Refinanciamento de 13,5 Bilhões de € para Portugal em 2015

Portugal vítima do “Polvo” da EU e do Estado

António Justo

O calendário europeu, de 2013 a 2015, prevê para Maio de 2014 o final do programa de socorro (EFSF) para Portugal e a necessidade de um novo pacote de apoio; além disto prognostica para 2014 uma dívida de 134% do PIB. Prevê também para Novembro de 2015 uma subida da necessidade de refinanciamento de 13,5 mil milhões de €. (Cf. Bloomberg Morgan Stanley)

Portugal continua a trabalhar para o boneco sem conceito nem projecto próprio; à deriva, como dantes, procura apenas cumprir os interesses da alta finança. A crise leva as pessoas a gastar menos e consequentemente a aumentar a crise. O fruto do trabalho vai para os credores e estes não investem em Portugal. Uma fraude gigantesca a alta escala; o rei vai nu e tudo fala dos seus trajos.

Já há muitos anos que se diz que a EU financiou vários países da zona euro para estes deixarem de produzir, especialmente nos sectores da agricultura, indústria do calçado, pescas e têxteis. Assim a EU pôde dar lugar à entrada dos têxteis chineses e a produtos simples de consumo, para as nações fortes europeias poderem, em contrapartida, exportar maquinaria e tecnologia cara para a China. Mais grave ainda: muitas das grandes obras realizadas nas infraestruturas nacionais foram efectuadas pelas grandes empresas das mesmas potências europeias e muitos dos fundos europeus foram empregues para financiar grandes empresas estrangeiras que depois de cumprido o prazo foram recolher os fundos de outros países candidatos à EU, deixando na ruina as antigas pequenas empresas.

A EU subornou a classe política das pequenas nações

A EU iludiu o povo português e subornou os nossos políticos, enviando para Portugal dinheiro para as infraestruturas e facilitando o acesso dos nossos boys a altos cargos nas instituições europeias e mundiais (José Durão Barroso, desde 2004 presidente da Comissão Europeia, Victor Constâncio, vice-presidente do Banco Europeu Central, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, desde 2005).

O Estado esbanjou muito do dinheiro em projectos megalómanos (Expo 98, construção de autoestradas supérfluas como a A 32, construção de estádios de prestígio para o campeonato 2004 e que exigem manutenção, etc.), não se preocupando em investir na produção. Os fundos comunitários e os subsídios foram usados para fortalecerem os interesses dos países fortes europeus e acomodar uma mafia branca em torno do Estado como as PPPs. Esta foi corrompida pelo dinheiro e fomentou a corrupção a nível de administração pública sustentada pelas parcerias público-privadas (PPPs) e obras fomentadoras de luvas e não de produção. Um pequeno exemplo: uma cidade portuguesa (Espinho) com 30 mil habitantes dá-se ao luxo de manter prédios de prestígio e uma biblioteca com melhores condições do que qualquer biblioteca da cidade de Kassel na Alemanha, com 200 mil habitantes, onde vivo. A ingenuidade portuguesa aliada a arrivistas oportunistas deixou-se levar por quem planeia o futuro (trama a vida) a longo prazo e conta com a miopia dos políticos das economias mais fracas; estas, iludidas com o dinheiro da ocasião, não se preocuparam em investir nas pequenas e médias empresas que são aquelas que produzem o pão que se come e também a riqueza da nação!

Políticos das várias cores repetem-se uns aos outros

Da política europeia beneficiaram especialmente as infraestruturas europeias, as potências europeias e a classe política.

Os portugueses foram levados na cantiga e em vez de reconhecerem o embuste para que todos concorreram contentam-se ao jogo do empurra das culpas. Uma geração de políticos corruptos com outros parasitas do Estado continua ilesa e sem ser posta em tribunal.

Agora, ouvem-se na praça pública, políticos a chorar lágrimas de crocodilo, numa tentativa de regar os próprios jardins partidários e de desviar a culpa para fora quando deveriam iniciar processos contra muitos dos investimentos ambíguos e falcatruas a que deram cobertura. Depois da festa, na TV, assiste-se ao roto a dar conselhos ao esfarrapado, numa conversa a lusco-fusco. À maneira de comício, juntam-se as comadres a lamentar meias verdades, nesta celebração de carpideiras que choram o defunto por elas envenenado.

A conversa repete-se quase textualmente porque o povo tem memória curta. Hoje, como ontem, pede-se ao povo que “aperte o cinto”. O discurso dos governantes de hoje faz lembrar os tempos em que Mário Soares defendia os planos do FMI e dizia: “Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”; “O desemprego e os salários em atraso, isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”  in JN, 28 de Abril de 1984. A 19 de Fevereiro de 1984, o mesmo Mário, já tinha dito ao DN: “Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. A 21 de Abril de 1984 era chamado à responsabilidade pela revista alemã Der Spiegel onde se escusou dizendo: “A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.”  

Lobos vestidos de cordeiro (de ontem e de hoje) fizeram tudo para nos colocarem nas mãos do capitalismo estrangeiro e agora condenam-no sem se retratarem (à laia de Manuel da Costa) não iniciando processos criminais contra os cúmplices que conhecem. Puseram os portugueses a trabalhar para a China e para os grandes senhores universais e falam duma EU que desconhecem.

A opinião pública portuguesa encontra-se cada vez mais histérica devido à hegemonia do discurso partidário. Precisamos de um discurso já não em termos de direita ou de esquerda mas em termos de economia nacional; precisamos de mais iniciativas no sentido dos países da lusofonia.

Assiste-se a uma discussão pela discussão, sem perspectiva nem base em dados económicos objectivos, muitas vezes à caça de almas penadas que se encontram nas zonas húmidas dos partidos. Critica-se um governo, elege-se outro, critica-se o eleito e assim por diante; tudo não passa de uma fantochada, de uma discussão à la carte, à base de dados em cima dos joelhos. Tudo fala contra tudo, partido contra partido, tudo personaliza os problemas, sem se interessar por compreender que a corrupção e a crise são institucionais e que é falsa a esperança que assenta na fraqueza do outro. Tudo conversa na expectativa de adiar uma situação de crise, sem saber que a procissão ainda vai no adro.

Pobre povo, trazes muita agressão no estômago e qualquer problema se torna em motivo para dares asas à própria dor.

“Casa onde não há pão, todos ralham sem ter razão”!

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

Patriotismo cosmopolítico contra o Património cultural

Nova Forma de equacionar o Direito – Da Preguiça intelectual no Pragmatismo – O Porquê da Crise!

António Justo

Um pragmatismo sem horizonte ensombra uma vida cultural, sem espaço para a dimensão intelectual/espiritual. Um activismo político irreflectido leva a nossa elite política a tornar-se nos filisteus da nossa cultura ao orientarem-se apenas pelo pragmatismo e utilitarismo. Uma tal forma de fundamentar o saber cria uma realidade sem horizonte. Para a wikipédia “O filisteu não é adepto de ideais, mas apenas de propostas práticas passíveis de serem contabilizadas em melhorias para sua vida privada imediata”. Assim se dá substância ao individualismo hedonista que reduz a aspiração humana às suas necessidades básicas (alimentação, segurança pessoal e sexo) acompanhadas por uma “espiritualidade” secular reduzida ao desejo de fama, poder político e prestígio. Esta filosofia do prazer esteve na base da queda, primeiro dos gregos e depois dos romanos. Independentemente duma filosofia baseada na teoria e na empiria tudo se orienta apenas pelo saber empírico. Hoje tudo orienta por estudos “Sinus-Milieus”; o que importa não é a procura da verdade mas o interessa é conhecer a maneira de vender o seu peixe a determinado meio, diria, o que importa é a definição de estratégias no sentido do compromisso da manjedoura.

A nossa classe política, duma maneira geral, deprecia o pensamento e a arte porque se tornou escrava da agenda do quotidiano sem espaço para o bem nem para o belo. Perdida em accionismos e compromissos podres, serve-se de uma arte escura e negativa para não ter de questionar a sua acção destrutiva da cultura ocidental.

O saber hedonista e o relativismo, defendidos nos períodos decadentes da Grécia e de Roma e praticados agora pela geração pós-guerra, procuram estabelecer o divertimento como o princípio motivador do comportamento humano e social, reduzindo assim o velho objectivo da felicidade, ao prazer. Um a sociedade do mercado desregulado deixa o controle da economia e da moral à lei da oferta e da procura. A felicidade e o bem-comum, a que aspirava a velha sociedade, passam a ser reduzidos ao deleite a nível de sentidos e ao prazer individual. Por outro lado a felicidade também não pode ser limitada à auto-reflexão como quer a filosofia oriental; ela atinge-se na prática do bem, como advoga Aristóteles e no exercício do amor como ensinava o Mestre da Galileia. Na minha vida experimento o prazer não como fim mas como fenómeno acompanhante dum agir na tenção entre um tu e um eu, a satisfazer-se no nós.    

Encontramo-nos na transição, de um direito teórico orientado para o ser, para um direito pragmático, orientado pela experiência do estar, um direito proveniente da prática para a prática. Este saber experiencial é diametralmente oposto ao saber de experiência feito dos portugueses do séc. XV que era orientado por uma missão civilizadora global. O saber pragmático hodierno abdica da verdade e da objectividade para dar espaço a um subjectivismo que melhor medra na anarquia e no compromisso irresponsável do laisser-faire laisser-passer, como substrato dum liberalismo economicista que tudo submete à banalidade dum quotidiano sem horizonte e à alienação duma tradição reflectida apenas à luz do utilitarismo. O espírito proletário (de um socialismo e de um capitalismo primário) estende os seus braços a todos os ramos da cultura, como um polvo implacável que tudo suga e igualiza. Em vez de procurarmos um caminho entre os métodos dedutivo e indutivo, falhamos por optarmos por contemplar um só polo da realidade.

 Renuncia-se a um direito de princípios teóricos, fruto da convergência de várias civilizações, que tinha como objectivo uma sociedade justa e feliz, para se optar por um direito formado a partir da experiência adquirida na convivência do dia-a-dia e que tem como objectivo apenas uma sociedade possível. É abandonada a retorta cultural dum diálogo recíproco de aculturação e inculturação que contribuiu imenso para o desenvolvimento dos povos. No pragmatismo duma europa globalista sem missão, assiste-se a um processo de inculturação sem aculturação em que os imigrantes não são estimulados à enculturação, aquela regra bem portuguesa do “à terra onde fores ter faz como vires fazer”).

A doutrina utilitarista/pragmatista em voga renuncia ao melhor para possibilitar o agradável. Enquanto vai vivendo dos rendimentos económicos e culturais armazenados pelos nossos antepassados não é questionada; o problema surgirá quando não houver créditos a fundos perdidos!

Ao transitarmos duma civilização de cultura integrada para uma sociedade de cultura mista (entre multicultura e intercultura) abdica-se paulatinamente do melhor. Em vez de se evoluir regride-se. Estabelecem-se compromissos a nível de direito de caracter habitudinal que dão corpo a hábitos desumanos numa sociedade que já os tinha superado no tempo (eutanásia, aborto arbitrário, manipulação incontrolada do gene, concessão de direitos culturais ultrapassados a sociedades de cultura árabe, etc.).

O Ocidente depois da experiência das grandes guerras continua a viver do equívoco de afirmar a guerra justa em vez da paz justa. A experiência tem mostrado que o empirismo serve os grupos mais fanáticos que se aproveitarão das fraquezas da democracia, para com base em estatísticas imporem reivindicações independentemente da sua verdade objectiva e da sua finalidade numa ética que parta do bem-comum. Precisa-se duma teoria social, também capitalista e socialista, que tenha como ponto de partida, a nível especulativo e prático, o bem-comum. Uma norma legislativa elaborada só a partir do empirismo serviria apenas a miopia dum presente sem futuro. Continuar a seguir uma ideologia subjectivista e relativista só serve a indústria financeira capitalista e o marxismo quando se necessita uma filosofia ética integral consciente da complementaridade das partes no todo.

Não basta a experiência para a formulação da verdade e da lei moral social; ela precisa também do horizonte da teoria abstrata que lhe dá o caracter universal; não lhe chega a feminilidade necessita também a masculinidade; doutro modo passaríamos dum extremo em que dominou a “masculinidade” da inteligência para o outro extremo em que dominaria a “feminilidade”. A verdade, como a sociedade, quer-se simultaneamente masculina e feminina, o que constitui certamente um desafio. O pensamento europeu tem sido sistematicamente distorcido por fábricas de pensamento ao serviço dum cosmopolitismo de economia globalista e marxista, servindo-se para isso de um relativismo absoluto em que o que vale já não é o bem e o belo ideal que conduziu o Ocidente ao apogeu material civilizacional, mas sim a situação prática (reduzida ao enfrentamento do dia a dia) em que a sua metafísica se reduz ao dinheiro, único astro rei, na abóboda celeste económica e materialista. A ideologia e as teorias científicas têm sido confeccionadas no sentido de propagarem e justificarem um globalismo unilateral precoce. Quer-se fazer da economia o esqueleto do corpo social sem que este seja provido de inteligência. Toda a realidade precisa de um tecto metafísico e uma plataforma de equilíbrio compensatório das forças contraditórias.

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS- UM PERMANENTE DEFUNTO EM ESTADO DE COMA

Política de Emigração – Um Projecto por nascer

António Justo

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário, apresentou à discussão pública, um anteprojecto de alteração à Lei que regula o funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Surge atrasadamente e tem a pretensão de ser apresentado na Assembleia da República em Novembro e de possibilitar novas eleições para o CCP em 2015.

O CCP é um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à Emigração e às Comunidades Portuguesas, que se reúne, bienalmente, em plenário.

Com a iniciativa o Secretário de Estado tem como objectivo elevar o número de conselheiros de 73 para 80, desejando que todos sejam eleitos por sufrágio directo e universal por mandatos de quatro anos; quer que o CCP deixe de ter presidente; quer também fazer depender o seu financiamento das receitas consulares (até ao presente o CCP era constituído por 63 representantes eleitos directamente e 10 nomeados). O Dr. José Cesário aponta para uma verba a atribuir ao CCP correspondente a 0,5% das receitas do Fundo para as Relações Internacionais, o que corresponderia a 140 mil euros.

O propósito de “fazer corresponder o universo eleitoral do Conselho das Comunidades Portuguesas ao da Assembleia da República”, é mais um empecilho para o CCP e baseia-se na esperança dos partidos portugueses de, com uma cajadada, matarem dois coelhos: a motivação pelo trabalho partidário nas comunidades portuguesas, que reverterá em favor de eleições para os deputados da emigração e do parlamento europeu; isto revela-se como uma estratégia partidária inteligente mas não virá servir a vida de associações e iniciativas integradas ou a integrar na sociedade de acolhimento. Até ao presente para poder votar bastava ter-se 18 anos e estar-se inscrito num consulado. A nova medida é mais uma medida de exploração do trabalho do emigrante: de facto o candidato ao CCP terá de motivar as pessoas a recensearem-se para as eleições da Assembleia da República sem receber um chavo de apoio por esse trabalho. Se isto não for um xeque-mate ao CCP, revelar-se-á como seu domesticador. Por outro lado, a política portuguesa não está interessada em aproximar o português do consulado; pelo contrário!

Diz querer “aumentar a responsabilização do Governo e das representações diplomáticas portuguesas nos trabalhos” do CCP. Atendendo à situação do CCP, não seria mais eficiente obrigar as representações diplomáticas a uma estratégia de aproximação das associações em vez de criar mais intermediários, pontes que se tornam em alibi para o verdadeiro encontro de administração e administrados?

A nova proposta também prevê um CCP sem presidente próprio; deste modo o CCP deixa de ser uma referência e perde toda a sua autoridade, até porque o seu porta-voz passaria a ser o Secretário de Estado (Uma estratégia muito esperta e muito característica da nossa república!). E depois, uma democracia, cada vez mais verbo-de-encher, admira-se de gerar cidadãos demasiadamente preocupados com o próprio pão!

Nos anos 80, antes da existência do CCP, os governos e algumas das suas repartições organizavam “congressos” em Portugal e também na emigração a que convidavam representantes de portugueses na diáspora, para assim auscultarem a voz da emigração. Era uma altura em que a administração portuguesa, sem experiência em questões de migração, se mostrava interessada em dialogar e ouvir personalidades e representantes associativos. Nos meados dos anos 90 desapareceu o interesse da administração portuguesa por auscultar os problemas da emigração; mostra-se , a partir daí, só interessada em formalizar um “diálogo” que queria ver só dentro das próprias fileiras administrativas. O CCP teve a pouca sorte de ser criado neste contexto pela Lei n°48/96 de 4 de Setembro. Entretanto os interesses do governo na emigração revelam-se apenas de caracter económico.

O CCP tem sido um órgão embora legal, sem consistência própria nem resultados palpáveis. Pelo que se depreende continuará a ser uma estrutura sem suporte, condenando a viver de mobilização em mobilização e a perder-se no jogo de culpa e desculpa ao serviço duma política feita em cima do joelho. Tem sido usado como instrumento adiador de esperanças. Sem base, não passa de um órgão de troca de impressões; tem tido o trabalho de uma certa formação de consciência política e de possibilitar a ordenação de fileiras a nível partidário. De resto quer-se credibilidade mas sem crédito para uma política a que falta a fé. Anda-se no jogo das escondidas e o problema é que o governo também sabe que pode substituir o trabalho do CCP pelo de um assessor de imprensa que recolha e resuma os artigos publicados na diáspora, além da convocação de um congresso ou outro, seja a nível de firmas, de políticos comunais da diáspora ou de encontros de juventude. (Não se fale já do manancial da actividade de caixeiros viajantes, em que se têm esgotado os Secretários de Estado das Comunidades).

A Política mede-nos pelo que valemos e fazemos e não pela discussão; nas últimas eleições para o CCP em 2008 só houve 12.000 votantes num universo que se quer de 5 milhões de emigrantes e luso-descendentes. Recorde-se que no mundo das comunidades portuguesas há 2.700 associações. Atendendo a esta realidade, é ingénuo queixarmo-nos do facto de o CCP não ser tomado a sério e de se encontrar reduzido à característica de alibi ao serviço dos Secretários de Estado das Comunidades, de si já sobrecarregados e com uma casa (Secretaria de Estado) que não conseguem pôr em ordem?Naturalmente que cada conselheiro vale o que vale mas só por si e pelos que o apoiam!

Enquanto representantes de emigrantes se continuarem a encostar às organizações do Estado reduzirão as suas potencialidades e repetirão, cá fora, o que a república faz lá dentro. Encontro-me desde 1980 nestas quejandas e constato que o discurso apenas se repete e a pouca diferença que tem revela-se apenas nas cores… muito empenho individual, sempre o mesmo activismo fundado no amor à camisola que se traz e ao gosto de correr. (Aquando da luta pela manutenção do Vice-consulado de Frankfurt sugeri que se ocupassem pacificamente as instalações consulares para que as acções recebessem caracter de poder e não apenas de conversa justa mas fiada; resultado: prevaleceu a conversa e com ela o encerramento do consulado.Apesar de tudo realizou-se uma manifestação em que as cortes partidárias se juntaram todas.) Tudo isto acontece porque as crianças exigem e só os grupos organizados se impõem. Na falta de eficiência fica o calor da fé onde se aquecer. Entre a razão e o sentimento de a ter, há porém distâncias infinitas.

Um outro problema grande, é o facto da imprensa portuguesa (não da emigração) se estar marimbando para a realidade da emigração e limitar a pouca informação a jornalistas de ideias já feitas. Um outro equívoco está em falar-se da realidade migrante quando nos deparamos com muitas realidades e o universo da diáspora portuguesa ser demasiado complexo para poder ser tratado por uma secretaria de Estado das Comunidades nas dimensões da nossa (só a sua vertente económica e cultural já daria pano para mangas!).

Naturalmente que é preciso apresentar caminhos alternativos aos de Lisboa; estes têm de surgir da realidade da vida das comunidades da diáspora e não de uma mera vontade política (partidária) que muitas vezes desmotiva pessoas não interessadas na cor da camisola. Infelizmente o sentimento de pertença a uma cor política ainda é motivo de segregação no organigrama partidário inferior. Os emigrantes portugueses na Europa não souberam libertar-se duma politiquice partidária bebida levianamente no 25 de Abril. A cor política da camisola tem determinado a confiança entre as pessoas, impedido, muitas vezes, a sinergia de esforços e o estabelecimento de redes consistentes; em termos de diáspora, a cor política só deveria ser relevante, a nível de integração política, nas comunidades de recepção. Uma comunidade portuguesa integrada nos partidos alemães e nas suas associações de cultura prestaria serviços incalculáveis para todos, a nível de futuro. Este deveria ser o centro de gravidade duma política de portugueses emigrados.

O problema mais grave com que a emigração se depara é o facto de, em Portugal, haver um ressentimento recalcado contra os emigrantes. A ausência dos 5 milhões de Portugueses, nos meios de comunicação social em Portugal, é o maior problema e este está na base das atitudes duma política de emigração comum a todos os governos. Neste contexto não haverá deputados nem conselheiros que tenham autoridade nem audiência justa.

O problema cívico crucial dos portugueses da diáspora situa-se na manutenção e fomento de associações. Deste não se fala porque seria de interesse nacional mas este transcende os interesses políticos. O trabalho mais eficiente revelar-se-á no empenho da criação de associações e iniciativas nas comunidades de inserção. Da inserção dos portugueses nas comunidades receptoras, seja a nível económico, cultural ou político, se aproveitarão os emigrantes e se aproveitará Portugal porque em cada associação em que se encontre um emigrante luso lá se encontrará um embaixador de Portugal.

Boa noite CCP, bom dia associações; a noite é longa e o dia ainda por levantar!

António da Cunha Duarte Justo

(Antigo Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt)

www.antonio-justo.eu

Programa papal – Um Modelo também para a Lusofonia?

A Igreja não é “uma pequena capela” é “uma casa para todos”

António Justo

Um latino-americano mete mãos à obra de reformar uma estrutura europeia de feição demasiado nórdica, demasiado burocratizada. Um novo estilo de vida irá revolucionar o mundo. O Papa Francisco parte de uma perspectiva do mundo para a Europa/Vaticano e já não da Europa para o mundo. Será este o ponto de viragem iniciador da alternativa ao velho mundo?

Em entrevista à revista Brotéria, Francisco apresenta um “programa da Igreja” à altura do tempo. A sua opção pela entrevista, como forma de se comunicar, revela, no seu género, uma mudança paradigmática de relacionamento orientada para o povo, com um programa a partir da base (orto-praxia) e já não orientado para os intelectuais na sua forma típica de encíclica.

O Papa Francisco quer uma Igreja virada para a cura corporal e espiritual da humanidade em geral e das pessoas em particular! Ela é fermento e está para as pessoas que sofrem e não para se perder em lutas ideológicas porque também a doutrina está para servir. “Eu vejo a Igreja como um hospital de campo após a batalha”. O lema é “curar feridas… começar por baixo… primeiro é preciso curar as feridas sociais”. O cristianismo não é uma ideologia mas uma visão/espiritualidade que deixa liberdade à pessoa: “Não deve haver nenhuma interferência na vida espiritual pessoal”.

Na sua perspectiva, a Igreja não deve continuar a falar continuamente sobre divórcio, gays, lésbicas, aborto e métodos de prevenção conceptiva. A sua missão principal é misericordiosa (caridade), ser e estar para as pessoas pobres e sofredoras e para os falhados, numa palavra, curar feridas. “Não julgues e não serás julgado”, dizia o Mestre. Na prática há demasiados pregadores da moral e não da vida!

O Papa quer uma mudança da perspectiva de reflexão e de orientação. O olhar passa a ser focado na base da pirâmide e não no vértice. Consequentemente as reformas serão conseguidas de baixo para cima e já não ordenadas de cima para baixo. Esta estratégia é benigna, possibilita o crescimento e evita divisões na Igreja. Imaginemos que Francisco, partindo duma posição sobranceira, ordenava a abolição do celibato. Certamente surgiriam logo muitos bispos que provocariam uma cisão na Igreja. Uma Igreja, permeável, que começa a renovação de baixo para cima, cresce organicamente sem necessidade de intervenções revolucionárias. As revoluções favorecem os revolucionários que como o azeite ficam sempre ao de cima da sociedade. A verdadeira revolução humana é Jesuína em que quem tem razão perde aparentemente.

As afirmações e atitudes do Papa levam a concluir que o importante é que cada um siga o seu caminho do amor amando à sua maneira. A sociedade e especialmente a Igreja não devem ser um campo de batalha de esquerda nem de direita. A Boa Nova deve ser o Sol do sistema humano. O amor é anterior à lei e esta deverá centrar-se na busca da justiça. Será importante depor a samarra dum clericalismo burocrático e moralista longe do povo, para se passar a arregaçar as mangas na vinha do Senhor!

O Papa não aposta no jogo dos pensamentos proibidos, é um pastor que pensa em público e quer uma discussão livre dentro da Igreja e da sociedade. Um Papa assim será uma bênção para a Igreja e para a humanidade. Para a Igreja porque a centra no que é importante, no bem das pessoas. Para a humanidade, porque ao ser o expoente máximo da estrutura mundialmente mais global, dá o exemplo de modelos de comportamento a serem seguidos pela classe política e suas instituições.

Francisco ao reafirmar que a Igreja não é apenas “uma pequena capela” mas sim “uma casa para todos” realça o seu universalismo e admoesta aqueles que a querem ver reduzida à própria capelinha. O Cristianismo considera “o outro”, “o samaritano„ como parte integrante de si mesmo e respeita as muitas alternativas de acesso e de interpretação da realidade. Por tudo isto ganha razão a afirmação de sociólogos americanos que, numa afirmação metafórica, diziam que, quando as instituições mundiais entrarem em derrocada, o catolicismo lhes sobreviverá 400 anos.

Querem-se cristãos sem a farda da moral

A sociedade como a Igreja, por mais nobre que seja a sua ética, está sempre condicionada às pessoas e ao espírito que cada época produz. Estas albergam em si o bem e o mal, próprios da pessoa e de cada época. Por isso, mais que ensombrar o pensamento com a crítica ao passado, interessa dar-se graças pelas pessoas luzeiro, de cada época, que conseguem aproximar-se mais da verdade, do bem e do belo no sentido da pessoa e do bem-comum. Para o fomento duma cultura positiva de paz, vai sendo tempo de se passar da crítica destrutiva de pessoas azedas para uma estratégia de fomentar apreciações de pessoas mais benignas e benevolentes.

Naturalmente que agora surgirão os moralistas e burocratas da praça a exigir que a instituição declare esta ou aquela atitude como norma quando isso, no foro da igreja, pertence à responsabilidade e à consciência individual. Por um lado condenam a fixação da Igreja em normas morais e por outro lado exigem que a Igreja declare canonicamente o exercício de certas práticas (aborto, eutanásia…) como objectivas. As ideologias apostam, por um lado na radicalidade dogmática e por outro num subjectivismo puramente anárquico; querem a igualdade do bem e do mal, uma indiferenciação analfabeta que exclua o que poderá ser verdade e o que poderá ser erro. O que quer que o Papa diga continuará a ser aviltado, como diz o provérbio popular: “Preso por ter cão e preso por não ter cão”. Cada um faz a guerra que lhe convém. Os eternos aborrecidos nunca se darão por contentes, querem a imposição de atitudes a partir do cume da pirâmide quando Francisco, no sentido da “ecclesia semper renovanda” sugere que partam ‘democraticamente’ das bases.

Já passaram os tempos da europa bárbara que precisava de ser domesticada com a acentuação na lei e no juiz. “O confessionário não é instrumento de tortura, mas o lugar da misericórdia”, indica o Papa. Francisco quer pastores que, sem farda moral, se encontrem com a pessoa na rua, no seu meio. Em direcção a um certo funcionarismo eclesial diz: “O povo de Deus quer pastores, não clérigos que actuam como burocratas ou funcionários do governo”.

 

Este Papa, de expressão latina, é uma bênção e uma oportunidade para se começar a pensar sobre uma mudança de rescrito cultural e uma metanoia espiritual. “Eu vejo a Igreja como um hospital de campo após a batalha”.

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

Resultado das Eleições na Alemanha – Ângela Merkel um Fenómeno

Consequências para a União Europeia

António Justo

A Alemanha elegeu e Ângela Merkel venceu. A CDU/CSU (União dos cristãos sociais-democratas) venceu com 41,5% dos votos, seguida do SPD com 25,7%, Die Linke 8,6%, Verdes 8,4%, a FDP 4,8%,  AfD 4,8%, Piratas 2,2% e restantes 4,1% . A união recebe 311 assentos no parlamento, o SPD 192, o Die Linke 64 e os Verdes 63. 

Surpresas: a chanceler é indomável, a União é o único partido popular, o FDP que tinha 5 ministros no governo de coligação de Merkel não chega a entrar sequer no parlamento e o AfD (“Alternativa para a Alemanha” – partido contra o euro), conseguiu em seis meses, depois da sua fundação, um resultado de 4,7% dos votantes, advindos sobretudo da antiga Alemanha socialista. O AfD não conseguiu porém superar a barreira dos 5% que lhe possibilitaria o salto no parlamento, preparará porém muitas dores de cabeça à União. Uma coligação da esquerda (SPD, Verdes e Linke), embora matematicamente possível, torna-se irrealizável, também pelo facto do SPD e dos Verdes não aceitarem fazer coligação com Die Linke (comunistas).

Merkel terá de fazer coligação com o SPD ou com os Verdes. Um e outro partido têm medo de Merkel embora ela seja uma técnica do poder, de estilo presidencial, mas muito exigente na disciplina. O mais viável será uma grande coligação com o SPD. Este, teria a oportunidade de, no meio da legislatura, provocar uma crise governamental, mas Merkel poderia socorrer-se então dos Verdes como parceiros de governo. O socialista francês Hollande desejaria uma grande coligação de Merkel/SPD porque poderia, deste modo, ganhar mais influência nas redes socialistas da EU, por outro lado teria de aguentar com a pressão dos companheiros alemães no sentido de forçarem os socialistas franceses a fazerem as reformas que a Alemanha fez há dez anos e que a colocou na avançada do jogo económico europeu!

Governar na Alemanha não é fácil porque há um contrapeso regional dos Länder que no Bundesrat (Conselho Federal) podem bloquear ou aferir leis provindas do parlamento, devido ao contrapeso partidário a níveis de estados federais. Dos 16 Estados federais só 6 são regidos pela União (CDU/CSU).

Apesar de todas estas barreiras, o povo alemão possui uma vantagem em relação a outros Estados, tem um sistema partidário que, sem ser nacionalista, pensa primeiro no bem da nação e só depois no bem do partido. Esta é uma razão, entre outras, porque os partidos alemães não aceitam fazer coligação com Die Linke. Esta é também uma razão do sucesso alemão, usando um mínimo de ideologia e um máximo de especialização.

O povo está contente com a política da Chanceler, conhecem-na desde há oito anos como chanceler e não quer experimentações. Com excepção do SPD que conseguiu melhorar o resultado em 2,7% em relação à última legislatura, todos os outros partidos perderam.

A Europa aprenderá a gostar de Ângela Merkel

Isto terá consequências para o trabalho na EU. Os alemães estão descontentes com o trabalho da Comissão Europeia; o instrumentário burocrático da EU tem-se revelado ineficiente com as medidas desenvolvidas nos últimos 5 anos no sentido de sair da crise. A Alemanha ficou chocada com os 150 mil milhões de Euros que perdeu com a crise dos bancos, que continuam a criar problemas. Ângela Merkel tem medo que o dinheiro investido na salvação de países em crise tenha um paradeiro semelhante ao da crise dos bancos e em que os credores/contribuintes e Estados terão de pagar a factura. Reconhece porém que é preciso fazer mais no sentido de investimento nos países com maior crise económica. Tem por outro lado dentro do país uma força popular crescente contra o Euro.

Tudo isto complica as decisões políticas de futuro numa EU em que cada país, continua a orientar a sua visão para o umbigo do próprio país (talvez Portugal esteja a fazer uma dolorosa excepção, o que torna injusta a situação em relação aos portugueses).

 A Alemanha continuará com uma política orientada para a economia real, isto é, em favor do curso de poupança. Neste sentido, a política irá favorecer, na EU, a fortificação das decisões a nível de chefes do governo, mais à margem do parlamento europeu; isto porque se prevê nas próximas eleições para o parlamento europeu (próximo ano), uma maior quantidade de deputados críticos da EU, o que complicaria decisões de compromisso. Dado a Alemanha e a França se encontrarem descontentes com a EU e a Inglaterra descontentíssima, a política irá no sentido de menos Europa e mais núcleos de Estados.

A Alemanha sente-se com responsabilidade pela Europa e certamente exigirá mais pessoal importante e da sua confiança na ocupação de postos na EU e na Nato. Merkel também não conseguirá continuar a adiar o desejo de estados europeus, como Inglaterra e França,  que querem da EU uma política de segurança semelhante à americana. Não será fácil para Merkel conseguir uma política que consiga unir conservadores e progressistas, a nível europeu na feitura de leis, no sentido de se nivelarem lucros e défices na competição entre os países.

A força da opinião pública alemã é muito forte perante o governo e ela exige da política consolidação e poupança no orçamento. A economia alemã, em quarto lugar a nível mundial, determinará o futuro da Europa. O presidente francês reconhece que a miséria financeira em que se encontra o obriga a encostar-se à Alemanha. A Europa terá de se encostar à Alemanha por convicção ou por oportunismo. A Alemanha sozinha tornar-se-ia um perigo económico para os outros países europeus e a Europa sem a Alemanha seria economicamente uma desgraça.

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu