EUA – UE – Rússia – China e Índia – Pesos da Balança de um Mundo em Desequilíbrio
No tempo do mundo unipolar de cunho ocidental sobressaía uma ordem social, uma norma, uma ciência e uma verdade. Agora que o mundo se está a tornar multipolar, procurando estabelecer novas ordens, proclamam-se diferentes verdades e a ciência e as universidades deixam o seu caracter enciclopédico para se adaptarem às diferentes correntes. Em termos religiosos quase se poderia dizer que estamos a passar do monoteísmo para um politeísmo desalmado. Acompanhar a crise e a mudança confronta-nos com uma reavaliação das prioridades e valores individuais e coletivos onde o aspecto humano e a humanidade (dignidade humana inalienável-soberana e fraternidade) não parecem constar da orientação básica. Muito embora a crise possa servir como um catalisador para a mudança, nesta espreitam-nos muitos perigos, o que pode provocar em alguns um receio apocalíptico e levar pessoas socialmente empenhadas a sentir-se a caminho do colapso rápido da actual ordem mundial de cariz ocidental. Isto não tanto pela reavaliação urgente e necessária e consequentes soluções inovadoras que se observam na sociedade, mas pela acompanhante desconstrução de valores sociais, familiares, humanos etc. verificáveis nos diferentes povos europeus.
A crise sistémica global está a originar a formação geopolítica de polos rivais e a nível interno das sociedades conduz a uma polarização sociopolítica entre conservadores e progressistas; especialmente na Alemanha pode observar-se uma viragem do pacifismo para o militarismo tanto a nível de “esquerda” como de “direita”, ganhando-se a impressão de que o que mais determina a história são factos criados autoritariamente na base do nacionalismo económico-militar: uma nova estratégia talvez compreensível na crise da passagem da realidade histórica de nações para uma organização de supraestruturas de Estados…
São mais que visíveis os sinais da mudança da atual matriz social que fazem prever uma nova ordem mundial: a decadência da civilização europeia e do modelo monopolar ocidental; alinhamento de países em torno de núcleos, exemplo Brics; desmontagem e apagamento da cultura de cariz europeia e da pessoa humana no sentido de ser criado um indivíduo-cidadão funcional com a acompanhante ideológica do materialismo relativista para que este se torne compatível, com uma nova ordem (segundo o espírito de Klaus Schwab, de Elon Musk, Boros, etc.); transferência do poder político para o administrativo, provocando também a crise do pessoal político que tem de abdicar da essência da sua personalidade ; o fórum de Davos encontro de poderes à escala global não só como coordenação de políticas mas também como escola de formação de elites para uma política centralista de agendas e ONGs; deslegitimação da família e do estado acompanhada da desqualificação da moral tradicional (a ser desligada de usos e costumes) para a legitimação de uma nova moral meramente racional e funcionalista ser aceite: nesta luta o cristianismo é a mundivisão mais atacada por fazer parte essencial das bases da civilização ocidental (ao lado da filosofia grega e da organização romana) e defender a soberania da pessoa e a sua dignidade humana individual e por manter uma profunda interligação entre natureza e cultura, quando os novos estrategas querem fazer valer apenas uma nova cultura divorciada da natureza de maneira a substituir esta e assim a legitimar a imposição de ideologias ad hoc; deste modo legitimam o estabelecimento de um poder abstrato aleatório universal contra instituições originadas natural e organicamente como a família, a tribo, a nação. Com a centralização do mundo distribuída por blocos, o factor estratégia passa a ser mais importante do que o factor liderança (governo) fomentando-se na consequência o relativismo da moral, das instituições e das mundivisões. O caos pode legitimar o surgir de uma nova ordem, está já não natural em conformidade com a criação, mas artificial.
O Norte e o Sul global encontram-se num período intermédio entre a velha e a nova ordem mundial surgente. Os arquitectos do poder já há muito trabalham de forma mais ou menos clandestina na sua forja de maneira a criar uma nova têmpera cultural europeia. Entrementes, vive-se a fase de agitação e de erosão da Europa, enquanto nas periferias dos blocos se dão guerras possibilitadoras de novas orientações e da ordenação de novas constelações a surgirem também na Ásia e em África. A formação de uma nova ordem ou de novas ordens no espectro mundial fomenta e legitima acções criminosas. À imagem do que acontece nos fenómenos geológicos e climáticos observam-se mudanças política-geográficas devido aos ventos ciclónicos da política dos EUA /OTAN em direção ao Leste, e da Rússia-EUA sobretudo na Ucrânia, da luta de interesses entre China e EUA em torno de Taiwan (disputa pelo Pacífico) e política otomana da Turquia (Erdogan) no Médio Oriente e no Leste da Euro-ásia.
Além das mudanças na geografia, observa-se um processo de mudanças nas tarefas dos políticos, na cultura e no próprio génio das sociedades. Diferentes visões do mundo dominantes reagem de modo que a região atlântica se move numa direção e a pacífica na outra.
Acompanham-nas uma mudança no papel e função da política e dos políticos! Os governos deixam de o ser porque se encontram sujeitos a uma reestruturação dos papéis políticos que anteriormente eram de caracter mais pessoal-regional e orgânico e agora passaram a ser transformados em administradores e aplicadores de agendas exteriores e os parlamentos limitam-se muitas vezes ao papel de legitimadores de directivas supranacionais; Concretamente: o governante é transformado em administrador, com tendência a escapar ao Parlamento! Passam a ser aplicadores do poder centralizado que gere através de agendas e directivas geralmente vinculativas porque confecionadas por poderes oligárquicos.
O alargamento da área geográfica e do poder dos EUA/OTAN em direcção à Rússia provocou um movimento de revisionismo na Rússia e o escalar geopolítico na Ucrânia instigou a formação de conglomerados de solidariedades entre países com o consequente alinhamento apressado em blocos enquanto algumas potências agem politicamente com mais reserva, na esperança de se tornarem também elas núcleos (Índia, Brasil).
Mundivisões religiosas e para-religiosas como o Marxismo e Maoismo vivem em confronto e agitação na consciência que até agora são as mentalidades que determinam ainda a política e os valores do mundo de hoje. A tendência de instâncias globalistas é preparar a dominância do Pacífico, mas esta só pode acontecer com uma mudança cultural progressiva das bases da antropologia e da sociologia europeia; daí o seu principal empenho na Europa.
O sul global observa que o Ocidente já não é o que era e está a perder uma guerra após outra (Iraque, Síria, Afeganistão e a instabilidade da guerra militar na Ucrânia e a verdadeira guerra de fundo que é a guerra económica europeia contra a Rússia com repercussões em todo o mundo; isto provoca a falta de confiança numa Europa que perde influência ao unir a sua política económica à política militar dos EUA. O aumento da violência mundial já não pode ser impedido por uma palavra poderosa de um poder hegemónico determinado, por mais poderosa que seja a sua mão. Os EUA já não conseguirem ser sozinhos os garantes da ordem mundial e dos seus valores embora continuem a ser económica, militar e estrategicamente a maior potência. A acentuar este processo de erosão da Europa, da Rússia e dos EUA vê-se chegada a era da informação que implica outras formas de domínio mais sofisticadas.
É neste contexto que os BRICS se estão a fortalecer (alguns dos membros também não querem uma ordem mundial monopolista nem bipolar.
Nesta conjuntura político-económica e geoestratégica o grande saber e grandes personalidades perturbariam o novo sistema onde a táticas e negociações hábeis se revelam mais oportunas (Neste sentido acautelava já o filósofo Platão: “O mais alto grau de injustiça é a justiça desonesta!” e na era da informação cada vez mais povo passa a dar-se conta do que se passa.
De facto, a moralidade já não está presente nos círculos superiores porque o óbvio são os interesses práticos das constelações de blocos em processo de alinhamento e não a vida das pessoas e de seus biótopos culturais-religiosos (estes parecem estorvar até políticos regionais!). A moral está a ser conectada sobretudo na linha da dimensão político-social sem o aspecto da transcendência (este é da competência das religiões que constituem um certo impedimento para a implementação de uma nova ordem de caracter meramente materialista, racionalista e profana; especialmente a religião católica é tida pelo materialismo como o maior obstáculo o que explica a intensiva luta contra ela).
Devido à liderança internacional externa, os partidos já não têm programas propriamente a longo prazo, tendo apenas de estar atentos e reagir à vida quotidiana do seu âmbito de acção e apenas à perspectiva do rito eleitoral a realizar-se cada 4/5 anos. Os quadros de orientação superior têm contrariado rumos de caracter nacional ou regional próprios; em vez disso tuteiam agendas e directivas políticas formuladas pela organização mundial ou a nível de blocos, à imagem das convenções económicas entre grupos de Estados.
Os políticos em termos de governo não se sentem interessados no que se passa na sociedade; por isso moralidade e previsão, são substituídas por accionismo e estratégia (na Alemanha, a actual coligação de SPD, FDP e Verdes tornou-se num exemplo de como não se pode nem deve governar uma vez que cada partido se esforça por servir a própria clientela em primeiro lugar ou sentem-se ao serviço de interesses geoestratégicos do grupo que seguem; os declarados inimigos (concorrentes) dos governos são entretanto, os partidos populistas europeus que assumiram o papel da oposição aos governos!
A diplomacia também está em crise porque nesta fase a reorientação dos países em relação aos vários blocos ainda não foi concluída. Cada bloco luta pelos seus ideais de um mundo justo com valores próprios, mas que na realidade só poderão funcionar na complementaridade! O modelo europeu uma vez corrigido e adaptado aos vários polos civilizacionais poderia ser um ponto de partida no sentido de garantir a paz.
A ambivalência política resultado de uma geopolítica económico-militar ainda não definida desestabiliza as consciências de estados nacionais. O grande problema interno europeu tornou-se a imigração desregrada; isto causa na Europa a sensação real de maior instabilidade porque uma imigração desmedida e agressiva faz surgir nas populações o sentimento de ser culturalmente recolonizada como aconteceu no século oitavo com a invasão muçulmana. A ausência de uma geopolítica responsável aliada à decomposição da cultura europeia desestabiliza as sociedades europeias. As populações notam que razão e a realidade política já não podem ser reconciliadas e isto cria espaço para a anarquia e para o desespero. Percebe-se que os políticos e a política já não podem agir na defesa dos seus povos, limitando-se a só poderem reagir a conjunturas complexas suportadas apenas pelas populações. Nestas circunstâncias a política reage apontando para a necessidade da inclusão-formação de forças económicas e militares na esperança de maior segurança quando a consciência do povo adverte que essas medidas não podem garantir sustentabilidade nem a paz. O cidadão também não pode compreender o sentido de gastos balúrdios em guerra quando ele é obrigado a restringir-se.
Vivemos numa sociedade agitada porque as nossas cabeças e os nossos corações se recusam a unir-se e a reconhecer-se como complementares. Quem governa e quem é governado divergem cada vez mais!
A singularidade do indivíduo que é própria das sociedades de base cristã é o suporte de toda a emancipação do indivíduo da sua comunidade, facto este que possibilitou a transição de regimes políticos autoritários para a democracia e destaca o Ocidente como pioneiro dos direitos humanos.
De facto, a singularidade do indivíduo que é o verdadeiro factor de emancipação do indivíduo em relação à comunidade, começou principalmente a partir do iluminismo, a ter expressão destrutiva no momento em que eclipsa a comunidade e com o acompanhamento das ideologias materialistas se torna em estrela cadente de egos luminosos. Hoje essa tendência exagerada ganha expressão na mentalidade do pensar politicamente correcto e em algumas formas de Yoga fomentadoras de um ego isolado na sociedade ocidental! Quando praticado ao extremo, leva ao autoisolamento e a dependências arbitrárias. Uma civilização e uma sociedade não podem sobreviver nem se desenvolver baseadas apenas numa ordem de direitos individuais básicos por muito que estes se apoiem numa constituição política que cuidem da preservação dos direitos individuais na qualidade de subordinados a uma ordem meramente económico-militar como pretendem novos projectores de futuro. Direitos individuais e de comunidade pressupõem uma relação de balance na consciência de que a base da comunidade/instituição é o indivíduo.
O mundo islâmico, consciente daquilo que o faz institucional e mundialmente forte, não estava convencido da declaração dos direitos humanos de cunho ocidental e reservou-se o direito a um ajustamento sociológico-religioso dos mesmos. Os direitos básicos são concedidos, mas todo o cidadão é obrigado a ser responsável e a submeter-se à “comunidade e à família” (Umah – a comunidade islâmica). Mesmo a Turquia secularizada por Ataturk, considera a sociedade como organizada colectivamente e não como uma comunidade de indivíduos. (Ao descrever a situação não quer dizer que defenda a estratégia muçulmana ou estratégias do género).
Uma ética reduzida à dimensão social e à universalidade dos direitos básicos individuais sem referência à comunidade (família, cosmovisão e região) só pode levar ao estabelecimento de um governo central mundial ou de uma cultura suprarregional vazia e anónima que não parte da pessoa humana nem da comunidade orgânica, mas de uma burocracia e administração de dados e não de pessoas. As organizações suprarregionais no Estado formativo não são construídas organicamente e, portanto, não se desenvolvem naturalmente de baixo para cima, mas sim através da imposição de cima para baixo.
Se as comunidades islâmicas na Europa exageram o aspecto da sua comunidade cultural contra o indivíduo, os europeus exageraram o aspecto da individualidade contra a própria comunidade cultural. Nesta situação o mundo islâmico tem mais garantias de sustentabilidade e afirmação do que o europeu.
O sistema democrático está a ser destruído nas suas bases ao ver o poder político das bases diminuído ao dar-se uma transferência desadequada de competências soberanas para os centros do poder como Bruxelas estando o processo a dar-se de maneira hipócrita e enganosa (sem verdadeira legitimação das bases). Os biótopos culturais são os primeiros a sofrer as consequências (sendo substituído o particular, o que é próprio pelo que é geral, sendo esvaziada a legitimação democrática do poder); isto, como já disse, provoca no meio da sociedade uma espécie de dicotomia entre os adeptos das novas situações político-administrativas de caracter centralista que ganham expressão nos progressistas e do outro lado reage o polo defensor do biótopo cultural, os conservadores mais vinculados também às bases e às regiões.
À divergência entre o sentir político e o sentir das populações acrescenta-se o desfasamento das sociedades (civilizações) entre si. Por outro lado, o sentido atraso de outras civilizações em relação à civilização europeia será o bónus delas que as levará a afirmarem-se sobre a Europeia já em processo de desfasamento depois da primeira guerra mundial em que os EUA, perante a afronta da União Soviética como inimigo comum do sistema se afirmou também sobre a Europa com o apoio do Reino Unido. A Europa tem de redescobrir a comunidade sem ter necessidade de o fazer à custa dos direitos humanos desde que integrados numa comunidade cultural consciente de si e da sua responsabilidade no mundo (o poder militar cria segurança e o poder económico cria bem-estar temporário, mas sem uma comunidade oleada pela transcendência). Não chegam conglomerados em nome de valores: os assim chamados valores democráticos poderão unir elites do abstrato que estão predestinadas a viver em guerra e a sucumbir ao serem um dia confrontados com ditaduras consistentes.
A visível vantagem da China sobre o Ocidente deve-se ao facto de o seu sistema ainda possuir as estruturas e bases culturais, políticas e sociais semelhantes às que dominavam a Europa nos séculos XIV e dominam ainda hoje nos países islâmicos e em regimes autoritários; A consciência colectiva e a liberdade do indivíduo criaram as condições para a Europa se abrir ao mundo. Naquela época pensávamos coletivamente e observávamos individualmente e o vínculo entre as duas características possibilitou grandeza, domínio e opróbrio no mundo; a ideia religiosa de fazer do mundo um lugar católico onde reinasse a fraternidade, virou em domínio político e económico sobre os povos e sobre as populações. No meio de tudo isto é oportuno olhar-se a realidade sem moralismos nem pretensões de poder, mas dar-nos apenas conta de como funciona a sociedade nos seus factores componentes e olhar para a geografia do globo. Igualdade, fraternidade e liberdade pressupõem a consciência de Comunidade feita de comunidades de vida e não apenas uma sociedade feita de sócios em agrupamentos partidários. Caso contrário, aboliremos a comunidade em nome de outras comunidades e desmantelaremos a nossa. A ideia de que os direitos humanos levarão os cidadãos de outros povos a derrubar os seus próprios governantes é ilusória quando o próprio agrupamento (por Exemplo OTAN) se baseia na força e no poder em alianças militares com centros explosivos distribuídos por todo o mundo. (E depois queixam-se dos países que sabem o que significa poder mundano e procuram criar as próprias bombas atómicas como se vê em Israel, Irão, Coreia do Norte).
No passado, os povos formaram-se em torno de crenças, religiões, culturas que lhe conferiam singularidade específica e poder de expansão. Hoje inverte-se a pirâmide procurando de maneira até declarada organizarem-se já não povos, mas sociedades alinhadas em torno de áreas geográficas, da economia, das forças armadas e da correspondente doutrina. A desmitificação atinge o seu auge no secularismo prático e materialista e o povo insurge-se contra porque não quer perder a sua alma individual e colectiva. Esta crise social e civilizacional provocada pela nova ordem em via é tomada em conta pelos atuais pioneiros do novo poder a instalar-se (quer-se uma viragem anti orgânica para se instalar uma artificial).
A China parte do princípio e da realidade da comunidade e subordina-lhe o indivíduo; esta é a sua força epocal de maneira a açambarcar a responsabilidade sobre o indivíduo assumindo o comunismo como espécie de religião (alma que dá consistência ao sistema) que lhe concederá mais valia durante algumas dezenas de anos sobre o principal rival que é a USA. A sociedade ocidental segue o caminho inverso sendo as pessoas a assumirem, de certo modo, o poder e a dignidade de serem elas responsáveis pela comunidade: ideal nobre e honrado, mas para que os povos não estão preparados. (A nível prático, porém, quem mais ordena é o poder económico unido ao político-militar que se faz acompanhar pelos meios de comunicação social e pelas universidades como música de escolta; por isso o sistema social explora os ideais humanos e fixa o seu sistema na satisfação das necessidades principalmente materiais. Perdeu a mensagem de humanidade e o sentido da mensagem humana que trazia ao mundo e substituiu-a pela mensagem económica, militar e ideológica.
Nesta fase do acontecer o mundo prepara-se para contruir um grande palco de concertos onde cada concerto toca a própria música mesmo que com o desagrado do concerto ocidental que até agora determinara o ritmo da música. Os problemas ainda permanecerão, mas serão mais do caracter de sobreposição de tom e já não de ordenamento do ritmo. Cada área geográfica mundial irá afirmar-se mais em torno dos seus valores partilhados. Lamentável é, porém, o facto de a civilização de bases humanistas cristãs se ter exteriorizado de si mesma para se dedicar sobretudo ao exercício do poder pelo poder e ao domínio dos outros de maneira a tornar-se também ela numa ameaça para o mundo num mundo ameaçador. Não chega satisfazer-nos com a nossa bandeira dos valores e da democracia; a nossa sociedade e o mundo precisam de mais.
Cada bloco terá o próprio núcleo e o seu poder central como é natural. Enquanto não houver uma geopolítica mais humana a Alemanha tornar-se-á a força mais forte na EU, acolitada pela França (entretanto, os alemães apressam o seu negócio na EU procurando fortalecer apressadamente os seus vizinhos de Leste). Depois da Grande Guerra Mundial, a Alemanha queria enquadrar-se na Europa em geral, mas desde a sua mudança de consciência através da participação na Guerra da Ucrânia, sentiu-se obrigada a descobrir a sua antiga vocação pelas armas, que terá um grande impacto na Europa, apesar de se encontrar ainda manietada pelo Tratado 2+4. A Alemanha está predestinada a tentar assumir na Europa, o papel dos EUA no mundo. Como mostra o novo governo federal no comportamento entre SPD-Verdes-FDP, a mudança iniciada já não se baseia em compromissos como nos tempos de Kohl e Merkel, mas sim em posições mais duras que já são evidentes na nova atmosfera militarista no governo e na oposição. A militarização da Alemanha e a sua influência na política da UE, que pretende deixar de ser uma federação de nações, para se tornar num conjunto de pequenos países em torno das grandes potências da Europa, está a tentar fazer com que os pequenos países percam a sua posição de força (a força do veto) em decisões comunitárias importantes e assim, se tornarem mais insignificantes favorecendo ainda mais as grandes potências, que determinarão toda a política! (Isto dá-se em nome da eficiência e afirmação do polo europeu no concerto dos povos, mas o ridículo da questão é o facto do Primeiro Ministro português, António Costa, se ter tornado numa espécie de porta-voz da Alemanha, defendendo, de facto, a diminuição de direitos das nações pequenas).
Na UE, como tem acontecido desde a Reforma de Lutero, o modo de vida do Norte irá afirmar-se ainda mais sobre o do Sul e, como consequência, haverá uma mudança ainda maior de transferência de poder das periferias (e dos países latinos) para o Norte. Especialmente a Alemanha, com a Amizade Franco-Alemã dominará interesses de poder mais oportunistas (para simplificar: o Anglo-Saxão irá afirmar-se) descuidando os interesses da Europa como bloco. A França e a Alemanha, mais que a nível de amizade, lidam taticamente entre si para que possam manter o comando da Europa. A Alemanha não pode tornar-se demasiado franca política e economicamente por razões tácticas. Uma táctica bem pensada para tornar os países periféricos submissos é oferecer postos de políticos regionais na UE e em fóruns internacionais de maneira a tornar os países periféricos submissos através de compromissos preguiçosos (o povo mais simples até se sente honrado ao ver personalidades portuguesas em postos internacionais altos, enquanto olham para fora não se dão conta do que acontece dentro) . Compromissos podres encorajam o egoísmo pessoal de políticos, mesmo à custa de seus países perderem a própria voz.
Em tempos de classificação e de reunião de países (como satélites) em torno do centro, passará, no debate o poder a dominar sobre o compromisso. Compromissos são exigidos aos níveis mais baixos e cujo destino é aliarem-se em torno de uma potência ou da outra (para já Berlim-Paris, depois surgirá também a Polónia desde que beneficie os interesses dos EUA).
A longo prazo o destino da Europa não estará certamente acorrentado à França (países romanos) nem à Alemanha (países anglo-saxónicos) porque, à medida que os tempos amadurecem, a Europa tornar-se-á mais independente dos EUA e virá a sua chance longínqua numa união tática com a Rússia no sentido da Euro-Ásia. Esperemos que, entretanto, o mundo amadureça e inicie uma política de paz entre povos irmãos.
A luta em voga contra a cultura europeia e a persistente desmontagem dos seus fundamentos tornaram-se no maior cancro que corrói a nossa civilização. Quando se observa em muitos dos nossos governantes tornarem-se nos seus próprios Judas e cangalheiros torna-se ainda mais triste a tragédia… A crise é motivo de ânimo, porque tudo isto é de caracter fenomenológico e a humanidade com altos e baixos saberá encontrar maneira de passar o “estreito de Magalhães” à imagem do grande português Fernão de Magalhães ao serviço de Espanha.
Doutro modo a História ensina que no fim, como a figueira amaldiçoada, promete tornar-se lenha para civilizações vindouras se aquecerem. Hoje levantam-se os seus almocreves como profetas wokes, Gender, etc.
O apagamento cultural que se deu em muitos povos indígenas devido à colonização europeia está agora de volta no apagamento cultural europeu sendo os seus principais apagadores o socialismo marxista e maoista ávidos não de pessoas, mas de sócios e o turbo-capitalismo ávido não de pessoas, mas de clientes; no meio de tudo isto quem mais ganha é o islão e o materialismo.
Que seria da balança e do equilíbrio sem peso padrão e sem a ajuda dos pratos que conjuguem forças opostas, sem a lei da complementaridade?
António CD Justo
Pegadas do Tempo