DAS FLATULÊNCIAS DA NAÇÃO – ESQUERDA RADICAL NÃO DIGERE BEM O SEU RESSENTIMENTO CULTURAL

Celebração da “Victória” bloquista pela Aprovação da Lei da Adopção por Pares homossexuais

Por António Justo
Em Portugal passou a ser permitida a adopção e co-adopção (10.02.2016) por pares homossexuais. Para celebrar a festa da “vitória”, o Bloco de Esquerda, publicou um cartaz com a imagem do “Sagrado Coração de Jesus” com os dizeres “Jesus também tinha 2 Pais”. A esquerda radical, instrumentaliza assim a decisão parlamentar para uma campanha de “afronta aos crentes”.

Celebram uma vitória de quem contra quem? Será a vitória do direito dos pares gays e lésbicos contra os direitos das crianças? Ou será que a República portuguesa sente problemas  de má consciência, vivendo bem do medo e da afronta como estabilizadores de um poder que se estabiliza  através de uma tática de permanente guerra civil camuflada e que se alimenta mais das  armas da emoção do que das da argumentação?

A ferocidade cultivada, que se constata por parte da esquerda radical numa tentativa de estabelecer uma imagem pública de catolicismo como inimigo comum, revela um estado doentio de sociedade e de civilização. Porquê tanto zelo, seja da parte de quem for? Será frustração, será recalcamento, será ressentimento ou o mero efeito de uma primariedade infantil embalada no jacobinismo que veio nas fardas dos soldados das invasões francesas?

Os bloquistas prestaram um mau serviço a si próprios porque desmascaram aqui como noutras ocasiões o seu espírito trotskista e anticristão que os domina; meteram no saco ateu os Gays e as lésbicas negando-lhes a capacidade de espírito religioso ou de fé); revelaram total ignorância teológica partindo do princípio de que o Deus dos cristãos é masculino; além da incongruência de reclamarem para si uma paternidade divina, esqueceram-se que Jesus tinha uma educação heterossexual (bipolar) da mãe Maria e do pai adoptivo José; a sua pretensão de, com o exemplo apresentado, quererem estigmatizar os católicos que se declaram contra a educação unipolar que em nome de um direito se afirma à custa da discriminação da criança justifica em nome de ideologias contrárias até à ciência que define a origem de doenças patológicas adquiridas através de genética, contágio e hábitos sociais. A Igreja católica é atacada por se declarar defensora dos sem voz e indefesos e naturalmente também por incomodar aqueles que quereriam fazer o que bem lhes apetece e não suportam qualquer resistência e que em nome de um direito cultural ideológico, com benefício emocional e económico próprio, pretendem que a criança não tenha o direito a ter uma educação de referência masculina e feminina, com diferenciação bipolar pai-mãe, para a reduzirem a uma experiência unipolar de pai-pai ou mãe-mãe. O Zelo cega-os e prejudica-os porque 1°- o problema de adopção gay será uma questão passageira (ciências da educação e psicológica já prevê défices psicológicos para tais casos de perfilhamentos com enormes despesas de tratamentos psicológicos – o futuro terá a última palavra; na Alemanha, já há vários anos para dar cobro aos défices psicológicos e educativos de crianças que crescem predominantemente em casa das mães, procura-se nas creches e infantários empregar-se mais homens para compensarem possíveis défices) e 2°- muitas pessoas que votam no BE passarão a votar no PS porque não reconhecem no BE mais que um grupo de ideologistas armados em feiticeiros que brincam não só com o dinheiro do povo mas também com as suas crenças! Um partido que queira manter a sua sustentabilidade não pode basear a sua doutrina só na ideologia e no abuso, no abuso de normas e de ideais.

Incongruência de uma esquerda filha (pródiga) do Cristianismo

Por vezes observa-se uma certa incongruência e ignorância numa esquerda radical que embora seja filha do cristianismo – o portador e gerador dos valores e direitos humanos da civilização ocidental – vive numa contínua fase adolescente, numa atitude de revolta de filho contra os pais. Falta-lhes uma certa maturidade para compreender possíveis mazelas. O respeito pelas sensibilidades das pessoas é tão importante como os arrazoamentos sejam eles mais ou menos brilhantes.

Na discussão pública logo se formam hostes com as tradicionais valas como se a liberdade e a verdade se pudesse limitar a um só campo e cada disputante não tivesse direito a uma opinião própria sem ser denegrido ou negado. Na controvérsia chega a notar-se até ódio. Esquece-se que o ódio é pai e filho, ao mesmo tempo! A intolerância, tal como a estupidez humana, é infinita, não pára nos crentes nem nos não crentes, no saber e no não saber! Também não justifica a estupidez do falar com a do estar calado seria argumento para inocentes! O ser humano faz-se falando!

A minha liberdade começa onde a dos outros tem a possibilidade de se mostrar de cara levantada. É atitude atrevida querer defender os valores da própria liberdade à custa dos valores da liberdade dos outros; tentar identificar a liberdade com uma mera opinião é reducionismo e inferioridade moral!

Enfim, o que Portugal mais precisa é da fraternidade universal cristã (que inclui o amor ao próximo e não só aos do clã), sem os talibãs da política nem da religião.

Na controvérsia desnecessária iniciada pela provocação do BE revela-se um estado latente de ressentimento na sociedade portuguesa que germina como um cancro que continuamente produz novas metástases, fomentadoras de um espírito cobarde ao saber que pode atacar sempre os símbolos e a sensibilidade dos cristãos, sem consequências.
Resumindo: Em questões de política e de poder o problema de um lado é febre e do outro é fome!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARTICIPA NUMA CELEBRAÇÃO INTER-RELIGIOSA NA MESQUITA NO DIA DA SUA TOMADA DE POSSE

Decisão digna também digna de alguma Indignação

Por António Justo
Segundo informou “ O Público”, Marcelo Rebelo de Sousa iniciará o seu 1° dia presidencial participando, a 9 de Março, numa celebração inter-religiosa na Mesquita de Lisboa.

A decisão de Rebelo de Sousa é corajosa e muito oportuna. É uma iniciativa inédita num estado republicano habitualmente mais virado para a burguesia estatal e para a burguesia citadina do que para toda a nação. Com este gesto inovador o Presidente parece encontrar-se no espírito do Papa Francisco ao desprender-se da “influência curial”, abandonando o tradicional alojamento papal para se albergar na casa vaticana de hóspedes. Aqui, o presidente parece distanciar-se um pouco de uma jacobina influência institucional republicana, para se tornar num republicano sem dolo mais perto do povo. Naturalmente que o presidente, tal como todos nós, não estará imune de um  espírito  concorrente de madrasta da  “Branca de Neve“ !

Com este gesto inovador o Presidente aponta para a importância de a República integrar e reconhecer o valor da religião dentro de um Estado e no convívio com as nações. De facto uma República com um Estado que tem sido de confissão agnosticista timbrada por actores que em vez de a melhorarem a pioraram, precisa da participação e integração de todos num Estado que não se quer só partidário mas também religioso e de várias mundivisões.

Atendendo ao insólito da decisão do Presidente, na qualidade de tal – num país de maioria católica – ir rezar à mesquita, haverá razão para nos perguntarmos sobre o que estará por trás de tal iniciativa. De facto, a iniciativa desconcerta gregos e troianos só podendo dar consolo aos muçulmanos. (Terá talvez a vantagem de levar o cidadão a reflectir sobre as coisas sérias de que geralmente não fala por ter de andar a correr atrás das decisões económicas e do jogo de sombras da política).

Será que o senhor presidente quer, com este gesto, dizer que a paz no mundo terá de partir das mesquitas?

Quanto à ideia que a imprensa sugere de o Presidente querer lembrar na mesquita a imigração dos muçulmanos para a Europa e o terrorismo muçulmano, será que isso quererá ser um apelo aos estados árabes para também eles acolherem os seus irmãos de religião? A Arábia Saudita tem em Meca tendas, para albergar mais de um milhão de peregrinos, que se encontram vazias durante 11 meses do ano! De não esquecer o conceito de democracia e de diálogo inter-religioso do presidente turco Erdogan: “A democracia é apenas o comboio, em que subimos até que tenhamos chegado. As mesquitas são as nossas casernas, os minaretes nossas baionetas, as cúpulas nossos capacetes e os fiéis os nossos soldados “ (1).

A ideia de, no acto litúrgico, se lembrar a tragédia humana dos refugiados fugidos para a Europa não pode ser fundamento para tal decisão quando, ao mesmo tempo, se querer mostrar a sua atitude contra o terrorismo. Donde lhe vem a lógica? O islão é a raiz do terrorismo islâmico; na sua actuação tem mostrado que quer a submissão não a paz. Segundo a auto-compreensão islâmica, em geral, o gesto de Marcelo Rebelo não passará de um reclame por eles, um sinal de auto-humilhação voluntária do presidente para com o Islão, que de si consideram superior; naturalmente, a maior parte dos Imames dirá que o Islão é uma religião pacífica, como costumam dizer em palestras, por estarem obrigados a dizê-lo pela lei islâmica da Taqiyya ou “Disfarce Religioso” (2). Aqui é que se encontra o busílis da questão!

No meu pensar, a iniciativa simbólica seria muito de louvar, se o lugar do encontro inter-religioso fosse na Igreja da Estrela, num estádio de futebol ou num monumento do Estado de carácter neutro. No caso a iniciativa só dá que pensar: Os mistérios dos deuses são insondáveis e o povo português para despertar precisa de uma terapia de choque! Antes tarde que nunca, esta é a hora!

Por muito controversa que a decisão seja, também terá o mérito de ser um grande apelo às instituições e aos órgãos de um Estado laico para arredarem caminho da sua política de interesses sectoriais e divisionista e que se expressa no desmantelamento de símbolos cristãos no espaço público e ocupação da escola com ideologias em desfavor da religião e moral como se o Estado laico dependesse da luta contra o catolicismo; ao mesmo tempo torna-se num aviso de que as instituições religiosas nacionais devem afirmar a integração e o diálogo nacional no sentido do bem-comum.

Uma questão que se repete: se ao tomar medida tão ousada, porque não ser numa sinagoga ou num templo budista? Torna-se difícil elevar os corações para Deus numa casa islâmica de culto  quando a religião islâmica é aquela que hoje mais provoca o mundo e se afirma como portadora do fascismo e uma vez que a Liga dos países árabes continua a ter como objectivo declarado a sua infiltração na Europa e quer ver no mar os israelitas. O islão não conhece a separação entre Estado e Religião.

Seria de desejar que não seja uma cedência à fé no relativismo, da opinião politicamente correcta – uma atitude em que se tropeça por toda a União Europeia. A doutrina reinante nos capitólios do politicamente correcto parece continuar a querer apostar no genuflexório de Maomé, porque julga que das mesquitas é que corre o leite do petróleo. Que a política árabe esteja mais conforme com os que se encontram nas sendas do poder, lá isso é certo, mas também que não se falsifique a realidade tornado como exemplo uma religião que espalha o terror por toda a parte. Uma explicação mais simples e corrente da opinião politicamente correcta baseia a adulação em torno de Meca na cobardia do medo e na vénia aos petrodólares.

Para muitos Rebelo de Sousa presta assim uma vénia ao poder em voga e abusa das religiões no sentido das suas intenções. O Presidente tem, porém, uma desculpa, ao escolher uma mesquita como palco de referência e reverência, porque, certamente, como a grande maioria de quem fala e opina, não conhece o Corão nem a vida de Maomé que é seguida hoje à letra pelo “Estado Islâmico” no intuito de instituir a sharia. Não tenho nada contra os muçulmanos: são muitíssimo melhores que o seu profeta Maomé, a grande maioria é correcta e não deve ser enxovalhada por ter a mãe que tem. O problema vem apenas da simbologia e dos símbolos que se escolhem quando estes implicam subestima para uns e demasiada consideração para outros num Portugal que se quer português, para poder ser europeu e universal.

O Presidente Rebelo de Sousa será o presidente da reconciliação, enfim, um estadista com carácter e que contrariará o hábito de uma condição de Estado republicano sem ideia própria nem coluna vertebral. O dia de que falamos é o seu primeiro dia. O presidente é um homem que quer paz e não vassalagem!

Esperemos que consiga uma mudança de atitude do Estado, na sua maneira de estar, como conseguiu o SPD alemão, ao reconciliar-se com a grande maioria do povo alemão, através da renovação do seu programa em Gudensberg, deixando então o SPD de ser um partido marxista.

A simbologia do acto de colocar uma grinalda de flores no túmulo de Camões e a inovação de colocar também uma no túmulo de Vasco da Gama é muito respeitável e de alto significado! É uma homenagem à arte, à cultura, ao espirito português universalista e um apelo ao fomento da união de todos os países da lusofonia. Com o acto religioso lembra que Portugal foi grande enquanto tinha um objectivo e uma missão comum que o motivava em nome de uma ideia religiosa espalhadora do humanismo universalista sem ser nacionalista. Que o português, apesar de cristão, também tenha cometido muitos erros só prova que ele continua a ser Homem e continua a precisar de dominar em si o animal feroz que realmente é. Encontramo-nos todos no séc. XXI, o que exige de todos uma evolução.

Não há ninguém sem culpas nem erros; do erro dos que fazem e dos que criticam surge a grande possibilidade para o avanço, desde que sejamos Homens de boa vontade e não agarrados ao próprio osso. Podemos perdoar esta ao nosso Presidente, e pedir perdão por nossos maus pensamentos e palavras, embora não me passe da ideia que o estimado presidente não tenha marcado um golo em fora de jogo; importante é que não se torne em mais um penalty que o Estado jogue contra a própria cultura e contra a nação. Neste caso o tiro poderia sair-lhe pela culatra e quem ganharia o jogo seria o islão e a consequente velha lógica dos machos fortes que se identificam com a sua estratégia do continuar assim como dantes.

De resto, resta dizer “calma na Madeira que Portugal é nosso”! Recomenda-se a quem for ao acto religioso que, ao despedir-se, o faça com um oxalá (“‘in sha’ allh”) ou com um simples “queira Deus” que o Homem queira! …
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

(1) A Arábia Saudita tem enviado milhares de milhões de euros para a construção de mesquitas radicais (Wahabitas) no estrangeiro que colaboram com os centros diplomáticos sauditas no sentido de alastrar o islão. Os Wahabitas e os Salafistas representam o islão radical. Dos centros salafistas saem muitos combatentes europeus pelo “EI”. A Arábia Saudita apoia com dinheiro o presidente turco Erdogan que desde cedo tem feito tudo pela islamização da Turquia e não arredou da sua estratégia de islamizar a Turquia, outrora mais liberal, e o estrangeiro com a presença turca, segundo o modelo da citação acima que fez de um livro religioso. https://www.youtube.com/watch?v=4nmi2w3ZqXA http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/2270642.stm As mesquitas não se têm revelado como lugares de fomento da compreensão e da paz, como se verifica também na Alemanha. Das mesquitas, às sextas-feiras têm surgido violências organizadas pelo mundo fora e a recruta de terroristas para a causa do EI. O que vale à Alemanha é o seu sistema de controlo.
(2) “Disfarce religioso” é uma estratégia muçulmana em que a mentira é justificada desde que seja usada no interesse do islao, no sentido de fazer valer os seus interesses na “Casa da guerra” /Dar al-Harb), compreenda-se a terá não islâmica. http://derprophet.info/inhalt/taqiyya-htm/

HUMBERTO DELGADO UM DIPLOMATA QUE ESCREVIA “RREPÚBLICA” COM DOIS R

“Quais são os maiores pulhas e hipócritas? Os Monárquicos ou os Republicanos?” O Governo ou a Oposição?

Por António Justo

Humberto Delgado fundamenta, no seu livro “Da Pulhice do Homo sapiens – Da Monarquia de vigaristas pela República de bandidos à Ditadura de papa”, de maneira realista e profética a razão do contínuo adiamento do desenvolvimento de Portugal e da sua governação.

Humberto Delgado fala da “República tuberculosa de nascença”. Escreve República com dois R, esclarecendo: “RRepública” com dois R, em que um é dos roubos”. “Nihil sub sole novum” (Ecl. 1:9)!”

Recomendaria a leitura deste livro a todos, especialmente a quem quer compreender as razões da corrupção do Estado e da nossa “revolução” (coloco o link com o livro em nota (1 e 2). A sua leitura poderá esclarecer a razão porque o regime de Abril fomentou uma atitude fanática republicana na avaliação tanto do regime de Salazar como do regime do 25 de Abril.

Cidadãos que sentem as dores de um Portugal devidas à sua oligarquia decadente, tal como os emigrantes, que não se serviram nem foram servidos por nenhum dos regimes ou governos, bem como uma nova juventude, serão os que melhor poderão compreender e sentir a razão de um Humberto Delgado amargurado e furioso por amor à nação.

Humberto Delgado – A Voz de um Profeta no Descampado da Nação

A linguagem que Humberto usa não se distingue da que encontramos hoje nos meios sociais. A razão do seu escrever não se distingue da do nosso escrever e que ele bem resume: ”É esse patriotismo, ferido por ver a gente que compõe o pseudo-escol do meu país, quem escreve este livro, raivoso por se sentir impotente para a liquidar”. Diria: raivoso por verificar o beco sem saída a que as nossas elites nos conduzem e a um dissabor na nossa consciência por aguentar a desonra.

Como se fosse hoje, fala da “canalha política que salva o país nos cafés e nos ministérios”. Do rei D. Carlos diz: “O rei, um rei constitucional, que afinal pouco mais é que um objecto de adorno… com muita medalha, figurava como culpado dos males nacionais desde a chuva abundante à seca mortífera”.

Da cumplicidade entre conservadores e progressistas, diz: “A política dos partidos monárquicos resumia-se a isto: “escalar o poder, para satisfazer a vaidade ou para comer…”. Fala da “canalha progressista” e do espírito anticatólico referindo: “Dias Ferreira estadista dos mais sérios da monarquia dizia: ’À frente dos negócios públicos em Portugal têm estado verdadeiras quadrilhas de ladrões.’ “Vê o leitor o que era a administração dos políticos monárquicos. A da república foi idêntica”… “É do domínio público a fobia que se criou pelas missões católicas, dado o espírito intolerante dos que se dizem republicanos, como se fizesse algum mal que o preto aprendesse a carpinteiro, a ler e a adorar a Deus… Pois apareceram as missões laicas, e todos sabem o que foram, pretexto de embarque de todo o malandro e prostitutas, para as colónias.” Humberto Delgado hoje em vez de dizer monárquicos e republicanos diria: esquerda e direita, governo e oposição.

Ontem como hoje o servilismo ao estrangeiro frutificam em nome da crise ou do internacionalismo e de um progressismo simplicista e barato que substitui o grande ideal civilizacional intercultural por correntes ideológicas. Humberto Delgado critica também os políticos republicanos e monárquicos que “puseram a sua pena ao serviço da causa da União Ibérica” pondo neste rol Passos Manuel, Teófilo Braga, Oliveira Martins e Antero de Quental que em “Portugal perante a revolução de Espanha” defende: “Nas nossas actuais circunstâncias o único acto lógico e possível de patriotismo consiste em renegar a nacionalidade”.

Por aqui se pode compreender melhor o interesse dos heróis da descolonização de Abril 74 no sentido da desmoralização e da desnacionalização do povo português e a pressa em inculcar bezerros de ouro contra uma fé antiga que estaria aberta à novidade. Na primeira república como no 25 de Abril o que dominava era a ideologia e os interesses individuais, que não a coisa pública.

“O portuguesinho só quer direitos, honrarias, pergaminhos; mas deveres? – Isso, trabalho é bom para o preto”. Com o 25 de Abril repetiu-se o que já se fez no início da república (e na revolução de 1820 como se tratasse de criar uma nova civilização), deu-se então cabo das escolas industriais porque só se queria uma república igual de meninos de liceu: “Em resumo, cada um fazia o que queria. – Pois bem: proclama-se a república; e então passa a ser assunto obrigatório do discurso a tirania do regime deposto”. Deste discurso se alimentam hoje os “históricos” da revolução, num povo insubmisso mas obediente com uma direita desempenhada e uma esquerda ultrapassada a viver dos cartazes e punhos cerrados, do funcionalismo público, de um sindicalismo jacobino, do jornalismo educado e até mesmo de intelectuais distraídos.

O discurso confessional de um Abril (primavera para os mais iguais), com as suas jaculatórias de “fachos”, “imperialistas”, “fascistas”, “ditadura” , a ponto de tanto ser repetido, ganhou foros de verdade, aquela verdade trágica que impede uma análise séria ao novo regime e legitima a sua corrupção (em nome de um bem ou de um mal esconde-se a própria maldade): uma sociedade que vive a fugir do seu passado ou só a apostar no “progresso” é traidora e desonrada, porque desconsidera a sua mãe prostituta para se meter com outra na cama, sentindo-se honrada só por se cobrir com os cobertores da igualdade, fraternidade e liberdade.

“Quais são os maiores pulhas e hipócritas? os monárquicos ou os republicanos? Eu estou na situação do burro de Buridan para o dizer.” Em resumo: „Enfim anarquia, indisciplina e estomago”.

Fala ainda dos “criminosos esbanjamentos da fazenda pública, destas sindicâncias que se iniciam e nunca se acabam, destes escândalos em que uns e outros se atiram punhados de lama e donde ninguém sai para a cadeia”… como se estivesse a falar hoje de políticos, juízes, banqueiros, PPPs e de cargos políticos ou de seus boys na economia

Concluindo

Na descrição de Humberto Delgado, cidadão condecorado em Novembro de 1957, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis, demarca-se a explicação e protesto contra uma mentalidade medieval estática (muito embora compensada por uma dependência incomparável das modas) que cria e repete uma situação nacional de contínua frustração e desengano, transmitida historicamente por partidos e pela governação.

Somos uma sociedade mais perita no tratamento dos sentimentos do que no lidar com os fatos; é manifesta a falta de experiência da argumentação e de sentido da realidade.

Mais que uma História de Portugal ou uma história da revolução temos uma História de figurinos, que se repetem. O problema de ontem que Humberto Delgado descreve – um país demasiado pequeno para engordar demasiados barões republicanos – é idêntico ao de hoje (se observamos a história dos partidos e dos governos de Portugal a partir dos meados do século XVIII e em especial do século XIX, nada mudou qualitativamente, nada se aprendeu, os mesmos figurinos só se repetem em nome do cinismo glorioso da liberdade). As oligarquias portuguesas são muito intelectuais mas são burras, não aprendem, só se repetem e justificam no seguimento do jugo estrangeiro.

Por um lado somos um povo com reminiscências guerrilheiras lusitanas abafadas e por outro lado somos um povo demasiadamente amarrado ao destino e ao fado, sempre pronto a criticar pessoas mas desinteressado na análise e na crítica dos factos, e actuando segundo a tirânica divisa “negócios são negócios”. As elites foram educadas a só fazer o que a classe “mais alta” espera delas, cada um anda só a um passo de distância do outro mas quer ser identificado por uma diferença que os torne melhores que os outros. Concretamente tanto elites como povo vivem do controlo externo e funcionam em função do exterior; falta um ideal, um objectivo e uma missão que os une e atraia.

A receita para sairmos da entropia e de tal fadário seria, por um lado, distanciarmo-nos da herança muçulmana que vive de uma filosofia de afirmação das incompatibilidades – atitude do emaranhado antagónico – pronta a ver a culpa (responsabilidade) sempre fora e, por outro lado, passar a assumir uma postura de compromisso que inclui o rectificador da dúvida, instrumento do pensamento europeu, que nos livra da certeza calcinante e possibilita o desenvolvimento e a mudança numa dinâmica inclusiva e não exclusiva.

Portugal, tal como o povo israelita, a caminho através de um deserto agressor, precisa de readquirir um ideário e um consenso nacional. Quando se abdica do ideário ou da fé entram as diferentes correntes que em redemoinho desorientam o povo. Daí a necessidade de se permanecer sempre em jogo entre um fechar-se e um abrir-se, de modo a o novo não se independentizar mas a ser integrado e renovar o já possuído.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) Primeira parte do livro: https://8125a631-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/maislusitania/maislusitania/da_pulhice_do_Homo_Sapiens_I.pdf?attachauth=ANoY7cptslEcFTnQpQSns0O67CgW-6PEst0Qc5V_G4ldM6XLNh0Ajo8vXPVwp2pWVUIXeP4RnndSlxj8LNM4V9HaCo-K-LyhH8d_NOsADZrbv98hGDey1FxitTM2WLPe_A8arPaeGhgWlEQVl7SaxiKMhw8Cx514Z23b6sJZEbcLpxcMyUmrVLO4zOJbB2iDIzdAxmPaPPzs717C4L7MHdhDandIomRGZKowRBn8lR2aJKY-IjW2Z_h_E85dbUucDH7qWq4tfmBd&attredirects=1
(2) https://8125a631-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/maislusitania/maislusitania/da_pulhice_do_Homo_Sapiens_II.pdf?attachauth=ANoY7cpnG2uT1UljqRwiDgckSEXfNSfyOJ7pFA_KEouEABwnkvIfLuvA_sZG_HaDNknxqfFBbIcpK2SIGWdLTb335Sp5kiSMP3xWyOXiWzqPILKnqm5kQfclSb2DZ2zhy1Mtg2ocIb5z3AmTTJACCnr4vKZ74fXSCrccHYzQz8I0OxqWH_XWwQ9xo9m88uD1iavjkA7z3Cr3xTqM4hKkMVbB2cbBOs2mzxo1VqK-CtcUvdC4yOdTR76ubd65EZj3u8SnV-7z8bF2&attredirects=0

EUTANÁSIA ENTRE IDEOLOGIA CONSCIÊNCIA E ÉTICA

Nascer Viver e Morrer mais que um Direito é Graça

Por António Justo
A vida é feita de luz e sombra; a morte é a sombra da vida; a matéria é a sombra do espírito. Afirmar a sombra sem a luz, defender a cultura da morte sem ter em conta a cultura da vida, corresponderia a um reducionismo da existência à sua sombra, significaria a negação da vida, porque, a que temos é polar, é um todo feito de dor e alegria. Se nos preocupamos só com a sombra perdemo-nos no abismo do ser, esquecendo que a sombra é apenas uma ilação da luz e que a paixão inclui a ressurreição!

A discussão sobre a eutanásia oferece a oportunidade de se reflectir sobre a existência nas suas componentes, vida e morte.
Hoje, a pressão de ligas e organizações internacionais (organizações da ONU, Bruxelas, certas Faculdades universitárias, etc.), sobre a opinião pública e os parlamentos, é de tal ordem que se cria, nas opiniões públicas nacionais e parlamentos, a ideia de que seguir aquelas é moderno e sinal de desenvolvimento. Fatal para o desenvolvimento qualitativo é que o povo não pensa, segue a moda.

Prática na Alemanha

A Alemanha, antes de publicar a lei sobre a Eutanásia, teve uma discussão pública alargada e sem cólicas sobre o assunto; a ela seguiu-se o debate parlamentar com muita profundidade e dignidade, deixando fora o discurso ideológico e político-partidário, cada deputado decidiu apenas à luz da sua consciência. O parlamento proibiu o suicídio assistido e criminalizou o comércio com a eutanásia.

Concretamente: nem indivíduos nem empresas podem funcionar como serviços de apoio à eutanásia. Quem fizer negócio com um medicamento mortífero que entregue a uma pessoa com cancro/doença incurável, é ameaçando com 3 anos de prisão. O suicídio em si não é penalizado. Na Alemanha a ortotanásia (abreviação da morte desligando aparelhos e renunciando ao emprego de medicamentação de prolongamento da vida) é permitida desde que o moribundo o tenha declarado em estado consciente. Neste aspecto a Alemanha pronunciou-se no sentido de uma sociedade de valores cristãos.

Prática na Holanda

Na Holanda, na Bélgica e no Luxemburgo a eutanásia é legal mas mete medo a muitos idosos que, com receio que os familiares disponham sobre eles, preferem emigrar: http://www.dw.com/pt/idosos-fogem-da-holanda-com-medo-da-eutan%C3%A1sia/a-1050812

A ética secular serve-se do relativismo como doutrina

Platão defendia a eutanásia para a pessoa inútil à economia e à sociedade. Na antiguidade era comum a prática do homicídio contra as crianças deficientes. Hitler procedia de igual modo, desde que a doença fosse atestada por três médicos.

Nalgumas sociedades ocidentais e em sociedades materialistas comunistas regista-se uma tendência para a elaboração de leis (pena de morte, aborto, eutanásia e outras) que se baseiam apenas numa filosofia utilitária e pragmatista, muitas vezes elaboradas contra os próprios ideais da Constituição. Parte-se de um princípio de liberdade como posse e de vida como produto na praça do mercado.

De uma maneira geral, os defensores da eutanásia fundamentam a sua opinião no materialismo que relativiza a vida humana, não a aceitando como valor máximo e negam-lhe qualquer sentido metafísico, reduzindo a existência a mero processo de forças biológicas naturais. Pretendem um diagnóstico e uma decisão sem a análise das suas consequências.

Na sequência de uma ética secular (laica) a “eutanásia selecionadora ou eugénica” será aplicada a recém-nascidos no sentido da selecção social. Como se fala hoje da eutanásia falar-se-á amanhã da purificação da família, do povo ou da raça.

Querem uma ética pragmática servidora do momento e da ocasião, chegando até a contestar o imperativo categórico de Kant: a fórmula sumula do desenvolvimento da ética e do conviver humano (“Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal.”).

O reducionismo relativista e materialista, de que pecam muitos defensores da eutanásia, é alérgico ao pensamento integral e complexo; refugiam-se na ilusão de querer construir uma realidade semelhante a um rio com a água mas sem o leito.

Ética religiosa

A ética cristã bem como a moral das religiões em geral (budismo, induísmo, judaísmo e islão) é contra a eutanásia e contra o matar. O valor ético e moral da integridade e dignidade humana tem prioridade sobre princípios económico-políticos subsidiários.

A ética cristã, uma ética da excelência, que se aperfeiçoou, crivando as vivências dos diferentes povos e culturas ao longo dos séculos, considera a vida como bem maior e, como tal, a promover e defender e, consequentemente, não a interromper. Na Bíblia o rei Saul (Samuel 31, 1 a 13) pediu a morte e, como o escudeiro o não matasse, Saul atirou o corpo sobre a espada para se matar mas os desígnios divinos revelaram-se mais fortes, tendo ele sido finalmente morto por um filisteu. Jesus até recusou, livremente, o hissope.

A Encíclica Evangelium Vitae indica: a eutanásia é crime contra a vida e contra a dignidade humana pois a vida, e em especial a humana, é sagrada (inviolável). Uma coisa é causar a morte (eutanásia activa) e outra coisa é deixar morrer; o cristianismo não quer a dor mas reconhece também na aceitação da dor, em estado consciente, a oportunidade para crescer espiritualmente, dado a vida ter vários estádios e continuar depois da morte. Consequentemente a compaixão comporta o prolongamento da vida e não da agonia. Os analgésicos e a ortotanásia, desde que não tenham como causa directa a morte, são meios importantes em muitas situações, também na possibilitação de uma expressão mais condigna com a pessoa no estado moribundo. Neste sentido ainda há muito a fazer!

Controvérsia

O facto de os cuidados paliativos não impedirem “por inteiro a degradação física e psicológica”, como argumentam os que querem a antecipação da morte por suicídio assistido ou por eutanásia activa (um terceiro mata), não é suficientemente fundamentado, como medida geral, contra a morte natural ou contra a eutanásia passiva (suspensão de terapias de prolongamento da vida determinada por testamento vital – distanásia – previsto na lei desde 2001).

Em Portugal a recomendação da eutanásia torna-se cínica quando mais de 50% pacientes terminais morrem sem poderem ter acesso aos Cuidados Paliativos, consignados na Lei nº 52/2012 de 5 de setembro: cf. http://cdn.impresa.pt/efe/684/8198872/Posicao_da_APCP_-sobre-manifesto-PEut-vfinal.pdf

A controvérsia é boa para o apuramento de conclusões elevadas e para o crescimento humano intelectual e espiritual. A controvérsia é perniciosa quando enquadrada em posições estanques que querem ver tudo regulado pela lei.

Um direito implica a liberdade de escolha e esta não é plausível no nascer e no morrer. Fala-se do direito à morte como se fala de um direito adquirido ou um poder outorgado a executar em plena liberdade e como se uma pessoa em estádio terminal que dá trabalhos estivesse isenta de qualquer coibição psíquica ou social sendo-lhe indiferente o peso e o encargo que a sua situação representa para os familiares e para o próximo. Não é lógico, em nome da liberdade, recomendar uma decisão que exclui definitivamente uma outra alternativa posterior. O problema da liberdade para a eutanásia vem da irreversibilidade do acto. Os actos livres implicam sempre uma alternativa possibilitadora de continuidade. A vida é um dom, a morte é problema e não solução… O medo da dor, mais que da morte, leva à conclusão falaciosa de que o morrer é que dá dignidade à vida e não a vida que dá sentido e dignidade à morte.

Muitos adeptos da eutanásia activa, contraditoriamente ao seu argumento de liberdade humana, recusam ao Homem a sua capacidade de liberdade negando a validade da sua subjectividade, ao alegar que o ser humano não pode preservar a subjetividade que o assiste.

Com o argumento de que a vida nos foi imposta e da formação que nos foi dada, consideram-nos seres condicionados que, realmente, também somos, mas não só; este condicionamento não lhes dá o direito de nos condicionar e formatar segundo os seus princípios modelares, querendo-nos, para tal, reduzidos à animalidade inicial, negando-nos uma obediência orgânica para nos outorgar uma obediência de lógica ideológica. Este reducionismo é consequência de um reducionismo maior que consta de elaborar e conceber a vida em termos só racionais, esquecendo que a pessoa é feita de Razão e Coração e a razão pode ser enganada ou confundida por diferentes lógicas tal como o coração por diferentes emoções ou sentimentos. Nem o princípio coração nem o princípio razão têm o senhorio sobre a vida ou sobre a realidade; o Homem completo consta de Razão e Coração numa relação de complementaridade. Se houve tempos em que as elites das sociedades menosprezavam as faculdades da razão hoje menosprezam as faculdades do coração.

A pessoa não pode ser reduzida à biologia, aos padrões de uma dada sociedade ou época nem tão-pouco à jurisprudência; nem sequer pode ser considerada como mero objecto, dado este conceito delimitar o cidadão a um objecto de direitos e deveres, na perspectiva da polis.

Quem se legitima nisto como juiz? O facto de a constituição reconhecer ao Homem o direito à vida não é ela que a dá ou a tira nem a lei criada por um parlamento pode ter poder de deliberar sobre existência ou não existência de uma pessoa. O apoio humano limita-se ao calor humano e à diminuição da dor. A pessoa tem “direito” a ser feliz na vida independentemente de esta ser considerada no além e no aquém; nem sempre a saúde é um pressuposto de felicidade como prova a existência de muitos deficientes.

O moribundo tem direito a uma morte digna e tranquila, o que não inclui o direito ao abuso nem ao homicídio por compaixão. É dolorosa a situação de familiares que assistem a moribundos ou pessoas em estado vegetativo. A sociedade deveria acarinha-los e assisti-los não os deixando sós na responsabilidade e na dor. Esta pode ser uma oportunidade para se optar mais qualidade de vida.

A assistência a moribundos é um assunto muito delicado e controverso que não deveria provocar posições radicais. É insuficiente ficar-se por propostas que pretendem uma ética temporal meramente pragmática sem ter em conta a experiência secular da ética religiosa e sem a deontologia médica. Este é um assunto que não se pode solucionar com uma simples “receita”. É louvável o facto de esta matéria, ao contrário de outras, estar a ser objecto de uma discussão na opinião pública antes de chegar ao parlamento.

A existência seria chata se não fosse o movimento; nela também a controvérsia é um passo no sentido da vida.

Reflectindo

O direito de morrer com dignidade deveria constituir um dado geral aceite, o que não implica desresponsabilizar a pessoa pelos actos que faz, ou tirar por lei a responsabilidade a quem mata como se estes fossem privados de consciência e não houvesse meios de evitar não matar.

Enquanto as pessoas de moral responsável discutem a defesa da vida, as pessoas tendentes ao poder agem contra ela, caindo no equívoco de que na vida se pode ter tudo na mão e de graça. A despenalização da eutanásia revela-se um mau caminho que abre espaço aos negociantes da morte e a uma vida mais leviana e irreflectida.

A defesa da cultura da morte, do aborto, da eutanásia parte de um princípio hedonista e materialista da existência. Evita a reflexão e a controvérsia séria, preferindo uma receita que embote a consciência popular. Ao falarem do direito a decidir sobre o próprio destino esquecem que o ser humano é influenciável sendo difícil poder fixar o limite entre o objectivo e o subjectivo. A vontade também está sujeita a medos… Faz-se da liberdade tabu esquecendo que esta é apenas um factor importante de vida mas a vida tem muitos outros reguladores sem os quais seria impossível a sua expressão.

A religião transmitiu valores construtivos, optimistas e positivos contrariados agora pelo niilismo que não pára perante a destruição pessoal como se a pessoa se reduzisse a uma ideia abstracta ou a uma nostalgia passageira ao serviço de interesses e ideias fortemente encaixilhadas. Em nome da terra e da “realidade”, negam a sua atmosfera ou consideram-na como algo distante e pesado como se a transcendência não tivesse sido o oxigénio que mantem e desenvolve o ser humano. Mataram Deus e na sequência querem a morte do Homem espiritual. Desiludidos de Deus e do espírito viram-se agora para a terra embrutecida – materialismo- querem a população prisioneira da “caverna platónica” sem luz, a viver da escuridão e da tanatofilia, como se a perspectiva da luz fosse algo contra a vida e iludisse a realidade da morte.

Culpabilizam a religião de se opor a soluções simplicistas ou de surgir como obstáculo ao exigir reflexão. Querem a dignidade vinculada à circunstância e não à pessoa para a porem à disposição da ideologia em favor de um poder ad hoc. Demonizam, por vezes, a religião cristã pelo facto de esta ver no Homem um absoluto. O poder ideológico secular encontra-se em rivalidade com o religioso quando, no sentido do Homem, se deveriam complementar; aquele constrói a sua força na aquisição de seguidores quando a força motivante e movente deveria ser o bem integral e integrante.

Muitos não vêem com bons olhos a renúncia que apela à metafísica, à imagem do esforço da natureza ao tentar erguer-se na procura do Sol; não basta a ilusão de que a natureza do Homem se reduz à procura de um lugar soalheiro mas sem Sol; de facto, equivaleria a exigir do Homem uma outra renúncia: a renúncia a si mesmo para, na qualidade de mero elemento, se colocar à disposição da matéria que, com o seu poder inerente, seria reduzido ao poder do mais forte, contradizendo a herança cultural e ética judaico-cristã e dos povos que levou a civilização ocidental ao nível em que se encontra nos seus aspectos positivos e negativos.

Muitos militantes da eutanásia revelam-se, na consequência, contra a consciência humana que é uma percepção dinâmica de luta pela liberdade, uma luta das forças escuras contra a luz que ilumina a “caverna” platónica.

Consequentes na sua negação de Deus e da ordem criada tornam-se tão imateriais na sua especulação chegam a defender o direito de nunca se ter nascido! Esta posição que consequentemente legitimaria a prática da selecção darwinista social que motivou Hitler a mandar matar deficientes e a mandar castrar pessoas com certas doenças hereditárias: tudo isto em nome de uma liberdade e de uma felicidade que veria em cada deficiente um infeliz a quem seria dado o direito de se antecipar à dor e assim voltar ao estado do não criado e assim, à sua custa, a sociedade tivesse mais disposição de bens materiais.

A liberdade individual é uma consequência da espiritualidade e do desenvolvimento humano; a liberdade humana revelou-se como força inclusiva e não exclusiva, possibilitando assim a arquitectura cultural e social a que chegamos. É interessante verificar-se pela arqueologia que o desenvolvimento da sociedade começou em torno da morte (lugares de culto). A vida não nega a morte nem a morte nega a vida; ambas são duas formas de estar da existência.

O desejo da morte assistida (eutanásia) surge, por vezes, da falta de assistência e solidariedade por parte da sociedade e do próximo, que não se querem responsabilizar porque consideram a existência reduzida aos seus aspectos de luta primitiva e individual pela vida. Desvinculam o ser individual do ser social (zoon politikon) para que a sociedade se possa desenvencilhar, sem dores de pensamento nem custos, do que se torna incómodo e daquilo que a poderia comprometer.

Nestas coisas não chega uma política do levantar a mão no parlamento. Também não é bom fomentar-se a má consciência, nem tão-pouco estimular a consciência leviana, mas sim possibilitar discussões públicas sérias e reflectidas para que, cada cidadão se levante da massa e possa tornar-se mais consciente para se orientar e decidir com o máximo de conhecimento e liberdade: só então pode ser responsável e tomado a sério nas decisões que toma.  A discussão sobre a eutanásia – matéria muito complexa – não pode ser encurtada por uma política ou ideologia qualquer, até porque as massas abdicam da reflexão e da própria responsabilidade julgando como matéria segura o que se encontra legislado e dado a vida e o seu sentido implicarem uma reflexão das diferentes disciplinas complementares, desde a bioética, à medicina e à teologia. A pessoa e a vida não devem ser relativizadas, devem ser reconhecidas como bens absolutos que, na modelação da própria vida segundo o imperativo categórico kantiano, superam o poder dos Estados (A pena de morte, para um cristão significa a usurpação do estado que exerce o poder sobre algo que o supera).

O direito de decisão é conferido por Deus ao indivíduo (a religião apenas o formaliza); nenhuma ideologia ou lei poderá assumir-se o direito de o manipular ou de se livrar dele mesmo quando sob o pretexto de ajuda. A lei e a norma tendem a fazer de um caso todos os casos embora a consciência de cada um seja inalienável.
É fácil apregoar-se como filantrópico a oferecer às pessoas o direito de acabarem com a sua vida ou com a vida do outro em seu nome ou das circunstâncias.

O cristianismo acentua a assistência solidária e caritativa na morte, também com o emprego de paliativos, respeitando sobretudo a consciência individual e a responsabilidade da decisão reflectida de cada um. Não chega ver as ondas da superfície; é preciso criar-se espaço para se poder perscrutar e sentir o que elas encobrem das profundezas do mar. Esta é a advertência necessária mas sem coibir!

A vida é o positivo da existência, é optimista não se deixando perder em qualquer beco pessimista sem saída nem tão-pouco reduzir-se ao seu negativo. A vida chama e tem um sentido e este é infinito; a existência inclui nela o Sol que dia-a-dia convida a natureza ao esforço do levantar-se para a luz. Que seria da borboleta se no seu estádio de casulo, em nome do direito e da liberdade, fosse impedido o seu desenvolvimento!

A alma treme perante o vazio, mas entre os calafrios pressente, no extremo do túnel da existência, uma luz quente que sempre brilha e a espera!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo: www.antonio-justo.eu

Nota: Literatura sobre o assunto: https://www.passeidireto.com/arquivo/2271425/eutanasia/5;
https://antonio-justo.eu/?p=3112 ; http://www.palopnews.com/index.php/cronistas/antoniojusto/1828-a-eutanasia-e-a-morte-organizada ;

LUSOFONIA ECONOMIA E MERCADO

Um Desafio aos Grupos económicos do Espaço lusófono

Por António Justo
Num tempo em que a Europa se encontra em grande crise e as suas potências procuram beneficiar da sua posição económico-geográfica para proteger e fomentar os seus vizinhos mais próximos em detrimento dos países da periferia e benfeitorizando também as suas relações económicas com as suas antigas colónias, seria de grande oportunidade uma união de esforços em todo o território lusófono, não só no sentido do fomento de projectos culturais comuns mas especialmente na elaboração e fomento de um espaço económico comum que privilegie o parceiro lusófono tal como as potências privilegiam os seus parceiros imediatos.

Só em conjunto se conseguirá reagir contra o neocolonialismo das multinacionais das grandes potências interessadas em criar estruturas de dependência tecnológica e económica que amarram os países indefesos aos seus mercados e às suas condições. Disto deveriam estar conscientes os países do espaço lusófono. Um pensamento criativo conjunto, em termos de concepção e projeto futuro, podê-los-ia possibilitar passos alargados no sentido de superar o colonialismo económico das grandes potências, bem como o encalhe em nacionalismos fechados que uma História lúcida já não permite.

Sem tabus, seria óbvio fazerem-se reviver ideais formulados nos tempos do regime de Salazar – necessariamente adaptados às realidades dos países lusófonos actuais – e ver o que ele tinha realmente de visionário a nível de afirmação das antigas “províncias ultramarinas” como parte de um espaço económico comum, numa consciência de complementaridade.

Já no regime de Salazar se concebia a ideia de uma confederação do espaço de multiculturalidade e interculturalidade afro-luso-brasileira correspondente a um mercado comum a beneficiar do mercado europeu: „A formação de um grande e de um só mercado, assegurando a um tempo a comunhão de todos os territórios nacionais sem qualquer diminuição, bem ao contrário, da autonomia de cada um, rasgará horizontes tão vastos que neles caberá a igualdade efectiva de condições, seja qual for o chão português onde labutem, a quantos vivam para criação da riqueza nacional. „In http://eurohspot.fcsh.unl.pt/site/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=391 Não se perca tempo nem se continue a adiar a História com aconteceu no regime de Salazar e aconteceu especialmente no regime do 25 de Abril.

Numa altura em que a economia Portuguesa ainda se encontrava ligada às províncias ultramarinas portuguesas e à EFTA, entre 1960 e 1973 o rendimento nacional por habitante crescia a uma média superior a 6,5% ao ano! “Nos anos 60 e até 1973 teve lugar, provavelmente, o mais rápido período de crescimento económico da nossa História, traduzido na industrialização, na expansão do turismo, no comércio com a EFTA, no desenvolvimento dos sectores financeiros, investimento estrangeiro e grandes projectos de infra-estruturas. Em consequência, os indicadores de rendimentos e consumo acompanham essa evolução, reforçados ainda pelas remessas de emigrantes”, constata a SEDES.

A EU (Zona Euro) beneficiou as infraestruturas portuguesas (autoestradas) mas destruiu a agricultura e as pescas e promoveu a desindustrialização do país. As mesmas consequências sofrerão países emergentes (como os do espaço lusófono) que verão as suas economias confrontadas e dominadas pelas multinacionais e amarrados a tratados comerciais e de investimentos internacionais do tipo TTIP que favorecem as grandes potências interessadas em mercados para exportação ou para fortalecimento das suas empresas.

O espaço da Lusofonia é extraordinariamente rico em recursos naturais, humanos e culturais e um excelente exemplo de interculturalidade. Urge portanto, na luta selectiva dos mais fortes, a união de forças no sentido da solidariedade construtiva entre os países mais fracos para não deixarem definir o seu futuro da economia pelos outros, que a exemplo dos bancos vivem bem dos “juros” que os clientes têm de pagar ad infinitum. Facto é que o tempo das economias nacionais já faz parte do passado; não se pode deixar a determinação do futuro ser só determinada pelo consumo e o lucro.

Portugal deveria estar muito interessado, como membro do grande mercado da zona euro, em favorecer o fortalecimento da economia e do intercâmbio da imigração lusófona no espaço europeu. A grandeza de um tal espaço e da população ofereceria a base necessária à formação de grandes grupos económicos com capacidade de concorrerem com os tradicionais grupos das multinacionais que hoje dominam. O espaço intercultural lusófono poderia tornar-se num exemplo de economia social do mercado.

Um tal projecto implicaria a formação de grupos de trabalho ad hoc (redes de técnicos e especialistas) a nível dos ministérios da economia e dos grandes empresários e Bancos  dos diferentes estados da lusofonia. Neste sentido deveriam trabalhar também as universidades de todo o espaço lusófono preparando o caminho com pesquizas, trabalhos de doutoramento e o intercâmbio na aplicação, no lugar, de um saber conectado e de orientação lusófona.

António da Cunha Duarte Justo