Portugal, o Brasil e a Alemanha sofrem

A vida fora de jogo
O Mundial não deixa ninguém indiferente. Sob a pressão do sucesso, de desejos, de projecções, transferências e recalcamentos, tudo é jogado no relvado. Tudo quer ganhar: ganhar custe o que custar, mesmo à custa da arte porque quem não joga na defensiva arrisca-se.
Esta é a hora dos símbolos, dos sonhos, das ilusões. É a festa da vida em segunda mão. Atrás dos símbolos, à sombra da realidade agarrados, contra ou a favor, rimos, cantámos e chorámos. No hino à recordação, iludimos o presente, indo à festa sem lá estar. Nestas andanças e na corrente das emoções vive-se da ideia, das imagens e sensações colocadas nos símbolos. A ideia relega a percepção e torna-se realidade substituindo-a mesmo; isto tanto na vida pensada, substituída, tal como no futebol. Tanta palavra, tanta imagem, tanto pensar a impedir a observação,a turvar a inteligência. Com isto a nacionalidade, a portugalidade sobrevive na imaginação, nas reservas de Portugal emigradas…
Passamos a cidadãos jogadores, deixamos de observar para fazermos parte do jogo, prisioneiros do relvado e do ecrã, perdidos pela pátria no tempo a passar…
Neste recanto de refúgio da realidade, levantamos os copos do presente bebendo-o à saúde da sobrevivência na comunidade nacional. Também nesta distracção da vida queremos resgatar a realidade no gesto inocente duma vida não vivida, no retorno à ilusão. Depois o enjoo na cata duma nova ilusão, inconscientes de que a vida anda fora de jogo. Aqui, como nas festas das utopias sacrifica-se a vida à ideia da vida, submete-se a realidade à ideia da mesma: um estado permanente de esquizofrenia. Neste contexto, mais que encontros de povos dão-se torneios de ideias formadas sobre povos e sobre os actores do palco. O contacto físico é porém o aspecto real que parece salvar a situação. A proximidade corporal e emocional transpõe montanhas; ao fim e ao cabo a poesia é que possibilita o amor, a compreensão.
A expressão é tudo. Manifesta-se a compaixão, o sofrer com os que perdem e a admiração com os que ganham. De entremeio situa-se a vida. Esta é complexa não se podendo reduzir aos padrões para decalque que dela nos são possibilitados. Naturalmente que não somos seres puros, estamos condicionados pela própria cultura. O que nos resta é observarmo-nos a nós e a ela para nos compreendermos e compreendermos um mundo de que fazemos parte sem nos reduzirmos a objectos ou moléculas da grande massa.
No Mundial os povos das nações tiveram oportunidade de se tornarem conscientes da provisoriedade das suas fronteiras e das jerarquias inimigas do ser humano que aqui, por vezes, são quebradas. Também o preconceito das sombras nazis que pairavam nas cabeças de muitas nações e tornavam os jovens alemães cativos dum passado indigno é dissipado através da maneira humana e sensível como os alemães têm sido descobertos.
Uma lição importante do futebol: o intelecto divide e o coração une. Da relação surge vida e energia. O relacionamento desbloqueia libertando energias salutares integrais e integradoras.
Um aspecto impressionador é o facto de uma Europa que já se tinha libertado de Deus e em via de se libertar do Homem celebrar tão comovida e liturgicamente o deus futebol. É estranho que se tenha deitado Deus no caixote do lixo para criarmos outros deuses secundários que nos afastam da realidade reduzindo-nos à categoria laica de adeptos, de adaptados. Tudo isto em nome duma liberdade que ainda se não sabe soletrar e de ideais idolátricos.
Se a política, a economia e a religião alimentam o sentimento, a emoção e a ilusão, a ciência vive do intelecto, os hábitos vivem da rotina, tudo à custa da realidade e do Homem…
O futebol global não é português, brasileiro nem alemão! É um abstracto no relvado da imaginação. Tudo isso além do mais…
Sim, até porque na realidade não!…

António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo
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Boas Férias!

Prezadas e prezados Visitantes:
No Sábado, dia 15.07.06 parto com a família para a Branca, Albergaria-a-Velha, Portugal, onde vivo e passarei as minhas férias até meados de Agosto.
Em tempo de férias também o trabalho deve descansar para tudo crescer na espontaneidade para lá do bem e do mal. Uma prioridade: a amizade! Apreciar o dia a dia sem o stress do calendário na mão. Na prioridade do hoje e não da intenção, saborear cada momento, o encontro.
Tempo de férias: uma oportunidade para manifestar o carinho que o dia a dia, o tempo muitas vezes impedem.
Desejo-vos tudo o que há de bom!
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Cãs tristes – Tristes cães!

Volto de férias passadas na calma e laboriosa Branca, Albergaria.
Trago comigo a nostalgia! Não é só a saudade daquela gente tão boa e das paisagens impares, mas também aquela tristeza de premeio do latir dos cães solitários e mendigos de carinho. Por companheiros têm apenas o cadeado e a voz dos outros parceiros de infortúnio que se torna característica ao anoitecer nas paisagens nortenhas. Tornados recordações da terra, eles são sentinelas, testemunhas duma paisagem e duma humanidade inconsciente em que a identificação com a natureza e com os animais se torna difícil na luta pela subsistência. O sofrer da natureza anda ligado ao sofrimento do Homem… Nos países pobres o cão é mais uma coisa que pode ser útil do que um ser vivo com sentimentos. Os seus latidos são tristezas não choradas, súplicas de povo à terra atado.
Nesta minha nostalgia também anda uma recordação de criança. A daquele cão de aldeia que já noite adiantada consegue libertar-se do cadeado que o prendia e, farejando, se dirige à campa da sua dona, lá no fundo da freguesia, nesse dia triste de Outono enterrada. Pressuroso, com as suas patas remove a terra da campa… De manhã encontram-no, extenuado do cansaço, repousando no buraco da terra parecendo escutar o segredo da dona que ali quer guardar.
Recordo também o caso do herói Ulisses que após a sua odisseia de muitos anos, depois do cerco de Tróia, ao voltar esfarrapado a sua casa na ilha de Ítaca (Tiaqui), ninguém o conhece. Apenas o seu velhíssimo cão o reconhece. Eufórico por tornar a ver o seu dono o coração rebenta-lhe de alegria caindo morto aos pés de Ulisses.
Amigo e confidente de pessoas, companheiro de idosos, salvador de vidas entre escombros, ou colaborador na procura de drogas, o cão aí está sempre pronto e disponível.
A sua companhia tem efeitos muito positivos e terapêuticos sobre os donos. Estes dormem melhor e não precisam de visitar tantas vezes o médico nem de tomar tantos comprimidos. A sua vida prolonga-se. Também a circulação sanguínea dos seus donos funciona melhor atendendo a que têm de dar os seus passeios diários com ele, esteja bom ou mau tempo.

António da Cunha Duarte Justo

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Günter Grass – Um Filho do seu Tempo

Com a mentira da sua vida conseguiu reabilitar a sua pessoa

Atempadamente, antes de ser publicado o seu último livro auto-biográfico, Günter Grass confessou que também ele tinha servido na “10ª Divisão Blindada da SS ” e que até ao fim acreditara na vitória final. Deixada a Divisão Blindada da SS continua a sua luta, não já com as armas reais mas com as armas do espírito. Afinal, não foi um herói da guerra, mas através dela um herói da literatura.
Ele que justamente atacou tanta gente que tinha servido o terror de Hitler, confessa tardiamente o seu pecado de infância. Naturalmente que foi um pecado venial, porque na idade de 17 anos não se pode exigir dum jovem aquela maturidade e esperteza que conduziu Grass ao prémio Nobel.
Com a sua confissão, na Alemanha, o seu rosto, que era uma instância, uma autoridade moral da esquerda, sofreu uns arranhões fortes.
Uns condenam-no por durante tanto tempo ter atacado muitos outros por se terem envolvido no “Drittes Reich” e ele ter calado o seu envolvimento.
Outros atacam-no por ter, com aquela encenação maquiavélica em entrevista sobre a sua autobiografia, motivado o público a comprar o livro e assim ganhar milhões através duma propaganda gratuita.
Outros querem viver em paz com o seu Grass que é realmente um grande poeta independentemente dalgum nevoeiro da sua vida que para outros não passa de oportunismo e hipocrisia por trás das máscaras.
Outros ainda reconhecem nele um poeta do estado ou simplesmente um homem com tantas contradições como é comum na nossa época. É toda uma geração de intelectuais (confronte-se a geração dos anos 60/70 hoje dominante a nível político e cultural em toda a Europa) que através do seu moralismo, da sua voz contra a burguesia se tornou a nova burguesia apoderando-se da cultura e do Estado.
Ele que sempre criticou a burguesia, que questionou a geração dos seus pais, polarizando e desacreditando o seu adversário, com uma consciência de guru será agora questionado. O seu valor literário não poderá ser contestado embora haja vozes que contestam o seu prémio Nobel por não ter ocultado ao júri o seu passado. Filho do seu tempo, não superou a dialética, só sabe pintar o mundo a preto e branco. Óptimo estilista, na arena pública e política não diferencia, mas sabe bem onde quer chegar. Polémico e auto-consciente, viveu sempre à sombra da sua inocência podendo atacar (mesmo indefesos) sem ricochete. Por isso reconhece a revista alemã “Der Spiegel” (nº. 34/Agosto) que Grass não poderia ter representado o papel que representou de escritor da Alemanha, se tivesse revelado mais cedo o seu passado. Neste caso teria de ter sido mais diferenciado no trato, nos discursos e nos escritos. Assim serviu interesses servindo-se.
Também ele se tornou vítima dum espírito de luta cultural intercutânea que leva ainda indiscriminadamente a considerar diabólico tudo o que tem a ver com o “Drittes Reich”. Além disso a instrumentalização da nódoa do nacional-socialismo prometia muitos dividendos para a esquerda socialista. Grass foi um dos seus fomentadores nos seus ataques aos do partido contrário. Para ele o governo de Kohl era uma máfia. Grass não queria construir pontes, do seu trono queria ter razão e seguidores.
A inocência que para ele reclama não a concede aos outros. Tal como a generalidade da geração mais velha também ele passa ao largo daqueles tristes anos. O medo e a culpa são alheados e projectados na Alemanha ocidental na continuação duma filosofia meramente dialéctica e ideológica como se estes instrumentos disciplinadores fossem suficientes para encurralar o rebanho. Este agir levou mesmo uma geração nova a ter vergonha de ser alemã: o lado extremo da vertente hitleriana. Finalmente também o grande Grass é abrangido pelo tal pecado original que com a geração de 68 queria que todo o povo alemão confessasse de geração em geração. Demasiada fé para se poder tornar realidade.
A atitude de Grass é bem compreensível tendo em conta que o ambiente paterno e a propaganda oficial fomentavam o entusiasmo de qualquer jovem. A filosofia, a estratégia e a dinâmica nazi era de tal ordem que não podia deixar ninguém indiferente. Alguns não perderam o entusiasmo e souberam, tardiamente mas ainda a tempo em termos históricos, canalizá-lo para campos de acção mais nobres. De facto, ao ler-se os discursos de Hitler e “Mein Kampf” será difícil, a qualquer jovem ou pessoa simples ou não esclarecida, não se deixar entusiasmar pela retórica escrita de Hitler. Quem ler um pouco, apesar das blasfémias como a sua teoria da raça, o extermínio dos judeus, etc., compreende o entusiasmo de então, porque se apresenta muito lógico e autêntico defensor do seu povo dentro do seu nacionalismo socialista.
Grass terá sido um sequaz irreflectido como outros o foram por convicção. O sistema de Hitler era de tal maneira coeso que convencia qualquer incauto ou inocente. Por isso só quem conhece apenas o aspecto diabólico de Hitler mas não conhece a realidade de então e o aspecto “profético” de Hitler poderá colocar todos os outros no banco dos réus.
Oxalá esta confissão tardia de Grass sirva para desideologizar as frontes e a abordagem dos tempos do holocausto. Houve muita gente bem intencionada que foi arrastada a cometer o desumano. A ideia pura e racional pode chegar ao extremo de negar o próprio homem. Uma ideologia não pode ser combatida à base de culpabilização. Ela tem de compreender porque é que os actuantes agiram assim e não diferentemente, doutro modo só se fomenta a amnésia, a auto defesa ou a presunção. As faltas dos outros criam a ilusão das próprias serem mais leves. A vergonha não leva a lado nenhum. No mundo há ainda muita gente que hipocritamente aponta o dedo contra os alemães querendo-os tornar cativos dum passado inglorioso. Seria frívolo querer-se ser ilibado da vida à custa do denegrir os erros dos outros como é prática entre as ideologias.
Também as épocas do 25 de Abril e de Salazar estão por descrever e continuam a ser instrumentalizadas a bel-prazer. A lei e o costume estão sempre do lado dos usufrutuários. A história socorre-se da hipocrisia no respeito pelos seus actores e beneficiados. Só depois da sua morte lhe fará um pouco de justiça. Primeiro terão de morrer os “destronados” e os seus “herdeiros” – os revolucionários e apoiantes – para se poder depois chegar a um certo equilíbrio na avaliação. Neste contexto, o falar mal dos outros é o manto que se veste para encobrir os males próprios.
Por trás de cada pacifista encobre-se um guerreiro. A história não é para se julgar mas para se compreender. A mentira encontra-se tanto nas fileiras dos combatentes contra a direita como na dos combatentes contra a esquerda. Eles não conhecem pessoas, só conhecem ideias. Entre eles se recrutam e escondem os oportunos da vida. A história só se interessa pelo global e não pelo particular ou individual. Do individual apoderam-se os actores da história, da cultura e da economia. Nesta dinâmica ninguém está disposto a morrer pelo povo. O povo é que terá de morrer pela nação e pelos seus protagonistas.
Macabro é o facto de vivermos numa sociedade de tal maneira hipócrita e desumana que se o jovem autor Günter Grass tivesse dito logo a verdade, ele nunca chegaria a ser o que foi nem teria a chance de se reabilitar. Grass com a mentira da sua vida conseguiu reabilitar a sua pessoa e entusiasmar muita juventude a singrar nas fileiras socialistas. É um poeta moralista que vive das realidades e que à sombra do pecado original movimenta e serve muitos interesses.
Os “homens bons” só brilham na escuridão da noite por isso não será correcto falar-se da parte do dia da História. Esta seria menos dialéctica e mais polar.
Quer queiram quer não Grass venceu ao serviço duma causa social. Ele como “homem bom” tem razão: a história só se lembra dos vencedores, que do povo não reza a História!

António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Conselho das Comunidades Portuguesas – Um Parto da Cabeça

Contencioso entre o Conselho das Comunidades Portuguesas e o Governo

Agora que o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) procura uma certa autonomia em relação ao governo, tornam-se mais visíveis as falhas nas instituições relacionadas com os emigrantes.
O contencioso entre o Governo e o CCP tornou-se agora mais manifesto com o ataque público de Paulo Pisco, Director do Departamento das Comunidades do PS, a Carlos Pereira, presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas.
Não se trata de “diplomacias paralelas” mas de legitimações e serviços indefinidos.
O mau relacionamento institucional entre o CCP e o Governo tem origem na concepção e estatuto dado por lei ao CCP. Esta determina que a votação dos Conselheiros seja feita por sufrágio universal, conferindo assim aos Conselheiros uma autoridade de Deputados isentos. Programa-se assim, ingenuamente, uma concorrência entre os deputados dos partidos pela emigração e os conselheiros do governo (CCP). Deputados e Conselheiros (estes embora sob a tutela da Secretaria de Estado das Comunidades) sentem-se ao serviço na defesa dos interesses dos emigrantes. E estes são muitos e variados!…
O conflito tripartido de interesses entre Deputados, Conselheiros e Governo é agora personalizado em Carlos Pereira e Paulo Pisco.
Se é verdade que o Governo quereria conselheiros dóceis também é verdade que, a nível de participação eleitoral, tanto para Conselheiros como para Deputados, a sua legitimação através das eleições directas é muitíssimo precária. A falta de vontade eleitoral política manifesta nas urnas vem assim complicar mais e ainda criar pretextos para legitimar tudo e todos. É natural que os governos utilizem esta fraqueza. Se por um lado é muito necessário que se faça mais pelos emigrantes e luso-descendentes, por outro lado há que racionalizar serviços e gastos no interesse dos emigrantes e de Portugal muitas vezes à margem de algumas lobies instaladas. Quer-se um investimento produtivo que não se limite à administração da miséria. O orçamento estatal até agora dispendido tem sido exagerado em relação aos resultados obtidos e é insuficiente em relação ao que se deveria investir e ser feito.
Aqui todos ralham e todos têm razão
Sendo o problema concepcional e institucional não é legítimo andar-se a desgastar pessoas.
O contencioso agora exacerbado é uma consequência lógica da ingenuidade partidária e institucional na criação do CCP. Cometer-se-ia mais uma ingenuidade se se reduzisse o desentendimento entre Governo e CCP a confusão de papéis, a mal entendidos, a questões pessoais, em vez de se ir ao fundo da questão. Doutro modo, numa casa em que não há pão todos ralham e todos têm razão. Uma política séria para as comunidades tem de deixar de ser paternalista e de responder apenas a problemas do dia a dia numa filosofia de boas intenções. Em vez de o antigo Secretário de Estado Lelo ter querido elevar a sua Secretaria com Conselheiros de eleição directa poderia ter feito o possível por transformá-la talvez em ministério. Este queria fazer do CCP um filho dócil para a administração enquanto este cresce e aspira pela maioridade política.
Não creio que o senhor Paulo Pisco tenha razão ao afirmar que o CCP tenta pôr-se “em bicos de pés” e se arrisca a “dar passos maiores do que a perna” atendendo ao processo de eleição e a que os luso-descendentes serão cada vez mais cientes da sua força. Este acto do Presidente do CCP de pôr-se em bicos de pé deveria ser registado como o sinal de que os emigrantes e os luso-descendentes começam a acordar. A exigência do CCP ao pretender ser assumido como protagonista institucional ao enviar a sua mensagem por ocasião do 10 de Junho, tal como o fazem o Presidente da República e o Secretário de Estado, não deve ser menosprezada. Independentemente do valor de gestos simbólicos e do conflito de interesses entre CCP e Governo um facto é que as duas instituições estão ao serviço dos emigrantes e luso-descendentes sendo necessária coordenação de esforços mais que desacreditação de instituições ou pessoas. Isso só iria contribuir para mais desinteresse na participação nas eleições.
Estranha é a maneira como o ex-deputado senhor Paulo Pisco, na qualidade de representante do PS, partido democrático, se julga no direito de exigir praticamente que o presidente do CCP deva ser politicamente eunuco querendo mesmo regulamentá-lo quanto à sua maneira de intervir na opinião pública. Isto é da competência dos que o elegeram. Cada povo ou grupo tem os representantes e os comentadores que merece. Independentemente da oportunidade ou não oportunidade dum CCP como temos, a verdade é que ele conseguiu pôr o pé nalguma porta da imprensa em Portugal o que é um grande mérito, atendendo a que a opinião pública portuguesa não se encontra informada sobre os emigrantes nem tem a mínima ideia do seu papel na sociedade portuguesa. Preferimos continuar com um Portugal envergonhado da sua vertente migrante… mas da qual vive!…
O CCP nasceu dum aborto de cabeças apenas bem intencionadas. Agora com o menino nos braços parecem não saber como lhe mudar os paninhos. Não chega diplomacia e boas intenções. Destas está o inferno cheio. Por outro lado o Secretário de Estado das Comunidades, António Braga, sabe bem que conselhos qualificados os pode obter doutros lados e que o CCP com o estatuto que tem está vocacionado a tornar-se no concorrente dos políticos eleitos parlamentares (estes sujeitos à disciplina partidária) e que a causa migrante ainda não constitui assunto relevante para uma sociedade que vivendo em parte dos emigrantes se recusa a dar-lhes corpo e expressão no próprio meio… A lei da vida é: que cresçam e apareçam. Até lá vai-se jogando ao faz de conta…
Paulo Pisco ao considerar o órgão consultivo CCP como “elo privilegiado entre as comunidades e as autoridades nacionais e dos países de acolhimento” não se deu ainda conta da realidade das comunidades lusas no estrangeiro. Duma maneira geral, elas consideram-se patrioticamente portuguesas mas falta-lhes a consciência de povo. Nós não somos judeus, alemães, ciganos nem muçulmanos. Mais que uma alma de povo temos uma alma de universo. Somos um povo dócil, em estado de limbo, que se deixa assimilar, guardando porém a réstia de amor português, individualista, já sem missão, muito abstracto e universal. Persistimos em permanecer apenas povo unido na saudade comum, no sonho. Isto nos une, os que ficamos e os que abalámos!…

António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo
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