LEMBRAM-SE DO “LAVRADOR DA ARADA? – O JESUS ABANDONADO NOS POBRES

O LAVRADOR DA ARADA

Vindo o lavrador da arada,
Encontrou um pobrezinho ;
E o pobrezinho lhe disse:
-Leva-me no teu carrinho.

Deu-lhe a mão o lavrador,
E no seu carro o metia;
Levou-o para a sua casa
Prà melhor sala que tinha.

Mandou-lhe fazer a ceia
Do melhor manjar que havia;
Sentou-o na sua mesa,
Mas o pobre não comia.

As lágrimas eram tantas
Que pela mesa corriam;
Os suspiros eram tantos
Que até a mesa tremia.

Mandou-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha:
Por cima damasco roxo,
Por baixo cambraia fina.

Lá pela noite adiante
O pobrezinho gemia;
Levantou-se o lavrador
A ver o que o pobre tinha.

Deu-lhe o coração um baque,
Como ele não ficaria!
Achou-o crucificado
Numa cruz de prata fina.

-Meu Jesus, se eu tal soubera,
Que em minha casa Vos tinha,
Mandava fazer preparos
Do melhor que encontraria.

-Cala-te aí, lavrador,
Não fales com fantasia.
No céu te tenho guardada
Cadeira de prata fina,
Tua mulher a teu lado,
Que também o merecia.

(Da tradição popular)

(Retirado do Livro de Leitura da 3ª classe, Ministério da Educação Nacional)

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

9 comentários em “LEMBRAM-SE DO “LAVRADOR DA ARADA? – O JESUS ABANDONADO NOS POBRES”

  1. Voltamos aos pobrezinhos?! À caridade farizaica?! E, ainda há quem diga que não há extrema-direita em Portugal. Há sim! Muito saudosismo do salazarismo em todo o seu esplendor aliado à igreja velha e caduca do antes do Concílio do Vaticano II. Leia a Rerum Novarum, que a igreja católica portuguesa nunca cumpriu. Lá está a solução para acabar com os pobrezinhos. A Opus Dei tacanha portuguesa da velha cepa. Só falta o Cerejeira.
    Agostinho Ferreira
    FB

  2. Senhor Agostinho, não voltamos aos pobrezinhos, eles continuam no regime político de hoje como estavam presentes no de ontem.Em Portugal há 20% de pobres e um milhão de reformados com reformas inferiores a 250€ mensais.Um extremismo não se resolve com outro extremismo. O texto é para ser lido sobretudo com o coração, com o espírito do tempo e como um género de expressão literária popular. Doutro modo transformamos tudo numa leitura unívoca sem lugar para literatura nem fantasia; quer-se tudo cortado pelo machado da razão, pretendendo-se que o crivo da própria opinião se torne no único critério de avaliação ou no soberano da interpretação. Quanto às encíclicas sociais da Igreja houve um início de tentativa da sua aplicação política através do capitalismo social do mercado mas foi sol de pouca dura porque quem domina é o espírito do Mamon e não o espírito subjacente à poesia popular que o senhor critica. Ontem outros se alegravam com os criticados pelos de hoje e hoje outros se alegram com José Sócrates e companhia, uns tornam-se adeptos da maçonaria outros da Opus Dei! O mundo é grande e tem lugar para todos; o princípio de toda a guerra é de encontrar em cada um de nós e principalmente quando se pensa que a razão está só do nosso lado ou que a própria interpreteção não se vê de forma complementar!

  3. Eu sou da luta. Os pacíficos cordeiros são, muitas vezes, lobos. Já os conheço desde o tempo do Toninho das botas de Santa Comba.
    Agostinho Ferreira
    FB

  4. O que aqui estamos a fazer também é luta.
    Eu conheci os lobos de ontem e os de hoje e nem uns nem outros me agradam; nenhum me motiva a lutar por eles; procuro, talvez como o senhor, cada um à sua maneira lutar pelo povo, eu no sentido de uma revolução cultural não violenta. Apostar na pessoa e nas pessoas. Quanto aos lobos e cordeiros, a História ensina-nos que os lobos é que se encontram em posse da razão! O problema é o sangue e o sofrimento e o que é certo é que o povo é sempre quem mais sofre ou quem morre. A lógica da luta é a mais forte porque haverá sempre lobos e cordeiros porque a lógica da luta só acabaria no momento em que só houvesse lobos contra lobos. A luta por um ideal (amor) sem violência que não cause sofrimento é a lluta que convem, embora a realidade da vida nos ensine que os que lutam por si mesmos ou por um objectivo são os que se encontram melhor na vida. A verdadeira luta começa em cada um de nós embora seja mais fácil a luta contra os outros. A história dá-lhe razão porque da violência e dos combates surgiram os vencedores e o povo segue sempre os vencedores, mas o facto de se pertencer ao grupo dos combatentes e dos vencedores não justfica a luta pela luta. Eu acredito que se possa transformar a luta num jogo como acontece num jogo de fotebol ou transformá-la numa dança. Assim o nosso instinto de luta e de violência poderia ser transformado num acto criativo de arte ou fazer dela também um espectáculo! Nobre seria lutarmos todos sem termos de violentar ninguém e sem termos de criar fantasmas contra quem combater.
    Nem os Toninhos nem os Zezinhos que nos agradam são a solução!

  5. A luta de quem trabalha, a luta de quem estuda, a luta da vida, não é sangrenta. A luta pela liberdade, igualdade, solidariedade é uma luta constante pela dignidade humana. A minha luta e dos meus companheiros foi contra a repressão, a ditadura, as injustiças. Soubemos resistir à violência e estupidez do fascismo e colonialismo. Fizemos uma revolução para acabar com a guerra e as ignominias de uma política canhestra e bafienta. Eu estive quatro anos na guerra e, fomos nós, os que combateram, que fizemos Abril. Fizemos a revolução dos cravos. Não usamos as armas nem derramamos sangue, porque já sabíamos que a luta armada só seria possível em último recurso. A arma mais importante é a das ideias e dos ideais. E, a minha geração fez a paz, desenvolveu e democratizou um dos países mais atrasados da Europa. A Paz, o Pão, a Educação essa continua a ser a nossa luta. Só entende o que é a paz, quem andou na guerra. Só entende o que é o pão, quem passou fome. Só entende o que é educação quem teve uma mãe analfabeta. Só pode dar valor à luta quem vive em paz, quem tem o pão na mesa e quem foi educado. Eu sei que a luta deve continuar. Eu fiz o que pude. Espero que os meus filhos façam melhor. Bom ano.
    Agostinho Ferreira

  6. Exactamente! Precisamente isso que fizemos no passado é preciso que se faça hoje sem se parar na História. Os motivos da luta de ontem continuam a ser os mesmos da luta de hoje para não nos repousamosr nos louros do que fizemos com a intenção de servir um povo. Os erros de ontem não justificam os de hoje. Continuamos a viver numa sociedade mal-amanhda mas de povo bem habitudo.

  7. Muito obrigado. Bom ano. E que a boa vitela de Arouca me leve ao “parlamento” muitas vezes.
    Agostinho Ferreira

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