Uma Revolução contra a Nação – Um país demasiado pequeno para a Liberdade?
Com o 25 de Abril, Portugal perdeu mais uma oportunidade de se libertar dos coveiros da liberdade dos outros. O cheirinho a liberdade que vinha dos cravos de Abril logo cedeu o lugar ao incenso da reverência política. Os antigos Barões ressurgem entao das cinzas e vingam-se dum Portugal que nega tornar-se adulto.
O sistema partidário que apressadamente se apoderou do poder faz lembrar galinheiros de galos e galinhas chocas em que os galos conhecem o partido mas não a nação. Os partidos encafuaram a liberdade e a democracia nos seus sistemas à custa da cidadania de homens livres. Estes continuam à solta, constituindo excepções nos partidos. Carreirismo aliado ao oportunismo, fora da verticalidade e da honestidade, alimentam-se dum direitismo esquerda e dum esquerdismo direita em função de interesses pessoais ou ideológicos sem sentido de estado.
Como é tradição, desde que há partidos em Portugal, os partidos e as ideologias apoderam-se do Estado, sem consciência dele. Criou-se uma promiscuidade da política e da economia: políticos asseguram o seu baronato nas comissões de empresas, não sendo raro o caso de deputados da AR acumularem cargos sendo, ao mesmo tempo, assalariados de empresas e bancos e, para cúmulo da corrupção legalizada, fazerem ainda parte da Comissões Parlamentares de Investigação, que, por si mesmas, deveriam controlar essas empresas. Assim os “representantes” do povo se convertem em representantes de si mesmos ao serviço do oportunismo.
Naturalmente que liberdade é o direito dos mais fortes, como confirma a prática política. O problema é a desmedida. O resto é inocência ou ingenuidade!
O 25 de Abril criou em grande parte uma clientela partidária de prostitutos do poder que não sabe fazer mais nada que política partidária. Os partidos geram os seus inúteis para quem é preciso criar postos e também para dar lugar às novas esperanças do e no partido. Por isso cada vez se assiste mais a barões, antigos ministros ou secretários de estado, fazerem parte da direcção de empresas, especialmente de bancos. Estes para se fazerem valer no ambiente corrupto dos corredores ministeriais dão-lhe um posto para em contrapartida do cargo oferecido conseguirem um atalho para o centro de decisões governamentais e parlamentares. Assim também os erros dos bancos serão mais facilmente saldados com os impostos do povo. A promiscuidade de interesses privados, estatais e partidários beneficia todos os imiscuídos.
O povo não conhece outros exemplos e até se admira quando alguém os critica. Aqueles desconhecem o país real pondo-se ao serviço de internacionais. Controlam também os lugares públicos da comunicação social assegurando assim o seu burgo. Portugal parece demasiado pequeno para se poder permitir uma imprensa independente e uma consciência própria. Assim a economia e a sociedade andam atrás dos políticos em vez do contrário. Vive-se assim duma política de encenação. Um 25 de Abril que choca homens que só vivem do partidarismo terá, apesar do corpete da União Europeia, um destino semelhante ao da democracia instalada em 1910.
Da “ditadura” da Nação Império para a “ditadura” da Nação Democrática
Se Portugal dormiu durante o Regime de Salazar bem continua a dormir no Regime dos Abrilistas que além de atraiçoarem os povos das antigas colónias desmiolam o sentido da liberdade e da democracia! Um anacronismo atendendo ao desenvolvimento das nações europeias nos últimos 50 anos. No desconhecimento da realidade inter-cultural, parece passar-se em 74, depois das insónias, da “ditadura” da Nação Império para a “ditadura” da Nação Democrática. O Povo continua a ser um lameiro de engorda sem pretensões sequer a ser arbusto!
Se uns se arranjaram em nome de Salazar outros, ou os mesmos, arranjam-se melhor em nome da Democracia e da liberdade. Os slogans dos servidores do Povo de outrora apregoavam o bem da nação e a segurança, os slogans dos novos servidores do Povo anunciam o bem do povo e a liberdade. No tempo das drogas as dores são mais suaves! O tempo está bom camaleões e invertebrados! Eles prostituíram-se nas sombras do povo e da nação! Como vivem bem da prostituição, querem um país de meretrizes, à sua semelhança, mas sob a bandeira da democracia. Preferem a ignorância e a subserviência do seu povo, para melhor serem aplaudidos nos arcos do triunfo do estrangeiro ou das multinacionais. Para não tropeçarem na iniquidade declaram-na virtude. O futuro do povo é-lhes indiferente. Por isso desperdiçam a sua confiança não se preocupando com matrizes aferidas ao ideário nacional e humano.
É necessário um 25 de Abril mas equilibrado na mudança e grande no bom exemplo dos eleitos. Para isso terão de deixar de construir barricadas institucionais à semelhança dos republcanistas, para construírem pontes entre a tradição e o novo, entre os ricos e os pobres.
Os partidos automatizaram-se perdendo assim o nexo da nação. Em contrapartida, os partidos duma nação como a Alemanha conseguem, no meio dos seus interesses partidários legítimos, pôr acima de tudo os interesses da nação. Isto nunca se deu em Portugal. Por isso foi tão desastrosa a primeira república portuguesa. Portugal continua a desconhecer o primeiro princípio da sociedade de Esparta: o bem-comum da comunidade está antes do bem individual. Um serve o outro.
António Justo