LIBERDADE A SER SUBORNADA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

A democracia liberal deixa de oferecer garantias de humanidade e de sustentabilidade ao produzir uma crescente atitude político-social autoritária e uma postura de autodefesa autocrata que se serve de medidas legislativas e burocráticas limitadas a corrigir as desfigurações do sistema. Uma sociedade vital não pode limitar-se a ser aberta para o exterior e, ao mesmo tempo, destruir os padrões que a definem e lhe dão coerência a nível interior.  

No início da era digital reconhecíamos nas novas tecnologias de comunicação e informação uma grande potencialidade para democratizar a sociedade e víamos nela a possibilidade de dar também voz aos que não têm voz e, ao mesmo tempo, a possibilidade de moderar e contrabalançar a demasiada influência de elites politico-económicas, regimes políticos, hierarquias estatais e privadas na formação da opinião pública e no desenvolvimento da consciência dos povos. As instituições, porém, conseguiram ganhar a dianteira domando essas potencialidades, na consciência de que quem domina a informação tem o cidadão na mão e naturalmente o poder sobre a ordem estabelecida!

Em particular, não há proteção suficiente contra máquinas de filtragem e de censura arbitrária de plataformas de monopólio como Google, Facebook, etc. Além disso, os direitos civis digitais são relegados para segundo plano no que diz respeito aos interesses da indústria e do governo.

A liberdade de expressão e a liberdade de receber e transmitir informações e ideias sem interferência da autoridade pública e privada é cada vez mais condicionada a interesses de instituições. Mesmo a posição parlamentar sobre o #DigitalServicesAct (DAS) da EU não satisfaz os direitos fundamentais na rede e transmite parte da decisão sobre a liberdade de imprensa e de opinião à direcção do Facebook & Co. A liberdade de expressão como direito fundamental de importância elementar só poderia ser restringida pelo legislador e não deixada aos critérios de uma empresa.

A esperança de que, com a queda da União Soviética, a democracia liberal seria o sistema para o futuro, como anunciava o cientista político Francis Fukuyaman, não se confirma e cada vez deixa mais a desejar.

Entretanto observa-se um maior controlo do Estado com medidas de intervenção na rede a pretexto da defesa de moral pública. Naturalmente terá de haver regulação para se impedir a criminalidade, mas sem que o Estado se promiscue, doutro modo aumenta o processo de entropia da nossa civilização e  amplia a desconfiança num regime que, cada vez mais, põe em perigo a liberdade social e a democracia ao pretender construir um monstro com pés de barro.

Liberdade é o âmago do desenvolvimento humano e da democracia liberal, mas, numa sociedade aberta de valores meramente abstratos, a elite política reconhece-se incapaz de manter socialmente a sua liberalidade e por isso já procura comprometer empresas privadas globais na tarefa política de controlar a sociedade. Bruxelas tem trabalhado em textos tendentes não só a desconstruir a cultura europeia, mas também a permitir uma maior promiscuidade entre estado e privado no intento de diminuir a liberdade do cidadão para mais facilmente mecanizar e burocratizar a sociedade (a burocratização e a administração devem, ao mesmo tempo, substituir a espiritualidade da sociedade) a sociedade. Os nossos tecnocratas decretam já hoje medidas controladoras da personalidade humana que, pouco a pouco, legitimam instalar entre nós o modelo chinês que concebe o cidadão apenas em termos de funcionalidade dentro da máquina estatal! Nesse sentido a máquina de Bruxelas serve-se de agendas devotadas à desestabilização e desconstrução dos fundamentos da cultura europeia minando assim os princípios mais elementares da dita democracia (valores vitais como o da vida e da liberdade começam a ser subjugados aos princípios da funcionalidade, dado o sistema pretender ser a premissa ordenadora dos valores).

A política ao ver-se confrontada com grandes problemas sociais criados pela própria sociedade liberal, reconhece a própria incapacidade de regular uma sociedade humana orgânica, e, para se desviar do problema, aposta no centralismo total implementando para tal o controlo digital da população não tendo sequer escrúpulos em delegar competências de controlo de caracter público às grandes empresas privadas de comunicação social, como Facebook, Google, etc ….

Atualmente o baralho (de realidade, opinião e ilusão) é tal que a liberdade social parece oscilar, como o pêndulo de um velho relógio de sala, movido por forças sociais já indetermináveis porque a rosa dos ventos perdeu a orientação …

Embora todos nós tenhamos direito às nossas opiniões e a decidir do que é importante na nossa vida e do que é nosso, não estamos isentos do enquadramento limitativo do direito do Estado e da sociedade em que se vive. A lógica não tem a última palavra a dizer numa sociedade plural e multifacetada, (porque exige muitas diferenciações), tendo, por isso de ser supervisionada pela Razão de caracter mais abrangente do que a ordenação de factos ou ideias numa linha lógica linear de conclusões inequívocas. O facto de uma democracia liberal – como a sociedade europeia aberta – ter vantagens, por tentar dar resposta à questão da diversidade, a liberalidade não a iliba dos problemas sociais internos que ela mesmo cria e em muitos casos a deslegitimam (imigração desregrada consequência do poder político-económico imperialista transforma-se em cavalo troiano dentro da cultura europeia).

Observa-se na sociedade ocidental a tendência para se insistir na liberdade da heteronomia e por outro lado numa intervenção cada vez mais directa do Estado contra a autonomia e contra a liberdade do cidadão assumir responsabilidade pessoal. Muitos deixaram-se levar na onda contra o presidente dos EUA Trump, o que veio a possibilitar aos administradores das redes sociais expulsá-lo; aqui o que é grave é o facto de se constituir um precedente perigoso e o transfer de poderes do Estado para empresas particulares (este reconhece assim a sua incompetência própria de regulador isento da sociedade) pondo em perigo o cidadão e o sistema democrático.

Assim se cria o pretexto de se poder proibir informação enganosa sem a necessidade de definir o que é enganoso e que parâmetros são usados para chegar a tal. De facto, a pergunta a ser primeiramente resolvida seria: assunto enganoso porquê; enganoso de quem e para quem? Considera-se como factual a informação mais conforme no sentido do regime ou da população e como fack o que as questione ou que seja realmente notícia falsa com objectivos escuros? E quem deve decidir sobre o caminho pré-determinado a seguir? O problema reside na circunstância de muitos factos serem susceptíveis de diferentes interpretações e de serem ordenados para determinados fins que alguns poderão querer que o povo siga. Naturalmente também há notícias construídas, fotos manipuladas, etc. e tudo isso vem complicar a situação, mas há que estar atento a uma paulatina chinesação dos aparelhos do Estado.

Muitos acusam a liberdade de ser  o princípio de muitos problemas (ou de parte dos problemas) mas aí reside um equívoco porque só a liberdade pode dar resposta aos problemas que a sociedade vai apresentando: só a liberdade humana aliada à identidade comunitária chamada a realizar-se e a servir toda a humanidade no respeito mútuo de cada um pode dar resposta aos problemas do nosso tempo e não o erro globalizado do liberalismo arbitrário avassalador deixado às leis do mais fortes numa sociedade considerada mercado de grupos e instituições que tem criado problemas incalculáveis à construção de um futuro mais humano.  veja-se o poder que empresas digitais e empresas globais já têm de determinar disposições e preços sem que os atingidos tenham possibilidade de intervir porque o estado que os devia defender também é sócio na defesa de interesses e na sua especulação porque vê alguns dos problemas resolvidos e também recebe os seus dividendos através dos impostos (quanto maior o custo do produto mais o Estado ganha).

Embora condicionados à morte somos chamados à liberdade! Querer reduzir a liberdade à mera materialidade ou a um mecanicismo de caracter funcional e pragmatista corresponde a uma atitude desumana porque faria da pessoa uma peça; a liberdade e o espírito são o sol que tudo vivifica e estes pertencem à pessoa e não às instituições; estas só têm relevância pelo serviço que prestam e pela memória que possibilitam no andar da história.

Nos últimos anos, a liberdade de expressão tem sido cada vez mais ameaçada, não só por um Estado faminto de impostos e cada vez mais controlador e colecionador de dados, mas também por actores privados, como bancos e corporações tecnológicas ao serviço dos gigantes da economia; por este andar chegaremos a um tempo em que o cartão do banco inutilizará o cartão do cidadão. O controlo generalizado em via e a censura são males, venham eles donde vierem.

Não é de confiar num Estado zeloso que determine a medida do discurso político a ser admissível. As grandes plataformas tecnológicas Google, Face Book, etc., não têm legitimidade para controlar o cidadão e o Estado, ao conceder-lhe competência para tal, está a demonstrar a sua incompetência para governar a sociedade que criou e parece estar a tornar-se ingovernável com meios democráticos; as empresas têm a sua lealdade para com os seus accionistas porque foram criadas com a finalidade  de ganharem dinheiro para eles.

 

Uma limitação de liberdade pelo governo só seria justificável se ocasionalmente limitada no tempo, mas tem de estar sempre sob a pressão crítica de ter de se justificar perante o cidadão. O cidadão crítico desempenha uma função importante na defesa das massas de uma censura indiretamente institucionalizada para reduzir a liberdade de expressão e de opinião. Mas também é de compreender a atitude de muito cidadão que, resignado, cada vez se refugia mais na sua vida privada, como já é de observar em camadas da juventude. A gravidade da situação em que nos encontramos (medidas Corona e propaganda em relação à Rússia-Ucrânia, etc.) conduz a posições extremistas e motiva conservadores a defenderem medidas estatais drásticas e move também os progressistas a defenderem a limitação da liberdade individual e civil como preço a ser pago para se conseguir progresso ou uma reconstrução social no sentido socialista.

Na fase do regimento Corona, a liberdade foi simplesmente subordinada ao valor da saúde e agora que temos o regimento da guerra na Europa tudo passou a ser condicionado à segurança (o comportamento assumido por governantes e média e a maneira indiferenciada como é acatado pela generalidade do povo faz duvidar da capacidade social para defender a liberdade). Isto é também sinal da falta de critério e de maturidade da classe dirigente que se comporta de maneira cínica como dominadora da consciência social e olha só para o momento sem considerar o futuro. A política ao valorizar apenas valias individualizadas falha contra o critério que pressupõe o equilíbrio e a referência integral de todos os valores humanos e sociais a preservar.

Não é suficiente ir-se vivendo nem chegam as ondas sucessivas criadas na sociedade para dar sustentabilidade a um povo e menos ainda a consequente atitude relativista de uma democracia liberal limitada a fazer caminho sem missão nem metas; embora se tenha a impressão que a democracia  liberal seria o sistema político capaz de dar resposta à questão da diversidade nas sociedades europeias, a EU na sua ideologia de sociedade liberalista está a conduzir-nos a grandes problemas porque não chegam o valores abstratos liberais que os nossos tecnocratas nos querem impor como mundivisão  aberta (valores europeus); estes revelam-se incapazes, de darem resposta a uma vida orgânica existencial de cidadãos e de sociedade já despojados num globalismo impulsionador de (e servido por) sociedades anónimas e secretas que, para se afirmarem no Ocidente, se tornam demolidoras da família, da pátria e de um tecto espiritual comum.  O seu radicalismo contra o regionalismo e contra a província desqualificam as suas pretensas boas intenções de criarem uma humanidade sob um só tecto universal materialista e sem metafísica.

A liberdade pela liberdade torna-se insustentável porque levaria a um estado caótico da existência de indivíduos sem instituições nem órgãos ordenadores. A liberdade manifesta-se como factor dinâmico competidor entre o indivíduo e as suas organizações institucionais; esta tensão tem de ser mantida em equilíbrio muito embora pendular.

Creio que o liberalismo democrático, que na qualidade de ocidentais tanto afirmamos, poderá ter a sua lógica linear como método de resposta à diversidade de problemas e exigências criadas depois da segunda guerra mundial, mas, numa ordem globalizante, não resolve os próprios problemas sociais por ele criados e menos ainda outros problemas existenciais e de sentido que este liberalismo mercantilista aberto e sem fronteiras cria. Creio que o problema da razão, nas suas tentativas de alinhamentos lógicos se torna num pau de dois bicos ao apostar numa narrativa de perspectiva unilateral que subordina a vida do cidadão ao aspecto utilitário sociológico-político. Sem abandonarmos a polis teremos de reconhecer a natureza (família, aldeia e regionalismo), como lugar de vida autêntica e de orientação, doutro modo o globalismo servido por democracias liberais terá como consequência lógica a criação de governos autoritários servidos por oligarcas.

©  António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

PARABÉNS PORTUGUESES PELO DIA DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES

DIA DE PORTUGAL

A Festa repete-se e Portugal também

…. Em “Viagens na minha Terra”, Garrett faz uma descrição modelo da situação e dos problemas do Portugal de sempre. Nos protagonistas da narrativa, Carlos, símbolo dos progressistas e Joaninha, símbolo dos tradicionalistas, temos uma boa diagnose aplicável à actualidade sobre a situação dos partidos e da cultura portuguesa num Portugal que teima ser irreconciliável.

O romantismo liberal inicial de Garrett e Herculano, tal como, depois, o de Antero de Quental procuram aportuguesar o liberalismo (masculino) e o socialismo político importado (inicialmente bravio depois oportunamente acomodado) e dar-lhe uma perspectiva lusitana (feminina). Constatam o falhanço do projecto de liberalizar e democratizar Portugal. Portugal falha pelas mesmas razões que Carlos e Joaninha falharam…

O desenrolar da democracia do 25 de Abril parece seguir os mesmos passos encontrando-se já na fase da “desistência cívica” …

… O protagonista Carlos, de “Viagens na minha Terra”, símbolo de Portugal do progresso abandona a província (Santarém) e assim enjeita Joaninha (cultura tipicamente portuguesa) incompatibilizado, ao mesmo tempo, com Frei Dinis (antigo regime) e vai à procura de novos ideais para a cidade (liberalismo) envolvendo-se nas lutas liberais (conflitos entre socialistas e conservadores). Neste novo espaço transforma-se e conhece, entre outros bens, a cor da luz dos olhos da Georgina e da Soledade (os belos corpos duma modernidade que permanece alheia). Depois de desenganos e frustrações volta a Santarém (cultura tradicional nacional) mas aí sente-se já estranho; tinha-se mudado e a mudança tinha sido tão radical que já não comportava a integração da memória no seu ser. Entretanto foi-lhe revelado que era filho do padre Dinis (um sinal talvez de que deveria reconciliar a tradição com o progresso ideológico, o pólo masculino com o pólo feminino da nação). Pelo contrário, desiludido da ideologia e da terra, que já na pode amar porque a ideologia e os bens o tinham desnaturado, volta à cidade e faz-se barão. Declara-se perdido. Joaninha enlouquece e falece…

Esta tem sido a perspectiva dum Portugal insatisfeito fatalmente irreconciliável consigo mesmo. Em Carlos podemos ver a masculinidade portuguesa infiel e homossexual que vive dos bordéis estrangeiros e em Joaninha a feminidade portuguesa fiel mas fechada em si mesma quase lésbica. Este é o problema de Portugal. A sua masculinidade e feminidade não se integram num todo. A luta do saber cínico (Carlos) contra a crença ingénua (Joaninha) conduz, segundo a experiência histórica, a uma portugalidade amorfa e indiferente. Isto conduz àquela “apagada e vil tristeza” dum Portugal não vivido mas com a ilusão de viver que lhe vem da sua divisão num Portugal de alguns tantos eremitas e poetas refugiados, de alguns barões da ceita e dum resto lamuriento…

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=1335

 

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/dia-de-portugal-dia-de-camoes-e-das-comunidades-portuguesas-no-purgatorio-com-o-covid-19-dados-sobre-a-igreja-carolica

 

https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/index.htm

 

 

RELAÇÕES ESTADO – IGREJA NA RÚSSIA

“Nacionalizações” da Ortodoxia e Irritação entre Igrejas

As sociedades em desenvolvimento natural ou em processo de afirmação precisam, de um tecto metafísico que lhes dê consistência e uma cobertura possibilitadora de identificação e de fomento de comunidade. Na China temos o comunismo/confucianismo, no Ocidente os valores e direitos humanos (cristianismo), na Rússia a Ortodoxia, em países de cultura árabe o islão, na Índia o induísmo… 

A Igreja Ortodoxa Russa encontra-se numa situação muito complicada já desde o colapso da União Soviética e especialmente agora porque a guerra tem forçado as diferentes denominações a tomarem uma posição política clara! Num momento em que os nacionalismos se afirmam, surgem as “nacionalizações” da ortodoxia; países em construcção nacional alcançam autocefalia e independência das igrejas-mãe ortodoxas. Já antes da invasão russa, mais de 45% da população da Ucrânia pertencia ao Patriarcado de Kiev e cerca de 13% ao Patriarcado de Moscovo e 1,3% à Igreja Ortodoxa Autocefálica Ucraniana. É curioso que também a Igreja Ortodoxa Sérvia concedeu agora autocefalia à Igreja Ortodoxa da Macedónia (1)!

Em entrevista (2) o Papa Francisco criticou o Patriarca ortodoxo Cirilo I por não se distanciar de Putin na guerra com a Ucrânia. O Papa disse que Cirilo não deveria ser “ministro de Putin„(ministro = servidor), mas também não esqueceu de dizer que “o verdadeiro “escândalo” da guerra de Putin era “o ladrar da NATO às portas da Rússia”, fazendo com que o Kremlin “reagisse erradamente e desencadeasse o conflito”!

Na realidade, o argumento “desnazificar a Ucrânia”, usado por Putin para invadir o país, é inadmissível e situa-se na mesma lógica imperialista de intervenções levadas a efeito pelos EUA/NATO em nome da defesa dos valores europeus que diziam defender na terminada guerra do Afeganistão, etc.! Esta lógica, sempre nas mãos de potências fortes (tal como o recurso ao bloqueio Comercial) faz parte das estratégias elaboradas para afirmar a confrontação/rivalidade e impedir o surgir de uma cultura que tenha como base e fim a paz entre os povos! Uma cultura da paz terá de superar a estratégia de visão linear ou causal exclusiva para passar a uma estratégia de visão multifacetada numa  relação de complementaridade inclusiva.

Não há perspectiva sem paisagem; o mesmo se diga do texto e do pensamento que carece sempre do seu enquadramento cultural, a paisagem cultural (mental-emocional-social) envolvente para poder ser compreendido (o compreender possibilita o concordar, o discordar ou a alternativa)! O enquadramento do texto no seu contexto viabiliza observar conotações e denotações e deste modo a hipótese de uma observação mais diferenciada com conclusões mais aferidas e como tal mais comedidas! 

Uma análise dos diferentes “biótopos” culturais e correspondentes condicionantes possibilitaria uma ampliação de horizontes que proporcionaria ultrapassar preconceitos de mentalidades produzidas dentro de modelos que se afirmam na forma adversativa!

A crítica do Papa causou bastante descontentamento no Patriarcado de Moscovo resfriando as relações com o Vaticano. O Papa tem razão porque a guerra não poderá ser legitimada cristãmente!

O Patriarca Cirilo I na qualidade de chefe religioso encontra-se entre a espada e a parede; entre a fidelidade ao evangelho e o papel institucional político (poder)!  As relação igreja-estado vão-se adaptando à consciência social e histórica de cada sociedade!

Na Rússia a ortodoxia revela-se como factor de identificação nacional e de união do seu povo; o comunismo já não serve a unidade, a ortodoxia compensa essa falta de que se socorre o poder secular em termos de complementaridade. Na relação Estado-Igreja, Cirilo deu prevalência à perspectiva cristandade descurando a do cristianismo! 

Um outro aspecto a ter em consideração reside nas distintas velocidades a que andam as diferentes culturas em termos de sua contextualização e factores de identificação; estas  expressam-se nas sociedades e na História (sociologia, política…) com rosto próprio, o que não legitima uma cultura arrogar-se o direito de condenar ou se impor à outra e para mais numa situação em que se encontram razões de Estado frente a frente.

É um facto que a Rússia, o maior país do mundo, com diferentes povos e como tal terá uma dinâmica estatal interna muito diferente da de um Portugal homogénio; seria cínico o argumento de que uma “superioridade” de valores europeus – direitos humanos, etc – pudesse constituir argumento para motivar a subjugação russa ao Ocidente ou possa até ser usada como motivo de guerra. Este é um argumento hipócrita que o Ocidente usa como pau de dois bicos para legitimar, por um lado, a sua violência e expressões imperialistas desestabilizadoras de países, quando por outro lado defende a legítima liberdade de autolegitimação dos povos indianos na América latina no direito à sua autonomia!

O Ocidente, constituído por unidades de povos mais ou menos homogéneos, usa hipocritamente de um argumento para se insurgir contra centralismos que não respeitam as identidades legítimas nos seus países e, em seu benefício, faz uso do argumento da democracia e dos direitos humanos para intervir e desestabilizar povos multiculturais onde a colonização interna ainda se encontra em processo. Deste modo, o imperialismo económico junta-se ao mental servindo-se de expressões moralistas como legitimadores do fomento de estruturas de violência.

A consciência, a nível social e individual, de cada cultura adapta-se paulatinamente ao desenvolvimento das suas circunstâncias históricas (numa correlação mais ou menos emancipatória de medida de forças entre indivíduo (grupos cívicos) e instituição); da afirmação dos vários grupos dentro de cada sociedade num encadeamento de concorrência-colaboração-dispersão entre eles e também numa relação de interculturalidade se vão criando novas expressões de Estado. Imagine-se que as verbas que as potências disponibilizam para a guerra fossem aplicadas no desenvolvimento económico dos povos! O desenvolvimento e a “justiça” que querem provocar através de guerras seria mais eficiente se fosse aplicado nos enriquecimentos dos correspondentes povos!

O Estado ao deixar de ser confessional devido ao surgir de grupos, ideologias e mundividências concorrentes é levado a cortar o cordão umbilical com a Igreja e vice-versa (igreja que abrigava tendências concorrentes sob o mesmo tecto). À medida que se processa uma emancipação, normal ou exagerada do indivíduo em relação à comunidade, vão surgindo novas formas políticas de adaptação ao cidadão que se afirma no princípio da liberdade e como tal, na ênfase dos direitos humanos.

Podemos observar que com o protestantismo (sec. XVI), apesar dos seus aspectos positivos, se expressou um certo extremo de emancipação do crente em relação à comunidade religiosa, levando-o, porém, a um certo encosto ao poder secular. No Catolicismo tem-se mantido ou procurado manter uma certa balance de equilíbrio na relação e interdependência de crente-comunidade e como o crente é ao mesmo tempo cidadão houve um correspondente desenvolvimento nas relações Estado-Igreja que vinha da admoestação de Jesus: “A Deus o que é de Deus e a César o que é de César”!

Na consciência social histórica o caracter religioso divino-humano (da filiação divina) determinou a definição da pessoa humana como soberana em relação às instituições (daí a ilegitimidade da pena de morte no consenso cristão); a dignidade humana foi sendo assumida na sociedade secular ocidental através da afirmação da liberdade humana e dos direitos humanos! O mesmo se pode observar historicamente na Europa onde a assistência educacional e de saúde foi passando dos conventos para a assistência social do Estado.

Atualmente, uma vontade política secular ocidental, partindo da sua consciência histórica vigente, reage de maneira exacerbada em relação à Ortodoxia, o que seria compreensível em termos de cristianismo, mas o que move as potências ocidentais tal como a federação russa não é o cristianismo, mas o poder político e económico de domínio a disputar-se entre a Rússia e a Nato, o que por outro lado leva a ortodoxia a reagir de modo a optar no sentido cultural de cristandade! (O que as elites ocidentais exageram no sentido secular talvez a Rússia esteja a exagerar no sentido religioso; das sociedades muçulmanas e hindus, não se fale!)

A discussão torna-se desequilibrada tendo em conta a perspectiva de observação relativo ao processo de aculturação-inculturação-secularização em relação ao cristianismo e aos povos/sociedades/culturas onde se encontra inserido. Se Cirilo I comete o erro de comprometer demasiado a igreja com o Estado, o Ocidente comete o erro de, por razões óbvias de poder, querer ver a sociedade russa desunida para mais facilmente ser desmembrada e, enfraquecida, tornar-se mais acessível ao poder ocidental! Daí ser muito necessário o espírito de discernimento ao avaliarem-se fenómenos como os que acontecem agora em atmosfera de guerra! (De não esquecer que uma das acções de empenho do Ocidente na Ucrânia foi dividir a ortodoxia na Ucrânia anos antes da intervenção de 24 de fevereiro!

Lamentavelmente, a opinião pública é induzida em erro ao ser levada a pensar que em política se trata de humanismo e não de poder, de moral e não de interesses bem egoístas que por vezes se resumem em “razões de Estado” à mistura de interesses das elites, mas apresentados às populações  como se se tratasse só de aspectos humanos morais em benefício delas! Por outro lado, muitos cidadãos cristãos do Ocidente são levados a criticar severamente o Patriarca ortodoxo não notando que estão a ser levados de Pontius Pilatos para Herodes e vice-versa! Não tem havido um discurso democrático humano no espaço público e o que existe está agora a desenvolver uma dinâmica perigosamente destrutiva. A fim de se ultrapassar a divisão entre Oriente e Ocidente, divisão esta que atravessa também a nossa sociedade, é necessário aprender de novo a argumentar segundo o método da controvérsia (3), de maneira a adoptar-se um discurso humano inclusivo que, movido pelo respeito, omita a discriminação e a exclusão.

O governo de Moscovo e a jerarquia ortodoxa ainda caminham em colaboração numa presumível intenção de defesa nacional pelo que, como sistema fechado, permanece um dogmatismo próprio sem grande lugar para relaxamento, mas que, na melhor das hipóteses poderia dar origem  a  grupos, ancorados na sua própria cultura, possibilitadores do surgir de uma democracia de baixo para cima e não como aspiraria o ocidente, de grupos meramente poderosos de domínio do homem sobre o homem!

A abertura ou liberalização da Nação (união de Deus-Pátria-família) é processual e a mundivisão que atualmente domina o Ocidente é que do dueto Igreja-Estado se passe a uma sinfonia político-cultural. A sinfonia torna-se, porém, disfónica dado o facto de termos uma democracia partidária também com um organigrama piramidal baseada no poder e não na relação humana orgânica; a perspectiva continua a ser o vértice da pirâmide e não a sua base numa estratégia de dividir e não de unir para melhor assegurar o poder de alguns (o poder e a decisão em vez de se operar no sentido de baixo para cima opera-se no sentido de cima para baixo). Como é natural, tudo olha para cima, para Deus, para o Sol, sem ter em grande conta a elevação, divindade e luz que brilha no interior da comunidade humana e em cada um (JC como protótipo do humano)! Neste sentido seria necessária uma nova impostação individual, social e institucional que partisse da consciência da base (pessoa e comunidades de vida), num actuar de democracia de base, e como tal da “aldeia” para a região e da região para a nação e da nação para confederações internacionais e não no sentido inverso de um globalismo controlador imposto de cima para baixo como observamos no sistema liberal capitalista e no socialismo e resumido no sistema chinês (4)!

O direito socializa-se passando-se de um direito dual (Igreja-Estado) para um direito plural (concorrência de interesses expressa em partidos).

Será do interesse do Estado manter sempre uma boa relação com as confissões religiosas até para não provocar a afirmação de confissões que unam o direito de Deus ao de César na própria comunidade, o que poderia tornar-se problemático num sistema secular pluripartidário meramente ligado a interesses civis (porque razões de poder poderiam levar grupos religiosos a organizarem-se em partidos com consequências imprevisíveis  para a sociedade ocidental… (a ponto de poder criar uma relação social político-religiosa  como se pode observar nas sociedades de religião muçulmana onde culto privado e culto público se unem dando-lhe maior consistência e sustentabilidade! As junções de poderes nas sociedades republicanas poderiam tornar-se num perigo para república laica.

Terá que haver sempre uma colaboração entre a ordem espiritual e a ordem secular no seguimento bipartido ocidental: a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

 

O Constantinismo conduziu a uma certa secularização do cristianismo e, por outro, a uma certa cristianização dos órgãos de poder (Criou-se também uma relação mais no sentido de cristandade do que de cristianismo genuíno)! Que Constantino tenha adoptado o Cristianismo e o tenha instrumentalizado como ferramenta para adiar a queda do império romano só revela a inteligência política de Constantino que tinha feito as suas experiências em terras ibéricas e sabia equacionar os problemas reais do império romano!

O secular e o natural têm de coexistir numa correlação complementaridade, tal como acontece na ordem da vida.

Para se avaliar diferentes biótopos culturais são necessárias criatividade e multi-perspectivas de observação para possibilitar a criação de impulsos inovadores na sociedade civil e religiosa.

Numa época em que todos os bons espíritos nos abandonaram, precisamos de reflectir para agir humanamente! Urge uma mudança de paradigma no tratamento da diversidade cultural do outro (parceiro e adversário), de maneira a permitir um fluxo na transversalidade e não de cima para baixo.  Em vez de se cultivar um discurso/diálogo num contexto orientado para a negatividade ou para o défice, o respeito e a compreensão cultural da diferença deverão conduzir a uma transversalidade de ideias e atitudes pela positiva e a reconhecer nelas potencialidades enriquecedoras de um lado e do outro, de maneira a poder-se encetar um caminhar comum! Interessante para a ordem do dia seria o que nos une e não o que nos separa!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7509

(1) O colapso da União Soviética tornou difícl a situação d a ortodoxia “Santa Rússia” (Rússia, Ucrânia, Bielorrússia)!  , Em 1992, numerosas paróquias ortodoxas separaram-se da Igreja Ortodoxa Ucraniana, que estava sob o controlo do Patriarcado de Moscovo. Em 2019 o Patriarca Ecuménico Ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, concedeu autonomia à Ortodoxia Ucraniana. O Metropolita Epifânio de Kiev disse: “Existe agora a Igreja Ortodoxa Ucraniana Autocéfala Ortodoxa. Cf.:https://www.deutschlandfunkkultur.de/orthodoxe-kirche-ukraine-100.html

(2) https://antonio-justo.eu/?p=7410

(3) https://antonio-justo.eu/?p=3336

(4) Uma unidade que por um lado favoreceria a razão de Estado é contrariada por diversificações do cidadão e das diferentes organizações ou cooperações concorrentes dentro do Estado numa diferenciação de interesses quer religiosos quer civis: ao deixar de haver um tecto religioso unitário de uma sociedade e paralelamente ao processar-se uma  diferenciação de mundivisões civis dentro de um estado, a  obediência civil que antes era indiferenciada passa a diferenciar-se também ela (concretizada em partidos e confissões religiosas) e assim em vez de termos o ceptro religioso e o ceptro monárquico passou o poder, com a República de espírito maçónico, a diferenciar-se de maneira acentuada entre o ceptro religioso de um lado e do outro o ceptro secular, uma espécie de monarquia sem ceptro (república) que em vez do rei tem o Presidente e o parlamento..

 

DIA DO ABRAÇO E SEU SIGNIFICADO

Um abraço directo e até na fantasia produz milagres, especialmente quando é mais prolongado. O toque é a primeira forma de comunicação!

Um abraço frequente com ternura e carinho serena o corpo e fortalece a alma. Abraçar, acariciar e beijar estimula no corpo (glândulas) a produção de hormonas de felicidade. Tem um efeito saudável porque a hormona oxitocina aumenta no corpo a hormona da felicidade e decompõe as hormonas do estresse.

A ciência ensina que uma criança que é muito abraçada e acarinhada alcança um IC (quociente de inteligência) mais alto. A proximidade do corpo e o contacto fortalecem o sistema imunológico. Abraçar pode baixar a pressão arterial e estabilizar favoravelmente o sistema cardiovascular. O abraço harmoniza a alma, evita agressões e aumenta a autoconfiança!

Estatisticamente, as pessoas sem parceiro têm uma expectativa de vida menor.

Nós, humanos, precisamos de mais proximidade com as pessoas, mas também temos que dar-lhes a chance de criar proximidade.

O dia do abraço pode ser uma oportunidade para o tornarmos mais consciente e sermos mais pródigos com ele porque é um grande presente, aproxima, dá saúde e faz crescer a alma!

O meu abraço apertado

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A ARTE DE QUESTIONAR

Uma sociedade-ideologia-opinião que não se questiona não avança

O filósofo Sócrates usava do método maiêutico (arte de realizar partos) para levar as pessoas ao conhecimento; para isso servia-se de perguntas, seguidas de respostas a que seguiam novas perguntas, como se ele fosse uma parteira a ajudar a parturiente a dar à luz a própria criança.

Numa sociedade clientela cada vez mais técnica, burocrática e manipulada de respostas empacotadas urge fazerem-se cada vez mais perguntas!

Perguntas podem tornar-se meios de esclarecimento e podem ajudar-nos a pensar e a investigar! Também podem ser refinadas e tornar-se perigosas!

É costume dizer-se que quem não questiona permanece estúpido; também não há perguntas estupidas, mas quanto a respostas sim.

Naturalmente, pode-se questionar tudo, desde a opinião geral à opinião individual! Uma notícia que apresentada na TV, ou noutro meio de comunicação social, é geralmente engolida sem ser mastigada nem saboreada; se o espectador se questionar sobre o porquê (motivo, posicionamento, frequência, objectivo)  da apresentação daquela notícia e não de outra, etc. conseguirá uma visão mais diferenciada do que acontece e o influi. Isso contribuiria para evitar o proselitismo divisionista de uma sociedade muito dependente dos media cada vez mais centralizados e controlados. As elites do poder já que não conseguem do cidadão uma fé comum procuram, o que é natural, criar nele uma opinião comum. O pensar diferenciado não ajuda o poder (nem agrada à massa anónima) mas serviria mais a evolução da pessoa humana e da população.

Há o perigo de projecções, mas também há questões que podem ser indigestas e que para serem “engolidas” e o seu conteúdo não provocar “tosse” precisariam mais tempo de ruminação. 

Perguntas perigosas podem tornar-se aquelas que questionam a opinião geral ou as pessoas que se consideram esclarecidas!

As perguntas estão no início de cada discernimento e são muito importantes porque mobilizam a nossa introspecção que leva à intuição! Por vezes, no momento da introspecção chega-se a questionar as próprias perguntas.  Uma pergunta decisiva vai direita ao cerne de um problema e a resposta a ela pode revelar o que se encontra por trás dos bastidores!

Também há perguntas cruciais que podem ter um lado negro porque as correspondentes respostas levariam a uma confissão ou colocam uma questão de consciência ou de algo que nos deixaria despidos!

Há também perguntas simples que querem saber por interesse no simples saber, mas também há perguntas interesseiras e como tal superficiais e manipuladoras!

As perguntas rectóricas, geralmente, não pretendem obter uma resposta mas também podem fazer parte de um jogo de truques retóricos que transformam opiniões em factos e factos em opiniões.

Uma pergunta muitas vezes oportuna seria: Quem beneficia com isto? O que é que está aqui em jogo? O que pretendes com isto? Porque perguntas isto?…

O perguntar tal como o pensar pode fazer doer, por isso muitas pessoas evitam questionar a própria opinião e a própria visão do mundo, o que aumenta o espectro das insinuações; também por isso temos mais ovelhas que pastores!

A pergunta é sempre legítima porque a questionação plural tenta libertar a pessoa do “lado certo” ou do “lado errado” e, deste modo, possibilitar um caminhar humano de todos em frente na procura da Verdade!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo