OCIDENTE EM RETIRADA DA REPÚBLICA DO MALI COMO ACONTECEU NO AFEGANISTÃO?

 

A República de Mali, ex-colónia francesa com uma população de 20 milhões de habitantes (2021) dos quais 80% muçulmanos sunitas e 10 % cristãos encontra-se em situação de segurança muito tensa devido a islamistas militantes realizam repetidamente ataques e fazem reféns desde 2013 principalmente no Norte, mas donde foram repelidos devido à ajuda das tropas francesas. A agricultura, a exploração mineira e a exportação de matérias-primas como ouro e o algodão são as pedras angulares da economia maliense. O Mali é um país de trânsito para os refugiados africanos a caminho da Europa. Os grupos terroristas Estado Islâmico e Al-Qaeda e diferentes ramificações estão muito activos também no Mali.

O Ocidente quer defender regiões geopoliticamente importantes para si próprio e desalojar os inimigos da democracia. No Mali, encontra-se, por um lado, o terrorismo islâmico em acção e, por outro, a Junta militar está aliada com o grupo de mercenários russos “Wagner”. Isto já faz lembrar a accão paralela dos bandeiristas ucranianos contra a Rússia.

O Ocidente já começou a retirar-se do Mali; os franceses, depois de nove anos, retiraram os soldados da sua operação antiterrorista no Mali, mas pretende permanecer envolvido na região do Sahel. Na passada sexta-feira, também as Forças Armadas alemãs suspenderam o seu destacamento no Mali até nova ordem porque o governo maliense proibiu os direitos de sobrevoo no território. O Ocidente carece de forças aliadas no país. Por outro lado, o terrorismo islâmico revela-se como uma das mais eficientes estratégias de expansão. O argumento que a estabilidade no Norte de África contribui para a segurança da Europa é a razão da participação das Forças Armadas alemãs na missão das Nações Unidas no Mali, tal como defende a doutrina da OTAN.

O Ocidente enfrenta agora o início de uma derrota no Mali, que se assemelha ao que aconteceu com os Talibãs no Afeganistão.

Com a evacuação das forças ocidentais, avista-se um cenário semelhante ao do Afeganistão, para as forças locais, tal como aconteceu com as forças afegãs colaboradoras da OTAN.

Para lá da luta islâmica, a China e a Rússia já estão prontas para exercer a sua influência. Também na África a polarização mundial se afirma até que ganhe a devida expressão também a força islâmica. A Europa está a pagar a factura do seu imperialismo e dos erros iniciados pelos EUA quando militarizaram o terrorismo islâmico para combater o comunismo no Afeganistão.  Em 1979, Jimmy Carter, com a “Operação Ciclone” enviou jihadistas árabes, membros da confraria dos Irmãos Muçulmanos para o Afeganistão(1). Entretanto militarizaram-se e encontram-se a operar em toda a África e não só!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://geopol.pt/2022/04/13/a-alianca-do-mi6-cia-e-os-banderistas/?amp=1&fbclid=IwAR3LOigsF93ayGrq1PjPmmcWRalXJa6i4K35UjWm0E2fnXdCFqfCUXIt-8o

PORTUGAL SIGNO DO DESENVOLVIMENTO E DA DECADÊNCIA DA EUROPA

Só um Portugal-Espanha unidos e empenhados com as antigas colónias conseguirão afirmar-se

A Europa global começou em Portugal e acabou em Portugal. O globalismo atual já não se baseia em identidades nacionais, mas em grupos de interesses económicos e ideológicos com estratégias globais.

As potências mundiais do futuro, atendendo às novas tecnologias, afirmar-se-ão através do ar e do mar! Os EUA, a China e a Rússia já estão muito activos também no domínio dos oceanos sem que os Países Lusófonos estejam atentos ao que isso significa para o seu futuro. Uma das surpresas com que se poderão ver confrontados seria a das grandes  potências virem a usar a mesma estratégia que as potências europeias usaram no século XIX na Conferência de Berlim onde transformaram o direito colonial histórico às regiões de África em direito de ocupação efectiva (militar), o que prejudicou Portugal e favoreceu as potências bélicas surgentes e continuou a manter a África no servilismo. O mesmo poderia acontecer em relação aos direitos dos países marítimos no que toca ao seu direito às correspondentes zonas marítimas! A consequência seria que estes países, uma vez estabilizadas as suas fronteiras naturais se empenhassem sobretudo na defesa dos seus mares e numa estratégia de agrupamento baseada em afinidades culturais e históricas.

Portugal foi o país que transformou a história europeia em história mundial, passando, a partir de então, a Europa a determinar o destino de outros povos, ao deixar de estar ocupada com ela mesma e em torno do Mediterrâneo; com os “Descobrimentos” passou a abrir-se aos grandes oceanos e continentes; Portugal foi também o primeiro país que alargou as suas fronteiras fora da Europa (Ceuta 1415) numa reacção oposta à muçulmana.

Quase enigmático torna-se o facto de Portugal ter sido a primeira potência colonial da Europa, e a sua última…  Portugal era demasiado pequeno para a global empresa que iniciou e enfraquecia à medida que outras potências europeias disputavam o comércio dos produtos e matérias primas que a Europa não tinha. Assim Portugal tornou-se em país semicolonial a partir de 1890 devido ao “ultimato” inglês, na sequência do qual teve de ceder a Rodésia (mapa cor-de-rosa!) à Inglaterra (efeitos da Conferência de Berlim que dava resposta ao desejo imperialista de alguns países europeus); a crise do mapa cor-de-rosa apressou em Portugal a passagem do sistema monárquico para o republicano! Salazar ao ver Portugal a perder a terra debaixo dos seus pés, numa reacção de fuga ao real (luta imperialista entre União Soviética e EUA), ainda se lembrou de considerar Portugal como o último bastião do Ocidente (na velha vertente da europa das nações): esquecera-se que o proselitismo religioso que motivara a presença da Europa no mundo tinha passado a ser  substituído pelo proselitismo socialista fomentador de uma nova ordem mundial (imperialismo bipolar) a afirmar-se a partir da primeira guerra mundial ao lado de um capitalismo a reformular-se. A ideia de Salazar revelou-se como retrógrada ou como fuga, mas se considerada sob a situação das lutas imperialistas atuais poderia ser hoje uma mais valia no sentido de uma Europa e de uma África dignas de hoje. Isto na sequência de uma lógica ainda de perspectiva europeia, que na altura já se encontrava a perder!

Preferimos então continuar as pegadas na nuvem do sonho, aquela evasão tão característica do ideário português que devido a tanto sonho de olhar fixo no longe se esquece de olhar e construir a realidade concreta que fica à frente do próprio olhar (É verdade que então as potências europeias andavam demasiadamente ocupadas consigo mesmas (também na sua reconstrução pós-guerra) impedindo-as de perceberem o que  acontecia em torno de Moscovo e de Washington em termos de geopolítica mundial e o que verdadeiramente se passava nas colónias portuguesas).  Aqui, Portugal deixou de expressar o caminho da Europa para se perder numa visão política idealista longe de qualquer realismo e contexto histórico para seguir as pegadas de Moscovo (25 de Abril e apressada descolonização); entretanto Moscovo caíra (1991) e Portugal com a Europa seguiram os deuses bárbaros a imperar no Olimpo de Bruxelas. Portugal deveria abandonar a sua política de subsistência e reflectir a sua realidade (ibérica) que não é meramente europeia (para lá dos Pireneus) mas também oceânica e com a Espanha e os antigos países de língua lusa e espanhola se prepararem para uma nova ordem mundial em processo. Há que, no meio da luta assanhada entre os novos imperialismos, não se deixar levar apenas pela enxurrada das potências em litígio para se defenderem também  objetivos regionais políticos no sentido de uma política de concepção ibérica (não nacionalista) em união com os povos acabados de se libertar do colonialismo europeu (doutro modo poderão passar todos a sofrer sob o novo imperialismo mental e militar agora a reformular-se).

Já Camões se lamentava de uma característica de um povo poético (Portugal) que se afundaria em “tristeza, ganância e tédio”! De facto, no seu modo específico de ser, Portugal construiu “um mundo português”, um Portugal onde cabia o mundo, mas onde, como parte, desaparece, também por ser tão pequenino. Ficou a tristeza, a ganância e o tédio, hoje cuidados por uma plêiade decadente de tecnocratas novos-ricos virados para o Olimpo de Bruxelas descuidando os interesses de uma península ibérica e seus empenhamentos com os seus irmão além-mar! No sentido luso em vez de nos metermos em politiquices ideológicas com o Brasil (como fez Rebelo de Sousa, na última visita ao Brasil) seria chegada a hora de o apoiar na empresa de se afirmar na América latina (independentemente de os ventos ideológicos soprarem do ocidente ou do oriente).

Com o 25 de Abril comprimiu-se Portugal e a Europa, passando estes a recolher-se para dar passagem a novas potências! Pena é o tal mundo português ter voltado – sozinho sem os lusófonos – apenas à periferia de uma União Europeia que, por miopia, lhe estreita a visão obrigando-o a não se aproveitar do mar, aquilo que tem em abundância (a tristeza, o tédio e a ganância levam-no a não se preocupar suficientemente pela construção de um mundo luso): se uma Alemanha se preocupa por fomentar os povos vizinhos a leste porque não se preocupa a Europa latina por enriquecer os povos vizinhos africanos e Portugal-Brasil-Angola por favorecer os países lusófonos?

Ao velho realismo da ínclita geração e ao proselitismo de outrora sucedeu-se o oportunismo político e a indiferença empacotada no politicamente correcto. Para sair deste marasma terá de se voltar para o mar (não contra a Europa  mas como expressão dela), falar menos de Caravelas, de gaivotas e de rosas do vento, para se virar para a realidade de afazeres terrenos que o envolve e ao mesmo tempo não perder o ideal e a missão de outrora, aquele sonho-vida que, por pouco tempo, tornou Portugal grande. Não chega continuar a perder-se no sonho dando-se ao fado rotineiro de repetir o seu “destino” de produzir “navegadores” e emigrantes!…

É de observar que no destino de Portugal se espelha o reduzir da Europa já não a descobrir, mas a ser descoberta e querida sobretudo por aquilo que tem de transitório. 

Antes da primeira guerra mundial tínhamos a Europa das nações que dominava 90% do mundo (colonialismo motivado sobretudo por razões económico-comerciais) + imperialismo (motivado por razões económico-expansionistas); com a primeira guerra mundial inicia-se a passagem do poder das potências nacionais europeias para a grande potência surgente Estados Unidos; numa perspectiva europeia as guerras deixavam de ser europeias para se tornarem mundiais. Da segunda Guerra Mundial estabiliza-se o mundo dividido em dois blocos rivais: o dos EUA com o capitalismo e o da União Soviética com o socialismo (1). Neste espaço de tempo a Europa vai-se autodestruindo politicamente internando nela social e culturalmente o materialismo da luta socialista marxista e do capitalismo, de maneira antagónica; a Europa entra assim em contradição consigo mesma, o que a leva a deixar de existir como grandeza global. Simultaneamente vai perdendo o seu caracter latino ter passado a apoiar em África a autodestruição do seu poderio colonial que então, na África ainda disponível, passou a ser disputado entre a União Soviética (socialismo) e os USA (capitalismo); entretanto o Islão vota a acordar sendo de compreender o esforço do Irão por adquirir as armas nucleares.

O modo como Portugal (símbolo da Europa) cedeu as suas colónias ao socialismo é o melhor sinal  indicativo de uma Europa então já decadente e fraca (já sem valores ancorados na tradição), com ideais e valores apenas de caracter jurídico-mental e, politicamente sem tino, dividida entre os interesses do imperialismo socialista e os interesses do imperialismo capitalista anglo-americano, não elaborou um modelo de mundivisão humanista, democrático e solidário entre seus povos e vizinhos para se deixar levar na onda do poder mundial bipolar (socialista e capitalista) em vez de criar um modelo inclusivo dos dois, como elementos complementares onde a fraternidade e o povo sejam o ponto de partida e o ponto de chegada. Um sintoma do que se passa é a guerra económica que a Europa iniciou contra a Rússia deixando-se levar pela narrativa americana nos nossos Media que conseguiu, com eficácia, apagar a imaginação do povo europeu e deste modo apagar-lhe o espaço para a esperança de um agir próprio.

 Não quer isto dizer que se tivesse de ser contra a independência das colónias, pelo contrário, mas que o seu processo de independência tivesse sido também um empenho de Portugal e de toda a Europa numa visão de estratégica libertadora comum. O destino da Europa deveria ser comum ao da Rússia, África e das Américas, mas os imperialismos dos EUA e da Rússia obstaculizaram o caminho. E agora, numa altura em que as potências mundiais se digladiam deveria ser chegada a hora de uma Europa renovada assumir a missão de construir uma ordem mundial nova baseada não na contradição mas na inclusão complementar, com uma ética que parta da pessoa, e não da instituição (constantinismo), em termos de relação pessoal como preanunciado no modelo original cristão.

Portugal pode considerar-se como ponto charneira na mudança de matrizes do poder global! Foi-o com os descobrimentos e foi-o ao abandonar as “províncias ultramarinas” (fim do colonialismo nacionalista) ao imperialismo ideológico da União Soviética que se encontrava em concorrência com o imperialismo capitalista anglo-americano! Enquanto a esfera da União Soviética e dos EUA se alargavam, a das nações europeias estreitava. Portugal e a Europa, descuidaram-se em relação a Washington e Moscovo, abandonando a África obrigando-a a manter-se num empasse, enquanto na Europa num processo de entropia se ia perdendo o cunho latino (“romano”) e afirmando o espírito anglo-americano acompanhado pelo maçónico! Também a África e suas independências nacionais teriam merecido mais dedicação pelos interesses nativos e menos abandono a ideologias estranhas que também as subjugavam.

Portugal e a Europa deixam de existir como grandeza global ao autodestruir-se interna e culturalmente através de um socialismo materialista irreflectido e abdicando de si mesma para dar lugar à apropriação americana que exprime o cúmulo da sua alienação nos seus mercenários em Bruxelas julgados grandes por copiarem o que os USA ditam. A guerra económica contra a Rússia encherá compêndios (1).

Desde os anos 60 os EUA e a União Soviética esforçavam-se (através do fomento de instabilidades e aquisição de influência em zonas africanas) por ocupar o lugar deixado ou a deixar pelo colonialismo europeu. Os líderes africanos encontravam-se numa de orientação para o socialismo ou para o capitalismo. Entretanto, fizeram a experiência de que tanto o modelo americano como o modelo soviético não os ajudam. Entrementes, a China veio como mais um concorrente na tentativa de ganhar a África e já tem mais de 10.000 empresas em 46 estados africanos.

Não se trata agora de construir um mundo português, mas de reconhecer que na sua pequenez se poderia encontrar o mundo todo a descobrir-se em cada parte, podendo esta tornar-se a missão europeia. Primeiramente, porém, Portugal e Espanha teriam que se descobrir, politicamente, como unidade ibérica para redescobrirem a sua alma atlântica, de maneira a conciliarem o caracter doutrinal ocidental com o caracter pragmático oriental e assim iniciarem uma nova maneira de ser e estar mais baseada em compromissos do que em supremacias.

Cada época ou geração elabora a sua narrativa sem se dar conta que esta faz apenas parte de um género em que o passado é continuado de maneira mais ou menos latente no presente. O mal e o bem do passado encontram continuidade no mal e no bem do presente e nós ficamo-nos por contemplar as narrativas atacando o mal no passado para não ver o mal do presente. A colonização continua, sob outros pretextos, mas com as mesmas fundamentações. Da colonização dos territórios passou-se a investir mais na colonização das mentes: a discriminação permanece, só que mais refinada e escondida de maneira a não ser notada à primeira vista, mas a ser identificada em próximas gerações.

Só um Portugal-Espanha unidos e comprometidos irmãmente com as antigas colónias conseguirão afirmar-se na nova contextualização global a delinear-se. Doutro modo a Península Ibérica fica entalada entre o Atlântico e os Pireneus!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

(1) A implosão da União Soviética (1991) a que se sucedeu o globalismo (marca economia liberal) apressou depois o surgir económico da China no palco mundial.

A ENERGIA DAS PALAVRAS

Palavras e ideias atuam sempre nos que as dizem e nos que as ouvem, chegando, por vezes a ter um efeito hipnotizador. Nas ideias e nas palavras encontra-se o combustível que leva ao bom e ao mau agir.

A atmosfera de crise em que vivemos favorece discursos divisionistas e como tais legitimadores de guerras entre pessoas e povos. O discurso do ódio joga com os factores de identificação (luta do ego por ser e aparecer) que se alimentam de visões de confronto, especialmente num discurso que faz uso da política e da religião, como “comunicação” divisionista do que é teu e do que é meu.

A primeira condição para a paz começará pela transformação individual (homem, conhece-te a ti próprio) porque também na relação a dois se encontra o princípio da autoafirmação (definição) pelo recurso ao poder.

Palavras, imagens, sentimentos e acções andam interligados e são ordenadas segundo a própria experiência. Cada um associa uma ideia diferente a determinadas palavras. Uma palavra dita num sentido pode ser captada noutro sentido. Assim as palavras são portadoras de felicidade e infelicidade e são tão poderosas que a elas se seguem reacções e sentimentos que podem superar as forças de quem os sente.

O efeito de palavras tóxicas ou salutares podemos observá-lo directamente na reacção das pessoas com quem convivemos habitualmente.

Podemos também observar o efeito de palavras negativas no enfraquecimento do nosso sistema imune de defesa, e no equilíbrio mental, como provam averiguações e experiências feitas.

Creio que até certas doenças que adquirimos são o efeito de palavras e situações negativas. Começa-se por enfraquecimento na alma, que depois se passa a expressar em sintomas corporais.

Um ambiente com enfermidades psíquicas deprime tornando-se em ambiente enevoado, a que falta o sol e, onde não há sol, a vida definha. Todas as ideias e as palavras são expressão do nosso ser corporal e espiritual, influenciando-se mutuamente. O uso de palavras positivas, promove um comportamento procriador no sentido positivo.

O poder das palavras e da linguagem torna-se mais benéfico e eficiente quando parte de um fundo espiritual.

A oração tem um efeito muito positivo porque dá acesso a uma realidade superior, da qual flui a energia divina com encantador poder curativo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DIA DE AMIZADE EM TEMPOS DE CRISE

Muitas amizades esbarram nas opiniões sobre as medidas corona e a guerra na Ucrânia.

Segundo resultados do instituto de pesquisa de opinião YouGov e do Instituto Sinus, diferentes pontos de vista podem criar tensões de grande estresse nas amizades.

Quase dois terços dos alemães inquiridos dizem ter amigos com opiniões políticas diferentes. 35% perderam a sua amizade devido a opiniões políticas divergentes. 27% disse que era difícil manter amizades quando se tem opiniões diferentes sobre a guerra na Ucrânia. 56% afirmaram não terem qualquer problema com isto.

À pergunta: “Podem homens e mulheres ser amigos uns dos outros? 20% dos inquiridos afirmaram que era possível; 73% não acreditam nisso e 7% não sabia ou não respondeu a esta pergunta.

A Pandemia de Corona, fez com que os contactos fossem reduzidos ao mínimo. Assim, as amizades do dia a dia, que se baseiam naquilo que se faz em conjunto, desvanecem mais facilmente devido ao distanciamento provocado pela pandemia e por diferentes atitudes e opiniões perante ela. As amizades cordiais, essas, geralmente resistem às contrariedades surgentes porque se processam numa amizade de coração para coração e este consegue resistir a distâncias e ao tempo, independentemente das opiniões do parceiro.

Os acontecimentos do nosso dia a dia têm sido sobretudo dominados pelo conflito Este-Oeste a decorrer na Ucrânia e pelo medo do Vírus da pandemia e reações às medidas contra o vírus.

Tanto a guerra como a pandemia oferecem obstáculos às relações interpessoais  dado as pessoas geralmente se dividirem em dois grupos: aqueles que estão atentos e que cuidadosamente se agarram às regras ou à opinião dos superiores e aqueles que pensam que a vida é para se continuar a viver como antes ou apostando no que lhes dita a própria mente.

O problema esconde-se, por vezes por trás de uma opinião avaliadora mais interessada em que se vá uns contra os outros do que em fazermos caminho juntos.

Importante é fomentar-se uma atitude benevolente perante a vida e perante os interlocutores.

Tempos de crise exigem de nós mais esforço e maior criatividade e mesmo assim ficam muitos problemas por resolver!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

O SUL GLOBAL ESTÁ A CHEGAR –VAI SER GRANDE O PREÇO A PAGAR  

China-Índia-Irão ao lado da Rússia e do outro lado os EUA com a NATO

O Ocidente, com os USA a encabeçá-lo, julgava, com a queda da União Soviética (1991), ter-se chegado ao fim da história cuja meta seria um mundo unipolar com os USA a comandá-lo. A reacção desastrosa de Putin veio demonstrar que tinham deitado os foguetes antes da festa! Tudo leva a crer que o resultado da Nova Guerra Fria fará surgir um bloco alternativo. As sanções económicas castigam especialmente os países sancionadores e dobradamente as suas populações que irão ver o sarilho em que foram metidas. Na Alemanha, políticos destacados, como Sigmar Gabriel, já se pronunciam a favor de horários de trabalho semanais mais longos. No jornal “Bild am Sonntag”, Gabriel anuncia que a Alemanha tem de se preparar durante dez anos “nos quais se tornará mais extenuante”, doutro modo não poderá manter a prosperidade (1)! Também associações empresariais e economistas defendem a introdução da semana das 42 horas e a idade de reforma para os 70 anos!

A afirmação do Rublo perante o Dólar americano (2) também indica que a hegemonia do dólar sobre as outras moedas se aproxima do fim! A Rússia e a China desligaram-se do sistema financeiro liderado pelo Dólar que tinha substituído o Ouro. Com o Dólar facilitavam-se as trocas internacionais e, por outro lado, os USA eram subsidiados por um mundo sujeito ao dólar!

O bloqueio económico à Rússia quis ignorar a dependência da Europa (o nosso bem-estar) das matérias primas baratas e deste modo a política das sanções económicas colocou em “fora de jogo” o próprio Ocidente, o verdadeiramente sancionado, porque obrigou a Rússia a controlar capitais e a determinar que o gás russo fosse comprado em rublos e tornado mais acessível a outras partes do globo. Tudo isto está a provocar um alinhamento geopolítico da Rússia com países asiáticos e com alguns africanos, proporcionando aos povos do Sul Global procurar nova orientação (3). O bloco ocidental (NATO) que antes vivia bem dos serviços prestados pelo sul global terá de se contentar com uma concorrência (entre pobres e ricos) mais limitada ao seu bloco, uma vez que a Ásia e a Rússia seguirão um outro caminho talvez mais solidário entre eles. Teremos China-Índia-Irão ao lado da Rússia contra a Hegemonia pretendida pela NATO.

Os USA queriam que a história acabasse neles, mas veem surgir um recomeço da História na Rússia e na China que parece iniciar a história de um mundo bipartido. A aproximação dos povos entre si não será fácil devido ao desequilíbrio na relação de poder entre eles.  Em 2015, os EUA tinham um total de 4.855 bases militares no mundo (4). A maioria das instalações situava-se no território dos Estados Unidos, 114 situavam-se em territórios estrangeiros dos EUA. 587 bases estavam localizadas no estrangeiro, 181 das quais na Alemanha (5).

Não chega difundir a democracia e os direitos humanos com a espada na bainha pelo facto de sermos “melhores”; é preciso criar uma solidariedade a nível de populações como aquela que reina entre a elites que nos conduzem. Temos que criar condições para que os povos se democratizem por dentro sem a desestabilização de povos nem submissão seja a que poder for. Temos que aprender a desenvolver-nos mais lentamente e para isso a caminhar mais devagar com o mundo todo criando sinergias entre povos e continentes sem que uns explorem os outros desumanamente.

O caminho que seguimos não é bom. Primeiro expropriaram-se os senhorios e agora expropria-se o cidadão que reduzido a contribuinte já não de um Estado, mas de forças globais anónimas é mantido na serventia.

Uma oligarquia financeira mundial que tem 90 por cento da riqueza global nas suas mãos fortalece-se cada vez mais. Serve-se do poderio militar para conseguir o monopólio e controlo já não de terras, mas dos Estados, com troicas e aliados. Em 2019 os 10% mais ricos da população de 57 países inquiridos em conjunto detinham cerca de 84% de 146 triliões de euros, o total dos activos financeiros líquidos. O 1% mais rico da população possuía quase 44% da riqueza, com uma média de activos financeiros líquidos por pessoa superior a 1,2 milhões de euros (6).

Agora que os parceiros da NATO se encontram num empasse histórico estão a perder a ocasião de dar um passo qualitativo da filosofia oligárquica financeira para uma filosofia social participada e solidária, numa estratégia comum onde a perspectiva de empenho de uns e outros fosse o bem-comum. A competição a haver seria: quem serve melhor o bem comum e não, quem tira mais proveito das situações e quem domina o outro! Uma nova matriz pressuporia uma nova reestruturação do pensamento e uma nova filosofia político-social. Para isso teríamos de abandonar definitivamente a estratégia de colonizar com ideologias subsidiárias das oligarquias liberais económicas.

Multinacionais globais e os sistemas bancários cada vez assuem mais funções supervisoras próprias do Estado; a nível individual, o Cartão de crédito quase já assume a função controladora do cidadão e, por este andar, chegará a substituir o passaporte! O sistema financeiro assume o lugar do crédito público.  (Antes sobressaíam as torres das Igrejas hoje sobressaem as torres bancárias.) Um Estado que não seja mais forte que a oligarquia perde a sua funcionalidade e impossibilita uma independência equilibrada e com ela a missão de servir o povo e o país.

As oligarquias financeiras, embora invisíveis, governam o mundo e através dos seus bancos internacionais disciplinam os países endividados de tal modo que a própria produção não pode conter as dívidas e assim se eterniza a dependência dos juros a pagar e coloca o cidadão numa situação de assalariado da finança internacional e os governos na mera posição de gerentes. (de lembrar que os países ricos pagam à oligarquia internacional uma taxa de juro muito mais reduzida do que os países precários). A política bancária estabiliza a subordinação comum e impede assim qualquer mudança política séria nas sociedades. Os políticos, por sua vez, através dos governos financiam as grandes empresas endividadas (ligadas à alta finança internacional) com o dinheiro público (impostos dos seus cidadãos); deste modo o sistema oligárquico é implementado devido à miscigenação de economia e política sempre à custa do bem-comum.  Com o truque das dívidas e inflação adia-se o desenvolvimento da história dos países; com magias rectóricas da política de informação, que assume um caracter narrativo, a narrativa pósfactual…

Também não é suficiente que as democracias liberais e o capitalismo consigam alimentar o povo mais precário com subsídios porque a injustiça continua a ser sistémica e se não estiverem atentos o sistema chinês, este até poderá ganhar a dianteira em termos de concorrência económica e até social, a nível material. A promiscuidade do grande capital com a classe política governante tem possibilitado nessa união oligarca o endividar do povo e colocar nações ao seu serviço (O caso de Sócrates em Portugal poderia ser o exemplo de uma relação à vista entre finanças e política como geradora de oligarcas). O exemplo da China em que o Estado controla a nação e as finanças através dos seus 80 milhões de comunistas afirma-se como verdadeiro concorrente do sistema ocidental se este não moderar o capitalismo e não mudar radicalmente a atitude dos governantes em relação ao bem-comum.

O problema a resolver seria: quem controla quem? Nem o sistema chinês com o seu controlo financeiro e social através dos burocratas comunistas, nem o sistema ocidental de controlo financeiro e diplomático pela força militar (NATO) dão resposta às necessidades humanas, na sua qualidade de pessoas e de sociedade. Ambos sistemas são selectivos e alienadores da pessoa e da comunidade, reduzindo-as a mero instrumento ou a mero meio para atingir um fim, quando o ser humano é, ao mesmo tempo, meio e fim, numa relação pessoa-comunidade e, como tal, não redutível apenas à qualidade de cidadão-sociedade! Há que inverter as categorias de poder e de servir para se criar uma nova matriz político-económica que integre os interesses concorrentes no sentido de servir todo o povo, independentemente do lugar geográfico ou ideológico onde ele se encontre!

Doutro modo, o autoritarismo hegemónico continuará a servir-se da guerra fria para continuar a dividir o mundo em vez de assumir a função de o unir.

 O plano de um governo mundial (globalismo global) é, também ele, fruto de ideias oligarcas centralistas (imperialismo total) e de uma atitude anti pessoa, antirregião,  sem respeito por culturas nem por biótopos regionais que, dentro dos seus organismos, criariam equilíbrio social, económico e financeiro (um sistema democrático mais orientado pela base ou bem-comum e não servidor do corporativismo liberal vigente que fomenta oligarquias do lucro e de poder).

O cidadão de hoje deserdado da terra e do campo perdeu a capacidade de autossustento e encontra-se em perigo de ser desenraizado também da família, dado, tanto a política como a economia, o conceber apenas como cliente ao serviço de uma globalização que tem por fim prolongar o “colonialismo”!

“A República de Roma enriqueceu a sua oligarquia ao retirar a riqueza das regiões que conquistou, deixando-as empobrecidas. Esta continua a ser a estratégia extractiva do colonialismo europeu subsequente e, mais recentemente, da globalização neoliberal centrada nos EUA. O objectivo foi sempre o de “libertar” as oligarquias de constrangimentos na sua procura de si próprias (7)”.

Se, depois da guerra na Ucrânia, as potências não se reconciliarem para construírem uma nova ordem mundial mais justa e humana, mal do sul europeu e do Sul Global (8).

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7753

(1) Actualmente, a política e as empresas estão a discutir várias ideias para contrariar o peso da falta de mão-de-obra e as consequências da guerra da Ucrânia. O Presidente da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), Siegfried Russwurm, e o Director do Instituto da Economia Alemã (IW), Michael Hüther, tinham defendido uma semana de 42 horas. Outros economistas apelam ao aumento da idade da reforma para os 70 anos. https://www.spiegel.de/politik/deutschland/spd-sigmar-gabriel-spricht-sich-fuer-eine-laengere-wochenarbeitszeit-aus-a-ebda6d0c-abb8-49f0-ab11-85dbdefcb2fb?fbclid=IwAR0ardFKHRFtnexZyHE2fl-yVjREVjgrJNp3U8TP1l3mvJ7dCAjiwoaydKg

(2) Putin defende o Rublo: https://antonio-justo.eu/?p=7264

(3)  https://www.kinea.com.br/blog/o-gambito-do-czar-russia-da-um-xeque-na-europa/?fbclid=IwAR37NunbROopvXOrWkqVdH1wiSJyL8WitqT327RsZSmltf7Gj33OdDFZsuU

(4) https://de.statista.com/statistik/daten/studie/1134544/umfrage/militaerische-einrichtungen-der-us-streitkraefte/

(5) Crítica à Base Aérea dos EUA na Alemanha: https://antonio-justo.eu/?p=7663

(6) https://de.wikipedia.org/wiki/Verm%C3%B6gensverteilung

(7) https://geopol.pt/2022/07/21/o-fim-da-civilizacao-ocidental/?fbclid=IwAR0rmt9vf-I7DVXCfZmZ9amrCaUbP0rgeqKx4YYD-bAN9madn4PEOZrdxX8 “A oligarquia e a dívida são as características que definem as economias ocidentais.”

(8)A preocupação por manter a continuação do sistema imperial herdado dos gregos e dos romanos encontra-se muito clara na declaração da Cimeira da NATO em Madrid: NATO em Madrid. https://antonio-justo.eu/?p=7672

ALGUNS TEXTOS sobre a Ucrânia

O erro de Putin foi querer ter travar  o avanço da NATO através da invasão!  Por outro lado deu maior expressão aos motivos da guerra civil ucraniana que desde 2014 já tinha vitimado 13.000 civis e 4.000 soldados numa Ucrânia que não passava de cavalo troiano das duas potências em conflito e também ela nas mãos de oligarcas:  Ucrania Cavalo troiano da NATO e da Coligação russa: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/ucrania-e-o-cavalo-troiano-dos-usa-e-da-russia-surpresas-em-democracia

Chegou a hora de Putin: https://triplov.com/chegou-a-hora-de-putin/

A maior Victória dos EUA foi criar a Separação entre a Alemanha /Europa e a Rússia:  https://beiranews.pt/2022/04/02/ponto-de-vista-por-antonio-justo-221/

Símbolos de subjugação e decadência: https://antonio-justo.eu/?p=7435

Já em 2014 indico do que se trata na Ucrânia no artigo: “Ucrânia entre imperialismo russo e ocidental” (2014):  https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/ucrania.htm

Embaixadas ucranianas agências de propaganda: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/embaixadas-ucranianas-transformadas-em-agencias-de-propaganda-discordia-entre-berlim-e-kiev-os-oligarcas-da-ucrania

Causas do Conflito: https://antonio-justo.eu/?p=7410&fbclid=IwAR0c1RHilCBv1vjjRb0iUrN1TtpOUB54-J1qC5xdCHhSTORyHyLk8js4rJw

À custa da Ucrânia: https://jornalpovodeportugal.eu/2022/04/03/com-a-escusa-da-ucrania-os-eua-ganharam-a-guerra-do-gas-e-conseguiram-desnortear-a-europa/

A Ucrânia está em guerra e desta guerra vai resultar uma divisão do mundo em mundo de tendência socialista e mundo de tendência capitalista: https://bomdia.eu/a-ucrania-esta-em-guerra/

Nem Guerra nem Paz – Negócio e Hipocrisia: https://antonio-justo.eu/?p=7116

 O POVO FALA DE POLÍTICA E OS POLÍTICOS FALAM DE NEGÓCIOS: http://abdic.org.br/index.php/675-o-povo-fala-de-politica-e-os-politicos-falam-de-negocios  

A Alemanha rendeu-se atraiçoando assim a Europa: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2022/05/a-alemanha-decidiu-render-se-entregando-armas-pesadas-%C3%A0-ucr%C3%A2nia.html

 O BATALHÃO AZOV EM MARIUPOL RENDEU-SE: http://www.uaisites.adm.br/iclas/ler.php?CdNotici=1024&Pagina=Opiniao

Alguns textos em: http://www.uaisites.adm.br/iclas/todas.php?Pagina=Opiniao

Putin, pode ter os defeitos que tiver mas ocupará um lugar relevante na História por ter provocado o início de mudança de matrizes a nível de política mundial!