FELIZ SÃO VALENTIM! – DIA DOS ENAMORADOS

FELIZ SÃO VALENTIM! – DIA DOS ENAMORADOS
 

Os desmancha-prazeres: Sexo só com máscara!!!

 

É verdade que a vida é feita de momentos e experiências e quantos mais positivos houver melhor.

Mas imaginem: por muitos beijos que demos não chegam para ter um filho!…

Contudo, celebrar a vida e o amor é sempre um acto criativo e criador!

Imaginem que na Muitos beijos e muitas estrelinhas neste dia de São Valentim!

Tudo será de aproveitar, até para se sair da pasmaceira da pandemia!

Mas vejam lá o desplante! Imaginem estes desmancha-prazeres: Na Tailândia, hoje sexo com máscara!

As autoridades de saúde tailandesas pediram aos amantes para tomarem medidas pandémicas neste Dia dos Namorados – e que usem uma máscara quando tiverem relações sexuais!

Mais concretamente, o cúmulo da histeria: “Posições sexuais em que as pessoas se olham directamente umas para as outras e beijos intensos” devem ser evitadas. Nomeadamente, “sempre que possível, o uso de uma máscara durante o sexo pode reduzir o risco de infecção”(cita a HNA).

Afinal, quanto espaço vital é preciso para cada pessoa?

Aparentemente, a Corona torna-se também numa situação de liberdade condicional (estágio) para pessoas casadas. Imaginem-se os divórcios que virão!…

O que fazer com a sublimação da agressão oculta?

Para onde ir com a possibilidade de viver as próprias necessidades. As possibilidades estão a ser sistemicamente tiradas!

Um beijo virtual!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

UM EXEMPLO OU UMA PROVOCAÇÃO?

Talvez uma objecção justificada!

Em Kassel (Alemanha), os Samaritanos (ASB) isentaram do trabalho os empregados que não querem ser vacinados e continuam a pagar-lhes os seus salários. Na cidade e distrito de Kassel, a associação regional emprega cerca de 600 pessoas, 300 das quais no serviço de salvamento e ambulância.

Os Samaritanos são uma associação de assistência social e organização de ajuda (ASB) que ajuda  todas as pessoas – independentemente da sua filiação política, étnica, nacional e religiosa. O foco principal do seu serviço é:  serviços de salvamento e ambulância até serviços de saúde e sociais, tais como enfermagem! “Ajudar aqui e agora” é o lema da Federação dos Samaritanos!

Com isto dão um sinal errado ou certo?

Vivemos num mundo surrealista onde, por vezes, as decisões políticas são tomadas para além de toda a compreensão. Esta decisão dos Samaritanos corresponde ao espírito transmitido na parábola do Samaritano, saindo, também eles, da normalidade, tornando-se talvez por isso numa provocação para alguns!

É de admirar e justa a coragem mostrada pelos Samaritanos numa sociedade em que as trincheiras sociais se tornam cada vez mais fundas e em que cada um quer ter a razão toda sem deixar nada para os outros!

A atitude de mandar para casa os empregados não vacinados e de lhes continuar a pagar o ordenado parece contraditória ou até provocadora na nossa sociedade, mas talvez não passe de uma objecção justificada!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

“CAMINHO SINODAL” NA ALEMANHA – UM DESAFIO A OUTRAS VIAS SINODAIS

De Relevância é a Fé e o Amor e não a Homossexualidade

António Justo

Caminho Sinodal é o debate de reformas entre católicos em via em todas as dioceses do mundo; as diversas conclusões das assembleias sinodais ganharão expressão definitiva no acto final do sínodo em Roma, em Outubro de 2023. Até lá cada país vai agendando e concretizando as suas assembleias sinodais com as respectivas conclusões a serem aferidas depois de feita a caminhada!

Na 3ª Assembleia Sinodal em Frankfurt am Main, (3 a 5 de Fevereiro), que congregou bispos (os 27 bispados), leigos e associações representativas da igreja oficial na Alemanha, dos 14 textos disponíveis preparados em assembleias anteriores, foram trabalhados e votados os três (1) seguintes documentos como resoluções: 1°. “Para a conversão e a renovação. Fundamentos teológicos do Caminho Sinodal” e uma aprovação dos “não-homens” em relação ao tema “diaconato das mulheres”; 2°.  texto básico “Poder e Divisão de Poderes na Igreja – Participação Comum e Participação na Missão” e o 3°.  texto de acção “Envolvimento dos fiéis na nomeação do bispo diocesano”.

Os três textos foram autorizados e aprovados na segunda leitura como resoluções do caminho sinodal, com uma taxa de aprovação entre 74 e 92 por cento. A votação obrigava a um processo rigoroso: “Uma maioria de dois terços dos membros do sínodo – uma maioria de dois terços dos bispos (2)” … A Conferência Episcopal Alemã refere que mesmo nas votações, em que era exigida uma maioria de 2/3 dos membros episcopais da assembleia sinodal de acordo com os estatutos, isso sempre existiu” (3).  Exemplo da votação dos bispos: 41 sim, 16 não, 2 abstenções (Ver protocolos de votação por temas: exemplo, texto básico em alemão e inglês (4)).

O 2° documento determina que a igreja deve levar todas as pessoas a sério e não deve continuar a discriminar ninguém; isto é, homossexuais, divorciados, mulheres, devem ser apoiadas e reforçados a todos os níveis da igreja.

Em questões de homossexualidade parte-se do princípio que importante e decisivo deve ser a fé! A orientação sexual não deve desempenhar um papel neste contexto, para se poder cumprir a missão da Igreja à humanidade que se resume em proclamar a Boa Nova em todas as circunstâncias. Em todos os textos advoga-se uma igreja sem medos. Deve haver lugar para o humano, independentemente dos ideais que a igreja representa.

Quanto à função das mulheres na Igreja diz: “Não é a participação das mulheres em todos os serviços e ofícios da Igreja que requer justificação, mas sim a exclusão das mulheres dos serviços sacramentais”.  Objecto de discussão foram entre outros temas a moralidade sexual, o papel da mulher na compreensão do ministério e do poder eclesial.

Na Alemanha há muitos trabalhadores que têm vivido em uniões homossexuais (em segredo) , outros voltam a casar após o divórcio e pretendem participar nos sacramentos e trabalhar em actividades da igreja, sem medo. De notar que, na Alemanha, só a Cáritas (Católica) emprega mais de 600.000 pessoas a tempo inteiro (5).

O 3°. Documento decidiu que, no futuro, os fiéis de cada diocese devem estar mais envolvidos na votação para o bispo da diocese. Para já um corpo de cinco membros, incluindo duas mulheres, irá liderar a administração da diocese de Essen.

Ainda haverá mais duas assembleias sinodais na Alemanha até à Primavera de 2023, o que implicará ainda muita discussão pois, para já, caberá aos bispos e vigários gerais traduzirem os resultados desta assembleia em decisões concretas. Os sinodais e especialmente os bispos “reuniram” uma maioria de dois terços, mas o sucesso do processo de reforma “Caminho Sinodal” a ser revalidado legal, moral e teologicamente em Roma.

Deus está perto de todos independentemente das suas funções. Mas uma igualdade de votos de clero e leigos questiona também o assunto dos ministérios e da missão como indivíduo e como comunidade. Os coordenadores das assembleias revelaram discernimento ao proporcionarem votações também por grupos.

O caracter de missão institucional pode aplainar e facilitar a ligação. Deus é pai-mãe de todas as pessoas, todos somos filhos e como tal todos somos familiares de Deus. O padre é um servidor de Deus e a paróquia existe para todo o ser humano. A convicção cresce do interior não se devendo deixar influenciar demasiadamente pelos ventos, mas estes terão de ser tidos em conta para que o barco se mantenha à superfície das águas. As pessoas encontram-se em mudança e a igreja acompanha-as à medida que se muda (igreja peregrina). Não se trata das oportunidades da igreja nem de cálculos, mas de uma comunidade em peregrinação.

Como conclusão apresento uma Citação atribuída a Bertolt Brecht: “Quem luta pode perder. Aquele que não luta já perdeu”. Vista a coisa mais de perto a frase é mais própria da sociedade política do que da eclesial, mas torna-se mais verdadeira se substituirmos a palavra luta por empenho.

O seguimento de Deus pressupõe também estar atento aos sinais dos tempos, mas sem nos deixarmos subordinar ao espírito do tempo (Zeitgeist). Um outro aspecto importante a não perder de vista será a missão de cada um a nível individual, a missão de todos como comunidade e a missão da igreja no seu aspecto institucional; isto num tempo em que no Ocidente e só no Ocidente se luta contra o que é institucional, talvez para melhor ser conseguido o objectivo de se ir instalando, a nível universal um poder político anónimo.

Neste processo catalisador necessita-se muito cuidado e ponderação atendendo às diferentes perspectivas históricas e geográficas a nível mundial; de facto, as sociedades encontram-se em diferentes velocidades (também em termos de dioceses) o que pressupõe que uma sociedade progressista não imponha as suas passadas aos outros (este aspecto irá activar a luta entre mundivisões). Mesmo na história da Europa observa-se sempre uma certa dicotomia entre uma europa nortenha que aposta mais no individualismo e uma europa mais romana (católica) acentuando, a nível institucional, mais a comunidade! Se na Idade Média o espírito do tempo (Zeitgeist) abusava do indivíduo em favor da comunidade, hoje, ao contrário, no Ocidente o espírito do tempo esforça-nos a abusar da comunidade (instituição) em favor do individualismo. Precisa-se urgentemente de renovação, mas com moderação que não seja motivada apenas por indignações. (Em nota (6) apresento alguns dos meus textos relativos a este assunto)

Os sinodais e, note-se, os bispos “reuniram” uma maioria de dois terços, mas o sucesso do processo de reforma “Caminho Sinodal” a ser revalidado legal, moral e teologicamente será em Roma. O que serve a pessoa está com Deus, o que a não serve será triturado com as rodas do tempo!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo

Pegadas do Tempo

(1) 1° texto: https://www.synodalerweg.de/fileadmin/Synodalerweg/Dokumente_Reden_Beitraege/SV-III_1.1NEU_Synodalpraesidium-Orientierungstext-Beschluss.pdf ; 2° texto: : https://www.synodalerweg.de/fileadmin/Synodalerweg/Dokumente_Reden_Beitraege/SV-III-Synodalforum-I-Grundtext-Lesung2.pdf ; 3° texto:    https://www.synodalerweg.de/fileadmin/Synodalerweg/Dokumente_Reden_Beitraege/SV-III-Synodalforum-I-Handlungstext.BestellungDesDioezesanbischofs-Lesung2.pdf .

(2) https://explizit.net/kirche/artikel/feuerprobe-fuer-den-synodalen-weg/   De acordo com um inquérito, 74% dos católicos na Alemanha são a favor da abolição do celibato obrigatório para padres (Problema da representatividade).

(3) https://www.dbk.de/presse/aktuelles/meldung/dritte-synodalversammlung-des-synodalen-weges-in-frankfurt-am-main-beendet

(4) Protocolo de votação: https://www.synodalerweg.de/fileadmin/Synodalerweg/Dokumente_Reden_Beitraege/SVIII_3.1-Grundtext-Macht-2.Lesung_Abstimmung.pdf

(5) A nível nacional – os bispos já podem agora decretar pela sua própria autoridade que a homossexualidade já não é um critério de exclusão para o emprego na igreja. A aprovação de mais de dois terços dos bispos significa que algumas propostas

(6) “Francisco concretiza o seu Programa pontifical no Caminho sinodal universal (10.2021 a 10.2023)”: https://antonio-justo.eu/?p=6768

“O Sínodo Amazónia em Roma irá dar que falar – Novos caminhos para a igreja e para a ecologia integral”: http://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/artigo/o-sinodo-amazonia-em-roma-ira-dar-que-falar-novos-caminhos-para-a-igreja-e-para-a-ecologia-integral

A EXORTAÇÃO PÓS-SINODAL “QUERIDA AMAZÓNIA” https://antonio-justo.eu/?p=5803

A Igreja contra ela mesma?: https://bomdia.eu/a-igreja-contra-ela-mesma/

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO DIÁLOGO DOUTRINA-PASTORAL: https://www.linkedin.com/pulse/teologia-da-liberta%C3%A7%C3%A3o-di%C3%A1logo-doutrina-pastoral-ant%C3%B3nio/?trk=portfolio_article-card_title ou: http://antonio-justo.eu/?p=4047

“Alegria do Amor” é a ponta de lança do Vaticano II: https://beiranews.pt/2018/02/27/ponto-de-vista-por-antonio-justo-29/

CRISTÃOS E POLÍTICA

Um amigo perguntou-me à queima-roupa: “dado que o senhor é um crítico da ideologia do género, e como cristão (1), em quem vai votar?”

Certamente quer ouvir a minha opinião sobre o socialismo que está na base da ideologia do género. O cristão procura orientar-se por valores humanos e no centro dos seus interesses está o valor e a dignidade de toda a pessoa humana (o cristianismo mais que em ideias ou valores  resume-se na pessoa de Jesus Cristo, na pessoa precária na condição do Cristo abandonado); se houver um lugar  de preferência política será a de servir o bem comum começando pela promoção dos social e individualmente mais desprotegidos. Para o cristão  não há adversários, o que há, no máximo, são concorrentes na feitura do bem, do seu bem.

Para já faço uma grande diferença entre o socialismo que critico e os socialistas que compreendo e respeito.  O socialismo de caracter marxista e maoista é o atual  adversário do cristianismo mais forte; tem  pretensões a substituí-lo (2)como fé popular (embora, no meu entender ele seja o filho pródigo do cristianismo);  percebe-se como religião da nova era, e aproveita-se, à moda da época, do facto de nos encontrarmos numa época axilar da história, época de mudança e passagem,  onde domina a confusão alimentada por tanta novidade não digerida e caída no relativismo; serve-se também do utilitarismo pragmatista que caldeia socialismo e capitalismo numa argamassa própria (modelo chinês) no intuito de construir uma sociedade materialista-mecanicista-utilitarista; procura, ao mesmo tempo,  modelar um novo tipo de homem de moral meramente mercantilista-funcionalista.

As suas intenções não são explícitas porque apostam numa transformação estratégica da consciência social (daí também a sua aposta numa mudança radical da linguagem!).  O socialismo tornou-se numa religião secular, determinada a agitar os fundamentos da civilização ocidental; num ambiente de falta de modelos políticos convincentes, num ambiente de sociedade precária e em que a injustiça prevalece sobre a justiça, serve-se de algumas ideias sociais cristãs (doutrina social da Igreja) , pretendendo implodir o cristianismo por dentro! Como o socialismo se reveste de um caracter salvífico social religioso (num embaralhamento esperto que cria confusão) leva muitos cristãos a perderem, de maneira impercetível, o acesso à própria mundivisão cristã; tudo isto num baralho de ideias, sentimentos e factos que leva (pelo menos na avalanche superficial) à incompreensão do próprio cristianismo!

Por outro lado, o socialismo (falo de socialismo e não de socialistas!), embora longe de uma cultura participativa, conseguiu ocupar os púlpitos da sociedade (nos Média e especialmente na arte (3) onde assume um caracter litúrgico); aproveita-se dos lugares altos para fazer leis e programas educacionais que minam e demonizam as raízes da cultura ocidental, levando o povo a confundir a excepção com a regra. Dá-se a substituição da luta operária contra o capital pela luta contra os valores fundamentais do cristianismo ou seja, (a sua estratégia de luta anti cultural) contra  o ideal da pessoa integral e soberana, contra a dignidade da vida/supremacia da vida humana,  família, etc.; fecham-se em si mesmos (como outros partidos)  numa estratégia de embaralhar as mentes para não precisarem de esclarecê-las; joga em seu proveito a falta de programas e de modelos políticos convincentes; também é relevante  o facto de, com suas reivindicações terem conseguido melhoramento sociais substanciais nas sociedades europeias liberais. Como os outros partidos também se perdem neles mesmos, não resta a muita da população senão a ideia de, pelo menos, contribuírem para manterem a estabilidade do sistema, julgando essa opção como a melhor (segundo um estudo, cerca de 70% dos Portugueses querem estabilidade…)!

No meio de tanta informação e contrainformação, grande parte da população perde o acesso ao próprio pensamento (dado ser mantida baralhada/distraída através de uma liturgia televisiva com contínuas ideias e factos que não consegue digerir) e ao próprio sentimento, passando a viver num torpor emocional social que nos torna dependentes (de pessoas e ideias encenadas).

Quanto a nós cristãos, estamos chamados a participar na política através dos partidos, mas numa atitude de dissidência do poder. Jesus, já no deserto, se distanciou do messianismo político-judaico (ou partidário) afastando-se do pensamento politicamente correcto e dos movimentos políticos (Act 1, 6-9 e Cf. Lc 4, 15-30) porque estes, como em parte dos discípulos, a preocupação era questionar-se em termos de poder. Ao contrário, o que movia Jesus era o humano-divino e a sua boa nova era para e pelo rebanho tosquiado pelos que pretendem ser seus donos!  Para Jesus o lugar do poder é o do servidor e para isso, em termos políticos e de sociedade, seria necessário inverter-se os valores de modo a ser também ela invertida! Sim estamos chamados, a votar e, certamente, também a ser políticos.

Na constelação política em que nos encontramos será necessário que os cristãos entrem, de forma consciente em diferentes partidos para de dentro poderem fermentá-los no sentido de Deus que se expressa, em política cristã, como povo! O Papa Francisco alerta: “Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum».

A consciência do cristão continua, em termos cristãos, a ser soberana independentemente da vontade de instituições ou de outras criações humanas!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Ideologia do Género: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/nao-a-educacao-para-uma-cidadania-de-perfil-marxista-e-maoista

(2) Anticristianismo:  https://saiaonicolau.blogspot.com/2021/12/um-texto-de-antonio-justo.html

(3) Arte: https://antonio-justo.eu/?p=4345

PROTECÇÃO DO AMBIENTE E DO ABORTO NA CARTA DA UNIÃO EUROPEIA? – UMA CONTRADIÇÃO

Na Época das Contradições o Contrário torna-se habitual

O presidente francês Macron,  numa mensagem ao Parlamento Europeu em Estrasburgo, a 19 de Janeiro, pediu que a protecção do ambiente e o direito ao aborto sejam incluídos na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (1). Na defesa dos dois direitos manifesta-se uma contradição flagrante.

Um direito oficial geral que permite aos nascidos disporem dos nascituros como desejarem é contra a vida porque, na generalidade, justifica uma equiparação das diferentes formas de vida pelo estádio mais baixo. Deste modo, Macron alinha-se indirectamente nos círculos alternativos que promovem a rejeição dos princípios do tradicional Estado de direito. De facto, é um contrassenso recorrer-se à eliminação da vida humana para se resolver um problema humano! Que lógica há entre defender a natureza e ao mesmo tempo a legalização contra ela (trata-se aqui de leis e não de excepções a elas!).

Será de esperar da natureza do direito defender a afirmação da vida natural e social; que o direito contemple a liberdade da mulher também faz parte da essência do direito e da liberdade humana. O princípio de “o meu ventre pertence-me a mim” é válido antes e depois da fecundação!…

O Papa Francisco concretiza: “A dignidade de cada ser humano é intrínseca e aplica-se desde o momento da concepção até à morte natural”. (Doutro modo, instituições, grupos sociais apoderam-se do direito de determinar sobre a vida ou sobre a morte dos outros!)

O que aqui coloco em causa não é o direito individual de cada mulher poder abortar e não ser julgada; o problema neste intento do presidente francês é dar poder ao Estado de, na consequência, poder vir a fazer regulamentações arbitrárias segundo a ideologia governante, cada vez mais orientada por critérios materialistas e utilitários à margem de princípios humanitários banalizando para isso a vida humana de modo a não ter de a considerar nos actos de poder. Na consequência pode até tornar-se delito o acto de alguém rezar pela protecção da vida num lugar onde vidas geradas sejam sacrificadas independentemente de razões.

Por um lado, muitas pessoas têm a ideia de já haver demasiadas pessoas na Terra e, por outro, está-se a compensar a falta de nascimentos no Ocidente com o recrutamento de imigrantes devido às necessidades económicas! Numa lógica mais humana, porque não favorecer a deslocação de mais empresas para sociedades mais fecundas?

Ao introduzir o direito de matar no rol dos direitos humanos relativizam-se esses próprios direitos; o mesmo se diga quanto à aceitação da pena de morte!

A sociedade europeia parece encontrar-se envelhecida não só sociológica, mas também espiritualmente, ao considerar o humano como um ser para a morte e como tal implementar o suicídio de valores que a engrandeceram e tornaram singular ao afirmar a vida humana como um dom que nos supera! Encontra-se em processo o desrespeito pela dignidade da vida humana… Toda a cultura tem um tecto metafísico ou espiritual; uma vez tirado esse tecto tudo fica exposto ao aspecto do temporal de forças desordenadas ou de ciclones locais. Uma vez chegados ao reino das ovelhas serão também supérfluos os pastores!

Ao destronarmos o humano como valor supremo deixa este de o ser à imagem divina tornando-se possível reconfigurá-lo por modelos de vida menos elevados, até se chegar ao estádio da amiba.

Uma sociedade, onde governos e parlamentos considerem a humanidade como uma praga e se transformem eles mesmos na religião das religiões, prepara a largos passos o seu fim porque passa a não ter espaço para crescer dado o institucional ser apenas um serviço!

Por um lado, preocupamo-nos em criar condições climáticas, de ambiente e de protecção à natureza, o que é bom e justo, mas, por outro, criamos condições para maltratar o meio ambiente do útero materno!

No meio de tudo isto encontram-se em conflitos interesses materialistas e interesses espiritualistas!

Na Época das Contradições o Contrário torna-se habitual; o que vale só são afirmações! Os cangalheiros da cultura europeia (2) preparam o seu enterro destruindo os valores que a tornaram adulta! Os que defendem os mais débeis são desmontados (2).

 António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7021

(1) Os Direitos Fundamentais da União Europeia proclamados em 2000. A federação europeia One of Us (Um de nós) recordou que “a sociedade civil europeia já demonstrou, através da Iniciativa de Cidadania Europeia realizada em 2014, que recolheu 2 milhões de assinaturas, que o direito à Vida é o principal direito fundamental a ser protegido em qualquer sociedade”.  A maioria dos 27 estados membros da UE permite o aborto a pedido ou por motivos sociais gerais, excepto Malta e a Polónia, que têm fortes leis pró-vida.

(2) Na tolerância da intolerância despede-se a Europa: https://antonio-justo.eu/?p=6911

Que liberdade queremos: https://antonio-justo.eu/?p=6954

Ridicularização de símbolos culturais: https://antonio-justo.eu/?p=6946