A CAMINHO DO COLAPSO DA ACTUAL ORDEM OCIDENTAL NO MUNDO

EUA – UE – Rússia – China e Índia – Pesos da Balança de um Mundo em Desequilíbrio

No tempo do mundo unipolar de cunho ocidental sobressaía uma ordem social, uma norma, uma ciência e uma verdade. Agora que o mundo se está a tornar multipolar, procurando estabelecer novas ordens, proclamam-se diferentes verdades e a ciência e as universidades deixam o seu caracter enciclopédico para se adaptarem às diferentes correntes. Em termos religiosos quase se poderia dizer que estamos a passar do monoteísmo para um politeísmo desalmado.  Acompanhar a crise e a mudança confronta-nos com uma reavaliação das prioridades e valores individuais e coletivos onde o aspecto humano e a humanidade (dignidade humana inalienável-soberana e fraternidade) não parecem constar da orientação básica. Muito embora a crise possa servir como um catalisador para a mudança, nesta espreitam-nos muitos perigos, o que pode provocar em alguns um receio apocalíptico e levar pessoas socialmente empenhadas a sentir-se a caminho do colapso rápido da actual ordem mundial de cariz ocidental. Isto não tanto pela reavaliação urgente e necessária e consequentes soluções inovadoras que se observam na sociedade, mas pela acompanhante desconstrução de valores sociais, familiares, humanos etc. verificáveis nos diferentes povos europeus.

A crise sistémica global está a originar a formação geopolítica de polos rivais e a nível interno das sociedades conduz a uma polarização sociopolítica entre conservadores e progressistas; especialmente na Alemanha pode observar-se uma viragem do pacifismo para o militarismo tanto a nível de  “esquerda” como de “direita”,  ganhando-se a impressão de que o que mais determina a história são factos criados autoritariamente na base do nacionalismo económico-militar: uma nova estratégia talvez compreensível na crise da passagem da realidade histórica de nações para uma organização de supraestruturas de Estados…

São mais que visíveis os sinais da mudança da atual matriz social que fazem prever uma nova ordem mundial: a decadência da civilização europeia e do modelo monopolar ocidental; alinhamento de países em torno de núcleos, exemplo Brics; desmontagem e apagamento  da cultura de cariz europeia e da pessoa humana no sentido de ser criado um indivíduo-cidadão funcional com a acompanhante ideológica do materialismo relativista para que este se torne compatível, com uma nova ordem (segundo o espírito de Klaus Schwab,  de Elon Musk, Boros, etc.); transferência do poder político para o administrativo, provocando também a crise do pessoal político que tem de abdicar da essência da sua personalidade ; o fórum de Davos encontro de poderes  à escala global não só como coordenação de políticas mas também como escola de formação de elites para uma política centralista de agendas e ONGs; deslegitimação da família e do estado acompanhada da desqualificação da moral tradicional (a ser desligada de usos e costumes) para a legitimação de uma nova moral meramente racional e funcionalista ser aceite: nesta luta o cristianismo é a mundivisão mais atacada por fazer parte essencial das bases da civilização ocidental (ao lado da filosofia grega e da organização romana) e defender a soberania da pessoa e a sua dignidade humana individual e por manter uma profunda interligação entre natureza e cultura, quando os novos estrategas querem fazer valer apenas uma nova cultura divorciada da natureza  de maneira a substituir esta e assim a legitimar a imposição de ideologias ad hoc;  deste modo legitimam o estabelecimento de um poder abstrato aleatório universal contra instituições originadas natural e organicamente como a família, a tribo, a nação. Com a centralização do mundo distribuída por blocos, o factor estratégia passa a ser mais importante do que o factor liderança (governo) fomentando-se na consequência o relativismo da moral, das instituições e das mundivisões. O caos pode legitimar o surgir de uma nova ordem, está já não natural em conformidade com a criação, mas artificial.

O Norte e o Sul global encontram-se num período intermédio entre a velha e a nova ordem mundial surgente. Os arquitectos do poder já há muito trabalham de forma mais ou menos clandestina na sua forja de maneira a criar uma nova têmpera cultural europeia. Entrementes, vive-se a fase de agitação e de erosão da Europa, enquanto nas periferias dos blocos se dão guerras possibilitadoras de novas orientações e da ordenação de novas constelações a surgirem também na Ásia e em África. A formação de uma nova ordem ou de novas ordens no espectro mundial fomenta e legitima acções criminosas. À imagem do que acontece nos fenómenos geológicos e climáticos observam-se mudanças política-geográficas devido aos ventos ciclónicos da política dos EUA /OTAN em direção ao Leste, e da Rússia-EUA sobretudo na Ucrânia, da luta de interesses entre China e EUA em torno de Taiwan (disputa pelo Pacífico) e política otomana da Turquia (Erdogan) no Médio Oriente e no Leste da Euro-ásia.

Além das mudanças na geografia, observa-se um processo de mudanças nas tarefas dos políticos, na cultura e no próprio génio das sociedades. Diferentes visões do mundo dominantes reagem de modo que a região atlântica se move numa direção e a pacífica na outra.

Acompanham-nas uma mudança no papel e função da política e dos políticos! Os governos deixam de o ser porque se encontram sujeitos a uma reestruturação dos papéis políticos que anteriormente eram de caracter mais pessoal-regional e orgânico e agora passaram a ser transformados em administradores e aplicadores de agendas exteriores e os parlamentos limitam-se muitas vezes ao papel de legitimadores de directivas supranacionais; Concretamente: o governante é transformado em administrador, com tendência a escapar ao Parlamento!  Passam a ser aplicadores do poder centralizado que gere através de agendas e directivas geralmente vinculativas porque confecionadas por poderes oligárquicos.

O alargamento da área geográfica e do poder dos EUA/OTAN em direcção à Rússia provocou um movimento de revisionismo na Rússia e o escalar geopolítico na Ucrânia instigou a formação de conglomerados de solidariedades entre países com o consequente alinhamento apressado em blocos enquanto algumas potências agem politicamente com mais reserva, na esperança de se tornarem também elas núcleos (Índia, Brasil).

Mundivisões religiosas e para-religiosas como o Marxismo e Maoismo vivem em confronto e agitação na consciência que até agora são as mentalidades que determinam ainda a política e os valores do mundo de hoje. A tendência de instâncias globalistas é preparar a dominância do Pacífico, mas esta só pode acontecer com uma mudança cultural progressiva das bases da antropologia e da sociologia europeia; daí o seu principal empenho na Europa.

O sul global observa que o Ocidente já não é o que era e está a perder uma guerra após outra (Iraque, Síria, Afeganistão e a instabilidade da guerra militar na Ucrânia e a verdadeira guerra de fundo que é a guerra económica europeia contra a Rússia com repercussões em todo o mundo; isto provoca a falta de confiança numa Europa que perde influência ao unir a sua política económica à política militar dos EUA.  O aumento da violência mundial já não pode ser impedido por   uma palavra poderosa de um poder hegemónico determinado, por mais poderosa que seja a sua mão. Os EUA já não conseguirem ser sozinhos os garantes da ordem mundial e dos seus valores embora continuem a ser económica, militar e estrategicamente a maior potência. A acentuar este processo de erosão da Europa, da Rússia e dos EUA vê-se chegada a era da informação que implica outras formas de domínio mais sofisticadas.

É neste contexto que os BRICS se estão a fortalecer (alguns dos membros também não querem uma ordem mundial monopolista nem bipolar.

Nesta conjuntura político-económica e geoestratégica o grande saber e grandes personalidades perturbariam o novo sistema onde a táticas e negociações hábeis se revelam mais oportunas (Neste sentido acautelava já o filósofo Platão: “O mais alto grau de injustiça é a justiça desonesta!” e na era da informação cada vez mais povo passa a dar-se conta do que se passa.

De facto, a moralidade já não está presente nos círculos superiores porque o óbvio são os interesses práticos das constelações de blocos em processo de alinhamento e não a vida das pessoas e de seus biótopos culturais-religiosos (estes parecem estorvar até políticos regionais!). A moral está a ser conectada sobretudo na linha da dimensão político-social sem o aspecto da transcendência (este é da competência das religiões que constituem um certo impedimento para a implementação de uma nova ordem de caracter meramente materialista, racionalista e profana; especialmente a religião católica é tida pelo materialismo como o maior obstáculo o que explica a intensiva luta contra ela).

Devido à liderança internacional externa, os partidos já não têm programas propriamente a longo prazo, tendo apenas de estar atentos e reagir à vida quotidiana do seu âmbito de acção e apenas à perspectiva do rito eleitoral a realizar-se cada 4/5 anos. Os quadros de orientação superior têm contrariado rumos de caracter nacional ou regional próprios; em vez disso tuteiam agendas e directivas políticas formuladas pela organização mundial ou a nível de blocos, à imagem das convenções económicas entre grupos de Estados.

Os políticos em termos de governo não se sentem interessados no que se passa na sociedade; por isso moralidade e previsão, são substituídas por accionismo e estratégia (na Alemanha, a actual coligação de SPD, FDP e Verdes tornou-se num exemplo de como não se pode nem deve governar uma vez que cada partido se esforça por servir a própria clientela em primeiro lugar ou sentem-se ao serviço de interesses geoestratégicos do grupo que seguem; os declarados inimigos (concorrentes) dos governos são entretanto, os partidos populistas europeus que assumiram o papel da  oposição aos governos!

A diplomacia também está em crise porque nesta fase a reorientação dos países em relação aos vários blocos ainda não foi concluída. Cada bloco luta pelos seus ideais de um mundo justo com valores próprios, mas que na realidade só poderão funcionar na complementaridade!  O modelo europeu uma vez corrigido e adaptado aos vários polos civilizacionais poderia ser um ponto de partida no sentido de garantir a paz.

A ambivalência política resultado de uma geopolítica económico-militar ainda não definida desestabiliza as consciências de estados nacionais. O grande problema interno europeu tornou-se a imigração desregrada; isto causa na Europa a sensação real de maior instabilidade porque uma imigração desmedida e agressiva faz surgir nas populações o sentimento de ser culturalmente recolonizada como aconteceu no século oitavo com a invasão muçulmana. A ausência de uma geopolítica responsável aliada à decomposição da cultura europeia desestabiliza as sociedades europeias. As populações notam que razão e a realidade política já não podem ser reconciliadas e isto cria espaço para a anarquia e para o desespero. Percebe-se que os políticos e a política já não podem agir na defesa dos seus povos, limitando-se a só poderem reagir a conjunturas complexas suportadas apenas pelas populações. Nestas circunstâncias a política reage apontando para a necessidade da inclusão-formação de forças económicas e militares na esperança de maior segurança quando a consciência do povo adverte que essas medidas não podem garantir sustentabilidade nem a paz. O cidadão também não pode compreender o sentido de gastos balúrdios em guerra quando ele é obrigado a restringir-se.

Vivemos numa sociedade agitada porque as nossas cabeças e os nossos corações se recusam a unir-se e a reconhecer-se como complementares. Quem governa e quem é governado divergem cada vez mais!

A singularidade do indivíduo que é própria das sociedades de base cristã é o suporte de toda a emancipação do indivíduo da sua comunidade, facto este que possibilitou a transição de regimes políticos autoritários para a democracia e destaca o Ocidente como pioneiro dos direitos humanos.

De facto, a singularidade do indivíduo que é o verdadeiro factor de emancipação do indivíduo em relação à comunidade, começou principalmente a partir do iluminismo, a ter expressão destrutiva no momento em que eclipsa a comunidade e com o acompanhamento das ideologias materialistas se torna em estrela cadente de egos luminosos. Hoje essa tendência exagerada ganha expressão na mentalidade do pensar politicamente correcto e em algumas formas de Yoga fomentadoras de um ego isolado na sociedade ocidental! Quando praticado ao extremo, leva ao autoisolamento e a dependências arbitrárias. Uma civilização e uma sociedade não podem sobreviver nem se desenvolver baseadas apenas numa ordem de direitos individuais básicos por muito que estes se apoiem numa constituição política que cuidem da preservação dos direitos individuais na qualidade de subordinados a uma ordem meramente económico-militar como pretendem novos projectores de futuro. Direitos individuais e de comunidade pressupõem uma relação de balance na consciência de que a base da comunidade/instituição é o indivíduo.

O mundo islâmico, consciente daquilo que o faz institucional e mundialmente forte, não estava convencido da declaração dos direitos humanos de cunho ocidental e reservou-se o direito a um ajustamento sociológico-religioso dos mesmos. Os direitos básicos são concedidos, mas todo o cidadão é obrigado a ser responsável e a submeter-se à “comunidade e à família” (Umah – a comunidade islâmica). Mesmo a Turquia secularizada por Ataturk, considera a sociedade como organizada colectivamente e não como uma comunidade de indivíduos. (Ao descrever a situação não quer dizer que defenda a estratégia muçulmana ou estratégias do género).

Uma ética reduzida à dimensão social e à universalidade dos direitos básicos individuais sem referência à comunidade (família, cosmovisão e região) só pode levar ao estabelecimento de um governo central mundial ou de uma cultura suprarregional vazia e anónima que não parte da pessoa humana nem da comunidade orgânica, mas de uma burocracia e administração de dados e não de pessoas. As organizações suprarregionais no Estado formativo não são construídas organicamente e, portanto, não se desenvolvem naturalmente de baixo para cima, mas sim através da imposição de cima para baixo.

Se as comunidades islâmicas na Europa exageram o aspecto da sua comunidade cultural contra o indivíduo, os europeus exageraram o aspecto da individualidade contra a própria comunidade cultural. Nesta situação o mundo islâmico tem mais garantias de sustentabilidade e afirmação do que o europeu.

O sistema democrático está a ser destruído nas suas bases ao ver o poder político das bases diminuído ao dar-se uma transferência desadequada de competências soberanas para os centros do poder como Bruxelas estando o processo a dar-se de maneira hipócrita e enganosa (sem verdadeira legitimação das bases). Os biótopos culturais são os primeiros a sofrer as consequências (sendo substituído o particular, o que é próprio pelo que é geral, sendo esvaziada a legitimação democrática do poder); isto, como já disse,  provoca no meio da sociedade uma espécie de dicotomia entre os adeptos das novas situações político-administrativas de caracter centralista que ganham expressão nos progressistas e do outro lado reage o polo defensor do biótopo cultural, os conservadores mais vinculados também às bases e às regiões.

 À divergência entre o sentir político e o sentir das populações acrescenta-se o desfasamento das sociedades (civilizações) entre si. Por outro lado, o sentido atraso de outras civilizações em relação à civilização europeia será o bónus delas que as levará a afirmarem-se sobre a Europeia já em processo de desfasamento depois da primeira guerra mundial em que os EUA, perante a afronta da União Soviética como inimigo comum do sistema se afirmou também sobre a Europa com o apoio do Reino Unido. A Europa tem de redescobrir a comunidade sem ter necessidade de o fazer à custa dos direitos humanos desde que integrados numa comunidade cultural consciente de si e da sua responsabilidade no mundo (o poder militar cria segurança e o poder económico cria bem-estar temporário, mas sem uma comunidade oleada pela transcendência). Não chegam conglomerados em nome de valores: os assim chamados valores democráticos poderão unir elites do abstrato que estão predestinadas a viver em guerra e a sucumbir ao serem um dia confrontados com ditaduras consistentes.

A visível vantagem da China sobre o Ocidente deve-se ao facto de o seu sistema ainda possuir as estruturas e bases culturais, políticas e sociais semelhantes às que dominavam a Europa nos séculos XIV e dominam ainda hoje nos países islâmicos e em regimes autoritários; A consciência colectiva e a liberdade do indivíduo criaram as condições para a Europa se abrir ao mundo. Naquela época pensávamos coletivamente e observávamos individualmente e o vínculo entre as duas características possibilitou grandeza, domínio e opróbrio no mundo; a ideia religiosa de fazer do mundo um lugar católico onde reinasse a fraternidade, virou em domínio político e económico sobre os povos e sobre as populações. No meio de tudo isto é oportuno olhar-se a realidade sem moralismos nem pretensões de poder, mas dar-nos apenas conta de como funciona a sociedade nos seus factores componentes e olhar para a geografia do globo. Igualdade, fraternidade e liberdade pressupõem a consciência de Comunidade feita de comunidades de vida e não apenas uma sociedade feita de sócios em agrupamentos partidários. Caso contrário, aboliremos a comunidade em nome de outras comunidades e desmantelaremos a nossa. A ideia de que os direitos humanos levarão os cidadãos de outros povos a derrubar os seus próprios governantes é ilusória quando o próprio agrupamento (por Exemplo OTAN) se baseia na força e no poder em alianças militares com centros explosivos distribuídos por todo o mundo. (E depois queixam-se dos países que sabem o que significa poder mundano e procuram criar as próprias bombas atómicas como se vê em Israel, Irão, Coreia do Norte).

No passado, os povos formaram-se em torno de crenças, religiões, culturas que lhe conferiam singularidade específica e poder de expansão. Hoje inverte-se a pirâmide procurando de maneira até declarada organizarem-se já não povos, mas sociedades alinhadas em torno de áreas geográficas, da economia, das forças armadas e da correspondente doutrina. A desmitificação atinge o seu auge no secularismo prático e materialista e o povo insurge-se contra porque não quer perder a sua alma individual e colectiva. Esta crise social e civilizacional provocada pela nova ordem em via é tomada em conta pelos atuais pioneiros do novo poder a instalar-se (quer-se uma viragem anti orgânica para se instalar uma artificial).

A China parte do princípio e da realidade da comunidade e subordina-lhe o indivíduo; esta é a sua força epocal de maneira a açambarcar a responsabilidade sobre o indivíduo assumindo o comunismo como espécie de religião (alma que dá consistência ao sistema) que lhe concederá mais valia durante algumas dezenas de anos sobre o principal rival que é a USA. A sociedade ocidental segue o caminho inverso sendo as pessoas a assumirem, de certo modo, o poder e a dignidade de serem elas responsáveis pela comunidade: ideal nobre e honrado, mas para que os povos não estão preparados. (A nível prático, porém, quem mais ordena é o poder económico unido ao político-militar que se faz acompanhar pelos meios de comunicação social e pelas universidades como música de escolta; por isso o sistema social explora os ideais humanos e fixa o seu sistema na satisfação das necessidades principalmente materiais. Perdeu a mensagem de humanidade e o sentido da mensagem humana que trazia ao mundo e substituiu-a pela mensagem económica, militar e ideológica.

Nesta fase do acontecer o mundo prepara-se para contruir um grande palco de concertos onde cada concerto toca a própria música mesmo que com o desagrado do concerto ocidental que até agora determinara o ritmo da música. Os problemas ainda permanecerão, mas serão mais do caracter de sobreposição de tom e já não de ordenamento do ritmo. Cada área geográfica mundial irá afirmar-se mais em torno dos seus valores partilhados. Lamentável é, porém, o facto de a civilização de bases humanistas cristãs se ter exteriorizado de si mesma para se dedicar sobretudo ao exercício do poder pelo poder e ao domínio dos outros de maneira a tornar-se também ela numa ameaça para o mundo num mundo ameaçador. Não chega satisfazer-nos com a nossa bandeira dos valores e da democracia; a nossa sociedade e o mundo precisam de mais.

Cada bloco terá o próprio núcleo e o seu poder central como é natural. Enquanto não houver uma geopolítica mais humana a Alemanha tornar-se-á a força mais forte na EU, acolitada pela França (entretanto, os alemães apressam o seu negócio na EU procurando fortalecer apressadamente os seus vizinhos de Leste). Depois da Grande Guerra Mundial, a Alemanha queria enquadrar-se na Europa em geral, mas desde a sua mudança de consciência através da participação na Guerra da Ucrânia, sentiu-se obrigada a descobrir a sua antiga vocação pelas armas, que terá um grande impacto na Europa, apesar de se encontrar ainda manietada pelo Tratado 2+4. A Alemanha está predestinada a tentar assumir na Europa, o papel dos EUA no mundo. Como mostra o novo governo federal no comportamento entre SPD-Verdes-FDP, a mudança iniciada já não se baseia em compromissos como nos tempos de Kohl e Merkel, mas sim em posições mais duras que já são evidentes na nova atmosfera militarista no governo e na oposição. A militarização da Alemanha e a sua influência na política da UE, que pretende deixar de ser uma federação de nações, para se tornar  num  conjunto de pequenos países em torno das grandes potências da Europa, está a tentar fazer com que os pequenos países percam a sua posição de força (a força do veto) em decisões comunitárias importantes e assim, se tornarem mais  insignificantes favorecendo ainda mais as grandes potências, que determinarão toda a política!  (Isto dá-se em nome da eficiência e afirmação do polo europeu no concerto dos povos, mas o ridículo da questão é o facto do Primeiro Ministro português, António Costa, se ter tornado numa espécie de porta-voz da Alemanha, defendendo, de facto, a diminuição de direitos das nações pequenas).

Na UE, como tem acontecido desde a Reforma de Lutero, o modo de vida do Norte irá afirmar-se ainda mais sobre o do Sul e, como consequência, haverá uma mudança ainda maior de transferência de poder das periferias (e dos países latinos) para o Norte. Especialmente a Alemanha, com a Amizade Franco-Alemã dominará interesses de poder mais oportunistas (para simplificar: o Anglo-Saxão irá afirmar-se) descuidando os interesses da Europa como bloco. A França e a Alemanha, mais que a nível de amizade, lidam taticamente entre si para que possam manter o comando da Europa. A Alemanha não pode tornar-se demasiado franca política e economicamente por razões tácticas. Uma táctica bem pensada para tornar os países periféricos submissos é oferecer postos de políticos regionais na UE e em fóruns internacionais de maneira a tornar os países periféricos submissos através de compromissos preguiçosos (o povo mais simples até se sente honrado ao ver personalidades portuguesas em postos internacionais altos, enquanto olham para fora não se dão conta do que acontece dentro) . Compromissos podres encorajam o egoísmo pessoal de políticos, mesmo à custa de seus países perderem a própria voz.

Em tempos de classificação e de reunião de países (como satélites) em torno do centro, passará, no debate o poder a dominar sobre o compromisso. Compromissos são exigidos aos níveis mais baixos e cujo destino é aliarem-se em torno de uma potência ou da outra (para já Berlim-Paris, depois surgirá também a Polónia desde que beneficie os interesses dos EUA).

A longo prazo o destino da Europa não estará certamente acorrentado à França (países romanos) nem à Alemanha (países anglo-saxónicos) porque, à medida que os tempos amadurecem, a Europa tornar-se-á mais independente dos EUA e virá a sua chance longínqua numa união tática com a Rússia no sentido da Euro-Ásia. Esperemos que, entretanto, o mundo amadureça e inicie uma política de paz entre povos irmãos.

A luta em voga contra a cultura europeia e a persistente desmontagem dos seus fundamentos tornaram-se no maior cancro que corrói a nossa civilização. Quando se observa em muitos dos nossos governantes tornarem-se nos seus próprios Judas e cangalheiros torna-se ainda mais triste a tragédia… A crise é motivo de ânimo, porque tudo isto é de caracter fenomenológico e a humanidade com altos e baixos saberá encontrar maneira de passar o “estreito de Magalhães”  à imagem do grande português Fernão de Magalhães ao serviço de Espanha.

Doutro modo a História ensina que no fim, como a figueira amaldiçoada, promete tornar-se lenha para civilizações vindouras se aquecerem. Hoje levantam-se os seus almocreves como profetas wokes, Gender, etc.

O apagamento cultural que se deu em muitos povos indígenas devido à colonização europeia está agora de volta no apagamento cultural europeu sendo os seus principais apagadores o socialismo marxista e maoista ávidos não de pessoas, mas de sócios e o turbo-capitalismo ávido não de pessoas, mas de clientes; no meio de tudo isto quem mais ganha é o islão e o materialismo.

Que seria da balança e do equilíbrio sem peso padrão e sem a ajuda dos pratos que conjuguem forças opostas, sem a lei da complementaridade?

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

 

 

BOAS FESTAS NATALÍCIAS E UM PRÓSPERO ANO NOVO

Queridos leitores e leitoras,

desejo a cada um de vós e sua família um feliz Natal e um abençoado Ano Novo.

Desejos e votos são energias que como as vibrações de música chegam ao fundo dos corações e ecoam mais intensivamente em tempo de Natal que é o tempo de todos, o tempo da Graça onde o Menino vagueia pelos corações da humanidade;  Natal não é apenas cristão, ele pertence a todo o mundo como mensagem a todos e de todos para todos, mas na consciência de que o mundo real não melhora por si só e precisa de todos nós, todos independentemente de credos e de biografias, de todos unidos na boa vontade de uma orquestra global que no espírito natalício se torna universal.

O Natal reúne o tempo cronos (do calendário) ao tempo Kairos do eterno acontecer numa de unir o religioso ao secular.

No estábulo acontece a oferta de Deus à humanidade; por isso, na ânsia de um mundo melhor vamos avivando no tempo a atitude de oferecer.

A repetição do Natal no tempo cronos aponta também para a vivência da realidade do tempo Kairos que é o tempo completo do momento certo do eterno presente, do sempre a acontecer dentro e fora, sempre a acontecer também em nós.

Num mundo guerreiro a mensagem da “Glória a Deus e Paz na Terra” criaria mais equilíbrio de energias e forças se olhasse para o presépio onde nasce a humanidade.

Como humanos precisamos sempre da luz e de alguém que se adiante com a tocha da luz da paz de Belém que ilumine o próprio caminho e o de todo o mundo!

Boas Festas!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

CONTRA O DESMONTE DE SINAIS DA CULTURA EUROPEIA

Partido italiano não quer que Festas de Natal sejam renomeadas de “Festas de Inverno”

Pela Europa fora nota-se uma aragem fria tendente a varrer com tudo que aponte para as raízes da Cultura Europeia principalmente no que toca a linguagem e a costumes de caracter religioso ou cultural identificativo. Quem defenda as tradições corre o risco de, a nível dos media e do politicamente correcto, ser intitulado ou marcado com a alcunha de “direita” em sentido depreciativo e preconceituoso e isto pelo simples facto de uma Nova Ordem Mundial estar a ser forjada à margem do humano e contra o cristianismo.

Em nome da multicultura, do respeito pelo islão e pela laicidade observam-se, por toda a Europa, iniciativas tendentes a formar uma Meta-cultura europeia (abstracta) que inclua todas as outras culturas menos a própria; nalguns meios a História da Europa quer-se abolida para que o marxismo internacionalista possa tomar o seu lugar. Assim querem ver as Festas de Natal substituídas por Festas do Inverno, as Festas da Páscoa substituídas por Festas de Primavera ou Festas do Coelho, etc. (Na Alemanha tradicionais Mercados de Natal – Weihnachtsmärkte – são renomeados nalgumas cidades de “mercados de inverno”. Em Friedrichshain-Kreuzberg foi proibido chamar os mercados de Natal de mercados de Natal, dado na religião haver muitos muçulmanos e para não ofender os seus sentimentos religiosos deve ser usado um termo mais neutro como “mercado de Inverno”. Pelo que se nota estas iniciativas são de carácter incendiário.

Na Itália algumas autoridades escolares decidem renunciar aos símbolos do Natal e, em vez do Natal, celebram a festa de inverno por suposta consideração pelos crentes de outras religiões. É assim que se muda mais ainda a essência do Natal cristão. Para que isso não aconteça, o partido Fratelli d’Italia apresentou ao parlamento um projeto de lei para impedir que as celebrações do Natal sejam renomeadas em “festas de inverno” e a montagem de presépios de Natal não seja impedida.

Os direitos humanos e os direitos de minorias não deveriam ser impedimento para se preservar a cultura acolhedora.

O respeito pelos imigrados não deveria concorrer com o respeito pelo povo acolhedor ou pela camada social para quem os valores da cultura e da tradição ainda são significativos. Na altura do ramadão em escolas com muitos muçulmanos também se poderia celebrar esse acontecimento religioso concorrendo assim para a interculturalidade.

Se tivermos em conta as intenções da política da EU e o desenvolvimento demográfico na Europa é natural que com o tempo tudo se mudará e quem hoje defende usos e costumes da tradição europeia encontra-se em situação perdida. Seria de esperar dos prosélitos do modernismo e defensores da multicultura (contrários à intercultura) que tivessem um pouco mais de paciência e dessem tempo ao seu tempo.

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, doutro modo os governantes e os políticos do arco do poder ver-se-ão sempre envolvidos na tarefa de qualificar de populistas ou extremistas quem critique os seus actos governativos para mais tarde correrem a emendarem o que fizeram integrando nele as propostas dos tais “populistas” e “extremistas”, como fazem agora na política de refugiados na EU.

Na Europa, depois do renascimento iniciou-se a individualização e com ele uma certa emancipação da comunidade. Com o modernismo a individualização pessoal parece ter atingido o seu extremo. A individualização leva à emancipação do controlo social e, automaticamente, o aspecto comunitário perde a sua relevância na sociedade civil e consequentemente também na religiosa.  Por outro lado, a pluralização das expressões culturais estabelece a concorrência cultural, se em vez de uma política inclusiva de interculturalidade se implementar uma política de multiculturalidade; numa sociedade individualista as forças centrífugas de grupos questionam com vantagem a sociedade individualista dado esta ter perdido a consciência de comunidade. Uma situação difícil para todos os lados.

A religião perde a sua função orientadora sendo a função da religiosidade assumida em parte pela publicidade que satisfaz desejos e pelas promessas ad hoc dos partidos/ideologias que alimentam esperanças concretas e imediatas. Neste ambiente torna-se compreensível a erosão da igreja católica independentemente da sua adaptação ou não ao espírito do tempo.

A queda da sociedade ocidental manifesta-se não só na perda do sentido de comunidade mas também no facto de os intervenientes da sociedade civil e religiosa terem perdido a sua importância devido a não haver vínculos comunitários (a não ser os vínculos de interesses repartidos, mas de proveito imediato) nem haver substitutos visíveis para a função intermediária entre sociedade e Estado, função antes mantida pela religião; as agremiações pelo facto de viverem elas mesmas em competição e na tendência de ocuparem o Estado não oferecem confiança suficiente nem garantias sustentáveis.

A maior fraqueza atual vem da produção de um tipo de indivíduo esvaziado de memória, tradição e religião (factores de identidade cultural, na sua função e qualidade orgânica que proporciona perspectiva e sentido) e como tal descontextualizado e dirigido por uma realidade meramente mental-virtual. Numa época de mudança axial será necessária muita imaginação, criatividade e boa vontade de todos para que se salientem factores que lhe proporcionem uma relação indivíduo-comunidade equilibrada e rejuvenescedora.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A SEXUALIDADE JÁ NÃO É TEMA TABU NA IGREJA

Bênção para Casais em Situação irregular e Homossexuais

O Papa abre caminho para o reconhecimento de casais do mesmo sexo na Igreja Católica sob condições estritas. O documento “Fiducia suplicans” (Confiança suplicante (1) fala de “possibilidades de bênção de casais em situação irregular (casais em nova união) e casais do mesmo sexo” (2). Com esta intervenção papal alegra-se a igreja alemã e surgem algumas dúvidas na Igreja mundial. Deste modo os actos sexuais passam, neste assunto, a não ser submetidos ao ordenamento moral e são explicados pelas condições criadas pela natureza (a excepção confirma a regra e in dúbio pro reo). Ao não serem exigidas condições relativas à moral, a consequência será a aceitação de uma certa ambivalência que abarca a inclusão da dúvida e leva alguns teólogos de ordenamento doutrinal a problematizar a medida pastoral do Papa Francisco.  Na consequência, esta maneira de actuar simplifica também o hábito já generalizado de relações sexuais antes do casamento! Nesta ordem de ideias teológicas estará para breve a inclusão da mulher no clero!

O Sumo Pontífice pôs claro que a bênção não pertence aos sacramentos nem implica mudanças doutrinais; segue o espírito pastoral da Amoris Laetitia (3). Em termos teológicos abençoar o homossexual não corresponde necessariamente a abençoar a ação homossexual, mas, no meu entender, consiste em reconhecer a natureza e o desenvolvimento da sociedade como componentes da revelação! Deus não tem género, mas criou as pessoas como seres sexuais e à Sua imagem. No Filho de Deus e na Mãe de Deus expressaram-se os protótipos da união da feminilidade com a masculinidade e da espiritualidade com a materialidade.

O substancialmente novo do documento é o integrar a realidade social em que vivemos e pô-la a caminho dos fóruns de uma dogmática que possibilita a mudança na continuidade.

Ao ler-se o texto tem-se a impressão que a redação do texto corresponde à complexidade das opiniões da Igreja universal e distingue entre o sacramento do casamento (casamento apenas entre um homem e uma mulher) e a bênção (sem ritual estabelecido para não ser confundido com o casamento sacramental). Embora as relações sexuais só se apliquem ao casamento entre um homem e uma mulher, o passo dado pelo pontífice representa um progresso pastoral (não esquecer também o progresso que o casamento proporcionou no início do cristianismo que com a indissolubilidade e o vínculo sexual de homem e mulher no matrimónio rompia, a nível religioso, com hábitos e práticas  de sociedades arcaicas de total subjugação da feminilidade à masculinidade numa matriz social masculina que fazia das mulheres  seres de segunda classe. A declaração cristã da indissolubilidade do casamento significou um grande passo no reconhecimento da mulher e sua dignidade não só a nível individual como social. O Islão restabeleceu a antiga matriz masculina).

A sociedade muda e com ela os conceitos morais

A sexualidade e a fé cristã fazem parte da nossa identidade e a sua interação mútua tem feito parte da história do desenvolvimento humano e social do Ocidente. Encontramo-nos numa época de tentativa de mudança axial cultural – um momento de fluxos contraditórios –  onde o poder de determinar o mundo se concentra na passagem de uma ética religiosa para uma ética secular global abstracta com a intenção  de criar uma outra antropologia (gerar um outro Homem) e outra sociologia (uma outra cultura), que questiona a visão global representada no catolicismo;  na consequência os dois elementos da cultura transmitidos pela igreja (fé e sexualidade unidas)  estão a ser abalados no sentido de ser separados. Os Estados, cada vez mais transformados em administrações de agendas globais, procuram moldar o homem no seu formato ao determinarem de cima para baixo a política de educação sexual na escola e deste modo desintegrar religião-família-sexualidade (objectivo do marxismo). A sociedade muda e com ela os conceitos morais e a nossa dor dão-se devido ao facto de nos encontrarmos numa época da rapidez de modo a podermos hoje supervisionar mudanças e sentidos que antigamente só eram observadas por historiadores e estudiosos de visão enciclopedista de perspectiva histórica.

Nas gerações passadas não se davam conflitos sociais relevantes entre a Igreja e a sociedade/governo porque a Igreja num processo lento de aculturação e inculturação ia adaptando a realidade de hábitos e costumes sociais à doutrina (pastoral) e vice-versa.  Na nova época que se afirma por rivalidade e luta entre o secular de cunho marxista e o religioso torna-se mais visível a crise de mundivisões e consequentemente a desorientação, insegurança, resignação e luta.

Por outro lado, se antes também a nível intelectual se procurava tratar de maneira inclusiva o processo de acesso/abordagem à chamada realidade/verdade através do método dedutivo (especulativo de cima para baixo) numa de ‘Homem de saber feito’ e o  método indutivo (experiência, de baixo para cima) numa de ‘Homem de experiência feito’, hoje relativizou-se tudo na consequência dos movimentos estruturalismo- desconstrutivismo-relativismo  inter-relacional que interpretam o todo pelas partes e acabam com paradigmas para se justificar uma nova cultura e uma nova vivência a criar produzindo para isso novas estruturas de ação e comportamento que levem a diferentes relações individuais e sociais .

Estamos a passar de uma era que se interessava mais pelo como as coisas funcionam para uma era a mudar de paradigma para o modo como as coisas se relacionam.  Ao fixar-nos no relacionamento como ponto fulcral tem-se negligenciado os factores natureza e a cultura na qualidade de determinantes e assim ir substituindo a base espiritualidade pelo factor energia ou relação com base num mero funcionalismo e funcionalidade social. Esta negligência pretende compensar-se e legitimar mediante um relativismo absoluto, proporcionando-se assim a decomposição e desestruturação que procura legitimar a luta anti cultural e contra todos os construtos identitários naturais, culturais e humanos no intuito de formar uma nova cultura meramente mental e ideológica já longe do humano e que proporciona o seu domínio numa tática justificadora da luta contra o humanismo. A Igreja, porém, está atenta às modas e ditames do tempo (atualmente impulsionado pelo marxismo e pelo maoismo) continuando a defender o que é mais essencial para o humano.

Isto cria atrito porque o Estado embora se diga isento, segue dogmaticamente a nova ideologia considerando-a como a verdadeira em relação às que combate. Passa por cima do facto de também ele não passar de um construto com a agravante de ser distante da vida e do humano como se a natureza e o humano se pudessem reduzir à linguagem. Deste modo o próprio Estado corta o ramo em que se sustenta e é sacrificado a um construto estrutural mundial.

Como o modernismo quer mudar rapidamente a realidade e acredita poder criar uma outra através de leis e de medidas administrativas (agendas) torna-se mais difícil a acção da Igreja que advoga um crescimento mais lento e orgânico (e aferido à consciência popular) do que administrativo para conseguir um desenvolvimento integral humano; porém  não precisa de deitar muitas lágrimas pelo que tem de mudar hoje pois o negligenciado no passado também fez sofrer muita gente. Assistimos assim a uma corrida do tempo cronos contra a plenitude do tempo Cairos, quando o urgente seria a tentativa de integrar os dois no sentido de uma sociedade mais humana.  A Igreja é também ela peregrina e tem de assumir também o pó do tempo e a natureza do ser humano composto não só de espírito/alma, mas em termos de igualdade também de corpo. O Estado como representante da acentuação da masculinidade e a Religião como representante da feminilidade são dois polos complementares que deveriam trabalhar seguindo uma estratégia inclusiva (simplificando: precisamos de pessoas e de sociedades com corpo e alma!). Neste sentido a Igreja terá de aprender do mundo a mudar a sua relação com o corpo e a sensação de prazer para não exagerar num sentido o que o mundo exagera no outro. A hostilidade ao corpo (a autossatisfação como ofensiva…) e a falta de equilíbrio entre corpo e mente são factores que determinam tensões que prevalecem na sociedade e na igreja enquanto não houver uma osmose de masculinidade e feminilidade.

Anteriormente, o ideal da sociedade era representado pela religião, que mudava lentamente e, portanto, não causava rupturas nas pessoas. Hoje, as ideologias com uma elite influente mudarão rapidamente os processos de mudança na sociedade, de modo que o desenvolvimento não será mais guiado pela realidade vivida, mas será realizado a partir de cima, de uma realidade concebida, através de projectos seculares com agendas cerebrais a serem aplicadas a nível mundial; aqui será uma tarefa importante da igreja salvar a perspectiva de baixo, a humanidade, a feminilidade e o humanismo contra uma anonimidade atafegante de uma realidade virtual que poderia conduzir a uma organização tipo troica global a usar uma Inteligência Artificial não humanizada. Hoje a socialização está a dar-se através do questionamento de conceitos morais concretos e da educação sexual numa plataforma atmosférica mental de confronto clandestino e de relativismo absoluto. Numa cultura onde a sexualidade e a espiritualidade fazem parte da identidade cultural e individual, mas que é contestada radicalmente, torna-se mais difícil para a Igreja resguardar-se. Um caminho de reconciliação poderia levar ao desenvolvimento separado da sexualidade e da religião/espiritualidade, de modo que a moral sexual não preocupasse tanto a Igreja como o Estado secular na qualidade de instrumentos de domínio.

Criar e impor crenças específicas não é justo sejam elas de caracter religioso ou científico. A igreja participa na formação da própria fé, mas apenas no sentido de maturidade e na adopção de atitudes e desenvolvimento saudáveis; diga-se isto, também na sexualidade, que está sujeita a demasiados exageros e abusos de parte a parte quer pela negativa quer pela positiva. O Estado abusa do seu papel ao apoderar-se das crianças numa política de desqualificar a missão universal educativa dos pais.

A sexualidade é discutida na igreja, mas raramente é discutida pelos padres (eles discutem-na geralmente dentro do casamento) porque parecem acreditar ainda que a sexualidade é um assunto privado. A sexualidade não é um assunto privado ao determinar a moralidade de uma cultura.

A questão será se a igreja acompanha o desenvolvimento sexual da sociedade ou se para. Ela deve reconhecer que conduziu a moralidade cultural através da sexualidade e que hoje outras forças da sociedade querem assumir o leme e colocam a tónica onde a contradição é mais forte. No entanto, ver o género como sujo ou impuro não pode ser atribuído aos Evangelhos; isso são mais os efeitos da sociedade e da história amarrada aos seus costumes e que tem dificuldade em compreender a filosofia e a mensagem cristã. A igreja sempre se viu como uma autoridade educativa para o povo e talvez tenha enfatizado demasiado o aspecto educativo e de ajudante do Estado. Assim fortaleceu a influência das tradições sociais sobre o povo e descurou a acentuação da filosofia teórica do cristianismo a nível de discurso intelectual no campo secular preocupando-se em ver a sua filosofia aplicada a nível individual e de moral social.

A igreja é o lugar onde as pessoas se encontram, independentemente de virtudes e defeitos competindo-lhe desenvolver um comportamento saudável em relação à sexualidade. Não há que associar a sexualidade à normalidade ou à anormalidade. A igreja tem uma responsabilidade especial, também através da sua própria missão e mandato, de proteger as minorias e o humano. No final do caminho sinodal em outubro de 2024 em Roma conheceremos outras novidades.

Uma função importante da Igreja, especialmente no contexto ideológico actual continuará a ser a de que a sociedade não confunda a linguagem com a realidade. Uma missão prioritária em relação à sexualidade será a defesa da feminilidade e manter a música do amor que aquece os corações.

Será de evitar todos os fundamentalismos seculares e religiosos porque são de vistas limitadas e empobrecedoras de desenvolvimento quando permitem apenas uma ideia do certo e do errado. Isto também contradiz o ensino da igreja, segundo a qual a própria consciência é a voz de Deus.

Nesta época natalícia sopram do Vaticano ventos frescos e revolucionários que não veem no amor pecado, mas que causam calafrios nalguns grupos e regiões do catolicismo. Bênçãos só podem ser revigorantes e permitir que os amantes se regozijem e celebrem o seu relacionamento também em público, mesmo  não pertencendo ao cânone litúrgico. Cada pessoa é única e com momentos próprios; o reconhecimento dá-lhe sustentabilidade na vida quotidiana e deste modo também acontece ecclesia. Boas festas, o Natal é a festa da vida!

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) ‘Fiducia supplians’ aprovada pelo Papa Francisco:  https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2023/12/18/0901/01963.html#es

(2) Na Alemanha, as cerimónias de bênção para casais homossexuais já eram praticadas em muitas comunidades fazendo uso de uma zona cinzenta do direito canónico.

(3) Amoris Laetitia : https://antonio-justo.eu/?m=201802

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO DIÁLOGO DOUTRINA-PASTORAL

Ponto de Vista… por António Justo

Desafios: https://bomdia.eu/bispos-tradicionalistas-sentem-se-desafiados-pelo-papa-francisco/

Consciência é o primeiro vigário de Cristo em questões de moral:

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/moral-sexual-da-igreja-estranha-a-vida-habitua

ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE:http://antonio-justo.eu/?p=3884; Ética Republicana http://antonio-justo.eu/?p=3895 ; Um Exemplo De Ética Republicana Socialista Aplicada: http://www.solnet.com/09set16/pena&lap/penalap3.htm ; POLÍTICA DO POSTFACTO – ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE – DO COMPROMISSO ÉTICO ENTRE IDEALISMO E REALISMO: http://antonio-justo.blogspot.de/2016/10/politica-do-postfacto-etica-entre.html; Ética da Responsabilidade pressupõe a Educação para a Liberdade: https://jornalpovodeportugal.eu/2018/02/13/polemicados-recasados-por-antonio-justo/

http://palopnews.com/index.php/cronistas/antoniojusto/1721;. O divórcio da política e da ética: http://www.debatesculturais.com.br/o-divorcio-da-politica-e-da-etica/

 

A IDADE MÉDIA VINGA-SE AGORA NA EUROPA ATRAVÉS DO ISLÃO

Porque queixar-se do Vigor islâmico se o Problema está na Fraqueza político-cultural da Europa?

A migração de muçulmanos para a Europa significa um enriquecimento para a economia das nações fortes e para o rejuvenescimento da população europeia, que tinha uma taxa de natalidade muitíssimo baixa, mas, por outro lado, irá provocar consequências problemáticas de longo alcance na cultura e na política da Europa.

Quem estudar as bases do Islão (Corão, sharia-preceitos e os ahadith-feitos de Maomé contidos na Suna) facilmente chega à conclusão que, o Islão é um estilo de vida; nos moldes ocidentais, o Islão é uma ideologia política camuflada de religião; como tal tem mais perspectivas de autoafirmação sociopolítica do que qualquer outro grupo político ou ideologia. O islão submete toda a vida do humano e da sociedade a regras (sharia) incompatíveis com os valores humanos dos Estados ocidentais que dão primazia à soberania do Estado (democracia) e não a Deus/Allah; por outro lado o islamismo é mais compatível com o poder e mais adequado aos instintos das massas globais; a sua divisa é “submissão” (Islão significa resignação, submissão).

Instintivamente, o islamismo conseguiu amarrar os ocidentais à preocupação de o não ofender nem questionar quando impõe os seus hábitos e costumes de gueto.  Os governantes europeus como sabem que os seguidores do islão não se adaptam, adaptam-se eles aos muçulmanos para terem o sentimento de não perderem. Por seu lado, a opinião pública ocidental não se preocupa com os próprios erros nem com a falsidade ou autenticidade da comunidade islâmica ordenando o discurso sobre ela apenas pelo imaginário religioso.

O imperialismo islâmico embora não tenha a força económica do Ocidente conseguirá um dia sobrepor-se-lhe devido à conexão identitária da sua ideologia hegemónica (identificação político-sociológica através do laço da religião que tudo une, legitima e subordina: a essência da pessoa e sua relação com o outro é determinada pelo islão, o resto é considerado infiel. Neste contexto, não é sem razão que sistemas também eles autoritários, como o chinês e o russo, tenham medo dos grupos islâmicos dentro do próprio país: estão conscientes de que as suas ideologias políticas passam, mas as do islão são de natureza político-religiosa sustentável devido ao seu caracter de unidade intrínseca. As diferentes formas de governo mais ou menos moderadas estão sempre sujeitas aos guardiões da religião que se afirma como cultura do contra. A vontade do povo é identificada com a tradição de Maomé e por ele é crivada a “democracia”. Segundo a tradição islâmica, o Estado e a Democracia não podem usurpar a soberania de Allah e substitui-la pela soberania do Estado laico. Neste sentido, a nacionalidade secular/Estado é irrelevante perante o Direito Divino (o Corão e a Suna) que são imutáveis. Por isso os crentes mais conformes com os princípios muçulmanos combatem o secularismo porque a doutrina não permite contextualização que só seria possível se fosse permitida a exegese teológica.

 Como religião nascida da guerra e de matriz masculina orientada para o poder serve-se do princípio da afirmação do mais forte conseguindo assim afirmar (‘democratizar’ masculinamente) também no povo o mesmo princípio da subordinação, garantidor de uma ordem social estável apesar de injusta porque contra a feminilidade humana. Também a estrutura familiar está concebida no sentido de expandir o Islão. (O Islão tem a mais valia africana de ter feito das tribos errantes da Península Arábica a civilização árabe: hoje o Islão, expresso no Corão e na vontade de Maomé, é a segunda crença maior do mundo, possuindo cerca de 1,8 bilhão de fiéis sobretudo na Ásia e na África).

Concludentemente não baseia a dignidade humana na pessoa, mas na pertença ao grupo muçulmano (de ideologia superior, comparável à de Hitler no que tocava à elevação da raça indo-germânica em relação às outras); deste modo impede o desenvolvimento das potencialidades revolucionárias do individuo na luta pelo desenvolvimento da pessoa humana, dirigindo essas potencialidades emancipatórias individuais para a afirmação global da comunidade islâmica que justifica o Jihad e os ataques suicidas (Ao contrário da antropologia ocidental, a honra humana não vem da pessoa, mas da pertença à comunidade islâmica que confere a personalidade ao indivíduo). A islamidade une consciência de norma, consciência individual e consciência colectiva de forma intrinsecamente ligadas a Allah e a Maomé não suportando a diversidade e fazendo valer em vez dela a consciência do nós (Ummah). Esta implica a não distinção entre sagrado e profano como expressão da lealdade ao país, à comunidade árabe e ao Islão.

A paz islâmica será possível quando governantes e governados se submetem ao código islâmico na vivência do dia a dia e na promoção da paz e da fraternidade islâmicas no mundo. A fraternidade islâmica não conhece o amor ao próximo, em vez dele afirma o amor e a solidariedade com o irmão muçulmano numa ética do ser bom o que serve o mundo islâmico e mau o que se encontra fora dele (O dar al-Islam – territórios onde se pratica a lei islâmica – identificado com a Ummah, contra o dar al-Harb – “área de guerra” ou seja área não islâmica). Daí a tolerância geral islâmica em relação ao terrorismo islâmico.  

O sentimento de pertença religiosa é determinante no Islão, facto que a sociedade ocidental ignora como factor de sustentabilidade e por isso não consegue compreender a dinâmica de grupos como Al Kaida, ataques suicidas em nome de Allah, bem como levantamentos gerais no mundo islâmico quando o Islão é ofendido. O sentimento de pertença tem de passar pelo islão; a Ummah (comunidade dos muçulmanos de todo o mundo) que transcende Estados, Constituições e regiões e a pertença ele implica o sobrepor-se a todos os demais. O problema maior vem do facto de não reconhecer o que não seja islâmico (só ordem mundial islâmica) nem a divisão entre poder religioso e poder secular, factos estes que ajudam a garantir a guerra até ao fim dos tempos (o mundo muçulmano fá-lo em nome de Allah e o ocidental em nome do bem-estar económico).

Neste contexto, as democracias ocidentais estarão condenadas a oscilações cíclicas precárias por razões intrínsecas a elas mesmas porque legitimamente baseiam a afirmação das democracias na dignidade humana e na individualidade, factores estes que criam dificuldades à afirmação de interesses meramente institucionais e que explicam o desequilíbrio entre sistemas autárquicos e sistemas democráticos – daí uma certa lógica no autoritarismo crescente também em democracias. Perante o sistema muçulmano estas democracias tornam-se sistemicamente fracas correndo o perigo de serem dominadas por ele pois este afirma-se e concebe-se como grupo (o órgão ou grupo assume supremacia em relação ao elemento e a expansão global em relação à expressão regional geográfica). A falta de organização orgânica interna das democracias ocidentais (existência de uma orgânica meramente externa a nível de administrações ou elites sem transcendência– sem identidade comunitária cultural popular) levará a Europa a islamizar-se e a perder o seu caracter humanista próprio. (O problema da civilização ocidental de cunho cristão situa-se nela mesma ao identificar o amor indiscriminadamente a Deus-ao Próximo- e a si mesmo, numa visão de humanidade universal de irmãos e não de culturas, civilizações ou formas de governo. Neste sentido Jesus não era cristão, europeu, africano ou asiático e o seu povo era a humanidade.

Segundo a Universidade de San Diego, daqui a 12 anos, 25% da população da Europa será muçulmana. A sociedade islâmica é consistente por si mesma e afirma-se como sociedade paralela controlada pelas mesquitas numa afirmação não inclusiva, mas do contra; na Europa há já cidades onde a maioria da população com menos de 18 anos é muçulmana. Na Inglaterra onde normas da sharia (lei islâmica) já são integradas (paralelamente) no direito inglês, um terço dos estudantes muçulmanos britânicos são a favor da criação de um califado mundial. Em muitas cidades inglesas as prefeituras são já dirigidas por muçulmanos (Londres é um exemplo disso), o que noutras circunstâncias não envolveria medos. Medos são maus conselheiros porque deles surgem lutas instintivas (1)

O problema não deve ser colocado nas pessoas muçulmanas que são inteligentes e apenas sabem tirar proveito dos fortes e das fraquezas da sociedade ocidental. A consciência islâmica leva-os a investir na política porque esta tem grande influência no desenvolvimento da consciência dos povos; o facto de muçulmanos serem individualmente reféns do sistema religioso instiga-os a conceberem um mundo a ser cativo. A questão não é a força do islão, mas a fraqueza da cultura ocidental (2) que ultrapassou o seu Zénite e tem a pouca sorte de gerar governantes e elites irresponsáveis e também elas de ideologias decadentes.

A emigração muçulmana em massa para a Europa sem medidas políticas de integração que fomentem a sua evolução religiosa e evitem a formação de guetos está a ser o maior erro político cometido por uma oligarquia europeia comprometida num progresso desintegrador da cultura europeia que tenta compensar a sua carência reprodutora e o envelhecimento da sociedade com a importação de famílias muçulmanas fecundas que por sua vez são conscientes da robustez da sua unidade cultural, aquilo que justamente os torna fortes.

A queixa, contra um islão consciente do que é poder e como poder se torna sustentável, é, na Europa, reduzido a um lamentar de carpideiras à frente do moribundo.  Um grande erro foi a política europeia ter-se orientado apenas por factores de razão económica desprezando o factor cultural próprio e nessa lógica ter fomentado uma política multicultural – uma estratégia asseguradora da construção de barreiras e guetos culturais dentro da própria sociedade – em vez de implementar uma política dialógica intercultural de enriquecimento mútuo para as partes envolvidas (a questão coloca-se só em relação ao Islão porque pelo observar da História todos os grupos étnicos e religiosos integram-se ou vivem sem exigências exageradas).

Nos anos oitenta, como porta-voz dos 35 mil estrangeiros no Conselho de Estrangeiros de Kassel lutei pela afirmação dos direitos dos estrangeiros na Alemanha em benefício sobretudo dos muçulmanos. O contacto directo com a comunidade muçulmana (representantes das associações em torno das mesquitas e imames) permitiu-me, pouco a pouco,  compreender a estratégica esperta e coerente do islão e perceber o porquê da decadência da sociedade europeia em relação à sociedade islâmica (trata-se do encontro de duas sociologias e de duas antropologias tão distantes uma da outra com a Idade Média e da Idade Moderna uma da outra: a primeira faz valer a comunidade à custa do indivíduo e a segunda faz valer a individualidade à custa da comunidade); o Ocidente contemporâneo afirma o individualismo contra a comunidade e o islão afirma a comunidade contra o indivíduo: dois extremos,  no primeiro domina o relativismo e no segundo o dogmatismo. Para termos um possível exemplo do pior que poderia esperar à sociedade europeia seria imaginar o seu desenvolvimento com o desenvolvimento da Turquia desde 1915 e observar o destino das minorias. 

Urge o encontro intercultural e a inter-relação dialogal equitativa de comunidade e indivíduo para corrigir a política multicultural de forças paralelas, para se iniciar um período de inclusão dos valores da comunidade e do indivíduo. O Islão pode aprender da comunidade ocidental e esta pode aprender do Islão.

É interessante verificar que nos inícios dos anos oitenta, nós os representantes dos Conselhos de Estrangeiros nos dirigíamos aos Países Baixos para os imitarmos nas suas medidas progressistas e liberais de acolhimento de estrangeiros para as aplicarmos nas nossas câmaras municipais. Hoje, 60% da população dos Países Baixos considera a imigração muçulmana em massa como o erro político número um pós-guerra mundial.

Nos países de imigração já é possível observar, no comportamento social, as diferentes atitudes dos grupos imigrados de diferentes regiões e culturas em relação à sociedade acolhedora. Daí também a injustiça feita a muitos imigrantes ao metê-los todos no mesmo saco; o mesmo se dará ao considerar todos os imigrantes islâmicos pela mesma rasoura. O pensamento indiferenciado tem sido um erro comum a políticos e populações no que se refere ao tema das migrações.

Desde o Renascimento operou-se uma emancipação progressiva do indivíduo em relação à comunidade. Tal como na Idade Média a comunidade (instituição) abusava do indivíduo, a partir da emancipação renascentista e moderna o indivíduo emancipou-se de tal modo que exteriormente chegou ao exagero de prescindir do seu fundamento que é a comunidade; com a desintegração social em processo e a desconstrução cultural europeia damos início à queda do império ocidental tal como aconteceu com o Império romano. Os muçulmanos, que se encontram estruturalmente na Idade Média beneficiarão da vantagem de se afirmarem como comunidade numa sociedade ocidental já não comunidade, por isso condenada a abdicar e a ceder ao relativismo cultural e à consequente afirmação de egos não orgânicos que se tornarão anonimamente controláveis por supraestruturas globalistas.

Um grande motivo histórico para consolação no suceder-se das civilizações, é o facto de, geralmente, ao expirarem terem dado oportunidade a um passo em frente, dando origem a novas perspectivas! Segundo analistas até as guerras foram factores de grande desenvolvimento humano.

O mundo anda escuro demais, mas isso é uma questão cíclica como a das estações do ano; o pior não será a escuridão, mas sim andar sem ideia do caminho nem saber aonde ele leva. Temos o exemplo da escuridão da noite e verificamos que também ela tem sentido, mas para podermos andar nela temos de adaptar as pupilas ao escuro, que é a outra parte da realidade. O mais importante é saber como caminhar e para onde. Andar às apalpadelas pode ajudar a afinar o sentido de orientação.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8885

(1) https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/tag/%22ant%C3%B3nio+justo%22

https://www.linkedin.com/pulse/vaticano-dos-mu%C3%A7ulmanos-ismaelitas-em-lisboa-da-cunha-duarte-justo/?originalSubdomain=pt

(2) Cultura em implosão: http://antonio-justo.blogspot.com/2016/10/politica-do-postfacto-etica-entre.html

https://bomdia.eu/e-o-islao-a-caixa-de-pandora-da-civilizacao/

https://bomdia.lu/a-nova-tirania-de-minorias-esta-a-substituir-a-das-maiorias-do-passado/

Hipocrisia política: https://jornalpovodeportugal.eu/2017/07/09/da-hipocrisia-politica-a-inculpabilidade-muculmana-por-antonio-justo/

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/aviso-do-estadista-helmut-schmidt-a-uma-politica-fora-de-servico-dia-mundial-do-homem

Incompatibilidade do Islão com as democracias ocidentais: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/o-islao-e-incompativel-com-a-democracia-1764343

https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/57874/humanismo-e-etica-para-a-construcao-de-uma-cultura-de-paz-global

https://bomdia.eu/islao-e-a-sociedade-masculinidade-contra-feminidade/

http://vozdenampula.blogspot.com/2011/01/porque-sao-cristaos-os-mais-perseguidos.html

https://jornalpovodeportugal.eu/2017/08/23/peninsula-iberica-al-andaluz-declaralugar-de-reconquista-para-o-islao-por-antonio-justo/