MORAL SEXUAL DA IGREJA ESTRANHA À VIDA

Mais Fé e menos Moral – Abolir o Dever celibatário

António Justo

Os Presidentes das Conferências Episcopais encontram-se com o Papa Francisco de 21 a 24 de fevereiro 2019 em Roma, para debaterem o tema “proteção dos menores” e prevenção de abusos sexuais. Este é um tema quente e que exige medidas imediatas.

Depois do regresso dos bispos a casa, passar-se-á ao descongestionamento de reformas importantes na Igreja. Uma consequência imediata será a não tolerância perante o prevaricador, mais responsabilidade dos bispos e mais transparência e justiça para com as vítimas. Esta será também mais uma oportunidade para os conservadores na Igreja passarem a dar mais importância à exortação apostólica Amoris Laetitia (1) do Papa Francisco.

Embora os abusos sexuais não tenham a ver com o celibato, a multiplicidade de casos de abusos também em instituições católicas não pode deixar a instituição eclesial indiferente (2). Isto embora muitos se aproveitem do assunto para as suas campanhas anti-Igreja.

No processo preparatório da reunião, pessoas notáveis da comunidade católica aproveitaram para apelar à conferência episcopal alemã para intervir no sentido de abolir o dever celibatário dos padres e admitir mulheres ao sacerdócio, qualificando a moral sexual da Igreja como estranha à vida.

Segundo uma investigação da Conferência Episcopal Alemã (3), na Alemanha terá havido 3.677 vítimas de violência sexual entre 1946 e 2014, em que estariam envolvidos 1.670 padres.

Violência sexual e narcisismo

Violência sexual é um tema que abrange todas as instituições da sociedade civil e religiosa.  Em geral, pessoas pedófilas ou abusadoras sexuais não abusam por carência, mas por terem uma perturbação psicológica narcisista patológica. O seu distúrbio do narcisismo expressa-se no uso de pessoas como coisas. Naturalmente a maior parte dos narcisistas não são abusadores sexuais.

Um narcisista pode ser atraído para uma posição alta na sociedade ou de grande exposição social. A obtenção de prazer através de abuso é uma energia doentia e criminosa. Também há pessoas que procuram obter prazer devido a uma sexualidade infantil porque são incapazes de relação com um parceiro e pensam assim encontrar um refúgio. Também haverá casos em que a ocasião faz o ladrão!

Abusadores sexuais tratam as pessoas como coisas para usufruírem de prazer delas sem estabelecem laços pessoais. Usam da sedução para atraírem mulheres e da dependência dos menores pois estes são demasiado frágeis e subalternos. Na literatura psicológica também se afirma de Playboys terem também esta tendência vendo na mulher apenas um objeto de prazer.

 

O clericalismo não responde às necessidades de hoje

Quem ainda não notou que, na Europa o ponto de referência social está a passar da instituição para o indivíduo e que isso implica uma mudança bastante radical na legislação, perde tempo e energia em queixumes que deveriam ser empregues em preparar-se e antecipar-se à corrente como faz o lavrador no campo, apressando-se a abrir regos que orientem a água, para que esta não se perca.

O papa já advertiu que “Não podemos lidar apenas com aborto, casamentos homossexuais, contracepção” e além do mais, “Os ensinamentos da Igreja – dogmáticos e morais – não são todos iguais.” Em texto claro significa isto que nem tudo o que é verdadeiro e correcto é igualmente importante.

O Vaticano com os seus bispos precisa de ultrapassar um clericalismo demasiado empenhado em salvar a imagem da Igreja e, por isso mesmo, perde a vista dela. Na Europa, pretende-se que a vida do clérigo esteja mais integrada na comunidade cristã. Mais que soluções para a vida, o que esta precisa é de respostas.

A autoridade já não deve vir do cargo nem apoiar-se no medo de prejudicar a instituição. Em muitas comunidades essa atitude já não é aceitável (observa-se mais o perigo de isolamento do padre no âmbito da liturgia) e a credibilidade do padre encontra-se hoje sob observação do que diz e do que vive. A instituição tem de se adaptar ao povo porque o povo já não se adapta a ela (o que não significa seguir-se o mainstream, nem tão-pouco uma acomodação irresponsável ao cotidiano, mas sim estar atento aos sinais dos tempos e responder-lhes (4, 5, 6, 7, 8, 9). Embora no sector político se observe cada vez mais centralismo e controlo, a Igreja não deve abandonar o seu lugar que é o do povo, dando testemunho do Cristo abandonado que se encontra nele.

Deus ama-nos na criação, e esta é a realidade que somos e de que dispomos, não podendo ignorar nem desprezar a natureza. Abstrair-se do mundo e abandonar o planeta a si mesmo não ajuda ninguém! A pessoa já nasce com princípios éticos, mas estes, perante os instintos, precisam de cultivo.

A jerarquia está habituada a reagir somente a pressões embora fossem possíveis reformas abrangentes na igreja sem que para isso fosse necessário distanciar-se da doutrina católica. A tradição é um elemento muito importante na Igreja católica, mas não a ponto de impedir a criatividade pentecostal.

Não há que ter medo de perder a identidade desde que salvaguardada na comunhão de vida com Jesus Cristo. No sentido do Papa Francisco, somos servidores da alegria e não senhores da fé. Também, como Igreja peregrina (ecclesia sempre renovanda), o organigrama do catolicismo e a sua consciência democrática (corpo místico) permanecem salvaguardados como matriz de uma comunidade universal de Irmãos, mesmo que haja transformações substanciais na constituição da pastoral.

A Instituição eclesial tem, também ela, de consciencializar-se da responsabilidade que assume no anúncio do Evangelho, ao dizer que não podemos seguir Cristo se não o fizermos na Igreja e com a Igreja!

A instituição clerical precisa de coragem para descentralizar (dar mais poder de decisão às conferencias episcopais regionais sem com isto ter medo de pôr em causa a catolicidade; em nome da perfeição não pode reduzir-se a uma espécie de convento universal, arriscando-se a ver cada vez mais reduzida a cristandade.  A missão da Igreja não é só de caracter religioso; S. Paulo tinha razão nas suas iniciativas pastorais!

É verdade que a igreja tem a responsabilidade de dar testemunho e salvaguardar o espírito comunitário; para isso, na pastoral pode salvaguardar o dever da responsabilidade docente e pastoral, não tanto na qualidade do ofício de juiz ad extra, mas no consenso da vivência comunitária em que o membro participa da soberania.

Quando o clérigo dialoga com o cristão, a nível de confissão ou de direcção espiritual, o seu caracter de juiz recua para dar lugar à misericórdia, compaixão, e assim embarcar com ele e ajudar a pessoa a reconhecer os seus actos e, se necessário, a deixar caminhos errados. Neste embarcar do sacerdote com o irmão, realiza-se uma caminhada em conjunto o que leva a uma outra consciência ou percepção dos caminhantes; assim dá-se uma constatação conjunta sem a necessidade de se recorrer a incriminações.

No caminho e a caminho, o sacerdote e o fiel encontram-se na mesma caminhada e, numa estação concludente do caminhar, a decisão é conjunta e possivelmente unânime. O que vale para a relação de sacerdote e leigo deveria óbvia na relação sacerdote e jerarquia.

A sobrecarga dos sacerdotes com meros afazeres administrativos pode levá-los a um alheamento de uma espiritualidade vivida.

Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida não podendo ser aprisionado na roupagem (teologia e certas doutrinas) que a teologia lhe tenha colocado num determinado percurso do caminho histórico.

A teologia tem de procurar caminhos para uma maior referenciação da espiritualidade cristã ao espaço e ao tempo em que se vive.

Depois de a teologia ter realizado a grande missão de formação da Europa urge agora preocupar-se por concretizar hoje aquilo que no século XV e XVI se anunciava como novo e ainda se encontra por realizar. Neste sentido veja-se o artigo “Um rosto feminino molda o mundo novo – Teresa de Ávila” (10).

JC pode estar vivo em cada pessoa e comunidade num estilo de vida próprio sem questionar a universalidade da Igreja que se mantem através do credo, da liturgia, dos sacramentos e do episcopado.

O Papa é o garante da constitucionalidade da Igreja e certamente pode garanti-la, mas, mesmo assim, torna-se urgente que inicie uma reforma da moral sexual, do celibato e do sacerdócio das mulheres.

É certo que o celibato não provoca, por si, pedofilia nem violência sexual, mas isto também não é argumento para não se começar com reformas. Neste sentido é de esperar iniciativas ousadas dos bispos e das igrejas locais. Na polis, a maturidade sexual, embora se viva num período de oblações sexuais, depende de cada pessoa. Hoje não é plausível conectar-se o dever do celibato ao sacerdócio. Efetivamente a sequela Christi e o reino de Deus têm um lugar privilegiado nas ordens e congregações religiosas, não deixando de ser programa também para o clero secular e no dia-a-dia de cada cristão.

A sexualidade não tem apenas a ver com o sexo; o “eros” possibilita, também ao celibatário, a vivacidade criadora e a convicção.

A questão da moral sexual na igreja deve-se também ao facto de a experiência de homens e mulheres casados não ser envolvida no processo de formação da opinião eclesiástica. Uma moral sexual elaborada por homens celibatários torna-se necessariamente estranha à vida.

A proibição do sexo fora do casamento conduz a uma atitude inevitavelmente hipócrita que muitos terão de levar para o casamento. A Igreja tem razão que o sexo não é nenhum bem de consumo tendo o seu lugar numa relação responsável; mas entre pessoas responsáveis uma coisa não exclui a outra. Num tempo em que a realidade se distancia do ideal, a Igreja tem de se preocupar por ser credível, verossímil para poder manter-se também como interlocutora. Além disso não há falta de conteúdos que a Igreja pode trazer para a sociedade.

Na discussão de ideias sobre sexualidade e possíveis impedimento à vida, tem-se o princípio orientador que é o Evangelho e a soberania da consciência. O espírito católico cristão encontra-se, em relaç1bo às instituições políticas onde elas têm muito a dar para lá chegar; ela considera a consciência individual como soberana até em relação à Igreja e a qualquer outra instância, o que certamente não legitima ninguém a armar-se em juiz dos outros! Ao contrário do mundo político e ideológico que frequentemente vive do falar mal do adversário, na Igreja deveriam ser aceites, como complementares, ideias aparentemente contrárias; a riqueza da diversidade de antropologias e de regiões poderia expressar-se em estilos diferentes de vida de uns bispados para os outros; também na Igreja há múltiplas espiritualidades. Mais que normas morais muito restritas torna-se urgente dedicar-se mais empenho na formação das consciências.

Os textos oficiais de ensino católico, nalguns aspectos, andam atrás do acontecimento. É de esperar, que num futuro próximo, o espírito de sua Santidade o Papa Francisco encontrará eco.

Torna-se escandalosa e contraditória a falta de sacerdotes numa comunidade cristã que nem sequer produz sacerdotes que administrem os sacramentos nela; o recurso à importação de padres da África e da América Latina é intolerável se tivermos também em consideração o isolamento (e desaferimento) em que se encontram muitos sacerdotes, por serem transplantados de culturas totalmente diferentes das nossas. Um clericalismo burocrático teima ainda em obrigar padres a terem de administrar várias paróquias impossibilitando-lhe o enraizamento na vida cristã delas.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

O DALAI LAMA NO BARCO DO MAINSTREAM

Contradições no Pensamento do Líder religioso tibetano

António Justo

O livro “Um Apelo ao Mundo – O Caminho da Paz em Tempos de Discórdia”, do Dalai Lama e Franz Alt, pretende propagar mundialmente uma nova ética secularista que ultrapasse culturas e religiões, no sentido e espírito da política das Nações Unidas. Percebe-se, pelo seu teor, a intenção de conectar o “politicamente correcto” com o budismo monista (1) para assim melhor espalhar um programa mundial “urbi et orbi”, sob a bênção de sua santidade o 14.º Dalai Lama, como se tal programa fosse a receita para a resolução dos problemas do “nacionalismo, da crise dos refugiados, dos conflitos interculturais, da igualdade de género ou da neurociência” (2) e não viesse criar novos problemas

Serve-se de teses (3) que soam bem, mas que carecem de fundamento, chegando mesmo a ter um caracter exclusivo (não inclusivo) e, por vezes contraditório, em contraste com o seu pacifismo proclamado; pode-se reconhecer, como substrato do ideário apresentado, uma intenção de servir uma agenda comunista materialista, ao serviço de uma política da ONU; isto também no que respeita ao Pacto da Migração .

Usa teorias como: “A ética é mais profunda e é mais natural do que a religião” …  Numa pretensa inclusão, revela uma estratégia do “ou…ou…” e da exclusão, sem ultrapassar sequer a estratégia da culpabilização. A frase enunciada carece de qualquer de base científica. Trata-se mais de um texto de boas intenções e de propaganda por um poder secular conforme ao atual Zeitgeist (espírito do tempo).

O programa da Unesco e a posição do Dalai Lama pretendem estabelecer a mentalidade de que a ética é mais importante que religião. Na intenção de se criar uma ética universal secularista, pretendem ver a ética desligada das culturas e das religiões para as submeter a uma ética natural orientada apenas pela razão abstrata. Pelo que se depreende do texto, para fundamentar ou explicar juízos morais, seriam suficientes o sentimento da compaixão, a cooperação inerente à evolução humana e a faculdade da razão.

Trata-se de um texto interessante, mas também ele provocador porque, para favorecer uma ética secular descontextuada, serve-se de uma mundivisão materialista monista; é compreensível a preocupação do Dalai Lama, atendendo ao jacobinismo islâmico desestabilizador de sociedades e Estados por todo o mundo; isto porém não legitima esta tentativa de determinar um tipo de comportamento social e humano, em todo o mundo,  pautado por um juízo categórico de valor universal secularista e arquitectado em contraposição às religiões e à consciência individual; não chega servir-se do crivo simplicista da razão (de que se apodera), passando por cima dos mais variados dados filosóficos e sociológicos do campo da ética, e, para mais, quando a acção  implica uma colaboração na campanha do fomento de preconceitos contra o fenómeno religioso, e, como se isto, não correspondesse à tentativa monopolizadora de derrubar uma certa diversidade cultural, religiosa e nacional para tentar solucionar o problema islâmico e de concretizar aspirações dos ideólogos do domínio do mundo (governo mundial). Tanto os crentes como os não crentes são pessoas e, como tal, são capazes de qualquer tipo de comportamento positivo ou negativo. Importante é que os imigrantes se submetam às leis dos países para onde emigram. Ou será que, na política da ONU, a mistura dos povos é mais importante do que manter uma certa identidade e autonomia cultural?

Na falta de uma vontade económico-política para a mudança deve a vontade cultural sofrer…

O livro será usado ou abusado como catecismo para ideologias marxistas que andam à boleia de organizações da ONU, ONGs e organizações políticas de esquerda como é o caso do pacto da esquerda latino-americana   Foro de São Paulo. A corroborar esta ideia estará também o facto de o livro ser publicado em todos os países do mundo.

Para a Unesco e para o Dalai Lama, a educação ética , tal como pressupõe Habermas, na sequência da doutrina socialista da Frankfurter Schule, é vista como prevenção contra a radicalização da sociedade; por isso e atendendo ao “pluralismo religioso e ideológico” as religiões e culturas devem estar prontas a “ter reconciliado o privilégio do conhecimento das ciências socialmente institucionalizadas, bem como a primazia do Estado secular e da moral social universalista com a sua fé”.

O Dalai Lama, ao manter-se na confusão, toma partido pela filosofia do mainstream partindo da filosofia materialista de que religião é um subproduto da evolução.

Em texto claro, quer isto dizer que se pretende pôr o problema na civilização ocidental (sem diferenciar as religiões), como se esta, devido à imigração muçulmana, estivesse obrigada a prescindir dos seus valores e cultura para se submeter (a longo prazo) a uma mera racionalidade (ética secular como super-religião) que facilite as intenções de criar um governo central global (ONU), correspondente aos seus inicias promotores maçónicos.

A cultura ocidental e a religião cristã, que até agora se orientavam pela visão da pessoa humana como cidadã de dois reinos (a César o que é de César e a Deus o que é de Deus), deve abdicar da sua liberdade soberana para se submeter ao Estado secular, à doutrina materialista do Estado com o seu sacerdócio universitário,  que, para tal, só reconhece a sua lógica racional como autoridade para melhor poder prosseguir a sua acção de desintegração da cultura ocidental, também mediante o fomento de imigrantes de cultura árabe (para os dominar só vêem como saída a hegemonia de um estado secular forte!); estes também são usados como meio e, ao mesmo tempo, como pretexto para uma melhor imposição da agenda marxista, também ela implementada por organismos da ONU.

Para melhor se ter mão nos muçulmanos e em nome de uma educação das religiões cria-se uma instância absoluta (estado e universidade superiores à consciência) como se, para isso, fosse possível apenas uma ética meramente racional; parece tratar-se de se deixar o modelo europeu para, pouco a pouco, se seguir o tipo de Homem e o modelo chinês como possível molde político, antropológico e sociológico para todo o mundo. Em nome da globalização e de um novo modelo de sociedade, no sentido do Pacto da Migração, a sociedade ocidental terá de renunciar ao seu modelo de civilização.

O cristianismo, que reconhece a separação de poderes (âmbito secular e religioso) é colocado ao mesmo nível do islão que não reconhece tal, e pelo facto de se encontrarem muitos muçulmanos, na Europa, a civilização ocidental deve submeter-se ao ditado secular ateu que, a pretexto da sua razão, quer aplanar o caminho a uma elite política secular, para a qual não basta o poder político, mas que se quer ser também em posse do poder ético-moral. Criam-se os pressupostos para o controlo total.

Um componente da religião cristã é a filosofia com o seu instrumento da razão, pelo que os críticos da religião não podem alegar explicações racionais para a negarem, porque tanto o materialista ateu como o cristão fazem uso da razão, só que em diferentes contextos e, como tal, é de pressupor a consideração e o respeito mútuos, também como filhos ou produtos da mesma cultura.

A circunstância de nos movermos numa sociedade pluralista e com tendência de um islão cada vez mais presente nela, não é suficiente para motivar a divisão na sociedade ocidental mediante a criação de uma ética secular materialista como algo mais importante que a religião, como se uma ética mundial secular e religião tivessem de ser incompatíveis (caso, por enquanto, apenas verificável no islão!) e em nome disto que se fomente uma filosofia marxista de modo a torna-la uma panaceia universal legitimada pelo facto de se referir à razão, predicado que ela não merece como se viu na sua História.

O facto de o Dalai Lama embarcar neste sentido e de ter sido adoptado como profeta do programa em via (principalmente a partir da queda do socialismo soviético), não é tão inocente como parece, porque vem favorecer o fortalecimento da mundivisão budista no domínio do mundo a nível global e querer legitimar o monopólio de um estilo de vida regulado por princípios marxistas.

Não é legítimo querer uniformizar o que de si é múltiplo e complexo, como ensina a evolução da natureza e da cultura. A filosofia a seguir-se deveria ser, na consideração da cultura e da natura, aceitar a diferença no respeito sagrado por cada pessoa e grupo; e isto numa relação de complementaridade consciente e aceite, em vez de se procurar tornar tudo cada vez mais igual na ilusão de que, com um simples ideal monolítico e monista, se dá resposta à necessidade de nos reconhecermos mundialmente como irmãos. O que está aqui em jogo não é tanto o respeito pelo povo, mas a defesa de interesses monopolistas de caracter económico e ideológico. Em vez de nos prostrarmos perante uma ditadura económica liberal e ideológica  seria óbvio apostar numa revolução humanista a partir da pessoa e de baixo para cima.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (Português e História)

Pegadas do Tempo

(1)  Monismo é uma doutrina que reporta a pluralidade dos seres a uma única substância ou princípio. Para ele a distinção entre matéria e espírito, entre mundo e Deus é falsa e a multiplicidade dos fenómenos e o dualismo são tidos como ilusão dos sentidos. Só a totalidade tem substância real. Numa tal doutrina, tal como no comunismo, não há lugar para a pessoa soberana (tipo ocidental), o que conta é o todo e como tal a pessoa só tem sentido em função dele, e nesse entender fundamentaria que os “fins justificam os meios”. Daqui a união da posição do Dalai Lama com a ideologia comunista contra a cultura ocidental no esforço de, em comum, criarem um governo universal (ONU), possivelmente no sentido do modelo chinês!

(2)  No livro corre-se o perigo de se juntar o sorriso crónico do budista Dalai Lama à sabedoria moralista do cristão Franz Alt, porque possibilita, a pessoas desacauteladas, uma projecção unilateral de correntes ideológicas do Zeitgeist.

(3)  «Vejo cada vez mais claramente que o nosso bem-estar espiritual não depende da religião, mas da nossa natureza humana inata». “Os políticos preferem defender as fronteiras, nunca a inclusão; as desigualdades económicas evitam a coesão; as religiões geram violência”. «De certa forma, penso que seria melhor se não existissem religiões. Todas as religiões e todas as escrituras encerram em si um potencial de violência”.” Seguindo princípios de uma ética puramente secular tornar-nos-emos pessoas mais descontraídas, solidárias e sensatas”.

POR QUE NÃO EXISTE EXTREMA-DIREITA EM PORTUGAL?

O Extremismo político português só é constatável em pequenos Grupos que o importam e na Rectórica

Por António Justo

A virtude está no meio! O extremismo depende da distância do centro e também este é variável, se se parte da ideologia dominante numa mundivisão político-social. Numa época em que a crença dominante é a do pensar politicamente correcto, torna-se difícil determinar o que é centro. O extremismo político tem a ver com a rejeição de um Estado constitucional democrático. A extrema esquerda vê no capitalismo e no patriotismo o mal do sistema e trabalha para instalar um novo regime e a extrema direita caracteriza-se, principalmente, por um nacionalismo xenofóbico.

A sociedade portuguesa não corre o perigo de produzir extremismos políticos: os que tem tido são oportunamente importados. É uma sociedade acomodada que se expressa politicamente mais pela boa fé, pela mediania e pelo seu caracter de intermediário (conciliador). Os multiplicadores de ideias e ideologias chegam sempre um pouco atrasados a Portugal; geralmente através de “burgueses” insatisfeitos que se aproveitam das fraquezas do sistema político.

Na incapacidade de se criar um pensamento conservador e um pensamento progressista de matriz própria, importam-se ideologias destemperadas, sem espaço para as temperar ao nosso modo e menos ainda para produzirmos as nossas. Por isso passamos a andar politicamente, como nação, atrás da História, o que, por vezes, também nos poupa as asperezas de alguns erros…

Razões da moderação à direita na sociedade portuguesa

Um país com 20% de pobres e com um milhão de reformados com reformas inferiores a 250€ mensais não é tão homogéneo como parece. Apesar disso mantem-se um país socialmente pacífico, moderado, acolhedor, trabalhador e ordeiro.

O Artigo Artigo 46.º 4 da Constituição (1976) proíbe organizações que representem valores fascistas ou racistas. Na cultura política portuguesa a compreensão democrática é anti-ultra-direitista. Na opinião de comentadores internacionais, a Constituição portuguesa, de coloração socialista, não aplica a mesma medida para as forças comunistas ou anárquicas.

O uso do método d’Hondt nas eleições desde 1975 impede também ele o aparecimento de partidos pequenos e favorece os partidos maioritários (populares). O embargamento da ideologia à direita tem ajudado a impedir a formação de um polo radical com expressão institucional política (ao contrário do que acontece à esquerda) e deste modo impossibilitando a confrontação de extremismos, por ausência de um extremismo militante de direita. Por outro lado, a influência maçónica opera como factor de sustentabilidade a uma facção republicana influente de timbre socialista. Daí uma certa distorção da sociedade portuguesa quanto à percepção do que é esquerda e do que é direita, em comparação com a sociedade da Europa central e norte (p.ex. atitude do PS partido português e SPD partido irmão alemão!).

O Golpe de 25 de Novembro (Ramalho Eanes, Melo Antunes, Jaime Neves, etc.) interrompeu em Portugal a acção dos protagonistas do terrorismo internacional, que tinha entregado as colónias aos grupos de guerrilha comunista. Esta correcção da revolução recusou todo o extremismo, sobretudo o da direita.

A partir do Golpe, deu-se também a uma socialdemocratização de todos os partidos com excepção de alguns partidos da esquerda (Marxista-Leninista, Trotskista e maoista).

O problema ganhou mais relevância com a Geringonça porque antes o extremismo de esquerda não participava no poder, mas, com o governo de António Costa, o Poder assumiu uma certa radicalização, dado o partido socialista, para formar Governo, ter de conceder muito espaço ao partido Bloco de Esquerda (Marxista-Leninista e Trotskista) que propaga agendas internacionais da marxização da cultura ocidental).

Uma mentalidade portuguesa universalista, respeitadora do indivíduo e da sua expressão pessoal e um espírito católico ainda presente na sociedade portuguesa, têm possibilitado um comportamento moderado e tolerante também entre os partidos.

Quanto mais liberdade no sistema político mais potencialidade se nota para o aparecimento de posições mais individualizadas e também extremas; em Portugal a liberdade encontra-se mais na mão das corporações e o descontentamento social é mais fácil de ser instrumentalizado contra os patrões do que contra a classe política que se iliba de responsabilidades criando uma cultura política do culpabilizar o partido adversário e assim desviar as atenções do cidadão de políticas factuais concisas (principalmente a esquerda comporta-se em tempo útil de governação como se estivesse em permanente campanha eleitoral; a direita é mais cómoda e indolente neste sentido, contando com um certo apoio de muitas pessoas não politizadas).

Um outro factor da moderação social portuguesa deve-se também à circunstância de o regime político tratar bem as suas elites, que uma vez insatisfeitas provocariam instabilidade política. (Portugal tem 220 generais  dos quais 114 na reserva; tem tantos generais de quatro estrelas como a Alemanha (quatro). A moderação do povo é acompanhada por uma certa cumplicidade de um corporativismo encostado ao Estado e sem vocação para a população. Desde que os grandes ou pretendentes a sê-lo se encontrem satisfeitos, o povo acomoda-se sempre porque não tem a quem se encostar (como hipérbole observamos no reino animal este fenómeno em relação às hienas, à sua presa e aos outros animais que esperam até que elas se saciem).

Uma outra razão do nosso espírito temperado vem do facto de Portugal ainda não ter tido uma experiência com o islamismo como têm as nações ricas da Europa (na Suécia a viragem é radical). A fragilidade do sistema social português e a pobreza tem colocado Portugal fora da rota da imigração muçulmana.

Por outro lado, o radicalismo da extrema direita verifica-se mais em Estados com experiência das ditaduras socialistas (Veja-se o caso do radicalismo alemão que vem sobretudo da antiga DDR: país do real socialismo e outros países do antigo domínio soviético).

O extremismo político português, vem de fora e é contrário ao génio português que pouco tem de protestante sendo universalista e amante da festa. Recorde-se o radicalismo importado pelo Marquês de Pombal, as invasões francesas, os extremismos pré-república, a acção das forças escondidas por trás da carbonária,  o cobarde assassínio do rei e os inícios da república que conduziram à ditadura militar (1926) e, na consequência, os 40 anos do regime autoritário de Salazar que se caracterizava por ocupar o espectro nacionalista e combater os movimentos moderados de esquerda e de extrema esquerda; de não esquecer  o comunismo soviético, marxista-leninista e maoista, que esteve na base da revolução do 25 de Abril e que deixou uma opinião pública com conexão à esquerda na sequência de um ideário maçónico socialista.

O desequilíbrio, gerado por uma esquerda destemperada dominante, cria na sociedade um sentimento de insegurança que desestabiliza a ala conservadora da sociedade, fomentando-se assim pequenos grupos à esquerda e à direita que criam a sensação do caos social.

Se observarmos a vida dos líderes das nossas esquerdas, que se arrogam a defesa dos desbeneficiados do sistema, elas continuam com a mentalidade burguesa que combatem ad extra, só que disfarçada numa vida burguesa ad intra, encostada ao Estado. Também este tem sido um factor de resfriamento de extremismos latentes.

O drama português vem do facto de ser um povo demasiado propenso a influências; no regime de Salazar adaptou-se à maneira de ser do Estado Novo e, no que toca à atualidade, interiorizou de tal modo a propaganda do regime de abril que não nota as partes do seu cérebro branqueadas por ele, passando a viver de forma adaptada ao pensar do novo regime, tal como vivia antes em relação ao velho; o que é mas grave na mentalidade actual é o facto moralista de pensar que a sociedade portuguesa pós 25 de Abril  é melhor e de mentalidade qualitativamente diferente da do antigo regime. Esta mentalidade leva o povo a viver no equívoco de que a liberdade e a justiça são propriedade da esquerda. Assim se vai embalando uma sociedade em valores e contravalores entre “esquerda” e “direita” sem exigências em termos de eficiências governativas. Vive-se a nível físico social superficial uma paz dos cemitérios com governos que se alternam, mas que, em vez de manterem um equilíbrio com uma certa neutralidade governativa para poderem beneficiar o Estado, o minam devido a uma contínua intervenção pública de caracter jacobino.

Portugal o que tem a menos à direita tem a mais à esquerda; o bem-estar de uma sociedade revela-se mais eficiente quando a relação entre conservadores e progressista é normal e equilibrada. Na discussão política e nos meios de comunicação social chega a ter-se a impressão que há donos da democracia e que a esquerda se tornou, por graça do 25 de Abril (da Geração 68, a nível internacional), no pontífice da interpretação da opinião, determinando substancialmente a opinião pública.

O Extremismo político português é constatável em grupos que o importam, na rectórica e nalguma legislação ou regulamentações de caracter ideológico. A inexistência de um CDS e de um PSD fortes, ou melhor, a sua desestabilização significará a desestabilização do PS e uma consequente radicalização da sociedade.

Uma democracia eficiente tem de manter os extremos à direita e à esquerda de maneira a não ultrapassar os 10-15%, doutro modo dá lugar ao caos. Em Portugal, devido à mentalidade do povo, à situação corporativista e ao paternalismo autoritário das forças do Estado, não há perigo de se chegará a ter extremismos violentos como é comum ver-se fora de Portugal. O extremismo é, também ele, comutado num zelo nobilitado de defesa de uma República propriedade imaterial de alguns que de boa vontade a confundem com o bem-comum!

© António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo (Português e História) e ex-membro activo do PS, SPD e CDU.

In “Pegadas do Tempo”

NEGAÇÃO DA CELEBRAÇÃO DO NATAL AO SERVIÇO DO SUICÍDIO DA CULTURA OCIDENTAL

António Justo

Em tempos altos das festas religiosas, há pessoas e grupos que se aproveitam da ocasião para tentar estragar a Festa e até para fazerem uma propaganda destruidora contra tudo o que é religioso, como se a crença religiosa e a crença científica se tivessem necessariamente de opor.

Chegam a dar uma impressão ciumenta, como se a Festa dos cristãos viesse estragar o seu humor e os obrigasse a participar na Festa!

A nossa cultura está a suicidar-se e muita gente encontra-se nesse serviço alegrando-se com o seu suicídio.

Quando conseguirem acabar com a compreensão do significado da simbologia na sociedade e na literatura, teremos uma sociedade toda ela invernosa sem esperança para qualquer Primavera.

Atualmente assiste-se à luta ferrenha da “cultura marxista” contra a cultura ocidental de forma jacobina que empobrece uns e outros. Querer impor uma lógica fria como única forma de abordagem da realidade é desconhecer que a apreensão da realidade se dá também através da razão e do coração.

O filósofo Blaise Pascal advertia:” O coração tem razões que a própria razão desconhece” e concluía: “A última função da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam.” O respeito é a virtude da reciprocidade! Já vai sendo tempo de ultrapassarmos os dogmatismos de todas as ideologias!

Na cultura ocidental há lugar para todos, sem ter de ser necessário que os militantes ateus aproveitem das festas religiosas para fazerem propaganda contra elas.

O Natal chega para todos os gostos e feitios! Temos o Natal das famílias e também o natal da rua e das compras, que é o natal do Pai Natal criado pela empresa Coca-cola!

No Cristianismo compreendemo-nos todos como irmãos havendo, no nosso coração, também lugar para os filhos pródigos e para aqueles que sentem que a casa paterna impede de viverem a sua adolescência!

© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

LEMBRAM-SE DO “LAVRADOR DA ARADA? – O JESUS ABANDONADO NOS POBRES

O LAVRADOR DA ARADA

Vindo o lavrador da arada,
Encontrou um pobrezinho ;
E o pobrezinho lhe disse:
-Leva-me no teu carrinho.

Deu-lhe a mão o lavrador,
E no seu carro o metia;
Levou-o para a sua casa
Prà melhor sala que tinha.

Mandou-lhe fazer a ceia
Do melhor manjar que havia;
Sentou-o na sua mesa,
Mas o pobre não comia.

As lágrimas eram tantas
Que pela mesa corriam;
Os suspiros eram tantos
Que até a mesa tremia.

Mandou-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha:
Por cima damasco roxo,
Por baixo cambraia fina.

Lá pela noite adiante
O pobrezinho gemia;
Levantou-se o lavrador
A ver o que o pobre tinha.

Deu-lhe o coração um baque,
Como ele não ficaria!
Achou-o crucificado
Numa cruz de prata fina.

-Meu Jesus, se eu tal soubera,
Que em minha casa Vos tinha,
Mandava fazer preparos
Do melhor que encontraria.

-Cala-te aí, lavrador,
Não fales com fantasia.
No céu te tenho guardada
Cadeira de prata fina,
Tua mulher a teu lado,
Que também o merecia.

(Da tradição popular)

(Retirado do Livro de Leitura da 3ª classe, Ministério da Educação Nacional)