O REGIME DE DANIEL ORTEGA EXPULSOU DA NICARÁGUA AS FREIRAS DA CARIDADE

O Regime de Daniel Ortega e esposa Rosário Murillo (no poder desde 2007) expulsou da Nicarágua 18 Missionárias da Caridade no dia seis de julho. Entre as freiras encontram-se sete indianas, duas mexicanas, uma espanhola, duas guatemaltecas, uma equatoriana, uma vietnamita, duas filipinas e duas nicaraguenses.

A Assembleia Nacional da Nicarágua é controlada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

Daniel Ortega odeia a Igreja católica e tudo o que reflecte a fé cristã. Isto pode ver-se confirmado no relatório documental de 190 ataques à Igreja católica nos últimos quatro anos: “Nicaragua: ¿una iglesia perseguida?: https://www.aciprensa.com/pdf/profanaciones-y-ataque-a-la-iglesia-catolica.pdf  . O relatório é da autoria da advogada investigadora Martha Patricia Molina Montenegro, integrante do Observatório Pro Transparência e Anticorrupção.

O facto de a Igreja católica não estar disposta a lisonjear ninguém move os ataques da parte dos que exigem lisonjeio.

As freiras foram acolhidas de braços abertos na Costa Rica.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

FRAQUEZA DO EURO

O euro, moeda de 19 estados europeus, nunca esteve tão baixo como agora. A taxa de câmbio em relação ao dólar americano caiu para um mínimo de 1,02 dólares.

Causas da debilitação: O medo de um colapso económico, o medo da recessão na Europa, a guerra da Rússia na Ucrânia, o bloqueio económico contra a Rússia e a reacção russa com a diminuição do seu fornecimento de energia e outros produtos…

Quanto mais barato é o euro mais fortes são as outras moedas. Assim tornam-se as importações mais caras e as exportações mais baratas. Os países exportadores, como a Alemanha, saem beneficiados da fraqueza do euro (1).

Esta é a conta que os europeus têm de pagar devido aos teimosos interesses do conflito dos EUA-Rússia e Ucrânia.

A próxima conta de insegurança a pagar pela Europa será o ver surgir novas moedas internacionais a concorrer com o Dólar americano numa Europa de mãos atadas ao Dólar! Um dos factores do dólar forte actual encontra-se no aumento do mercado de trabalho nos EUA (actualmente 3,6% devido à criação de 372.000 novos empregos), na sua política monetária e certamente também devido à esperança dos investidores na economia nacional americana e ao receio de potenciais investidores na Europa!

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1)

In Eurostat: https://ec.europa.eu/eurostat/de/web/international-trade-in-goods/data/database :

O maior exportador da UE em 2018 foi a Alemanha, com exportações no valor de cerca de 1,32 biliões de euros, seguido pelos Países Baixos (612,23 biliões de euros) e França (492,62 biliões de euros).

Os Estados Unidos continuaram a ser o destino mais comum das exportações de mercadorias da UE em 2020, com uma quota de 18,3 por cento. O Reino Unido foi o segundo destino mais importante para as exportações da UE (14,4% do total da UE), seguido pela China (10,5%).

Em 2021, os EUA são o maior país importador do mundo, com importações no valor de cerca de 2,94 triliões de dólares americanos. Em segundo lugar está a China, que importou bens no valor de cerca de 2,69 triliões de euros em 2021.

A Europa importa sobretudo petróleo e gás natural, produtos químicos, veículos automóveis e peças, têxteis, electrónica e tecnologia da informação, equipamento industrial, maquinaria e equipamento eléctrico, bem como minerais.

Em 2021, bens no valor de cerca de 2,1 biliões de euros foram importados para a UE-27 e cerca de 2,3 biliões de euros para a zona euro.

Os principais países exportadores foram a República Popular da China, os Estados Unidos (EUA), a Alemanha, o Japão, os Países Baixos e a Coreia do Sul. Os EUA foram o maior país importador, seguidos pela China, Alemanha, Japão, Reino Unido e França.

Os principais países exportadores foram a República Popular da China, os Estados Unidos (EUA), a Alemanha, o Japão, os Países Baixos e a Coreia do Sul. Os EUA foram o maior país importador, seguidos pela China, Alemanha, Japão, Reino Unido e França.

 

CIMEIRA DA NATO EM MADRID UM MARCO HISTÓRICO DA HEGEMONIA GLOBAL DOS EUA

Ponto de viragem na Europa: Venceu a Posição anglo-saxónica

Um Ocidente desafiado por valores e interesses russos e chineses ou desafiador destes, com o Novo Conceito Estratégico da NATO em Madrid (28-30.06.2022), afirma-se na mesma estratégia de confrontação que tem fomentado as guerras da história ocidental ao longo do seu passado. Uma estratégia construída numa doutrina dogmática com valores suportes de interesses económicos e estratégicos, vem apenas dar continuidade aos pressupostos de autoafirmação perante outros povos em vez de se iniciar uma nova cultura de valores baseados na paz, no respeito e na complementaridade cultural global.

Vivemos no rescaldo de imperialismos e de colonialismos históricos, uma época em que o imperialismo anglo-saxónico se debate com o imperialismo Chinês surgente e com o imperialismo russo que se sente assediado e a virar-se para Ásia. A força asiática revela-se tão forte que amedronta os USA e a Europa e os leva a uma parceria ímpar, como é de concluir das resoluções tomadas na cimeira da NATO em Madrid.

Tanto a Rússia como a Europa vivem a angústia do cisma do cristianismo de 1054 (Constantinopla e Roma e a tensão catolicismo-ortodoxia-protestantismo) e, hoje, como outrora, temos um ocidente indeciso onde o colonialismo anglo-saxónico ganha a dianteira através da afirmação da NATO. A nível mental temos um ocidente dividido entre o latino e o anglo-saxónico; vivemos, dentro da cultura europeia, uma certa discrepância que mundialmente se observa de maneira especial entre o Norte e o Sul global. O capitalismo protestante afirmou-se contra o Catolicismo, tendo emigrado para a América de onde volta em plena força. A China e a Rússia ameaçam a hegemonia dominante dos USA e a NATO ameaça o surgir de novas hegemonias.

Num momento trágico da história europeia, a cimeira da NATO em Madrid constitui um marco histórico a favor da hegemonia dos USA no Mundo. Do resultado da guerra na Ucrânia e do comportamento da China dependerão novos alinhamentos no desenrolar da política mundial; também por isso a consequência será uma prolongada guerra na Ucrânia. A Cimeira de Madrid revogou os seus propósitos estratégicos aprovados na Cimeira de Lisboa em 2010 onde se aspirava uma „verdadeira parceria estratégica”(1) com a Rússia.

Na cimeira de Madrid a China passa a fazer parte dos “desafios sistémicos”;  na realidade a ameaça comunista que se afirmava nos inícios do séc. XX contra o Ocidente é agora transferida para a China e para a Rússia tida como a “a ameaça mais significativa e direta à segurança dos aliados”(2).

As atividades dos USA na sociedade ucraniana dos últimos 20 anos viram-se coroadas na Cimeira de Madrid, ao considerar a Rússia como inimiga declarada e como tal incombinável com a “Europa”. Esta cimeira, em relação à de Lisboa implica uma grande perda para a Europa impedindo-a de se reconciliar entre si (forças da ortodoxia, do catolicismo, e do protestantismo) e de, com o tempo, estabelecer uma parceria com a Rússia no sentido da construção da “casa europeia”. Ganhou a posição anglo-saxónica sem deixar alternativa política para a Europa.

Os objectivos da NATO não são apenas de natureza militar como refere o artigo 49: “A OTAN é indispensável para a segurança euro-atlântica. Garante a nossa paz, liberdade e prosperidade. Como aliados, continuaremos unidos para defender nossa segurança, valores, e estilo de vida democrático”. Além disso alarga o seu raio de acção não só ao Atlântico, mas a todo o mundo: “O nosso novo Conceito Estratégico reafirma que o principal objectivo da OTAN é assegurar a nossa colectiva defesa, com base numa abordagem de 360 graus.” No ponto 11 nomeia explicitamente a África como centro de possível intervenção: “Conflito, fragilidade e instabilidade na África e no Oriente Médio afetam diretamente nossa segurança e a segurança dos nossos parceiros”.

A ideia e os valores cristãos acompanhantes dos descobrimentos é agora substituída pela ideia secular militar dos valores comuns à NATO:” Nós somos unidos por valores comuns: liberdade individual, direitos humanos, democracia e o Estado de direito” (3).

O ponto 13 da declaração da OTAN poderia interpretar-se como um aviso à Rússia e à China de não expandirem a sua influência no espaço asiático; o documento justifica, já de início uma possível intervenção em Taiwan caso a China tente anexá-lo: “As ambições declaradas e políticas coercitivas da República Popular da China (RPC) desafiam nossos interesses, segurança e valores… O aprofundamento estratégico parceria entre a República Popular da China e a Federação Russa e suas tentativas de reforço mútuo para minar a ordem internacional baseada em regras vão contra os nossos valores e interesses”.

Biden tinha razão ao dizer: “Putin receberá a Natoização da Europa”.  Os políticos europeus deixaram-se arrastar para a guerra negligenciando a obrigação de trabalhar em benefício da Europa e das suas populações; em vez disso meteram-se numa guerra que não é sua e sobrecarrega as populações com encargos insuportáveis.

O trajecto da História tem sido determinado pela concorrência e afirmação de poderes; na lógica do poder só o futuro poderá avaliar concretamente das decisões agora tomadas pela NATO.  O Ocidente tem grande responsabilidade no sentido de não se dar início a uma cultura de maior humanização da política e da sociedade. Por enquanto a relação entre povos é determinada pela luta por assegurar o próprio domínio em zonas ricas em matérias primas.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) A cimeira da NATO em Lisboa 2010 (Para o século XXI: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/3026/1/NeD126_MarcoPaulinoSerronha.pdf ); Cimeira OTAN Lisboa 2010, Declaração da Cimeira:  https://nato.diplo.de/blob/2203126/38d0c13f9d99ed20d9f08ed84d2d09cc/erklaerung-der-staats–und-regierungschefs-2010-lissabon-data.pdf

(2)Nato 2022 Straategic Concept: https://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/2022/6/pdf/290622-strategic-concept.pdf

(3) Tradução de alguns pontos do Conceito Estratégico NATO 2022, que considero importantes:

A ligação transatlântica entre as nossas nações é indispensável à nossa segurança. Nós somos unidos por valores comuns: liberdade individual, direitos humanos, democracia e o Estado de direito. Continuamos firmemente comprometidos com os objectivos e princípios do Carta das Nações Unidas e do Tratado do Atlântico Norte.

3 A nossa capacidade de dissuadir e defender é a espinha dorsal desse compromisso.

4 A OTAN continuará a cumprir três tarefas fundamentais: dissuasão e defesa; prevenção de crises

e gestão; e segurança cooperativa.

5 Aumentaremos a nossa resiliência individual e colectiva e a nossa vantagem tecnológica.

Estes esforços são fundamentais para cumprir as tarefas essenciais da Aliança. Promoveremos o bem

governação e integração das alterações climáticas, segurança humana e as Mulheres, Paz,

e Segurança em todas as nossas tarefas. Continuaremos a promover a igualdade de género

como reflexo dos nossos valores.

8 No Extremo Norte, a sua capacidade de perturbar os aliados reforços e liberdade de navegação através do Atlântico Norte é estratégico desafio à Aliança. A formação militar de Moscovo, inclusive no Báltico, Black

e regiões do Mar Mediterrâneo, juntamente com a sua integração militar com a Bielorrússia, desafiam nossa segurança e interesses

11  Conflito, fragilidade e instabilidade na África e no Oriente Médio afetam diretamente nossa

segurança e a segurança dos nossos parceiros.

13  As ambições declaradas e políticas coercitivas da República Popular da China (RPC) desafiam nossos interesses, segurança e valores… O aprofundamento estratégico parceria entre a República Popular da China e a Federação Russa e suas tentativas de reforço mútuo para minar a ordem internacional baseada em regras vão contra os nossos valores e interesses.

15  O ciberespaço é sempre contestado. Atores malignos procuram degradar a nossa infraestrutura, interferir em nossos serviços governamentais, extrair inteligência, roubar propriedade intelectual e impedir as nossas atividades militares

20 Empregaremos ferramentas militares e não militares em proporção, forma coerente e integrada de responder a todas as ameaças à nossa segurança da forma, tempo e no domínio de nossa escolha.

49 “A OTAN é indispensável para a segurança euro-atlântica. Garante a nossa paz, liberdade e prosperidade. Como aliados, continuaremos unidos para defender nossa segurança, valores, e estilo de vida democrático”.

A INDIGNAÇÃO JACOBINA NEUTRALIZA A RAZÃO

A Ideia de Vítima fomenta a Identificação

A meteorologia política depende dos altos centros ciclónicos de interesses e das consequentes trovoadas com rajadas de chuva causadas na população pelos meios de comunicação social.

Se olhamos para a política de informação sobre a Ucrânia tem-se a impressão que os Media se encontram em estado de excepção, alinhando tudo num ritmo de marcha marcial e na mesma direcção. A intensidade da marcha é tão violenta que muita gente já só repete o que ouve ou tem medo de dizer o que pensa.

Bernd Ttegmann adverte no Cícero 02 2022: “A liberdade de uma sociedade mede-se pela sua abertura. Quanto mais autoritário é um regime, mais rígido é o seu discurso público. Porque o que não pode ser discutido em público não pode tornar-se objecto de críticas aos poderosos”.

O discurso público cada vez se torna mais indiferenciado e autoritário e os políticos não se atrevem a dizer a verdade ao público preocupando-se mais em como empacotá-la para que este a possa aceitar! Manobra-se assim a opinião pública no sentido de se criar identificação fora de qualquer compreensão ou argumentação, o que cria um ambiente de hipocrisia. Num tal ambiente, passa a governar o medo dos de baixo e dos de cima! Na Alemanha já 30% de cidadãos desconfiam dos políticos!

O uso do crivo mental passa a ser um recurso tanto para emissores como para receptores! Formalmente reconhece-se a liberdade de informação, mas, concretamente, não, porque esta quer-se serviçal. Gera-se assim um sentimento de identidade e de identificação em torno da NATO baseado em estereótipos e mera diabolização do adversário. Dá-se alimento a um nacionalismo disfarçado, à semelhança do do sec. XIX que, impercetivelmente, vai aproximando a nossa democracia liberal à democracia oligarca da Ucrânia. O sentimento de vítima de parte da Ucrânia é transposto para o povo europeu gerando uma atitude de identificação e de indignação tão fortes que neutralizam a razão e a visão dos interesses do povo e da história europeia. Uma Europa, que deveria preocupar-se em ser melhor do que era, torna-se pior ao abandonar a bandeira da razão para seguir a bandeira do sentimento de vítima arvorado em absoluto movente de interesses obscuros. A estratégia de alinhar o povo em torno de uma vítima foi conseguida mobilizando o cidadão atrás da sua bandeira.

Daí, a grande importância da existência de distintos grupos de interesses numa sociedade que, em disputa, possibilitem a expressão de diferentes perspectivas para melhor se avaliarem os factos sociais e melhor se deliberar sobre eles. Numa sociedade democrática cada vez mais complexa, precisamos de moderadores para se evitarem soluções radicais e o surgir de autocratas ou de oligarcas.

Precisamos de Media críticos dos governantes e atentos, doutro modo correm o perigo de se tornarem seus meros altifalantes formadores da opinião pública. Nesta observa-se um clima de indignação refratária a argumentos que pelo tal se tornariam incómodos e perturbadores.

A liberdade de expressão tem sido submetida ao fragor rítmico da marcha do pelotão em vez de se dedicar à análise e à avaliação das acções, seus pressupostos e intentos.

Aqueles que não acolhem inquestionavelmente a guerra na Ucrânia, todas as medidas anti corona, etc., são rotulados publicamente como demagogos ou populistas perigosos e alguns chegam até a perder amizades pelo facto de não seguirem a corrente dominante (a ideologia chega a sobrepor-se à amizade!). Quem pretende uma opinião diferenciada é considerado perigoso ou colocado sob clima de pressão, a ponto de ter de se justificar em vão perante pessoas que não reconhecem argumentos porque só conhecem opinião feita.

Os formadores de opinião pública conseguiram incutir no povo o refrão da sua ladainha: nós encontramo-nos “do lado certo”, “nós somos os bons”, como se a realidade factual não fosse mais complexa e a maldade ou a bondade se lograssem empilhar de um lado ou do outro (1)! As elites conseguiram o aplauso das massas e apelidar a opinião dissidente de “controversa”! Desta maneira coloca-se no papel de Pilatos!

A indignação cria uma espécie de vigília no cérebro humano que remove parte das suas capacidades mentais para o colocar num estado de excepção e assim o disponibilizar para o radicalismo jacobino. Nós, ocidentais, estamos a perder, mais e mais, a consciência de que nos encontramos em estado de regressão!

Pelo que se tem observado nestes últimos meses,  Selensky decide o que temos de acreditar e fazer e os nossos governantes em vez de pensarem em estratégias de paz e compromissos alinham-se numa procissão de “reis magos” na direcção de Kiev. Mero porta-voz da NATO não quer saber de povo, de Europa preferindo seguir a lógica de que conflitos são resolvidos derrubando o adversário! Sabe, porém, que as vítimas da guerra serão o povo ucraniano e o restante povo europeu, ao ignorar a realidade factual que só haverá vencidos mesmo que a Rússia se posicione melhor, a preço de uma guerra nuclear.

Em épocas de indignação o “argumento” passa a ser uma palavra, uma imagem, uma vítima! Numa contenda como esta em que os mais diversos interesses se encontram em jogo, não chega declarar o infractor desumano ou minar-lhe a reputação! Independentemente dos erros de governantes, por trás deles encontram-se interesses de estados e de povos.

Torna-se desmoralizador verificar que aqueles que defendem a moralidade são vistos como extremistas e não considerar que aqueles que estão no poder defendem interesses conflituosos e como tal, uns e outros dignos de análise e não serem simplesmente considerados como maus. É deprimente observar que quem não segue pela rua de sentido único do mainstream é depreciado ou considerado pária. O atrevimento e a cegueira já é tal que já se atrevem de qualificar de “extremistas cristãos” pessoas defensoras da paz e adversas à guerra.

O verdadeiro preservador da liberdade humana está alicerçado na humanidade de cada ser humano. O ponto fraco dos indignados é procurarem identificação e difamação à margem da compreensão ou dos argumentos.

A lógica de guerra, como tem sido seguida, conduz a sociedade europeia a um beco sem saída! Os lobistas da Guerra dizem que é preciso ganhar a guerra e investir nela quando sabem que a guerra está perdida e que quem paga a factura é o povo e o atraso da História!

Muitos deixam-se levar pela palavra de ordem “Si vis Pacem, para Bellum (se queres paz prepara a guerra), quando essa posição levada ao exagero é uma posição característica do poder, do poder militar. Mas o que mais me entristece é constatar que essa frase, só, dá razão ao poder e, na consequência, perdido é quem não se mete debaixo do guarda-chuva dos mais poderosos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) No conflito entre os USA e a Rússia na Ucrânia só há um lado: o lado da destruição.

QUEM MANDA NA EUROPA É O SECRETÁRIO GERAL DA NATO?

Crítica à Base Aérea dos EUA na Alemanha

O Presidente dos EUA Biden disse sem fingimento:  “Putin queria a Finlandização da Europa. Ele terá a Natoização da Europa”. Revelador do estado de dependência dos políticos europeus é o facto de esta frase não ter sido, pelo menos em parte, contestada, sendo por eles aceite, sem qualquer observação, como se fossem meros feitores dos USA na Europa. A guerra explica e justifica tudo e os nossos feitores sabem que ninguém lhe pede contas porque, na realidade, o povo está ausente! Sim, agora tornou-se claro, o que só alguns sabiam: para os USA e para a Europa: quem manda na Europa é o senhor Stoltenberg, secretário geral da NATO. (De notar que esta posição pressuporia uma reflexão sobre uma política europeia própria depois da experiência do colonialismo europeu e sua passagem para o imperialismo americano agora em luta com oimperialismo russo  e de seguida com o da China!).

Na Cimeira da NATO em Madrid, os 30 Estados membros decidiram aumentar o número de soldados em maior disponibilidade de destacamento de 40.000 para 300.000. A Alemanha quer contribuir para tal com uma divisão (15.000 soldados) e liderar uma brigada de combate de 3.000 a 5.000 soldados para a Lituânia.

A Presidente da Igreja evangélica do Palatinado, Dorothee Wüst, num fórum em Kaiserslauten, advertiu que a existência da base militar americana em Ramstein, não deve ser aceite como normal. Uma base americana a partir da qual, se presume que, os drones (1) mortíferos são controlados, não pode ser uma parte normal da região para os cristãos, informou o HNA (27.06.2022). Na região a base aérea americana não é, de uma maneira geral contestada pelo povo.

Os USA têm regularmente mais de 90.000 soldados estacionados em bases americanas na Europa. A base militar americana mais importante, fora do seu país encontra-se em Kaiserslautern (Ramstein); a partir daqui, têm regularmente missões em África e na Ásia. A base de Ramstein é o Centro logístico para as forças armadas dos EUA) e é uma das 20 bases militares dos EUA na República Federal, e é considerada a base europeia mais importante para o transporte aéreo das forças dos EUA. A Base Aérea alberga cerca de 53.000 americanos e dependentes dos EUA (tem cerca de 8.400 soldados). A “Comunidade Militar de Kaiserslautern” tem seus próprios centros comerciais, escolas secundárias, etc. Oficialmente, aplica-se lá a lei alemã, mas com restrições (2). Diz-se que os Estados Unidos operaram a partir de Ramstein durante suas missões de drones no Iêmen. Dois anos atrás, a Média alemã e do Leste Europeu noticiou as entregas americanas de armas e munições aos rebeldes sírios. Os EUA têm bases militares em 80 países.

Com os quartéis na Alemanha, os soldados americanos podem chegar mais rapidamente a outros países em caso de combate ou de guerra sem que os EUA sofram as consequências directas no próprio país.

Na Alemanha é assustador verificar que o partido dos Verdes, que era antes o partido da paz e da ecologia, se transformou num dos principais partidos promotores da guerra e do envolvimento da Alemanha nela! Encontramo-nos numa situação desastrosa para a Europa e para o povo ucraniano. A Europa parece, por destino ou por opção ter de andar atrelada aos interesses dos USA.

Nos políticos alemães é de observar uma atitude febril por rápida militarização. O mais grave é que a EU irá para onde for a Alemanha! Na sociedade alemã há também grupos de cidadãos atentos que apelam para a razão e comedimento!

Segundo os números da NATO, a força das tropas alemãs em 2021 era de 189.100, a da Polónia de 121.000. As forças da NATO têm um total de cerca de 3,3 milhões de militares, sendo os EUA responsáveis por 1,35 milhões.

A favor da autonomia política e militar da Europa em relação aos EUA é, também, de ter em conta o factor das mudanças políticas na vida interna dos EUA. Dentro de dois anos, próximas eleições americanas, poderia ser eleito um Trumpista, o que obrigaria a Europa a reorientar-se, por não ter política própria!.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Um drone é um veículo aéreo ou subaquático não tripulado que é controlado à distância por humanos ou controlado por um computador integrado ou subcontratado e portanto (parcialmente) autónomo.

(2) Consultar: https://www.dw.com/de/ramstein-us-milit%C3%A4rbasis-in-deutschland/a-61593746