ALMA DE PORTUGAL AO RELENTO

Em busca da vida,
Da terra se vão,
Nos olhos as lágrimas,
Pesar no coração.

Nos seus caminhos à frente
Só segue seu pensamento
Desejos do nevoeiro
Ajudados só p’lo vento!…

São vales, montes e serras,
Cravos à terra roubados,
Viveiros d’identidade,
Sonhos da pátria embalados
No ghetto da saudade!

Meu povo, levado, por remir
Alma de Portugal ao vento
Nos estendais dependurado
Roupa apenas para vestir
O tal país engravatado.

Meu povoo, que só trabalhas
Sedento da cor d’aventura
Gasta cor d’ocupação
Portugal miragem apenas
Dissidente a condição!…

© António Justo
in “Rascunhos do Tempo” , 2005

António da Cunha Duarte Justo

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A Europa abandonada à Esquerda… E depois?…

Falta de estruturas e de organização dos Conservadores
Um observador atento à questão da identidade europeia e da geografia dos partidos não pode ficar indiferente à preponderância da esquerda e da sua presença predominante na formação de opinião e na ocupação de lugares estratégicos a todos os níveis na Europa. Isto é visível nas estruturas da União Europeia e nas instituições da emigração portuguesa. A esquerda é estruturalmente solidaria e zelosa. Internacionalmente tem uma boa rede com interligações coesas a nível partidário, sindical, administrativo, imprensa, universidades, maçonaria, Conselho das Comunidades, etc.
Os partidos Conservadores não parecem interessados na própria expansão e inserção intencional nos diferentes órgãos da sociedade. Por enquanto vão recebendo de graça os votos dum eleitorado fiel que não questiona nem se interessa com as pessoas que os representam. Tem-se a impressão que vivem de rendimentos que não semearam. Isto verifica-se também, duma maneira geral, nas estruturas partidárias conservadoras das várias nações europeias. Enquanto que uma esquerda inteligente ou esperta está bem estruturada e com boa rede a nível nacional e europeu, os conservadores limitam-se, regra geral, a organizações ad hoc para campanhas de eleições. É verdade que não é fácil a motivação para organizações de carácter político. Isto não justifica porém uma certa inércia.Um partido vocacionado para as grandes massas populares tem que se inserir nele e não desperdiçar o grande potencial dos intelectuais/académicos. De facto, a ideia está antes da acção. Este é um princípio não só da hipnose…
Se se tiver em conta a realidade da vida partidária no seio da comunidade portuguesa na Alemanha, sendo esta a expressão sintomática duma situação geral, tem-se a impressão que a Europa, a nível de estruturação, está entregue desde já à esquerda. Os conservadores parecem viver do princípio esperança.
A uma estratégia coesa de infiltração da esquerda em lugares de relevância para a formação de opinião nas comunidades lusas da Europa, contrapõe-se a ausência de pessoas do Centro-Direita a todos os níveis, mesmo naqueles que, por natureza, lhe estariam mais afectos. Constata-se também que as pessoas da esquerda ao ocuparem o seu lugar como profissionais, nas diferentes instituições, não abdicam do seu papel de militantes empenhando-se activamente em organizações.
Pelo que se observa os partidos PSD/PPD/CDS mais que interessados na sua integração estrutural e estratégica nas comunidades Lusas parecem contentar-se com individualidades ocasionais.
A falta de estruturas pode favorecer a incúria e uma estratégia subjacente a interesses pessoais sem grande preocupação pelo partido nem pelos ideais do mesmo. Um partido que acredite nele mesmo não se pode contentar com meia dúzia de direcções que, na altura devida, ocasionam a possibilidade de organizar algum encontro com alguns poucos “amigos” e assim tornar viável uma declaração para a imprensa e outras questões óbvias(como acontece na RFA). Isto não iliba os partidos mais estruturados como é o caso da esquerda onde é muitas vezes usual a manipulação. Não se trata de questionar os activistas nem de se absolutizar as estruturas. O importante é a concepção e vida interna do partido, a sua inserção e consistência, a sua capacidade de dar resposta, a sua consciência e a sua perspectiva de futuro. Um partido não pode viver só das campanhas ou de actos formais, ele tem de possibilitar uma forma de estar, uma filosofia de vida. Esta será mais ou menos exigida conforme o avanço ou o retocesso duma sociedade. Numa sociedade cada vez mais individualista e desintegrada terão mais eficiência aquelas instituições que souberem dar resposta adequada às necessidades de pertença e a funções supletivas. Por outro lado, a falta de inserção do partido, num mundo cada vez mais organizado e funcional, em que os Media condicionam grande parte da vida pública e se exige dos políticos o impossível, dificulta a defesa da sua filosofia com uma expressão pública sempre renovada e aferida. Essa falta favorece a inactividade de personalidades do partido que por se verem obrigadas a repetir frases feitas ou a improvisar continuamente desgastam-se passando então “isolados” a evitar tudo aquilo que lhes possa exigir mais responsabilidade e deste modo a desenvolver mecanismos de defesa contra tudo o que possa implicar uma certa concorrência interna.
Nesta perspectiva, limitam muitas vezes a sua actividde a meia dúzia de apoiantes sem público que apareçam nalgum restaurante escondido nalgum beco dalguma grande cidade onde se encontram então os tais 20 conhecidos do conhecido que não deixarão ficar mal o tal representante do partido em campanha… O acesso de informação das cúpulas e a sua comunicação com as bases ficam reduzidas a uma pequena rede de pessoas condicionadas e condicionantes que transmite uma informação demasiadamente conotada e geralmente não aferidas às realidades in loco, muito longe duma participação cívica e política. Não chega um mínimo de organização pontual pessoal, que rapidamente se pode revelar muito frágil para o sistema. Este modus faciendi torna tanto os partidos como os candidatos muito vulneráveis, inter-dependentes e por vezes cúmplices não só a nível estrutural interno como até na relação com a oposição.. A Europa cada vez se tornará uma realidade mais presente na vida interna das nações e os luso-descendentes virão a ganhar relevância neste contexto. Estes tornar-se-ão mais conscientes e não apoiarão quem está ausente. Quem não tiver isto em conta perderá o futuro. Um partido mais que recolher votos deveria dar impulsos práticos e filosóficos para a sociedade. “Nem só de pão vive o homem”…
É mais que óbvia e necessária a organização de portugueses e luso-descendentes em todos os quadrantes das sociedades de acolhimento e de envio. O futuro não perdoará uma estratégia partidária de fomento de pessoal paraquedista, provenha ele de vendedores de serviços bancários, de seguros ou de outras parágens.
Quanto à Alemanha parece haver um acordo tácito de se deixar o terreno à esquerda. Neste sentido a esquerda portuguesa sente-se bem pelo lugar que ocupa e sem sombras pois pode até determinar comportamentos de companheiros da oposição; o eleitorado ainda não tem correspondido ao seu esforço mas com o tempo o fará, se continuarmos com o mesmo proceder dos conservadores. Numa perspectiva futura seria prejudicial para Portugal se só a esquerda continuasse a afirmar sistematicamente a sua presença militante nas comunidades portuguesas da Europa. Uma inserção no terreno e a necessidade da criação de laços com as organizações dos partidos irmãos locais e com iniciativas congéneres ou associações tornam necessária uma mudança de estratégia.
Na Alemanha a Esquerda Portuguesa tem-se infiltrado estratégica e monoliticamente nas instituições portuguesas relevantes com poder significativo de multiplicação: Serviços estatais, sindicatos dos Professores, Sindicato do Pessoal Consular e de Embaixadas, Assistência Social da Caritas, Conselho das Comunidades, Imprensa, associações relevantes como em Hamburgo e Dortmund, jornalistas ao serviço da imprensa de Portugal, etc. Atendendo à rede, interligação e interacção das pessoas nas instituições referidas, os multiplicadores da esquerda vão tendo algum êxito no meio de destinatários que por “natureza” seriam conservadores. O problema é que, devido à hegemonia daqueles, os poucos indivíduos e individualidades conservadores que se encontram de premeio nas referidas instituições, se adaptam colaborando também eles, por vezes de forma cúmplice, na propaganda dos colegas da esquerda. Assim torna-se mais fácil viver. Sob um determinado ponto de vista isto torna-se compreensível atendendo a que, como consequência do 25 de Abril, grandíssima parte dos postos diplomáticos foram saneados e ocupados com pessoal da esquerda. Assiste-se a uma conecção entre administração, partidos, sindicatos e imprensa. Um punhado de pessoas bem enredada e amigalhada, consegue manipular toda a comunicação e transmitir para Portugal em conivência com as mesmas instituições irmãs em Lisboa uma imagem não real e não aferida das questões migrantes.Trata-se de um sistema autónomo cujos fins são ele mesmo, ou pior ainda a satisfação de desejos individuais, isto é, de pessoas que se mantêm e afirmam através do aproveitamento e do compadrio. Uma súcia oportuna e encostada que tem na mão a informação e que determina o que deve ser oficial e público, embrulhando e empacotando a realidade à medida da sua imagem e interesse. Na coutada da emigração anda muita gente a salto. Não há rei nem roque, nem o diabo que lhes toque. Salve-se quem puder. (1)
O desinteresse e o adiamento da organização de núcleos e de federações nas nações com comunidades portuguesas por parte dos partidos conservadores portugueses apressa-lhes a perda do comboio. Uma intervenção coerente e reflectida a nível de concepção e de logística reflectir-se-ia como um serviço às comunidades lusas, aos conservadores e ao Estado, além de proporcionar um investimento no futuro. Precisamos de todos, partidos e não partidos, numa discussão e empenho por um serviço lúcido e aferido aos luso-descendentes, pelo bem-comum, por um povo e por Portugal.

António da Cunha Duarte Justo
Rhoenstr. 56
34134 Kassel, Alemanha
Tel: 0049 561 407783
Email : a.c.justo@t-online.de

(1) Seguem-se dois exemplos:

Uma “Abrilada” de “abrilistas”
Instrumentalização das Comemorações do 40° Aniversário
da Comunidade Portuguesa na Alemanha

No dia 4 de Dezembro a Embaixada em Berlim festejou dentro e no sentido “dos seus muros administrativos” a “tal” comemoração na perspectiva dos seus funcionários correligionários e acólitos com um programa ad hoc e a publicação dum livro com alguns artigos tendenciosos e caricatos além de omisso em aspectos muito importantes da vida da comunidade.
Apesar de serem bem conhecidos os vícios do jornal mensal “Portugal Post”, a Embaixada, Consulados e a Secção Local do Conselho das Comunidades incluíram no seu programa de “40 Anos da Comunidade Portuguesa na Alemanha” no encerramento das comemorações em Berlim, o dito jornal para “proceder à entrega do prémio “Portugaleser”, por si instituído para distinguir pessoas e instituições que, pela sua actuação nos mais diversos campos contribuíram para a dignificação da comunidade portuguesa e para o desenvolvimento das relações entre Portugal e a Alemanha”.
Propriamente, todas as comemorações na Alemanha estiveram preponderantemente sob a égide da esquerda. É imperdoável a promiscuidade em questão; a falta de sensibilidade política; o à-vontade e o quase atrevimento com que agem pessoas da vida pública de quem seria de esperar mais responsabilidade e isenção.
A embaixada pode ter as suas razões para não dar medalha a nenhum português a distinguir. O que não pode é abdicar da sua dignidade encostando-se seja a quem fôr para preencher um programa. A embaixada abdicou do seu papel ao apoiar o jornal com menos nível na Alemanha, desconsiderando assim os portugueses e colocando-os a um nível tão baixo e tão partidário. As gafes cometidas na organização das comemorações não aconteceram certamente apenas por distração.O alheamento da embaixada e a apatia do povo, em relação à mesma, também não serão suficientes para explicar o procedimento.
Isto mais parece uma “Abrilada” de “abrilistas” descontraídos com uma consciência de classe, que não de povo. Foi uma festa de actores para actores , à custa dos portugueses, sem o nível que se deveria esperar dum Portugal Europeu. A um grupinho, talvez mais esclarecido até apoio financeiro recebeu para se deslocar e dar brilho de classe intelectual à festa!…
Será que temos um governo tão masoquista ou tão soberano que não se preocupa com o que a embaixada tem feito?
A estratégia da esquerda portuguesa na Alemanha é eficiente; são poucos mas ocupam pontos estratégicos; os portugueses porém são mais coloridos e diferenciados. O vermelho só, por muito bonito que seja, torna-se monótono e absorvente em certos meios e instituições que se pretendem representativas. É incompreensível que o governo implemente acções contra ele mesmo, num país tão importante como a Alemanha.

António da Cunha Duarte Justo
10.12.04

Carta ainda sem resposta escrita a 16. 07. 2004

Exmo Senhor Ministro da Educação
Exma Senhora Ministra dos Negócios Estrangeiros
Exmo Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

Excelências!

Assunto: Compra de favores. Solicitação de intervenção e de apuramento de responsabilidades
no apoio dado pela Embaixada de Portugal na Alemanha a um jornal partidário

Atendendo à gravidade do caso em questão é de crer que os Ministérios não estão informados da verba que a Embaixada atribui anulamente ao Portugal Post.

A Coordenadora do ensino de português na Alemanha, que gozava da completa coberturta dos superiores imediatos, ofereceu, ilícita e partidariamente, a assinatura do Portugal Post ( jornal mensal na Alemanha) a todas as Comissões de Pais dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas na Alemanha. As cerca de duzentas assinaturas correspondem a uma despesa anual de 2.700 Euros. Este apoio da Embaixada ao jornal é suportado pelos Serviços de Apoio Regional do Consulado de Portugal em Estugarda que por sua vez o tira da verba concedida pelo Estado Federado do Baden Württenberg.
Tal subsídio ao jornal não terá sido outorgado sem a anuência de um serviço administrativo português competente. O serviço oficial desqualifica-se e fere o princípio de isenção ao apoiar um jornal sobejamente partidário e de baixo nível.

Considerando que

1. Ao jornal falta qualquer integridade moral e deontológica.
2. A conivência das estruturas (Embaixada e Administração) tem sido abjecta. Uma administração consciente e isenta não precisa de aliados desta natureza, nem está legitimada para servir clientelas
3. Utiliza indevida e abusivamente verbas desviadas para fins ilícitos e menos nobres. O Estado alemão concede ao Estado português uma verba para fins nobres…
4. A Coordenadora do ensino iniciou, há anos, a subsidiação do jornal para, como consta, numa estratégia de compra/venda de favores, melhor poder manipular as informações relativamente ao ensino e atacar o actual governo a partir da Embaixada sob pseudónimo.
5. Instrumentaliza premeditadamente as Associações de Pais.
6. Difamador do senhor Secretário de Estado das Comunidades, o Portugal Post, é extremamente partidário não olhando a meios servindo-se mesmo da mentira para enxovalhar sistematicamente o PSD, o governo e até quem se atreva na Alemanha a questionar a lobby instalada.
7. Os critérios de financiamento dum jornal não podem ser baseados na mera compra de favores nem na defesa duma determinada ideologia.

Solicito apuramento de responsabilidades e a devolução imediata da verba há pouco enviada pelas autoridades portuguesas ao jornal.
É óbvio que a Embaixada não pode impôr apenas um jornal desta natureza para as Comissões de Pais. Poderá financiar todos os jornais às Comissões, mas não com dinheiros provenientes da entidade alemã! O subsídio alemão deveria ser aplicado na reposição da justiça ao professores lesados das áreas alemãs desde 1998.
Atenciosamente
António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo
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ESCRITA CRIATIVA

Escrever para ser
Ser no escrever
Escrita Criativa
É mais que criada
É ser na escrita

Tanta riqueza escondida, tanta gente condenada ao silêncio por medo do erro, por medo do erro gramatical, pelo medo de ser ferida pela palmatória pública! Por outro lado tantos senhores da verdade, tantos cães de guarda de prisões douradas dos bens de alguns roubados ao povo. Lá fora, fora dos muros altos do erro, da verdade, da ciência e do bem, uma outra prisão fantasma universal onde,cães soltos, fazem muita gente cativa, sem nada, privada da expressão, cativa do ser!
Vida ingrata, mero recibo com a vida paga ao credor fantasma que a vida engana. Porquê tanta obediência, tanta sujeição? Porque andar acorrentados de muro em muro a vida saltando? Ser pessoa é processo é tornar-se Logos, ser palavra. Um esforço de escrita criativa numa iniciativa desinibida chega a resultar num texto emocional que poderá constituir incentivo, para outros passos na construcção da grande poesia que é a vida e o mosaico da comunicação.
A Escrita criativa é um recurso tanto para crianças como para pedagogos e pessoas interessadas em exercitar um método muito eficaz de produção de escrita e de auto-experimentação.Há muitos tesouros enterrados e muita vida por descobrir, por expressar na maior parte de todos nós letrados e iletrados, viventes à margem, à margem de nós e da Vida. Por vezes atrás do Alguém que é Ninguém de Nenhures, apenas Inibições, fruto do medo, impedem-nos de escrever as próprias vivências e de dar expressão ao nosso ser. Atrás duma inibição esconde-se por vezes o desejo irrequieto de alguém demasiadamente preocupado com o produto texto. Esta fixação é, muitas vezes, motivadora de perfeicionismos formais perseguidores de crianças e coveiros de fantasia/criatividade, para não dizer do próprio ser. Tal como aprendemos a língua falando, aprendemos a escrever escrevendo. A criatividade é estranha ao negócio, não se ensina nem se aprende, ela é como o amor… supõe um encontro consigo mesmo, com o mundo. O segredo é estar aberto, abrir-se a si, ao universo; é ouvir, ver e sofrer prescutando o Outro no seu ser; é ler muito e escrever muito para o talento despertar e essa matéria prima que jaz em cada um de nós à espera de forma, à espera de ser dada à luz, num ambiente tranquilo, surgir, aprarecer e tornar-se consciência.
A escrita criativa é viva, não é uniforme. Cada um tem uma competência comunicativa específica mais ou menos bloqueada, independentemente do domínio de técnicas e estratégias de expressão.No mundo da escrita criativa, todos podem sonhar e criar uma realidade livre e justa. Aí, o medo dos erros será superado pela poesia da vida expressa que brota do próprio ámago, fonte donde jorra a vida vivida e não só pensada. Aí podem viver letrados e iletrados, sem medos nem complexos a aventura da vida o revibrar da sua poesia.

Fazer poesia é tentar ir à raiz das coisas,
Descansar do repetitivo, do habitual…
É uma maneira de olhar o mundo, de ser e de estar nele…
Uma forma mais real do que a vivida e propagada realidade. ..
É imaginar para lá das imagens a imagem que se é…
É não ligar à forma, nem física nem intelectual
É sentir… mais que prazer, alegria no escrever..
É dar-se como forma de vida…
É aprender o afecto, de gatas, na procura duma mão…
É amar sendo amado sem saber…
É encontrar-se no outro para nele desaparecer…
É deixar-se agarrar para amar e ser amado como bem apetecer…
Para lá da fronteira das normas e da moral,
Fora das cercas, dos muros e das convenções…
Despidos do pensamento, desmascarada a realidade…
Lá onde o amor é real… onde não se pensa, mas se pensa com o coração
Lá no intervalo da existência, da existência e das formas que passam a ser.
É ser vivência de eu e mundo reconciliados
É ser-se deles a expressão
Talvez uma brisa, uma onda, um vulcão!
É ser-se guitarra a tocar o mundo na mão!.
..

Na escrita criativa é importante criar-se um estado meditativo. Necessita-se de uma competência empática e comunicativa não sujeita apenas às normas da língua utilitária. Para começar poderia recorrer-se à escrita automática, escrevendo todos os dias durante meia hora, sem reflectir, tudo o que vier à caneta. Um lugar isolado, música instrumental, respiração ventral, favorecem a ressonância universal. Depois, não é importante se se opta por uma forma clássica com grande preocupação pela forma e regras ou se se escolhe a poesia visual onde o sentido da palavras evidencia o objecto ou o objecto evidencia o sentido das palavras e em que rima e sinais da pontuação se tornam desnecessários; ou se se opta pela poesia concreta em que a forma não tem interesse, por vezes sem sentido, sem sinais de pontuação, as palavras são todas minúsculas, talvez para levarem a pensar.
Mais que duma aprendizagem ou dum exercício trata-se duma consciência de ser que por vezes desemboca no tormento existencial vivido, na dor dramática que por vezes se expressa na magia das palavras daquele que vê o outro lado da realidade, o outro lado da vida. Sem medo do erro e sem receio de se estragarem as maquilhagens, é um salto na vida vivida não fingida! É importante deixar despertar em nós o que é inerente à pessoa, descobrir nas trevas que nos enredam sinais de realidades sublimes que só os iniciados nas coisas do coração podem vislumbrar ao descobrir as cordas da guitarra que se é. Então, escreve-se, tange-se com o coração o mundo nas mãos. No centro da criatividade produtiva está uma nova forma de pensar, de estar e de sentir. A escrita acontece num diálogo aberto, eu-tu-nós-ambiente. Surge em situações existênciais em que palavra e vivência entram em jogo criador numa trindade una de corpo-espírito-alma, eu-tu-mundo, produtor de fantasia a aconter.
A escrita criativa mais que método é processo centrado em si mesmo, palco e encenamento de experiência-vivência deixando o texto de ser produto para se tornar expressão lúdica, veículo e médium num processo de redescoberta e autoconsciência.

© António Justo
in “Rascunhos do Tempo” , 2005

António da Cunha Duarte Justo
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AUTISTAS AO SERVICO DE OUTROS INTERESSES

Uma administração à margem da realidade, demasiadamente partidária e não receptiva às bases

A situação caótica do ensino de português criada na Alemanha, devido à partidarização das estruturas da administração do ensino a partir de 1997, tem sido fatal para o ensino de português, para a relação entre professores e para a imagem de Portugal. A politização do lugar de Conselheiro através de nomeação política veio impossibilitar o diálogo entre professorado e a administração. Interesses particulares, perturbações graves, arbitrariedades, o desrespeito pela legislação e o menosprezo dos mais elementares direitos passaram à ordem do dia.

A má administração económica e o favoritismo de pessoal não só passa a sobrecarregar economicamente o erário público como introduz um desequilíbrio escandaloso no tratamento de funcionários em situações de trabalho idêntico, com o mesmo grau de exigência curricular e de empenho profissional. Criou-se uma classe privilegiada de professores a ganharem 4.000 euros líquidos mensais trabalhando apenas 22 tempos lectivos semanais, enquanto que outros recebem entre 1500 e 2000 Euros mensais com uma carga horária semanal de 28/29 horas (profissionais que ganham menos que qualquer trabalhador consular).

Em 1998 foram abolidos 39 lugares dos professores requisitados, o que deveria implicar uma redução nas despesas do ensino. No entanto nos anos seguintes Portugal gasta mais dinheiro com o ensino do que em 1998. Continua por esclarecer o paradeiro das vebas orçamentais até 98 destinadas à complementação de vencimentos dos referidos 39 professores e o desvio de verbas do governo alemão destinadas ao ensino mas que foram abusivamente destinadas para apoiar um mensário português de conotação política da esquerda na Alemanha.

Foram privilegiados projectos para elites (Berlin e Hamburgo) à custa do ensino para os filhos dos trabalhadores. As colocações no projecto bilingue de Hamburgo são feitas extra concurso, por cunha, e muitas vezes por recomendação da parte alemã, embora os professores sejam pagos por Portugal.

Os atropelos às leis levam os professores para os tribunais, pois não há vontade política para resolverem as situações criadas. Um contencioso jurídico entre professores e Ministério tem-se arrastado de forma desgastante desde há sete anos, prevendo-se que só a nível europeu a questão será resolvida.

A degradação a que se chegou tornou-se possível devido à conecção entre os serviços administrativos locais e centrais do Ministério da educação e o pessoal de altos postos a nível do Ministério dos Negócios Estrangeiros em conivência com uma política de corredor defensora de interesses arrivistas e de postos a que falta uma consciência de Estado e de Povo. Passou-se ao encasulamento duma administração caríssima, fechada em si mesma, inactiva e omissa, a um sistema aparatoso de postos irrentável e ineficiente. A administração moderna não pode basear-se apenas na carolice de alguns poucos tapa buracos frustrados que passam a vida a tentar remediar as avarias que a própria administração produz.

Grande parte dos sistemas ligados à emigração pecam de incompetência, partidarismo, interesses particulares instalados em estruturas que organizam a sua vida para viverem o dia a dia. Não só lhes falta a inserção na realidade que administram como nem sequer dão resposta a alguns problemas que se lhe colocam. Tornaram-se estruturas sem controlo, autónomos e autistas, fruto duma mentalidade de clientela e partidária que usa o sistema democrático para os próprios fins.

Constata-se que instituições mesmo do estado vivem encostadas a projectos que sorvem os dinheiros do contribuinte e os subsídios comunitários sem o mínimo resultado positivo para Portugal
Torna-se urgente uma reestruturação básica do Ensino no Estrangeiro e uma sinergia de esforços de todos os intervenientes que corrijam a pesada herança de Administrações anteriores. Nesse sentido torna-se necessária a criação de um Quadro de Afectação no Exterior, isto é um quadro específico para docentes de português no estrangeiro, que abranja um subquadro por país responsável por todos os docentes a leccionar aos filhos dos emigrantes. Por razões de contenção financeira acabe-se com favorecidos e desfavorecidos do sistema devendo os vencimentos ser auferidos de acordo com a tabela salarial dos professores funcionários alemães (“Beamte”) com o correspondente horário de trabalho semanal de 28 tempos lectivos, como é práxis para os alemães e não apenas 22 tempos lectivos como é no caso de Portugal. São irresponsáveis os gastos a nível de burocracia atendendo ao trabalho efectuado e ao número de utentes do mesmo. É de todo incompreensível que Portugal gaste 12.000 Euros mensais com um conselheiro numa embaixada quando as necessidades a nível de cursos de português e de associações são de nível elementar podendo-se com o mesmo dinheiro fazer-se muitíssimo mais e contribuir-se para a satisfação de docentes e de associações.

É urgente resolver o contencioso entre ME e parte do professorado; é urgente uma nova mentalidade. A ideia que ainda domina grande parte da burocracia peca ainda por uma atitude fascista não superada. A ideia de serviço, de estado e de povo parecem ainda alheias ao sistema e aos partidos.

António da Cunha Duarte Justo

Este artigo foi publicado no semanário “O Diabo” no dia 8.11.05

António da Cunha Duarte Justo
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