Cãs tristes – Tristes cães!
2006-08-26
Volto de férias passadas na calma e laboriosa Branca, Albergaria.
Trago comigo a nostalgia! Não é só a saudade daquela gente tão boa e das paisagens impares, mas também aquela tristeza de premeio do latir dos cães solitários e mendigos de carinho. Por companheiros têm apenas o cadeado e a voz dos outros parceiros de infortúnio que se torna característica ao anoitecer nas paisagens nortenhas. Tornados recordações da terra, eles são sentinelas, testemunhas duma paisagem e duma humanidade inconsciente em que a identificação com a natureza e com os animais se torna difícil na luta pela subsistência. O sofrer da natureza anda ligado ao sofrimento do Homem… Nos países pobres o cão é mais uma coisa que pode ser útil do que um ser vivo com sentimentos. Os seus latidos são tristezas não choradas, súplicas de povo à terra atado.
Nesta minha nostalgia também anda uma recordação de criança. A daquele cão de aldeia que já noite adiantada consegue libertar-se do cadeado que o prendia e, farejando, se dirige à campa da sua dona, lá no fundo da freguesia, nesse dia triste de Outono enterrada. Pressuroso, com as suas patas remove a terra da campa… De manhã encontram-no, extenuado do cansaço, repousando no buraco da terra parecendo escutar o segredo da dona que ali quer guardar.
Recordo também o caso do herói Ulisses que após a sua odisseia de muitos anos, depois do cerco de Tróia, ao voltar esfarrapado a sua casa na ilha de Ítaca (Tiaqui), ninguém o conhece. Apenas o seu velhíssimo cão o reconhece. Eufórico por tornar a ver o seu dono o coração rebenta-lhe de alegria caindo morto aos pés de Ulisses.
Amigo e confidente de pessoas, companheiro de idosos, salvador de vidas entre escombros, ou colaborador na procura de drogas, o cão aí está sempre pronto e disponível.
A sua companhia tem efeitos muito positivos e terapêuticos sobre os donos. Estes dormem melhor e não precisam de visitar tantas vezes o médico nem de tomar tantos comprimidos. A sua vida prolonga-se. Também a circulação sanguínea dos seus donos funciona melhor atendendo a que têm de dar os seus passeios diários com ele, esteja bom ou mau tempo.
António da Cunha Duarte Justo
Publicado em Comunidades:
http://web.archive.org/web/20080430103558/http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&mmes=08&anon=2006
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Comentários:
Cães tristes – Tristes cães – – – 2006-09-06 Prezado senhor Luís Costa: Muito obrigado pelas suas considerações. Creio que o problema que apresenta é premente. Ele não tem tanto a ver com a dicotomia pobres e ricos, com a pobreza real que justamente refere. Isto é apenas o resultado duma forma de estarmos acomodados, de não ser.Estamos mas não somos! É uma situação precária de consciência humana, de consciência social e de consciência individual. Anda-se no mundo por ver andar os outros seguindo mais ou menos as leis da natureza, e estas têm bastado… A inércia das bases justifica a letargia das elites e vice-versa. O mal é que as pessoas andam todas à espera de qualquer coisa!… Quando acordam, se é que acordam, já parece tarde! Um abraço Justo antónio Justo
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caro Justo – – – 2006-09-03 Caro Justo, gosto do seu artigo, gosto mesmo. Luís Costa
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