Conjura dos Especuladores Globais provoca a Crise Financeira Mundial
A necessidade dum sistema financeiro global, o falhanço da alternativa socialista, a fraqueza dos sistemas políticos, interesses políticos e económicos interlaçados e nas mãos de sistemas comuns, são os ingredientes mais relevantes da crise económica em curso.
O povo cada vez arqueja mais com a carga de trabalhos mal pagos e de impostos; sente-se não tomado a sério pela elite. O capitalismo desculpa-se com a falta de formação das pessoas para possíveis empregos e tem o descaramento de afirmar que a injustiça é mais uma questão de sentimento. Por outro lado, embora em conivência com a política, a Economia desculpa-se com os políticos apontando-os, em voz baixa, como responsáveis na intenção de os usar como ópio para iludir o povo. Esperam do político que este crie uma atmosfera de optimismo crente que deve ver na moral um impedimento do desenvolvimento. Relegam a moral para a Igreja ou para a religião e mesmo aqui só na função de meio anestesiante.
A distribuição da riqueza e do bem-estar nacional bem como a possibilidade de acesso a elas, cada vez se tornam mais injustas. Não pode haver confiança numa ordem económica que não é justa no reconhecimento do trabalhador e que despreza mesmo um mínimo de ética social. O dinheiro, a proveniência social e a pertença a uma classe social, como na sociedade arcaica, determinam cada vez mais o currículo das pessoas.
O trabalho deixa de ser valorizado em favor da especulação. Não vale a pena trabalhar, não se reconhecem os talentos e a diferença do que recebe quem trabalha e quem não trabalha não motiva ao trabalho. O sistema tem bons mecanismos de defesa. A revolta impede-se financiando-se muitos milhões de desempregados e casos sociais com esmolas humilhantes. Numa sociedade cada vez mais virtual, os talentos só são reconhecidos nos centros da grande especulação.
Os ganhos são privatizados e as perdas socializadas
A ordem social presente é boa para os mais fortes. Quando o Presidente da Alemanha, Horst Köhler, um economista de grande relevo, se vê obrigado a afirmar que os mercados financeiros internacionais se tornaram monstros, a situação tem de ser mesmo caótica. Foi sintomático o facto da alta finança e dos bancos engoliram isto em seco e se calarem. Embora o governo alemão os tenha subvencionado com biliões de euros, para impedir a sua bancarrota e a perda de confiança no sistema bancário, os banqueiros não se dignaram pedir desculpa ao povo pelos erros cometidos.
A crise financeira com a cumplicidade dos bancos está a ser paga pelos contribuintes e não por aqueles que a causaram. Políticos e banqueiros arranjam-se entre eles e depressa, para que o povo não note o que realmente acontece. Aqui a solidariedade de baixo para cima funciona, tendo os pequenos de pagar as bolhas de ar dos bancos. Impede-se que bancos vão à falência e que milionários percam o dinheiro da própria especulação. Depois falta o dinheiro ao Estado noutros lugares. Os lucros da prosperidade são distribuídos injustamente.
Os operadores que investem globalmente e especialmente na índia e na China precisam dum sistema financeiro global. O mundo financeiro impera, à custa da disciplinacão do bem-estar do proletariado europeu e da calasse média. Esta é que suporta os riscos. Trata-se duma socialização do desenvolvimento, agora à custa dos mais carenciados em todo o mundo, atendendo a que, por toda a parte, quem sofre é a classe desfavorecida.
O valor do dinheiro é artificial, dependendo da procura especulativa sem um valor correspondente real de depósito em ouro como era outrora. Agora o ouro dos bancos são os cidadãos que funcionam como fiadores através dos impostos que entregam ao Estado. Os banqueiros que provocaram a crise são licenciados com indemnizações de milhões ou com reformas de sonho. Também os grandes accionistas não são castigados porque o Estado cobre a sua ganância e encobre as suas falhas. O Estado que só está interessado em impostos ajoelha-se perante a praga dos gafanhotos, os accionistas especuladores que, por sua vez só se interessam com lucros desmedidos. Um Estado no Estado. Nas inspecções e conselhos fiscais têm assento os políticos que são bem servidos. Nesta crise deixaram o rabo de fora mas pouco se mudará até nova crise financeira. Não se preocupam com a institucionalização de sistemas de alarme preventivo porque o povo é o fiador e os responsáveis entretanto safaram-se.
Um sistema que tão bem vive do sistema democrático não deveria humilhar a democracia nem os cidadãos a ponto destes se virem obrigados a compreender o terrorismo anónimo como única forma de reagir ao anonimato duma economia desumana.
Este sistema financeiro não se torna mais justo apesar de incluir nele também os especuladores árabes e asiáticos. De facto, a generalização do bem-estar pretendida pela globalização, a nível mundial e que deveria ir em benefício também da população simples, está a ser aproveitada por especuladores sem escrúpulos das oligarquias internacionais. O mundo preciso é de reduzir o número de pobres e não de aumentar desproporcionalmente os exploradores desalmados dos Estados.
A criatividade e a inovação têm de se orientar para o bem comum do povo. Seria falso se este sistema económico incontrolado viesse a justificar um socialismo barato administrador da miséria. A arrogância dum capitalismo exagerado fundamenta-se na constatação de que os agrupamentos ideológicos que lhes poderiam fazer frente não têm autoridade nem cabedal ideológico capaz pelo facto de continuarem presos nas ideias materialistas dualistas do século XIX já ultrapassadas pela realidade e pela ciência.
Urge interromper nas sociedades o automatismo da pobreza. Um sistema económico e social em que todos trabalham no duro e apesar disso só proporcione à maior parte da humanidade a dureza da vida do dia a dia não se pode legitimar a si mesmo nem dar resposta a pessoas com um estado mais desenvolvido da consciência. O capitalismo tem que recuperar o seu rosto humano que perdeu a partir da reunificação da Alemanha.
António da Cunha Duarte Justo