PISA – TESTE SOBRE EFICIÊNCIA ESCOLAR EM 65 PAÍSES


Resultados agora publicados revelam grandes diferenças

António Justo


PISA, (“Programme for International Student Assessment”), é o maior teste de aproveitamento escolar mundial desde 2000 e que se realiza num ritmo de três anos. É organizado pela OCDE e conta com 300 cientistas que, com os seus colaboradores espalhados pelo mundo, elaboram e avaliam os testes. Participaram 65 nações, com 470.000 alunos, entre elas a OCDE com as 34 nações industriais mais importantes do mundo. São testados alunos de 15 anos. Além dos resultados (notas) e situação familiar, social escolar do aluno são investigados os métodos de aprendizagem e a motivação. São examinados os ramos do saber: Leitura e compreensão de texto (L), Matemática (M) e Ciências Naturais (CN).


Os resultados da investigação realizada em 2009 e ontem publicados provocam grandes discussões na opinião pública de nações conscientes da importância da formação e do seu significado para o desenvolvimento dos países na concorrência internacional. Muitos Governos desenvolvem programas para saldarem as deficiências reveladas nos testes.


Os países asiáticos Coreia do Sul, Japão com Schanghai, Hongkong e Singapura, acompanhados da Finlândia, Canadá, Nova Zelândia e Austrália encontram-se, em todos os ramos, na posição dos10 primeiros classificados. A Coreia do Sul e Finlândia revelam os melhores resultados da investigação. Schanghai obteve o primeiro lugar nos três sectores testados: L, CN e M.


A Suiça ocupa, na hierarquia, os lugares 14 em L, 15 em CN e 8 em M. A Alemanha atingiu os lugares: 20 na L, 13 em CN e 16 em M. A França os lugares 22 em L, 27 em CN e 22 em M. A Inglaterra o lugar 25 em L, 16 em CN e 28 em M.


Portugal ocupa o lugar 27 em L, o lugar 32 em CN e o lugar 33 em M. A Espanha encontra-se abaixo de Portugal ocupando o lugar 33 em L, 36 em CN e 34 em M.


Entre outros, Portugal, Espanha, Itália, Grécia encontram-se abaixo da média dos Países da OCDE. Os países da OCDE alcançam em média o lugar 26 em L, 28 em CN e 20 em M. Em relação aos resultados de PISA 2006, Portugal melhorou nos três ramos. Em 2006 tinha alcançado os lugares 31 em L, 37 em CN e 37 em M.


O pior resultado dos países da OCDE em todos os testes atingiu o México. O Brasil ainda se encontra mais abaixo na escala.


Duma maneira geral o ensino público estatal revela piores resultados que o ensino público particular.


A leitura com a compreensão de texto é a porta de entrada para a aprendizagem. Ler e escrever são técnicas culturais que determinam o sucesso ou o insucesso profissional posterior.


PISA confirma que há uma correlação entre o grau de formação e o grau de pobreza social. Os resultados dos alunos dependem também da origem social e da escola que frequentam. Quanto mais crianças da sociedade desfavorecida houver numa turma, piores se revelam os resultados.


Na Leitura as meninas têm melhores resultados que os meninos, correspondendo essa diferença a um ano escolar.


A investigação mostra também que a remuneração dos docentes e o grau de autonomia dos estabelecimentos de ensino são factores de influência nos resultados. Por sua vez, também a autonomia local, a disciplina e a boa relação entre professores e alunos originam melhores resultados. Sem disciplina na escola, a/o docente não conseguirá dedicar-se aos mais fracos.


A criança deve ser iniciada na leitura, o mais cedo possível pelos pais e pelo jardim infantil, segundo a mundivisão subjacente à investigação PISA. Se uma criança tem vontade de ler deve corresponder-se ao seu desejo.


Naturalmente que se pode questionar a predominância da formação intelectual em desfavor da formação artística e emocional… Numa sociedade de mercado a humanidade conta pouco, numa sociedade socialista ainda conta menos!


A OCDE vai lançar em 2011 um programa de ajuda aos cidadãos em geral para melhorarem as suas competências.


Saber é poder e o povo não pode nada porque sabe o que o poder determina que saiba!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos

BENTO XVI ABRE-SE AO JORNALISMO CONTEMPORÂNEO
“Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”

António Justo

O livro, “Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, resulta duma entrevista efectuada de 26 a 31 de Julho, onde Bento XVI em Castel Gandolfo respondia, uma hora por dia, às perguntas directas e pessoais do jornalista  Peter Seewald.


Bento XVI dá assim continuidade aos livros-entrevista “O sal da terra” e “Deus e o mundo”, resultantes das entrevistas que o outrora comunista Peter Seeweald fizera ao então ainda Cardeal Razinger.


Esta nova forma de abertura ao jornalismo contemporâneo possibilita a leitura a um público mais abrangente que o das encíclicas.


No livro “Luz do Mundo”, o chefe supremo de 1.200 mil milhões de católicos, toma posição no respeitante aos problemas da Igreja e da sociedade, falando, sem subterfúgios, sobre si, o seu pontificado, a alegria do cristianismo, os abusos na Igreja, o ecumenismo, a sida, mesquitas e burca, o modernismo, o progresso, a droga, a sexualidade, Pio XII, a mulher, o celibato, etc. Ao ler-se o livro acompanha-se um Papa sublime e humilde, que, no centro da vida, quer dar vida à fé e trazer fé à vida.

Dá prazer ler os escritos lúcidos dum homem sábio, fiel a Deus e à humanidade, que, neste momento crucial da História humana, constata que “é absolutamente inevitável um exame de consciência global.” Não chega guiar-se pelo ponto de vista “ da factibilidade e do sucesso.” Para evitarmos certos aspectos destrutivos do progresso “devemos reflectir sobre os critérios a adoptar a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso”. A sociedade ocidental encontra-se numa encruzilhada que conduz ou a um secularismo que não tem nada para contrapor aos grandes problemas da humanidade ou a uma nova questionação sobre Deus. Reconhece que “muitas coisas devem ser repensadas e expressas de um modo novo.”

O anúncio do Evangelho não pode ser consensual: “Se o consenso fosse total, teria de me interrogar seriamente sobre se estaria a anunciar realmente o Evangelho todo”. Reconhece porém que não se tem apresentado suficientemente o potencial libertador e o sentido da fé em Deus. “O cristianismo dá alegria, alarga os horizontes.”


Nota-se que Bento sofre pelo facto dos Media e dos críticos da Igreja condicionarem a modernidade da Igreja às questões que têm a ver com os sexos.


Torna-se nefasto e desastroso para a Europa e para o mundo o caso do modernismo europeu reduzir a imagem da Igreja católica ao seu trato do sexo e condicionar a sua aceitação à sua maneira de encarar a sexualidade. Uma Europa que deve a sua configuração ao Cristianismo e um mundo que tem no catolicismo o seu primeiro modelo implementador de globalização, não revelam carácter ao rebelarem-se como filhos pródigos renitentes na sua primeira fase de abandono e repulsa.


Estes filhos pródigos apoderaram-se de grande parte dos média, das políticas e das administrações, controlando grande parte da opinião públicada e dos centros do poder e tratando a Igreja como sua rival. Os preconceitos mediáticos e a desinformação tornam cada vez mais necessária a abordagem directa dos textos papais.


Contesta o relativismo propagado afirmando que “o homem tem de procurar a verdade; ele é capaz da verdade. É evidente que a verdade necessita de critérios de verificação e de falsificação”. E mostra o seu desconsolo sentindo-se “decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autónomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja”.

Lamenta a cegueira do mundo ocidental onde muitas pessoas não distinguem entre o bem e o mal; reconhece na Europa forças destrutivas e manifesta esperanças nas pessoas fora da Europa. Questiona uma sociedade em que as sondagens se tornam “o critério do verdadeiro e do justo.” Para a Igreja “a estatística não é a medida da moral”.

Preocupa-o a nova intolerância propagada por um laicismo activista que em nome da tolerância se aproveita para afastar símbolos religiosos dos espaços públicos e assim safar o cristianismo da Europa. “A verdadeira ameaça frente à qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância… Existem regras ensaiadas de pensamento que são impostas a todos e que são depois anunciadas como uma espécie de tolerância negativa…. há uma religião negativa abstracta que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir… Ninguém é obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser tão pouco obrigado a viver a «nova religião» determinada como única e obrigatória para toda a humanidade… O que importa é que procuremos viver e pensar o cristianismo de tal modo que ele absorva o moderno que é bom e está certo e, ao mesmo tempo, se separe e diferencie do que é uma contra-religião.”


Apela à defesa da fé como catalisadora do mal num mundo secularista agressivo. Este quer o ser humano inteiramente disponível ao seu domínio e à sua ideologia reduzindo-o a indivíduo e a coisa sem dignidade divina. “Porém, a presença divina revela-se sempre no Homem.”


Para Bento XVI razão e fé não são contraditórias; vê na fé um serviço crítico e um limite razoável da razão. Doutro modo, o Homem, ao fazer-se a medida de todas as coisas, reduz e desumaniza a criação. O Homem sem Deus, destrói-se a si mesmo e a criação, sem se sentir responsável perante ninguém.


No que respeita ao sacerdócio da mulher, Bento XVI diz que o facto dos apóstolos terem sido homens levou esta prática a ser assumida pela Igreja como norma, sentindo-se ele, assim, condicionado pelo direito. Ao argumentar com a norma consuetudinária deixa o campo aberto à discussão teológica. De facto o NT também diz:”…o que ligares na terra será ligado no céu…” Bento também testemunha que “o significado das mulheres – de Maria a Mónica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.”


Quanto ao uso do preservativo o “grande Mestre” aponta para a possibilidade da casuística: um método da Tradição que faculta, em casos de conflito entre princípios morais, a possibilidade de optar pelo princípio maior (neste caso a defesa do corpo e da vida é mais relevante que a proibição do uso do preservativo para impedir a natalidade). A Igreja não se pode encostar aos adaptados que têm apenas respostas fáceis e ideologia para oferecer. Ela é acontecimento, milhares dos seus membros entregam-se abnegadamente na ajuda aos infectados pela SIDA. Bento XVI atesta que “onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. É preciso fazer muito mais”. “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias”… O uso do preservativo é legítimo “em casos pontuais, justificados… o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.” Solicita a” humanização da sexualidade”.


Quanto à homossexualidade, ensina: os homossexuais “merecem respeito” e “não devem ser rejeitados por causa disso”.

Relativamente à possibilidade de renunciar ao papado responde “Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar.”

Segundo ele, também as feridas da Igreja “têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos“. De facto, na Igreja como na natureza encontra-se a contradição, não fosse ela vida.

A droga “destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras”.


A humanidade alcançou os limites do seu crescimento. A solução cristã, para sair da crise e para resolver os problemas do ambiente e da humanidade, não vem de iniciativas da economia de mercado mas da metanóia, da mudança da consciência individual. Bento, o Cristianismo, aposta na pessoa e crê na sua capacidade de mudança através do aprofundamento da consciência individual numa perspectiva de fé.


O Papa sublinha a esperança cristã e a necessidade de colocar Deus em primeiro lugar para que a Igreja seja a luz de todo o mundo.


A Igreja, como organismo vivo é processo e não uma instituição que se deixe regular apenas por leis externas. O Papa não pode nem deve dar resposta imediata a tudo. Ele é como a Constituição dum país. Da Constituição não se podem esperar respostas muito específicas. Para isso estão as leis, para isso há a pastoral que tentará dar respostas adequadas a situações específicas, “in loco”, tal como as leis do Estado fazem, tendo como inspiração o espírito da Lei Fundamental.


Em caso de conflito de consciência o Cristão está chamado a orientar-se pela própria consciência, como advogava já S. Tomás de Aquino. É também um princípio cristão que o amor está por cima da lei.


Resta aos cristãos e ao mundo “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do som do finito.”


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

NA MINHA CIDADE…Operação cesariana


Parto natural como Herança cultural mundial

António Justo


Na minha cidade de Kassel, 40% dos nascimentos dão-se através de operação cesariana. No Estado do Hessen, Alemanha, a média de cesarianas em 2009 foi de 33,6%.


Muitos optam pela operação em vez do parto natural, embora não haja indicação medicinal que justifique a intervenção médica. Factores determinantes para a prática não são apenas o medo das dores de parto mas entre outros motivos a vontade de determinar o nascimento em data escolhida. Por outro lado, muitos médicos favorecem a cesariana porque há pais que, no caso dum parto natural em que o bebé sofra alguma lesão, colocam o caso em tribunal reclamando indemnização. A intervenção cirúrgica também se torna mais rentável para o operador.


Enquanto que, na Alemanha, os custos dum parto vaginal se cifram numa média de 1500 Euros, o hospital gasta 2400 euros com o parto através de operação cesariana, refere a HNA. A redução de apenas 1% das cesarianas efectuadas em toda a Alemanha corresponderia a uma poupança de 6,5 milhões de euros por ano para as Caixas de Previdência.


Há que ponderar antes de se tomar a opção por uma ou por outra modalidade de parto. No caso de decisão por uma intervenção cirúrgica a mulher tem de continuar mais tempo sob observação médica além da cicatriz que fica.


Para a criança a operação cesariana, ao acontecer rapidamente e sem que a mãe tenha tido a possibilidade de deitar adrenalina através do stress do parto, pode tornar-se desfavorável, porque impede o activar das forças corporais do bebé a nível de circulação e de respiração.


Na psicanálise alerta-se para os problemas psíquicos que pode acarretar o nascimento por cesariana. A criança entrou na vida sem esforço e muitas vezes sem ter activado os seus mecanismos de defesa e de afirmação perante a vida.


Por outro lado pais, demasiado fixados na fuga à dor, serão levados a arrumar do caminho da criança todas as dores e dificuldades, por rejeitarem o sofrimento natural. Tudo isto pode ter consequências graves no desenvolvimento da criança. O mesmo se refira para o caso do emprego do biberão, onde, por vezes sem necessidade, o bebé é privado dum contacto relacional mais directo com a mãe.


Depois de pensados os prós e os contras na situação concreta, a decisão pertence à mulher.


O parto é primariamente um processo natural. Por isso há organizações que pretendem que o parto natural seja reconhecido como herança cultural mundial.


Uma sociedade, cada vez mais técnica e individualizada olha apenas para os seus interesses e possibilidades sem respeito por uma natureza que mantém os seus segredos e dons.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

DIA DA SIDA

Hoje dia da SIDA seria importante recordar as suas vitimas e alertar para o uso da liberdade responsável.

É de recordar e louvar o trabalho abnegado de muitos membros da Igreja que entregam a sua vida na ajuda das vítimas da SIDA. Estes testemunham, com a sua vida, a dignidade e respeito pela pessoa independentemente da sua fé ou ideologia. A Igreja não tem apenas a ideologia e a  desculpa do preservativo para oferecer, pois sabe que este é apenas um recurso a utilizar conscientemente.

Ainda esta semana o Papa dizia numa entrevista: “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. (…) Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade”.

O pressuposto fundamental da relação deve ser o amor. Então “ama e faz o que queres”, reconhecia a Igreja já nos seus primórdios!

António da Cunha Duarte Justo

DIGNIDADE CONSTITUCIONAL PARA A LÍNGUA


Associações alemãs insurgem-se contra a Inundação de Palavras inglesas

António Justo

Associações de protecção da língua e da cultura entregaram ao parlamento alemão 40.000 assinaturas de apoio à exigência de protecção da Língua alemã pela Constituição da República. Na Constituição deve ser registada a frase:”A língua da BRD é alemão”. Esta iniciativa encontra apoio no presidente do Parlamento.


A língua deve ser protegida como bem cultural e como “elo de união da nação” e ao mesmo tempo como “a chave para uma melhor integração”.


O emprego de palavras inglesas impede muitas vezes a clareza da língua e pressupõe que todos dominem o inglês.


Puristas da língua registam uma invasão de anglicismos na Alemanha que já atinge 7200 palavras (www.anglizismenindex.de). Querem que palavras inglesas sejam traduzidas em alemão; por exemplo mainstream por “gosto das massas”.


Na França, onde a língua se encontra ancorada na Constituição tornam-se possíveis decisões de tribunal tendentes a proteger o consumidor. Segundo uma lei de 1994 os franceses podem exigir que no seu lugar de trabalho se fale francês. Empresas internacionais usam apenas a língua inglesa sem que, documentos e programas de computador, sejam traduzidos em francês. Decisões de tribunal deram razão a queixas de Sindicatos contra firmas, como refere HNA.

Aportuguesar as palavras estrangeiras


No mundo global e virtual em que nos movimentamos não podemos prescindir de estrangeirismos. Estes são um meio enriquecedor da língua desde que não sejam assumidos directamente da língua donde provêm mas sejam adaptados ao génio da língua. Um estrangeirismo como “destacar” enriqueceu a língua trazendo uma outra conotação específica que o seu correspondente vernáculo “distinguir” não tem ou não deixa ver directamente.

Também há palavras que reflectem diferentes consciências, como a palavra “elite” em vez de “escol, fina-flor”.


Naturalmente que quem fala bem uma língua estrangeira tende, por vezes, a empregar certas palavras estrangeiras por serem mais concisas ou mesmo por preguiça em procurar termo equivalente. Por outro lado há os vaidosos que querem mostrar a sua importância e desejam distinguir-se do resto mediante o emprego de estrangeirismos. Aportuguesar os termos ingleses constitui uma tarefa importante para o enriquecimento da língua. Naturalmente, sem pressões dum lado e doutro.


A pressa moderna leva-nos a deixar pontos e vírgulas, sem olhar ao pormenor. Muitos dos termos novos pertencem a uma linguagem tecnológica precisa e fria sem a carne da alegria da imagem para saborear. Trata-se de manter o olhar atento para o vivo. Os interesses económicos desempenham grande papel no seu desenvolvimento. O português, como língua inter-cultural encontra-se sob grande pressão da concorrência. O Brasil empenha-se de maneira especial porque está consciente do seu valor económico e cultural para o Brasil.


A língua já tem categoria constitucional em 18 países europeus. A eficiência prática depende da legislação e das decisões dos tribunais.

A linguagem vernácula é dificultada por interesses económicos e por textos modernos sem preocupação pela pureza, correcção e clareza da língua. A leitura de textos clássicos é cada vez mais dificultada. O mundo cultural também não faz excepção à lei mercantil do barato. A necessidade de comercialização da língua, também através de romances feitos à pressão, torna tudo mais leve e de curta duração. As editoras precisam de nova mercadoria, para apresentar a consumidores apressados.


Numa era em que se usam cada vez mais programas de computador como correctores da língua notam-se muitas vezes substratos ideológicos na escolha e disponibilização de termos.

Cada língua transmite o seu sentimento de vida. Através da fala entramos no génio dum povo.


Ela faz parte integrante da nossa consciência. Entrar no espírito duma outra língua é como navegar noutro continente e mergulhar numa nova consciência. Daí o respeito a ter por cada língua.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com