Mutilação Genital Feminina

Uma Barbárie ao Serviço dos Machos e da Poligamia
Em 28 países africanos, nalguns países árabes, no Iraque, Indonésia e Malásia é praticada a circuncisão da mulher. Esta consiste na mutilação genital, na amputação do clítoris e dos lábios vaginais às meninas, geralmente a partir dos cinco anos. Uma danificação irreparável para o corpo e para a alma. Cientistas avaliam em cerca de 10 a 25% as meninas que morrem em consequência desta operação sem higiene que é efectuada com uma navalha ou caco. Os peritos avaliam em 130 milhões o número de mulheres mutiladas.
Assim se elimina o prazer sexual das mulheres. É o mesmo que cortar a glande, o pénis ao homem. É uma tortura e um abuso sexual, a repressão da mulher e da sua sexualidade. Os homens ao roubarem o prazer sexual à mulher reduzem-na à função reprodutora. São medidas preventivas machistas. Assim impedem nas mulheres a masturbação, o desejo e impedem-nas de terem relações sexuais antes do casamento. Por outro lado estas mulheres não têm demasiadas exigências aos homens na prática da poligamia.
Apesar das Nações Unidas terem exigido tolerância zero no que respeita a esta prática, continuam a ser vítimas deste costume três milhões de meninas por ano.

Porquê o corte do clítoris?
Porque é tradição e os homens o querem. Homens não aceitam casar com uma mulher que ainda tenha o clítoris. Consideram impura quem tenha o clítoris. O prazer sexual é um direito reservado aos homens. A mulher está totalmente dependente do homem económica e socialmente. Não tem outra hipótese que não seja obedecer. Para não serem marginalizadas pela sociedade as mulheres aceitam tal barbaridade. Estas tradições das tribos obrigam ao desprezo da mulher e à sua discriminação obrigando-as a sofrer toda a vida.
Já em 1994 a ONU queria acabar com esta praga em dez anos. Mas nada, a tradição abominável continua na mesma. Umas dão-se em público outras em segredo.
As meninas ou donzelas que não morrem precisam de meses até a ferida cicatrizar. Uma agravante do problema são as dores que acompanham a mulher durante toda a vida e a cicatriz rebenta repetidamente. As mulheres circuncidadas também não podem andar de bicicleta.
Na Europa há dezenas de milhares de mulheres exiladas que sofreram esta tortura. Aqui já começa a haver sensibilização para o problema, atendendo a que tem havido mulheres afectadas que denunciam tais práticas. Assim o tribunal alemão DGH determinou em 2005 (cfr. Acta: AZ XII ZB 166/03) que o desejo duma mãe levar a sua filha para a Gambia pode ser suficiente para que lhe seja tirado o direito de cuidado da filha. Na Gambia 80 – 90 % das mulheres são mutiladas. Também o Tribunal Administrativo do Hesse reconhece o direito de asilo quando há ameaça de mutilação genital. Neste caso foi reconhecido asilo a uma jovem de 18 anos e a uma menina de 9 anos da Serra Leoa onde 80 – 90 % das mulheres são mutiladas.
Só na medida em que mulheres que sofreram esta discriminação se dirigem a instituições poderão ser organizados projectos de colaboração tendentes a fazer campanhas de esclarecimento nas regiões donde provêm. É preciso que os pais e jovens dispostos a quebrar com tão bárbara tradição sejam apoiados e honrados.
Estas práticas constituem um testemunho de pobreza e de indiferença para os países ocidentais. Humanismo compromete. É totalmente incompreensível que estados civilizados onde os direitos humanos são tão apregoados como na Europa e onde há até um certo respeito por animais, se feche os olhos a tal barbaridade e injustiça para com as mulheres. Só resta às mulheres, solidarizem-se já que os homens se escondem por detrás do respeito dos valores culturais. Respeito não, cobardia!
António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo
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A Guerrilha como Forma Futura de Intervenção – A Democracia em Perigo?

Os Perigos da Democracia
A nossa democracia cada vez tem mais críticos e adversários. O trato dos valores culturais tradicionais que deram identidade e coluna vertebral à cultura europeia tem deixado muito a desejar. Dançarinos da ilusão não respeitam processos de desenvolvimento dos povos confundindo, por vezes, liberdade com libertinagem, cultura com ideologia, democracia com lobbies. O globalismo e a precária situação nacional, em que se precisa de menos estado, menos burocracia e menos impostos, questionam os orçamentos do estado e constituem uma incógnita na tentativa de manter o equilíbrio e a paz social. A economia social de mercado, o modelo europeu por excelência, é cada vez mais questionado atendendo às consequências dum liberalismo económico feroz sem respeito por Estados nem pelas necessidades humanas mais legítimas ao tender fugir à responsabilidade social.
Com a progressiva desmistificação dos valores e a sua desconexão superior assiste-se a um processo contínuo de afastamento da natureza e com isto dos biótopos naturais. Uma mentalidade microscópica e microbiológica é alérgica a superstruturas e torna-se cada vez mais incapaz duma visão de conjunto. Encontramo-nos em total processo de individuação até à dissolução da identidade. Um plasma entre os buracos negros! A responsabilidade torna-se imanente prescindindo da resposta. Um mecanicismo para lá de todas as engrenagens!
No processo de desmitificação de deus e da sociedade passou-se da obediência a Deus para a obediência à consciência e desta para a obediência à razão. Hoje a sociedade democrática com as suas forças racionalistas e materialistas tenta, em nome da razão e do bem comum, ultrapassar a razão para levar o cidadão a obedecer apenas à lei, isto é à vontade dos cidadãos. Ao fim e ao cabo chega-se a um estado em que o cidadão reconhece apenas o concidadão sem necessidade de usar a razão. Há o perigo dum pragmatismo “racionalista” absoluto. Na sociedade europeia já há muitos sintomas deste processo ao verificarmos a destruição de valores sem uma discussão séria sobre a herança cultural, a identidade e as novas necessidades éticas. Cria-se um abismo entre o passado e o presente onde apenas têm lugar os ardinas da praça opiados por tudo o que é novo, auto-afirmando-se pela contradição com o passado. Neste processo em curso a razão poderia revelar-se como um impedimento dos seus intentos… Nota-se uma tendência para uma transformação da democracia numa espécie de religião em que a razão se torna impedimento, tal como no Islão que exige a total submissão a Deus, ao sistema, independentemente da razão. Por fim, em nome do sistema mais sagrado os sistemas reduziriam o ser humano a súbditos duma estrutura. O sistema democrático pode cair, por vezes, na ilusão de ser auto-suficiente e autónomo. De facto, os cidadãos comportam-se responsavelmente, sem serem patriotas, independentemente de serem crentes ou agnósticos. Têm-se todos eles comportado de maneira bastante uniforme perante a lei. Até um crente Islão que, no interior, não pode acreditar nesta estrutura obedece. Isto cria a ilusão na democracia de que poderá sobreviver sem ter em conta a necessidade de transcendência inerente ao ser humano. O segredo do desenvolvimento e do progresso da civilização ocidental está na sua concepção linear e teleológica do tempo (concepção judaico-cristã), ao contrário da concepção cíclica fechada.
O Islão, no que tem de agressivo, obriga-nos a descobrir a missão civilizadora a que os europeus estão chamados e a uma discussão séria da mesma no respeito pela própria tradição. Para isso terá que reabilitar e reconciliar-se com a acção dos colonizadores purificando-a naturalmente dos excessos na consciência de que todos os povos e todos os seres humanos são irmãos. A democracia é uma forma de governo fruto da mundivisão cristã e só funciona quando se partilha a prosperidade como diz o filósofo Richard Rorty.
Com a crise de confiança no capitalismo liberal e na fragilidade das ideologias, cresce a insegurança na Europa, uma cultura cada vez mais sem tecto transcendental. A concorrência e o consumo não são suficientes para dar resposta aos problemas do futuro. As leis do mercado, a concorrência de mercados, ideias e sistemas parecem ser contraditórias ao globalismo. O seu fim é teoricamente previsível. A dianteira tecnológica e científica, a que obriga através da inovação, não será suficiente para manter a distância entre os povos desenvolvido e os povos em vias de desenvolvimento, na dinâmica que tem caracterizado a economia de mercado até hoje. Além disso o turbo-capitalismo é um sistema que embora ao serviço do desenvolvimento e da iniciativa privada vive da desigualdade, reflectindo-a, por outro lado. No após guerra o capitalismo europeu ajudava o estado social, hoje assiste-se ao processo da sua desresponsabilização desacreditando mesmo a democracia. A política parece desqualificar-se cada vez mais reduzindo-se mais a uma função subsidiária de tapa buracos que a economia cria. Os estados parecem não dispor de forças nem de instrumentos capazes de regular o capitalismo global. A democracia, se não intervir no processo de erosão cultural e económica, cada vez se tornará mais questionável e dará oportunidade ao terrorismo que tanto tolera. O terrorismo, hoje ainda bastante limitado aos islamistas, com a sua guerra de guerrilha poderá vir a pôr a democracia seriamente em perigo, o que significaria um retrocesso histórico de consequências irreparáveis. (A guerrilha das caricaturas de Maomé pôs bem evidente, através da reacção da política e do mundo intelectual, quem era mais forte, precisamente os terroristas).
Os furores do turbo-capitalismo criam grande insegurança na Europa e fomentam uma tendência populista, nos estados latino-americanos, em favor do socialismo atendendo a que este se apresenta como o único garante capaz de pôr cobro ao capitalismo ao querer regular a economia através da política. Paradoxalmente, na Europa os socialistas renderam-se ao capitalismo liberal, apoiam os egoísmos nacionais. Por enquanto os beneficiadores dos sistemas são as grandes nações e as grandes multinacionais. A classe média e operária estão a subvencionar o desenvolvimento da China no seu esforço de se tornar uma grande potência tecnológica. Um erro crasso das nações tem sido a destruição da classe média, aquela que torna grandes as nações. Quando a China puder levantar cabelo e as potencias europeias deixarem de equilibrar os défices internos com o capital vindo do estrangeiro através das suas grandes empresas então surgirá o grande momento da reflexão ou do recurso às soluções desastrosas do passado.
A única possibilidade que a democracia tem para se tornar credível é integrar o capitalismo não permitindo a sua autonomia completa. É obrigá-lo a contribuir de maneira essencial para o bem comum. A política deve acompanhar a economia e não se limitar a seguir atrás dela. O globalismo capitalista terá que ser acompanhado com uma política social global. Isto só poderá ter lugar através duma ONU totalmente diferente e com poder político global. O Estado não pode explorar desmedidamente o cidadão. Este já chegou ao seu limite. Para isso o Estado terá que se tornar mais módico nas suas despesas e terá de socializar mais a economia a nível de produção.
É urgente a união de forças no sentido de se valorizar a democracia. Seria ilógico que dois sistemas, o capitalismo e o comunismo, surgidos do cristianismo, se combatessem em vez de tentarem uma terceira via encetando forcas no serviço do ser humano. De facto tanto os que fundamentam a sua vida no evangelho como aqueles que fundamentam o seu dia a dia em teorias sociais estão por vezes mais perto uns dos outros do que notam. Torna-se urgente uma mudança de mentalidades e de estratégias.

António Justo
Teólogo e pedagogo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo
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Intelectuais contra o totalitarismo islâmico

Um dúzia de intelectuais, entre eles Salman Rushdie, Bernard- Henrich Levi e Ayaan Hirsi Ali apelam, num manifesto comum publicado em França, ao “combate contra o novo totalitarismo: o islamismo”.
Alegam que depois do mundo ter vencido o fascismo, o nazismo e o estalinismo, vê-se agora sob a ameaça do totalitarismo islamista. Defendem a necessidade do combate pelos valores universais, não com armas mas no campo da ideias.
Mais que uma luta entre culturas assiste-se duma luta entre democratas e teocratas.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Jejum e Abstinência Quaresmal

O sentido contra os sentidos e os sentidos contra o sentido – Qual a alternativa?

Jejuar está cada vez mais na moda. Além do significado psicológico, social e religioso tem uma grande importância estética. Na Alemanha, muitos, crentes e não crentes, aproveitam a época da Quaresma para se relacionarem melhor com o seu corpo e com o seu espírito. Este período corresponde também a uma necessidade de calma e silêncio, de reflexão sobre o sentido da vida. Nele procura-se o equilíbrio e uma consciência de mais respeito pelo corpo e pelo espírito.
A sociedade de consumo necessita duns tempos de desprendimento, atendendo a que a prosperidade não é suficiente e não dá resposta à necessidade de orientação. A renúncia proporciona também a identificação com os pobres do mundo que não têm outra opção que não seja a abstenção.
Nos 40 dias da Quaresma – período que vai de Quarta-feira de Cinzas à Páscoa – muitos cristãos e não cristãos procuram jejuar para se disciplinarem e verificarem se o espírito consegue afirmar-se em relação aos instintos. A religião procura contrabalançar a fome da vida com a fome interior, a fome de Deus, ou simplesmente o desejo de ser com o desejo do ter, a vontade contra a entropia.
A abstinência faz bem ao corpo e ao espírito e torna uma pessoa forte. Depois do jejum uma pessoa sente-se mais leve, atingindo um sentimento de entusiasmo e por vezes mesmo de exaltação. Muitos querem sair da rotina do consumo e aproveitam para meditar sobre o próprio comportamento e outras coisas da vida para que normalmente não têm disposição.
Pessoas religiosas praticam a sobriedade durante estas 7 semanas como preparação para a ressurreição de Cristo.
Aqui na Alemanha na escola há uma grande abertura para a renúncia durante este período. Fazem-se propósitos. É comum as crianças renunciarem a rebuçados e a lambarices.
O jejum e abstinência expressam-se de muitas formas: renúncia a alimentos durante algum tempo ou redução dos mesmos, abstenção de carne, de TV, do tabaco, do álcool… Para outros expressa-se no silêncio, treino da capacidade de ouvir os outros, escrever cartas e diário, fazer exercícios espirituais, treinar a solidariedade, etc.
O apelo da Igreja: “lembra-te que és pó e em pó te hás-de tornar” é uma constatação que vale para crentes e agnósticos. Se é verdade que a fé, por vezes, não dá sentido a muita gente crente, roubando-lhe até os sentidos, também o ateu corre o risco de se perder nos sentidos sem encontrar o sentido.
António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

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Dia Internacional da Mulher

Por todo o lado há ainda muito por fazer! A sociedade ocidental, embora à frente em muitos sectores da ciência e da técnica, ainda deixa muito a desejar em relação ao trato da mulher. Falta-lhe ousar o humano.
A mulher continua a ser vítima da prepotência doméstica, de tabus culturais e religiosos bem como da discriminação nos locais de trabalho e no acesso a quadros superiores.
Na Europa o seu ordenado é em média 15% inferior ao dos colegas masculinos. Nos Estados Unidos da América já ocupam 45% das mulheres uma posição de topo na economia enquanto que na Inglaterra apenas 33% e na Alemanha 27% o conseguem. Por outro lado na América têm assento no parlamento 15% de mulheres e na Alemanha 32%. Quanto às votações as mulheres votam mais à esquerda que os homens.
Um grande impedimento para a igualdade de oportunidades de homem e mulher está numa política anti-familiar que explora descaradamente a mulher neste sector. A política permanece indiferente a uma praxis de incompatibilidade do trabalho com a educação das crianças. A falta de flexibilidade das empresas, a falta de escolas a tempo inteiro, as despesas caras com o cuidado das crianças…tudo são entraves ao emprego regular da mulher. Aqui não é de negligenciar um certo chauvinismo masculino que muitas vezes deixa para a mulher quase todo o trabalho familiar. Quanto mais baixo o nível de cultura mais vítima é a mulher…
Não quadro de chefia política da China, que consta de 24 pessoas apenas há uma mulher. Aqui já se deu um grande progresso ao acabar-se com o concubinato para homens ricos. A lei proíbe a discriminação da mulher no mercado de trabalho mas ainda há muitos patrões que se recusam a empregar mulheres.
Também na Rússia domina o chauvinismo dos homens e muitas vezes as próprias mulheres atribuem-se a si mesmas um papel secundário.
Nas sociedades árabes a situação da mulher é totalmente precária, até a poligamia chega a ser permitida.
As empresas e as representações diplomáticas ocidentais, inseridas nas sociedades mais patriarcais, deveriam estrategicamente empregar mais mulheres para assim contribuírem de maneira exemplar para a igualdade de direitos no tratamento dos sexos. A própria ONU deveria estabelecer uma quota em defesa das mulheres nas suas representações e comissões. Numa fase inicial seria justificável uma discriminação positiva das mulheres.
A luta pelos direitos humanos no sentido da própria realização através de funções, actividades ou cargos deverá estar na ordem do dia de todos os parlamentos e instituições. Este é um passo importante a dar-se mas a integração da feminidade na humanidade é um assunto de não somenos interesse. Trata-se de um processo paralelo ao da retorta burguesa ou socialista na procura da dignidade roubada, na conquista de funções para depois se chegar a ser!
O ser porém atinge-se no encontro com a humanidade em mim, no/a outro/a. Depois de termos usado a escada das ideias, das imagens, e dos postos, seria importante reconhecermos neles o ilusório para nos podermos encontrar homem-mulher num eu-tu-agora. Trata-se de evitar o machismo e o feminismo, trata-se de, mulheres e homens, ousarmos, na complementaridade, empreender o humano.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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