uma Constituição política da nação não partidária e não favorecedora dos partidos mas do cidadão. Tal constituição torna-se impossível porque os partidos é que a votam e estes querem uma constituição repartida não inteira! A discussão sobre a crise actual, perante este facto, torna-se maculatura à custa da democracia.

Temos demasiados funcionários públicos no parlamento. Estes e uma estrutura partidária instalada no Estado levam o país à catástrofe e aniquilam qualquer ideia séria de democracia e de renovação.

Os partidos são apresentados por listas e não por candidatos individuais. O povo só tem a hipótese de eleger a lista. Não é dada possibilidade ao eleitor de fazer uma votação cumulativa e cruzada que ultrapasse os interesses do partido. Se houvesse esta hipótese o cidadão poderia escolher pessoas das diferentes listas e votar nelas, independentemente do partido em que se encontram.

Mesmo em democracia representativa, as leis não deveriam estar dependentes dos partidos. Consta na rua que somos uma democracia; na realidade somos uma mera partidocracia. O rei da democracia anda nu na praça, mas só os inocentes o notam ou o podem dizer! Quando os alicerces da democracia são corruptos, como nos poderemos queixar da corrupção individual quando esta assenta na corrupção estrutural!

Na votação de leis, todos os deputados deveriam estar libertos da obediência forçada ao grupo parlamentar. De facto não somos democratas (demos=povo/cracia = governo) mas sim partidocratas. Os partidos recebem dinheiro para formarem a opinião do povo mas não para o doutrinar e dominar.

O povo não é melhor que os políticos mas espera deles bom exemplo. Quer ser enganado mas com estilo, com educação. Não chegam caras bonitas, exige-se também requinte na governação! E ultimamente até este se foi. Governa a descaramento e o cinismo como se fossemos todos  uns anjinhos coitadinhos

É verdade que partidos de clientela, de obediência a ideologias, com uma práxis didáctica imperialista, têm fomentado um sistema corrupto de cara lavada, que tem permitido aos países ocidentais viver relativamente bem, a nível superficial. “Beneficiamos” aqui duma política impura mas rendosa, duma política hipócrita mas misericordiosa. Vivemos desta mais-valia pelo facto de outros sistemas, totalmente corruptos, não deixam sequer cair as migalhas da sua mesa para o povo! Esta menos-valia tem-nos desobrigado da auto-responsabilidade, afastando sistematicamente o pensamento crítico do discurso político em favor do pensar oportunista.

Que fazer, num sistema de partidocratas e não de democratas?

Constata-se uma dicotomia entre estado e sociedade. A esquerda activa é em grande parte formada por funcionários e empregados públicos. O centro direita também reserva lugares para os seus boys que, à margem da ideologia, se limitam a ocupar postos. Assim, neste sistema não há hipótese de discussão séria. Ouvimos por todo o lado as mesmas CDs.

O que está em questão é o Estado, cada vez mais à disposição dos abutres da globalização. Para uma cura da nação seria necessário uma reflexão e uma terapia neutra à base duma Constituição humanista e da doutrina social da igreja.

Mudar a classe política é tão difícil como mudar-nos a nós. No pântano da política a justiça não tem acesso e, se tal acontece, só lhe é permitida a entrada depois de terem arrumado a casa ou depois do limite legal.

Precisamos duma mudança radical de mentalidade para se possibilitar a criação de novas estruturas. Precisamos dum novo estado e duma nova nação. Seria mais que óbvio iniciar uma revolução ainda por fazer. Uma revolução sem saneamentos, sem educação para comportamentos oportunistas, sem imprensa ideológica em que a honra estaria em servir o outro. Uma revolução do Homem para o Homem, uma revolução das instituições para o Homem e não para os exploradores do Homem e da humanidade. Precisamos de homens e mulheres, homens e mulheres consciência da nação.

Como primeira medida, para que o bolor do Estado diminua, seria necessária uma lei que proíba funcionários do Estado de serem membros do partido ou pelo menos que só possam eleger mas não serem eleitos durante 20 anos. Os funcionários do Estado não deveriam ter direito passivo nas eleições. Qual o partido que teria coragem de tal iniciativa? Então deixaria de ser partido para passar a ser povo, a ser cidadão.

Uma política e uma sociedade que não baralhasse causas com efeitos, em países com uma Constituição democrática, teriam de pôr-se a questão da constitucionalidade / inconstitucionalidade dos partidos. Até lá o povo terá de crescer e tornar-se adulto!

A lealdade ao partido exige que o que hoje se apregoa como moral amanhã seja calado. Isto contraria o princípio democrático baseado no interesse e no poder do cidadão e não do partido.

Um novo pensamento e um novo ideário seriam a solução para o país, mas, para isso, seria necessário mudar as cabeças. O cidadão e as instituições continuarão a desacreditar-se ao exigir responsabilidade ao cidadão e ao aprovar a irresponsabilidade da instituição.

António da Cunha Duarte Justo

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O 1° de Maio na Defesa do Trabalhador e dos seus Biótopos sociais



Dumping salarial – Uma Praga a alastrar-se por toda a Europa

António Justo

Hoje dia 1 de Maio entra em vigor, na União Europeia, a livre circulação de trabalhadores e a livre prestação de serviços também para os povos da europa de Leste: Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Eslovénia, Estónia, Lituânia, Letónia.

Ao abrigo da lei de livre prestação de serviços, também as firmas assumem o direito de envio dos próprios trabalhadores para o estrangeiro (espaço da União Europeia) e a ser remunerados sob as mesmas condições de trabalho do país de origem.

Trabalhadores receiam a concorrência e têm medo que se abuse dos novos trabalhadores para Dumping salarial.

Os sindicatos alemães exigem que, na Alemanha, se alargue o salário mínimo de 8,5 € hora para os sectores laborais ainda sem lei de salário mínimo. Exigem também “salário igual para trabalho igual”.

O trabalho temporário e o sistema de empresas que emprestam trabalhadores a outras firmas põem, cada vez mais, em perigo trabalhos estáveis e salários humanos. Firmas recrutam pessoal no estrangeiro, podendo trazê-lo ou enviá-lo em condições precárias. Não só por razões humanitárias mas também para defenderem o mercado de trabalho interno, os sindicatos exigem a lei de salário mínimo de 8,5€/hora.

Os alemães temem a concorrência em trabalhos pouco qualificados, especialmente em serviços sociais, assistência, matadouros e ramos de transporte e logística. Receiam uma espiral descendente em empresas que empregam trabalhadores do leste europeu, passando estas a substituir os nativos que ganham mais pelos estrangeiros.

Os mini-empregos aumentam principalmente para assalariados e para trabalhadores de empréstimo temporário. Segundo estimativas da DGW (Sindicato alemão), na Alemanha, há já 900.000 pessoas empregados por firmas de empréstimo de trabalhos temporários, e estas ganham, em média, um terço menos que o pessoal permanente. Isto também cria problemas de ordem social. Os sindicatos vêem como principal cavalo de batalha a imposição do salário mínimo a nível de lei.

Os mini – empregos proliferam por toda a Europa. Por outro lado o falso trabalho independente leva muito trabalhador a ter de se responsabilizar pelas consequências dos problemas criados no mercado de trabalho por uma ditadura financeira de carácter anónimo e por uma política impotente que a acompanha.

Um problema do futuro será assegurar o trabalho bem pago! Uma consequência da globalização e da União Europeia tem sido a proliferação de trabalhos precários por toda a parte. Cria-se em todas as nações uma sapata comum de proletariado precário. Assiste-se a uma destruição sistemática de pessoas, famílias e estados.

Quem trabalha deve ter direito a poder viver, com o seu salário, uma vida honrada. O trabalho que deveria ser honrado é sistematicamente degradado.

A situação, a continuar a agravar-se, só deixa como esperança real o desejo duma bancarrota simultânea dos estados, para se poder começar de novo. Doutro modo poderá prever-se para o espaço Europeu um cenário muito sombrio com conflitos sociais de grande alcance, atendendo a não ter de resolver os seus problemas mas também os duma população africana que também aspira a melhores dias!

O que está a acontecer com a Grécia e com Portugal é política e socialmente intolerável. Os abutres internacionais já não se contentam com a exploração dos trabalhadores nas fábricas e do cidadão, tornado cliente, como até já se atrevem, anonimamente, a humilhar e destruir nações.

António da Cunha Duarte Justo

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