O OCIDENTE LEGITIMA AGORA NO GOVERNO DA SÍRIA O AL-QAEDA QUE ANTES DIZIA COMBATER

Os beneficiados directos do novo regime da sharia serão a Turquia e Israel

Na Síria há festa para os muçulmanos sunitas radicais, pesadelo para os cristãos sírios e grande incerteza para grupos étnicos como os Curdos.

Síria cai nas mãos do jihadismo com Abu Mohammed Al Golani, o novo líder máximo do país. O designado responsável pela justiça já disse que quer depor todas as juízas do país dado não corresponder ao dogma da sharia.

De acordo com a agência de refugiados da ONU, cerca de metade da população síria tinha fugido. A maioria deles está nos países vizinhos da Síria: Turquia (3,1 milhões), Líbano (785 mil), Jordânia (640 mil) e Iraque (273 mil). Existem 156.000 refugiados no Egito.

Mais de dois milhões de sírios vivem na Europa com o estatuto de refugiado. Em 2023, foram os cidadãos sírios, afegãos e turcos que apresentaram o maior número de pedidos iniciais na UE. A Alemanha, com cerca de um milhão e a Áustria, com 113.000 refugiados, acolheram até agora o maior número de deslocados sírios – também em relação à sua população. Para comparação: a Suíça acolheu até ao momento cerca de 20.000 refugiados sírios. Cerca de 5.800 cidadãos sírios trabalham como médicos na Alemanha – a maioria deles em hospitais.

Antes da guerra a Síria tinha 22 milhões de habitantes. Em 2011 (início da guerra civil na Síria, sob os auspícios eufemistas da Primavera Árabe), havia na Síria 1,5 milhões de cristãos (10% da população). Hoje, este número ronda os 300.000! Devido à fuga, a população também se encontra reduzida a metade. “Muitos partiram devido aos constantes combates e à estagnação económica, ou seja, pelas mesmas razões, que milhões de outros sírios fugiram” (1).

O fundamentalismo muçulmano apoiado pelos EUA, Turquia e Israel venceu contra o fugitivo e deposto presidente Bashar al-Assad e seus apoiantes Irão e Rússia. Os políticos ocidentais e os media apressam-se a lançar foguetes com a chegada dos grupos extremistas ao poder para que o povo se distraia a correr atrás das canas.

A dor e a justiça não interessam às potências, chamem-se elas OTAN ou Rússia, que usam da estratégia das insurreições e das guerras para afirmarem os seus interesses económicos e estratégicos nas várias regiões do globo.  A Síria encontra-se à disposição de interesses estranhos a ela e o “Ocidente” interessado apenas na expansão económica e política ignora o baluarte que é o Islão que, como o regime chinês, a longo prazo, consegue afirmar-se a custo da erosão democrática ocidental.

Seria de lembrar: O islão é uma política sob a forma de religião. Ele teve o histórico mérito de se tornar a alma árabe dando-lhe corpo ao unir as tribos árabes em “nação”. Ele teve a inteligência de unir o espírito agressivo do deserto à vivência das miragens que o próprio solo condiciona e assim se criou o melhor espelho dessa miragem no islão. A imensidão árida do deserto amplia o desejo humano de a vencer não deixando lugar para almas macias.  Este espírito concretizou-se no islão no seu caracter agressivo de maneira especial expresso nos grupos jihadistas que acantonados no meio do povo recebem caracter e legitimação democrática. A identificação do poder político com o religioso confere aos povos muçulmanos um tom democrático inerente ao sistema e como tal o sistema islâmico, afirma-se com mais sustentabilidade do que as nossas democracias liberais, que, a-religiosas ou demolidoras do cristianismo fazem da economia a sua transcendência comum e as torna frágeis porque só condicionadas ao bem-estar económico.

Um outro capítulo é a religiosidade inocente  de muçulmanos devotos que compensam com a sua feminilidade religiosa a masculinidade agressiva do seu sistema e líderes.

Aos cristãos espera-lhes a mesma sorte que no Iraque! O líder de origem árabe, e como tal, fruto da dureza do deserto não tem nada a ver com uma Síria multicultural.

A presença dos cristãos na Síria seria de muita importância social não só devido à sua espiritualidade, mas ao facto de a sua presença contribuir para uma ação moderadora do sistema no meio do radicalismo islâmico. A esperança colocada em Assad por cristãos pelo facto de não permitir os ataques de radicais islâmicos é agora posta por terra. A “coligação rebelde” formada sobretudo por grupos jihadistas radicais aproveitar-se-á da ingenuidade e hipocrisia ocidental para ganhar terreno e se estabilizarem no país; depois, a nível político-religioso, teremos um desenrolar semelhante ao do Afeganistão.

A coligação dos líderes islâmicos suportará as outras etnias enquanto não tiverem poder suficiente nas mãos para poderem instalar a teocracia muçulmana. Os cristãos primeiramente tornar-se-ão alvos de crime e vandalismo generalizados para depois serem discriminados e perseguidos a nível institucional pior do que o que acontece na Turquia. A União Europeia e os países da OTAN agem de maneira cínica e oportunista porque sabendo do radicalismo dos grupos Al-Qaeda, ISIS e outros que agora formam a tal “coligação dos rebeldes” dão-lhes credibilidade. Permanece como único instrumento moderador do novo regime a sua dependência económica e de armas das potencias estrangeiras presentes na zona.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://catholicherald.co.uk/there-may-be-hope-for-christians-in-syria-but-dont-expect-them-to-cheer-the-revolution-yet/?swcfpc=1

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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