Fundamentalismo religioso versus fundamentalismo científico

Tensão entre Razão e Fé

Hoje há muita gente que não aguenta a tensão entre razão e fé. Partem do princípio de que um autor ou é razoável, isto é, científico ou, quando muito, autor de literatura edificante. Na religião cristã porém, fé e razão encontram-se juntas. A fé é conforme à razão e possibilita em colaboração com os métodos científicos verificáveis uma forma própria do conhecimento e do reconhecimento. Há vários caminhos e instrumentos para abordar a mesma realidade.

Cada vez se observa mais, em sectores mais esclarecidos, na tensão fé-razão, uma forma de colaboração interdisciplinar a nível das universidades e doutras instituições. Cada pessoa parte duma perspectiva preconcebida ou pré-formada.

Da variedade das perspectivas, na consciência de que a realidade nos transcende e transcende a própria percepção, surge a pluralidade e a possibilidade de desenvolvimento.

Com respeito à realidade, a Jesus e a Deus a perspectivas são inúmeras atendendo a que não há uma imagem da realidade, de Deus, uma imagem de Jesus. Por isso seria um pressuposto elementar da discussão a tolerância das imagens. Umas ao lado das outras na interdisciplinaridade podem possibilitar aumentar o ângulo de visão da realidade.

Muitos ideólogos e opiniosos encontram-se ainda prisioneiros duma concepção estática de ciência ultrapassada do século XIX, o mesmo se dando com os prisioneiros duma visão de fé como se pode verificar no Islão ou nalguns biótopos cristãos.

É do conhecimento de muitos que Religião, arte, poesia não podem ser julgadas ou criticadas apenas com métodos e critérios racionais nem tão-pouco a razão chega para explicar a realidade. Assim como há um fundamentalismo religioso também há um fundamentalismo científico. Estruturalmente não há diferença entre os fundamentalismos, as crenças políticas religiosas e científicas atendendo ao adiantamento do conhecimento de hoje. Há vários mundos e várias verdades: a factual, a política, a religiosa, a científica, a da arte, etc. O importante é que elas se não definam pela contradição mas no discurso e na consciência da própria relatividade contribuam para a Verdade no acontecer. De resto, na verdade, o contrário também é verdadeiro. Ela é processo. A obstrução está quando vive à sombra da política, da economia, da religião…

A dificuldade é que muitos, também na política e na ciência ainda não realizaram a mudança copérnica e muito menos ainda a mudança provocada pelas teorias da nova física, as teorias da relatividade quântica. As pessoas continuam a comportar-se como espectadores de diferentes palcos cada um pensando que só o seu teatro é que existe.

A discussão pública é conduzida por sentenças dogmáticas bipolares medíocres propagadas por multiplicadores simplistas com uma mentalidade própria de acampamento militar (trincheira). A ciência só pode explicar sectores parciais da nossa realidade. Naturalmente que para se alcançar a maturidade científica, o conhecimento científico ou experiência religiosa não se torna fácil mesmo para doutores da ciência e da religião.
A necessidade humana é que determina o uso e o usufruto. Seria miopia querer reduzir a necessidade humana e as potencialidades humanas a um ou outra coutada, a uma ou outra interpretação.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Dia da mãe

O dia da mãe foi introduzido oficialmente nos Estados Unidos da América em 1914 para honra da mãe e da maternidade.

Foi a concretização dos desejos da escritora e defensora dos direitos da mulher Ann Jarvis. Ela queria chamar a atenção para a importância do trabalho das mães.

Da USA o costume passou para a Inglaterra e depois para o resto da Europa. A partir dos anos trinta muitos Governos premiavam as mães que tivessem muitos filhos. Na Alemanha a mãe que tivesse quatro ou mais filhos era condecorada com a “Cruz da Mãe”.

Então era uma honra ter muitos filhos. A sociedade e a política precisavam de soldados ou de descendentes que constituiriam uma espécie de seguro de reforma para os pais.

Nos anos sessenta e setenta assiste-se à mudança do papel da mãe. A sociedade e uma certa política questionam o papel da família e o trabalho da mãe. Os políticos estavam interessados em fomentar a consciência de cidadãos individualizados e abertos ao espírito do tempo, sem vínculos… A sociedade e a economia precisavam de mãos de obra para o trabalho começando consequentemente a depreciar o trabalho de casa e com ele as donas de casa. Assim se mobilizam as mães para as fábricas. A sociedade tem maior massa disponível.

Desenvolve-se uma consciência ambivalente à custa da mulher. Por um lado consideram-se as mulheres com emprego fora de casa como mães desnaturadas e as que ficam em casa a cuidar dos filhos como mães ultrapassadas.

Por outro lado o salário do homem já não chega para satisfazer as necessidades crescentes. A natalidade reduz-se drasticamente causando grandes problemas económicos e sociais. A compensação da fraca natalidade com a importação de pessoas (imigração) cria problemas sociais.

Na União Europeia assiste-se a uma política de fomento da procriação com prémios ou incentivos através da redução de impostos. Duma maneira geral os partidos conservadores procuram fomentar medidas de defesa da família com filhos e os socialistas querem fomentar a produção de filhos ou a imigração com medidas que não estabilizem a família. Mais que mães querem parceiras! Na antiga Alemanha socialista (DDR) o dia da mãe era visto como um dia reaccionário. Esta nuvem continua no espírito de muita gente que se entende progressista.

Assim, a família continua à disposição.

Por tudo isto, o dia da mãe cada vez se transforma mais no dia de negócio com as flores!…

O dia da mãe em Portugal celebra-se no primeiro Domingo de Maio; na Alemanha no segundo.

Parabéns a todas as mães!
Parabéns a todas as famílias!

António da Cunha Duarte Justo

Festival da Canção

Europa de Leste contra a Europa Ocidental

Sérvia venceu o festival da Eurovisão em Helsínquia. Na satisfação e expressão da vencedora passava o acto remissor dum país demasiado humilhado pela Europa vizinha… De notar que todas as antigas repúblicas jugoslavas deram à Sérvia a pontuação máxima que eram 12 pontos.

Independentemente da qualidade das músicas e textos do Festival, uma coisa se tornou evidente: a solidariedade da votação entre os estados do antigo bloco de leste. Nele se tornou manifesta a existência de duas Europas. Na hora da música do Pacto de Varsóvia, os sequiosos vencem sobre os de estômago cheio.

Atendendo à grande quantidade de países pequenos do antigo bloco de Leste, os países da Europa ocidental não terão grande oportunidade de alcançar boa qualificação quer na pré-selecção dos países quer na classificação final dos festivais.

É agradável notar nos países da periferia o empenho e campanhas televisivas para que os seus conterrâneos, que vivem emigrados no estrangeiro votem no representante da sua nação. Devido ao facto da presença migrante nos países de imigração, aqueles podem, através da sua participação telefónica influenciar os pontos a distribuir pelos países onde vivem. É a lei da competição.

Portugal sem oportunidade
Em alguns meios questionam-se todos os critérios de votação. A continuar assim os países da Europa Ocidental perderão sempre. Alguns falam já da necessidade da divisão dos países participantes em dois grupos para as meias-finais e no fim só deixarem votar os participantes.

A nível de cálculo de justiça distributiva terão razão mas a nível duma política europeia de integradora dos povos isto só acentuaria ainda mais as diferenças. Haverá porém meios de diminuir as injustiças. De resto, estas são o nosso fiel companheiro até ao fim dos tempos, se “outros maiores valores” se não levantam!

O maior problema põe-se para países ocidentais da periferia como é o caso de Portugal. Este, no vigente sistema de votação, nunca chegará a alcançar os pontos suficientes para poder passar para lá das meias-finais. A Alemanha, a Espanha, a Franca e a Inglaterra participam automaticamente nas finais pelo facto de serem os principais financiadores do Festival.

O critério definidor da qualidade da música e das letras das canções é muito subjectivo dependendo principalmente dos gostos de públicos e de familiaridades culturais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Portugal a Caminho do Absurdistão?

Não se passa um dia sem que na imprensa portuguesa se relatem absurdismos de entidades do regime democrático português. Fala-se de abstrusidades na escola, na justiça, na administração em geral, no moralismo governante, nas nomeações, no desemprego sempre crescente, no anedótico do dia a dia, etc.

O caso que agora se passou na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) parece ser apenas a ponta do iceberg fascista /estalinista duma administração pública que persiste em continuar na do “orgulhosamente sós”.

O professor de Inglês requisitado pela Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) foi agora suspenso por ter gracejado sobre o processo da licenciatura do Primeiro-ministro na Independente. A directora do DREN justifica (1) o afastamento do professor com o comentário do professor.

A decadência moral provocada por abrilistas levianos e oportunistas é tão grave que estes já se atrevem, em nome do novo regime, fazer em pleno dia o que os do antigo reservavam para a escuridão da noite. O regime partidário parece cada vez perder mais a vergonha. Cidadãos são incriminados pelo facto de terem opinião. Uma administração que rouba a maioridade aos cidadãos em que nome fundamenta a discriminação? Terá o Estado a necessidade de governar com o medo e a insegurança. Isto é muitíssimo grave pelo facto de acontecer num regime que se define pela sua demarcação perante os regimes totalitários. A administração pública lembra a terra maninha onde a irresponsabilidade ganha continuidade e se perpetua. Quer-se aumentar o poder dos governantes à custa da dignidade dos cidadãos apezinhada. Uma administração, que já não é capaz de reconhecer na natureza dum comentário anedótico o seu próprio espírito submisso, anseia inconscientemente pela ditadura.

O professor bem tentou desculpar-se (2) mas a nossa administração não conhece a graça, a gratidão, ela vive do ressentimento, no domínio entre pensar e obedecer.
A governança parece esconder-se por detrás do tabu estatal actuando preventivamente através duma administração pidesca e de bufos. Neste como noutros sectores cada vez se observa mais a intervenção duma política restritiva do estado de direito em favor dum estado vigilante e ciumento.

A senhora directora, embora prosélita, aos olhos democratas, prestou um mau serviço ao Primeiro-ministro e a Portugal.
Será de desejar que o zelo da directora, ao suspender o antigo deputado do PSD, não será de motivação partidária atendendo a que grande parte da administração pública relativa ao ensino se encontra, pelo que conheço, quase exclusivamente nas mãos de filiados nos partidos de esquerda. Embora estes se encontrem em maioria, isto não justifica atitudes nem direitos totalitários.

Numa sociedade em que tudo se torna anedótico, em que “o serviço” autoritário da administração pública não suporta a opinião, o Estado pode continuar a manter o presente processo no segredo dos deuses. Para os mais atentos, com a sua atitude, a directora torna o primeiro-ministro cúmplice deste sistema. Já os romanos sabiam: “aquele a quem se permite mais do que é justo, quer mais do que é permitido”…
Num Estado em que servir-se do Estado e do Povo é mais rentável que servi-los, tudo é possível. O mau serviço é apenas uma acumulação de fragilidades. Temos responsáveis que brincam ao faz de conta. Num país de curiosos da vida, os camaleões do poder parecem proliferar de modo especial. Continuamos a viver da apagada e vil tristeza dum fascismo que apenas acompanha a moda no camuflado. Na sua essência continua estático, centralista, autoritário. Esta macrocefalia pode verificar-se também na centralização não só do poder como de tudo o que é representativo na região de Lisboa.
Um País de Balda
A administração como colónia de férias da eficiência e de beneméritos sindicais e partidários, a migração como escapatória da capacidade criativa, tudo faz de Portugal uma sociedade anónima de responsabilidades delegadas.
Um sistema que não toma a sério os seus destinatários e desconhece o dever de assistência para com os seus subalternos vive da dessolidarização. A subserviência, o cálculo, a hipocrisia e a cortesia estimula também na administração portuguesa um comportamento autista sem frontalidade.

O insucesso dos alunos não é apenas o insucesso parcial do sistema escolar. As escolas tornaram-se campo de férias da inteligência e Portugal cada vez se torna mais campo de férias das virtudes que o tornaram grande no passado. Um país porém não pode estar sempre de férias reduzindo o trabalhador a dependente, a escravo.

O espírito esclavagista permanece aninhado, embora de rosto domingueiro, nas nossas repartições estatais; o insucesso e uma certa ineficiência generalizada são o mal dum sistema num país de balda. O fascismo está em todas as cores; com o 25 de Abril ele apoderou-se descaradamente das administrações estatais.
Portugal não tem problemas orçamentais nem problemas de formação académica.
Os problemas são de gestão e de capacidades, uma questão de mentalidade. Duma maneira geral domina a mediania dos “iluminados do hábito” e a ideia de que a verdade é partidária.

Num país de bonzinhos não chega ter políticos bonzinhos. Não basta que Portugal continue a definhar dos remédios e mezinhas que sempre toma. Já chega de ejaculação de ideias ocasionais, de tanta verborreia abrilista. Eles comem tudo e não deixam nada. Eles apoderaram-se e continuam a abusar do 25 de Abril, como pastilha que tudo cura. Quando tal não temos povo, não temos Portugal; também Portugal terá que emigrar.

Na ditadura não há espaço livre, ela apodera-se das administrações para que os chefes se apoderem dos súbditos e estes do povo.

O rei vai nu.

António Justo

(1) Segundo a directora regional trata-seum caso grave de”insulto feito no interior da DREN, durante o horário de trabalho”. E continua: “Os funcionários públicos, que prestam serviços públicos, têm de estar acima de muitas coisas. O Sr. Primeiro-ministro é o primeiro-ministro de Portugal”. “Uma coisa é um comentário ou uma anedota outra coisa é um insulto” além de “poder haver perturbação do funcionamento do serviço”. “Não tomei a decisão de ânimo leve, foi ponderada”, “O inquérito será justo, não aceitarei pressões de ninguém. Se o professor estiver inocente e tiver que ser ressarcido, será.” A senhora directora, como boa administrativa, ainda não parece ter percebido as andanças da democracia e que o Primeiro-ministro não é um caudilho com uma administração pidesca que lhe aplana o caminho. Além disso em democracia, o Primeiro-ministro além de não ser ileso fez promessas que não cumpriu, não podia cumprir. Qual será mais grave: a mentira das promessas dum ministro e a confusão em torno da sua licenciatura em que poderão não ter faltado os secretos amigos da maçonaria ou um comentário “desrespeitoso” dum serviçal que se encontra numa organização de ocupação partidária desigual? Cuius rei eius religio.
(2) O professor justifica-se: “Transcreve-se um comentário jocoso feito por mim, dentro de um gabinete a um “colega” e retirado do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente, pinta-se, maldosamente de insulto, leva-se à directora regional de Educação do Norte, bloqueia-se devidamente o computador pessoal do serviço e, em fogo vivo, e a seco, surge o resultado: “Suspendo-o preventivamente, instauro-lhe processo disciplinar, participo ao Ministério Público”.
O professor, com tantos anos de experiência administrativa também pecou. Pecou por ingenuidade e por aparentemente desconhecer o ser da administracao e do oportunismo que ela, duma maneira geral gera.

António da Cunha Duarte Justo

Salazar e Cunhal no mesmo Panelão

Um voto contra a corrupção do Estado

A 25 de Março de 2007, num acto de desobriga entre abrilista e setembrista a RTP1 elegeu “O Maior Português de Todos os Tempos”!

Os tempos estão para os que costumam andar de ouvido colado aos baixios do povo atentos aos seus rumores anais.

No mesmo caldeirão Salazar e Cunhal. O odor que surge da cozinha televisiva convida a tirar o testo da panela. A mistura promete e favorece o espírito de campanha, desta vez alarmista… À hora de repouso de crianças mais uma sondagem para distrair das mazelas da civilização.

No concurso televisivo das personalidades pretensamente mais importantes de Portugal verificou-se que nas restantes 10 personalidades votaram cerca de 200 mil portugueses. Destes, cerca de 80 mil votaram em António Oliveira Salazar, que adquire o 1º lugar com 41%, seguindo-se-lhe Álvaro Cunhal com 19.4% dos votos.

Portanto:
1º António Oliveira Salazar 2º Álvaro Cunhal 3º Aristides Sousa Mendes 4º Dom Afonso Henriques 5º Luís de Camões 6º Dom João II 7º Dom Henrique, o marinheiro 8º Fernando Pessoa 9º Marquês de Pombal 10º Vasco da Gama

Neste tema polarizador entre Salazar e Cunhal os outros 8 propostos tiveram apenas um papel de tripés. Portugal e a sua história são reduzidos às suas dimensões reais no tratamento dos problemas nacionais. A nossa sociedade é tão liberal que até a verdade já é elegível, também a histórica…

A memória portuguesa tem um limite de 50 anos, com um ideário restrito mas muito presente. Tem-se a sensação de que Portugal quer continuar a persistir em não merecer mais do que polémica e negociantes da banha da cobra.

Vai-se cristalizando a impressão de que do povo só interessa o blasonar. Foi sempre assim mas na época da demagogia demoscópica e mediática sempre se vão ouvindo os arrotes do povo embalado como música para adormecer.

Para uns “Salazar é o símbolo de honestidade, de inteligência administrativa e de dedicação à pátria”, que segurou o império português contra o comunismo internacional. Para outros Álvaro Cunhal, é o grande democrata pró-soviético de grande impacto na sociedade portuguesa.

Cada regime tem os seus beneficiados e as suas vítimas. Ontem pecava-se pelo nacionalismo, hoje pelo internacionalismo. Os feiticeiros do 25 de Abril atolados no legado que Salazar terá deixado e os sonhadores do século 21 atolados à herança que os abrilistas deixarão? A história tem sonos longos!… Também é verdade que o povo é quem mais ordena mas seguindo sempre os que levantam o facho na mão.

Mas “assim se fazem as cousas…” Quem estiver ilibado que atire a primeira pedra… A verdade é que eles são parte de nós, povo, que lhes demos a oportunidade…

O povo elegeu dois símbolos que constituem dois pólos antagónicos. Dum lado o conservadorismo patriota até nacionalista e do outro o socialismo marxista internacionalista.

Será que o resultado terá sido “ um murro no estômago do esquerdismo cultural” vigente? Não, apenas mais uma oportunidade para os que vivem de campanhas. De premeio sente-se um protesto contra a situação e não contra a democracia. É a manifestação do sentimento de impotência dum povo moribundo há já vários séculos. De resto, este espectáculo foi mais uma oportunidade para os mesmos actores da história que se sucedem e cuja diferença quase se esgota nas máscaras que trazem.

Quem fala de “branqueamento do fascismo” não percebe o que é o fascismo. Não se deve tratar de humanizar ou desumanizar as figuras de Salazar e de Cunhal nem de difamar os actores da história. Interessante seria discutir as suas ideias e voltar a descobrir a ideia de povo e de concelho que remonta aos primórdios da nossa história vinda já dos suevos. Os senhores do poder e dos dogmas estarão certamente mais interessados em imagens construídas e nos tabus. Pensar seria incómodo e isso não se aprende na escola.

Seria oportunismo, com base no argumento de que o povo Português desconhece a história, querer agora instrumentalizar mais ainda as aulas de História e de Português em nome dum multiculturalismo irreflectido é à sombra do qual medram os pregadores do internacionalismo. Quem nega a própria história recorrendo à sua difamação (reduzindo-a a cruzadas, colonialismo, racismo, escravatura e caça às bruxas) sem estabelecer a cor local dos acontecimentos com os seus actos heróicos e barbáricos branqueia com isso as barbaridades de hoje.

Alguns mostraram-se preocupados com a «péssima imagem de Portugal» de Portugal no estrangeiro perante a escolha feita. (O estrangeiro escandalizar-se-á pela escolha de Salazar ou de Cunhal?) O problema não está na imagem que os estrangeiros possam ter de nós mas na mentalidade que faz expressar esse receio. Com slogans de liberdade e de cravos tem o povo caído na cantiga do outro. Apesar de 30 anos a nossa democracia continua virgem

Em programas da televisão como estes quem ganha é a televisão e quem perde é a nação. De resto a democracia vive da polarização, facto que a revela decadente, tal como o foram os sistemas que ela substituiu. Os cravos da democracia encontram-se murchos e o povo encravado.

A verdade é que se mudam os tempos mas não as mentalidades. Há muita letra e muita música, só faltam os instrumentos.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo