Dos Vendilhões do Templo de Jerusalém aos Vendilhões de Bruxelas

Entre Fariseus progressistas e Saduceus conservadores

Por António Justo

Situação na Polis outrora e hoje

Os Saduceus (conservadores, acreditam no livre-arbítrio, negavam a existência da alma, de espíritos e de anjos) pertenciam ao alto escalão social e económico da sociedade (aristocracia do Templo) e seguiam estritamente a Tora (Lei); os Fariseus (progressistas acreditavam na liberdade humana mas com influência do destino e na ressurreição dos mortos), fanáticos e “hipócritas” seguiam a Tora e a tradição oral, manipulando as leis no seu interesse e juntavam o poder religioso ao poder político (no Sumo Sacerdote).

Os saduceus eram colaboracionistas dos gregos e dos romanos pelo que eram odiados pelos partidos dos Zelotes. Comportavam-se em relação ao poder ocupante romano de maneira serviçal e oportunista, acatando no Sinédrio (senado) as decisões de Roma.

Muitas das características descritas em relação aos Saduceus e Fariseus encontram-se hoje na política e nos parlamentos nacionais também no que respeita ao poder da UE e ao Grande Sinédrio de Bruxelas.

O Modelo de Sustentabilidade que dá Perenidade ao Desenvolvimento

Parto do princípio, porém, que a sustentabilidade e sobrevivência do povo judeu, deve muito aos Fariseus. Interessante que tanto o Povo Judeu como a Bíblia (Antigo e Novos Testamentos) se tornam em protótipos do desenvolvimento histórico e humano. Em Jesus Cristo podemos reconhecer a integração e conciliação da materialidade/corporalidade e do espírito (divindade) numa só pessoa; por outro lado, o povo judeu mantem também ele na sua existência a tensão e inclusão dos extremos que lhe garante a continuidade através da História. Moral da história: só a integração, do aparentemente polar e contraditório, num processo de inclusão de complementaridades (numa realidade superior para lá das diversas perspectivas), conseguirá dar sustentabilidade à sociedade – missão essa, que o Cristianismo assume na vivência da experiência da Realidade Jesus Cristo na qualidade de comunidade e de pessoa; como realidade relacional e processual aberta, o Cristianismo contem no seu protótipo da Realidade, a fórmula que serve ao mesmo tempo de matriz de indivíduo e sociedade que comporta a antecipação do futuro garantidor de todo o Homem e de toda a comunidade humana na plataforma da divindade suporte de toda a realidade existente e não existente (fórmula trinitária) numa dinâmica do já e ainda não.

Da Ordem natural das Coisas – Polis entre Fariseus, Escrivas e Saduceus

Dado que sem preconceito não se passa ao conceito, há que constatar: no discurso político é muito frequente tropeçar-se com Escribas e Fariseus: uma direita com o rei na barriga e uma esquerda com a rainha; de resto, petulâncias ou rumores intestinais.

Fariseus e saduceus, ontem como hoje, manifestam duas tendências/princípios naturais que dão continuidade a um povo numa dinâmica de preconceitos interactivos das duas partes. O erro da hipocrisia fomentadora do preconceito parece ser o óleo dos veios de transmissão entre o motor (o agente) e o carro (povo) e, como tal, o erro torna-se, a nível factual, numa constante motriz do desenvolvimento histórico.

A ordem natural das coisas dá razão e favorece os detentores do poder ou os que se encontram na sua disputa. Quem não entende isto, em termos de política, está predestinado a ser terreno onde aqueles escavam seus regos para a água deles passar. Lógica da questão: quem não entra fica como o cão à porta e por mais que ladre nunca chega a ter razão (na lógica factual do poder)!

Do mercado da polis – Hipocrisia e Iniquidade

Portugal dá a impressão de andar sempre em campanha eleitoral, sem espaço para discutir nem elaborar programas de governação; parece ser um agregado sociológico de repúblicas (povos) – sem Povo – num arraial antigo, onde ecoam os pregões e os berros.

Quem não tem acções partidárias no mercado da polis resigna, faz da tristeza raiva ou procura consolação na exclamação: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados… também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23. 27-28)

Tal como nos tempos bíblicos, temos conflitos programados e de que bem vivem os escribas/saduceus e fariseus.

A palavra Fariseus ganhou a conotação de hipócrita e de confessos aparentes. Fariseus e Saduceus/Escribas fazem parte da dialética social e são adversários entre si mas quando se trata de defender os próprios interesses sublevam e dividem o povo para poderem legitimar e manter as estruturas do poder que lhes oferece palco seguro para se afirmarem (manipuladores do povo matam Jesus para depois lavarem as mãos na “inocência do povo” que os legitimou). Inteligentes como serpentes, encontraram e encontram uma estratégia comum que lhes dá segurança na ocupação dos cargos de prestígio da nação e a maioria dos postos no Sinédrio. A inveja e a ganância atiçam-nos uns contra os outros, a ver quem mais come enquanto o povo olha e ladra para enganar a fome.

A ganância humana torna-se apetite desenfreado. Se não fosse o apetite que seria do saborear!… Mas o povo cada vez mais habituado ao fastio vai perdendo o apetite e o caracter, fomentando ainda mais os apetites dos poucos.

O apetite partidário é tanto que chega a não distinguir o que já lhe estreborda do prato. Victor Hugo dizia “em tempo de revolução, cuidado com a primeira cabeça que rola. Ela abre o apetite ao povo”. Por essa razão andará tanta gente à volta de algumas cabeças; o problema delas será nunca se saciarem; por isso se tornam cães de guarda ou feras.

Todos mereceram a crítica do Mestre da Judeia porque adorando ídolos e não Deus mostravam-se como os mais dignos de respeito entre o povo. Uma reflexão pessoal e nacional, para ser salutar a nível de comunidade, deveria passar a considerar a dialética polarizante como mal menor a ser ultrapassado processualmente no serviço de um bem maior que é o todo de tudo em todos. Premissa da relação: o outro que permite identificar-me é o tu que dá consistência à minha ipseidade (eu-tu-nós) que se expressa na relação do eu-tu inclusivo a realizar Jesus Cristo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

CONSTITUIÇÃO ALEMÃ EM ÁRABE PARA REFUGIADOS

As mesmas regras de jogo para alemães e estrangeiros – Iniciativa para evitar a desculpa do “não sabia„

António Justo

Quem vem para a Alemanha deve saber que “os princípios da nossa sociedade democrática são válidos para todos”.

O vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel (SPD) mandou traduzir os primeiros 20 artigos da constituição alemã e imprimir 10.000 exemplares em árabe para serem distribuídas nos centros de acolhimento de refugiados e aos deputados na Alemanha. Junto toda a Constituição em árabe (دستور جمهورية ألمانيا الاتحادية): http://www.fes.de/international/nahost/pdf/GGArabisch.pdf

Deste modo os refugiados poderão saber quais são os princípios que regulam a sociedade alemã. Ninguém poderá mais tarde argumentar que não sabia as regras do jogo (traduzo): “A Alemanha não é um país qualquer. Aqueles que vêm para cá precisam de saber como é a cultura da convivência entre nós”, declara agora Gabriel em entrevista ao Bild Zeitung (2.10.2015). Defende a cultura dominante argumentando: „Existe uma cultura de liberdade e responsabilidade, de direitos e deveres de que não queremos abdicar. As pessoas que vêm para cá devem não só aprender a língua alemã, mas também saber as regras de jogo da nossa coexistência”.

E concretiza: “Ninguém é forçado, quando vem para a Alemanha, a mudar de religião, ou a mudar a sua vida privada. Mas que, é importante para a nossa convivência, que os princípios da nossa sociedade democrática, se apliquem a todos. A todos aqueles que já se encontram cá e a todos os que vêm. Que, entre nós, Religião e Estado são separados, que homens e mulheres têm os mesmos direitos, que cá a homossexualidade não é nada anormal, que as parcerias de vida podem ser escolhidas livremente, que somos um país com liberdade de expressão, que também inclui a crítica à religião, também mostramos nenhuma tolerância perante anti-semitismo, todos estes são os princípios que temos de declarar/explicar – mas cuja aceitação esperamos daqueles que vêm até nós. Também na integração se aplica: exigir e promover.”

Na Alemanha, atendendo à grande afluência de imigrantes (este ano conta-se com um milhão de pretendentes a asilo) e aos muitos problemas de convivência não resolvidos, a política começa a falar texto claro.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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CARAVANA PRIVADA EM BUSCA DE REFUGIADOS – UMA INICIATIVA À REBELDIA?

Accionismo devido a Falta de Informação objectiva ?

António Justo
Na sexta-feira passada 25.09, tal como informa VISÃO, partiram de Portugal 6 automóveis com destino à Hungria/Croácia/Eslovénia (a caminho decidir-se-ão), no intuito de voltar a Portugal com os carros “cheios de refugiados”. “Seis carros – sete, a contar com o da equipa da SIC -, cada um com duas pessoas, um piloto e um co-piloto…” reza a VISÃO. Os activistas pensam com esta acção dar uma bofetada na burocracia dos Estados europeus e “gastar provavelmente o que gastaríamos numa semana de férias” e talvez ajudá-los até ver. Que ideias fazem da situação Nuno, Pedro, Vera, Abdul e outros colaboradores da iniciativa? Tudo isto em nome e à responsabilidade de quem? Para imigrantes é suficiente a improvisação e o mostrar boa vontade?

Uma tal acção será legítima se as pessoas que transportam os refugiados se comprometerem a dar guarida, formação e emprego aos refugiados enquanto estes não puderem viver à custa própria e se suponha que tal acção seja coberta pelas autoridades, doutro modo correriam o perigo de serem inculpados de passadores (Na Alemanha estão 1.500 pessoas em observação por cumplicidade de negócio de tráfico com refugiados; naturalmente que estes não poderão ser comparados com sentimentos de bondade espontânea). Com acções do género servem-se, por vezes, mais os jornais do que os afectados pela injustiça.

Armar-se em samaritanos à custa do Estado ou de outros, que depois terão de assumir responsabilidade pelos refugiados, cheira a leviandade criticável, ingenuidade pura ou cumplicidade; tudo isto pode ser encarado como o accionismo da UE que agora começa a acordar, porque começa a sofrer as consequências das formatos que ajudou a criar ao desestabilizar a Síria e outras nações apoiando o terrorismo daqueles que usam de movimentos populares por vezes bem-intencionados.

Os autoproclamados bombeiros da necessidade, agem como se refugiados, na condição de pobres estivessem dispostos a aceitar viver em qualquer condição e como se Portugal tivesse aberto as fronteiras aos imigrantes. Aqui na Alemanha tem havido revoltas entre refugiados alojados em centros de acolhimento, embora as autoridades alemãs se esforcem imensamente por os ajudar; estas são secundadas pelo povo com iniciativas de apoio e ajuda com bens materiais e no ensino da língua, condição essencial para os imigrantes se autoafirmarem no mercado! Um exemplo: refugiados acolhidos numa caserna e a viver provisoriamente como vivem os soldados em geral consideram tal situação desumana.

Com isto não quero levar pessoas a olharem para o lado! A responsabilidade deve perceber o que está deveras a acontecer e a complexidade da situação de uma crise reveladora de situações desumanas em que se encontram inocentes, vítimas, muitos necessitados (à procura de maior felicidade) mas também, entre eles, pessoas com energia criminosa; em tal situação só o Estado ou organizações humanitárias terão a competência para ajudarem efectivamente sem correrem o perigo de uma ajuda questionável só para inglês ver!

Não chega dar peixe, é necessário ensinar a pescar, já sabia o nosso povo! A Síria está a ser sangrada e a ver-se envelhecer vendo os seus jovens a fugir e estados como a Turquia interessados em continuar a guerrilha não são questionados. Com a crise dos refugiados continua a desaviar-se a bola para canto.

Ao cinismo europeu e americano (intervenção no Afeganistão, destruição dos Estados no Iraque, na Líbia, na Síria e instabilização de toda África do norte, aos interesses concorrentes entre Turquia e Irão) segue-se uma reacção afectiva em relação ao êxodo provocado que se pode tornar tão questionável como o cinismo. O mau desenvolvimento na Europa em consequência das duas grandes guerras não pode ser argumento justificador de políticas à deriva ou à vela dos ventos de ideologias e dos interesses xiitas ou sunitas.

A Europa e cada europeu precisam de maior reflexão sobre o que se faz e o que se deixa de fazer: política de investimento nos referidos países para que os cidadãos não se vejam obrigados a emigrar na procura legítima de uma vida melhor! Precisa-se do empenho de todos, instituições e cidadãos, numa acção conjunta, não para fortalecer o próprio ego em atividades publicitárias de relações públicas à custa de “refugiados inocentes” mas para colocar a humanidade e a justiça no centro do agir individual e político!
António da Cunha Duarte Justo
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REFUGIADOS E ALMA POPULAR A AQUECER EM BANHO-MARIA

O Discurso sobre Refugiados parece esgotar-se no “a Favor” e “no Contra” a sua Admissão

António Justo
A Europa é um continente aberto às culturas, à mudança e até à improvisação. Perante a imigração em curso, os excessivos desejos e pretensões de muitos refugiados colidem com o medo popular; muitos detalhes passam à margem dos feitores da opinião pública que, com a tesoura na cabeça a nível de apresentação dos factos, procuram evitar que surja no povo mais medo e uma atitude contra estranhos. Os políticos e as autoridades religiosas cristãs e de outras confissões assumem, publicamente e na prática uma atitude de defesa e empenho pelos refugiados. Nos meios sociais mais “livres” e nos comentários particulares da internet depara-se, por toda a parte, com uma opinião pública determinada mas indiferenciada: de um lado os bonzinhos desprendidos que têm tudo para dar e do outro os mauzinhos sempre prontos a defenderem os direitos adquiridos e o que julgam seu. Explicações simples, como “capitalismo desumano” e “islão agressor”, encontram-se subjacentes a muitas opiniões.

De resto, no que toca ao tema refugiados confrontamo-nos com o medo domado e com uma sociedade desorientada e sobrecarregada que se sente castigada por “invasão„ tal que só parece poder ter explicação nalgum pecado algures cometido ou por outrem perpetrado.

Alemanha – um País privilegiado por e para Refugiados

É confortador constatar como a sociedade alemã, a imprensa, as instituições religiosas e políticas reagem tão positivamente à nova imigração. A nível popular observam-se imensas iniciativas de ajuda e a nível de autoridades todas as comunas se empenham imensamente no sentido de receberem os hóspedes com dignidade humana. Nota-se a preocupação de reagendar dinheiros públicos e de se criarem enquadramentos que sirvam e ao mesmo tempo comprometam os hóspedes com os valores desta sociedade que motivou a sua escolha como centro da sua vida.

Para o fenómeno não há respostas simples. A difícil situação dos refugiados vem acrescentar-se à pobreza de muitos cidadãos e ao medo suposto ou real da perda de identidade.

Na Alemanha esperava-se, no princípio do ano, a entrada de 400.00 refugiados, depois corrigiu-se a perspectiva para 800.000 e agora, a realidade leva membros do governo a prever a entrada de um milhão durante 2015.

O governo federal, os estados federados e os municípios já começaram a reestruturar o seu orçamento de milhares de milhões de euros no sentido de elaborar programas de construção de casas, de criação de novos lugares na administração, professores, assistentes sociais, tradutores, educadores de infância, etc. Além dos desafios que os recém-chegados colocam a nível de aprendizagem da língua, de mercado de trabalho e de integração vêm os problemas culturais e de mentalidade. A sociedade alemã é minuciosa e pensa em pormenor: consciente de que a Europa, ao contrário dos “árabes”, tem uma orientação individualista, emancipadora e de igualdade entre os sexos, já se preocupa também com a criação de cursos de formação para imigrantes masculinos para que estes adquiram competência neste sector, doutro modo não aceitarão instruções de mulheres chefes no seu lugar de trabalho. Um grande problema para a administração está também nas exigências de muitos refugiados que só querem ser albergados nas grandes cidades e por terem reivindicações irreais incutidas por traficantes em relação à sociedade acolhedora, o que os pode desencorajar dado a realidade que encontram não corresponder aos seus sonhos.

A Europa precisa de gente nova para equilibrar o seu défice de nascimentos mas devido à maioria de emigrantes masculinos está a criar-se uma desproporção e um excesso masculino, observam alguns. Por outro lado os recém-chegados não poderão preencher o buraco demográfico da sociedade que terá de lhes dar formação profissional e trabalho, pensam as autoridades. A Alemanha precisa de trabalhadores especializados e em especial artesãos, pensam os industriais. Os recém-chegados vêm de países não industrializados e por isso não podem solucionar, para já o problema do emprego, é preciso primeiro formá-los, pensam políticos.

Na Alemanha, muitas das pessoas no desemprego (quota de desemprego 6,7% e de pobres 15,5%) ou com fraca qualificação profissional e aqueles que têm o emprego em perigo e os que ocupam os lugares do “resto” temem a chegada dos novos imigrantes que serão os seus directos concorrentes no mercado de trabalho. Por isso o sindicato apela para que não haja uma concorrência desleal entre pessoas alemãs e estrangeiras em situação precária e para que o salário mínimo bruto à hora passe de 8,5 € para 10 €.

O comércio, advogados, médicos, assistentes sociais, professores e educadores alegram-se com a chegada dos novos clientes.

Pessoas talvez mais levadas pelo pensamento que pelo sentimento perguntam-se do porquê de, países islâmicos ricos como a Arábia Saudita, Oman e kuweit, não abrirem as portas aos refugiados. Outros, talvez mais levados pelo sentimento do que pelo pensamento advertem no sentido do Daily Mail que cita um islâmico da mesquita de Jerusalém: “o líder islâmico pede aos migrantes sírios que “aproveitem” a oportunidade para “procriar”. Sheikh Muhammad Ayed diz: “Nós dar-lhe-emos a fertilidade. Procriem com eles e nós conquistaremos os seus países, como sempre foi a vontade de Alá”. Como se vê híper-reacções de pessoas complexadas e de uma sociedade doente que não encontra solução para os seus cidadãos apesar das riquezas naturais que possui. Se não fosse o militantismo islâmico, a imigração em via seria menos controversa e um grande bem para a Europa que envelhece a olhos vistos (com os inerentes problemas anexos à produtividade para pagar as reformas); só a Alemanha para contrariar o défice de natalidade teria de ter uma imigração de 600.000 estrangeiros por ano, segundo as contas feitas por especialistas. A Alemanha do pós-guerra com grande deficiência de homens conseguiu integrar 11 milhões de deslocados alemães que tinham a mesma cultura e a possibilidade imediata de trabalho dado a Alemanha precisar de ser totalmente reconstruída.

Outros questionam-se pelo facto de ainda não ter sido possível integrar a massa dos trabalhadores migrantes vindos a partir dos anos 60 e que vivem aqui já na terceira geração; para estes, o máximo que se poderá alcançar e já não será mau, é uma coexistência pacífica de uns ao lado dos outros, pensam muitos. Mutos receiam que se formem sociedades paralelas ou zonas em que a polícia já não entre, como já se vai observando em grandes cidades; outros fazem comparação com a antiga Alemanha socialista que já custou um trilhão de euros e continua a custar muito dinheiro para vie a conseguir atingir o nível da Alemanha capitalista. Outros têm medo dos guerreiros islâmicos do Estado Islâmico que poderão remodelar a democracia em seu favor.

Outros questionam-se sobre o que acontecerá quando as receitas fiscais diminuírem. Quem pagará os benefícios sociais de que dependem. Outros ainda reconhecem os refugiados como consequência da má política europeia como no caso da Síria e do Iraque mas não estão de acordo em receber refugiados doutras zonas africanas e dos Balcãs.

O mais importante é que os que encontram acolhimento na Europa se devem comprometer com a Constituição e com os princípios que orientam as regras de vida europeias. Todo o receio de uns e outros seria descabido se hospedeiros e hóspedes se deixassem orientar por princípios humanitários. Vítimas de fome, guerras e ideologias chegam até nós na procura de felicidade e nós que de maneira mais ténue nos guerreamos ditando sentenças que substituem as antigas armas, já não em nome de Deus mas dos nossos interesses, dos nossos enfraquecidos valores e da nossa opinião/verdade.

Muitos têm medo do islão mas creio que exageram nas suas prognoses porque a História do futuro não seguirá os mesmos critérios da do passado que se afirmava pela violência, pela espada. O bem-estar adquirido e a formação cultural das pessoas provocarão uma nova consciência e uma nova forma de convívio e de estar que levará as pessoas a ser menos influenciáveis por ideologias sejam elas de caracter religioso ou político.

Mais provável é o que diz o cientista muçulmano Hamed Abdel Samad que prognostica, no livro “Der Untergang der islamischen Welt”, a queda do mundo islâmico e vê nas reacções exasperadas do mundo islâmico o sintoma de uma sociedade a disparar os últimos cartuxos antes de ruir. De facto o que não serve o Homem está condenado a desaparecer e por outro lado a formação ajudará o cidadão a integrar fé e razão e a respeitar a opinião individual de cada qual. O mesmo autor já tinha “profetizado” o êxodo massivo de povos muçulmanos para a Europa.

Haja o que houver, ao sol da economia e da ponderação, o povo tudo solucionará. Vivemos em tempos em que o pensar realista se torna cada vez mais difícil, atendendo à informação pública publicada. Uma Europa ateia e sistematicamente crítica em relação ao cristianismo, com o surgir do islão na Europa, verá reduzida a sua posição secularista em relação às forças religiosas. Poder-se-á dar como que uma vingança da História: um secularismo militante, filho da cristandade, verá diminuída a sua influência por não compreender o fenómeno religioso e os espíritos subjacentes que este fomenta e devido à sua adversidade religiosa em relação ao cristianismo. As sociedades encontram-se doentes e continuam atadas aos males do passado que se renovam no mundo islâmico e aos males da modernidade que culminou, sob a perspectiva europeia, nos socialismos de Estaline e Hitler e num capitalismo avassalador. A sociedade e o ser humano trazem o bem e o mal em si mas vai evoluindo, pouco a pouco. O sol deita-se todas as tardes mas também se levanta todas as manhãs para dar continuidade à vida!
António da Cunha Duarte Justo
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Truques para Casamentos forçados de Meninas que vivem no Estrangeiro

ALEMANHA – 200 MULHERES OBRIGADAS A CASAR QUANDO VÃO DE FÉRIAS

Por António Justo
A organização Terre des Femmes chama a atenção para meninas muçulmanas e outras que se encontram na Europa. Famílias utilizam as férias para as “raptar” e casar com algum primo ou outro jovem na sua terra em tempo de férias. Para os pais as férias tornam-se numa oportunidade para anular a inscrição das filhas da escola com o argumento de mudar de escola, começar uma formação profissional ou alegando que a família regressa ao país de origem.

A porta-voz de Terre des Femmes, Myria Böhmecke, refere que, na maioria dos casos, as meninas não sabem o que as espera nas férias. Muitas vezes têm “um ligeiro pressentimento do que poderia acontecer dado, em casa, se falar mais frequentemente sobre um primo” ou que os avós se encontram muito doentes ou que se festeja o casamento da prima mais querida. Uma vez no país de férias, é-lhes tirado o passaporte e o telemóvel. Assim não têm hipótese de pedir auxílio. A porta-voz da organização aconselha: em casos de dúvidas as jovens devem fazer cópia do passaporte e ter dinheiro consigo e um segundo telemóvel.

Na Alemanha em 2014 houve cerca de 200 mulheres jovens que se dirigiram à Terre des Femmes porque foram forçadas a casar ou porque receavam vir a sê-lo (Cf. HNA 2.08.2015). Atendendo aos pedidos de auxílio registados num ano na organização Terre des Femmes é de imaginar a grande quantidade de casos não registados. Há meninas que não têm mais de 13 anos e já se encontram nesta situação. Famílias exercem chantagem sobre as filhas chegando mesmo a exercer violência maciça sobre elas.

A porta-voz da organização diz que um estudo mostrou que 3.443 casos de mulheres por ano se encontram em risco iminente de casamento forçado ou que se vêem obrigadas a realizar casamentos forçados.

Tais coisas acontecem em sociedades onde o homem está sobre a mulher e a mulher é considerada propriedade do homem ou da família. A implementação da presença feminina nas sociedades patriarcais dará a estas sociedades potencialidades de futuro inestimáveis. Nas mulheres estão latentes as forças necessárias de desenvolvimento, da renovação e da revolução que têm sido mantidas em banho-maria nas sociedades patriarcais.