Razões da Crise dos Estados na União Europeia

A Queda do Socialismo favoreceu a Degradação social ocidental (2)

António Justo

Com a queda do socialismo real da União Soviética, a Europa deixa de viver mortificada, na sua sombra. Com o passo da reunificação da Alemanha, a EU pretende ser uma grande potência, ao lado dos USA. Para isso, cria a Zona Euro, com uma moeda comum capaz de enfrentar o Dólar. O Euro torna-se num desafio ao Dólar e a quem ganha com ele.

A União Europeia quis a Concorrência e a Alemanha tomou-a a Sério

No ano 2000 os chefes do governo da União Europeia optaram, em Lisboa, por uma agenda de reformas tendente a fazer da Europa a “região mais competitiva do mundo com uma economia baseada na dinâmica do conhecimento”, até 2010.

O governo alemão do chanceler Gerhard Schröder (2003 a 2005) tomou a sério a decisão de Lisboa e elaborou a Agenda 2010 iniciando a “Reforma do Estado social alemão e do mercado de trabalho”. A Alemanha, com o pretexto de melhorar “as condições para um maior crescimento e mais empregos” e de querer “transformar o Estado social e renová-lo”, sob a coligação de esquerda SPD/VERDES, conseguiu envolver na Agenda 2010 as diferentes forças sociais da nação e impô-la ao operariado. Com esta agenda os trabalhadores perderam muitos dos direitos anteriores e iniciou-se um verdadeiro ataque à economia social de mercado.

Muitos benefícios foram excluídos do catálogo da segurança social. As contribuições previdenciárias para a reforma foram elevadas para 19,5% do salário bruto. Na reforma da segurança social em vez de ser combatido o desemprego passa a ser castigado o desempregado. A economia começou a florescer mas os salários não sofreram os aumentos adequados; por todo o lado a sociedade alemã sofreu cortes nas condições de bem-estar. Mesmo assim o nível social dos alemães manteve-se devido à política de manter os bens de consumo baratos e a uma exportação capaz de competição. Esta política colocou a Alemanha numa posição de relevo em relação a toda a Europa. As nações fortes da Zona Euro ao não aplicarem atempadamente um programa semelhante à Agenda 2010 cada vez se desestabilizam mais, vendo a Alemanha passar-lhes à frente.

Os trabalhadores alemães, que tinham suportado a renúncia a aumentos reais durante os últimos 12 não vêem com bons olhos economias menos coerentes sem tanta disciplinação; além disso não compreendem o desperdício de capitais da EU aplicados em sectores não produtivos das zonas da periferia. Acham atrevida a política duma Irlanda que por um lado recebe apoios financeiros da EU e por outro lado levanta poucos impostos às empresas o que leva empresários alemães a sediar-se lá para não pagarem tantos impostos.

O Estado paternalista questiona-se

Com o início da política de globalização, os Estados fortes reduziram os impostos dos ricos para estes se fortalecerem e afirmarem contra firmas concorrentes estrangeiras. Passou-se a não apostar no trabalho dos operários mas no capital. Este é investido onde há maior número de consumidores e onde os ordenados dos trabalhadores são mais baixos. Por seu lado, o Estado socializa a pobreza, favorece as condições de investimento às elites do capital oferecendo-lhe terrenos e uma camada social precária disponível com leis favorecedoras dos despedimentos. Favorece-se a riqueza anónima produzida por acções (dinheiro) e renuncia-se à capacidade de criar riqueza fruto da economia real. A classe média é oprimida com exagerados impostos; o trabalhador é obrigado a renunciar a bens sociais adquiridos e a aceitar novas contribuições. Por outro lado os Estados perdem muitos dos capitalistas que geraram porque muitos destes para não pagarem impostos radicam-se em paraísos fiscais como o Dubai, mandam fazer os produtos na China e comercializam-nos na Europa. O Estado abdicou perante o capitalismo neoliberal.

 

As Oligarquias do Capital agem e os Estados adaptam-se

As oligarquias económicas e ideológicas (à semelhança das famílias nobres de outrora) instalam-se nos lugares estratégicos das instituições da EU e estabelecem redes coerentes de influências a nível de governos, bancos, partidos, administrações etc. Conseguem subjugar os Estados através da corrupção solidária de seus responsáveis; conseguem impor-se nas universidades através do acordo de Bolonha, instrumentalizando os seus professores e disciplinando os estudantes; conseguem impor o neoliberalismo económico e consequentemente desautorizar os sindicatos que vêem os seus sócios cada vez mais reduzidos, devido à diminuição de empregos seguros (reestruturação das empresas) e à concorrência do operariado entre si; conseguem ainda fomentar a agressão contra instituições morais como a Igreja para melhor conseguirem impor uma moral rasteira acrítica, ao nível das necessidades primárias utilitárias. Estabelece-se uma oligarquia corrupta e solidária por toda a EU com o seu “quartel geral” em Bruxelas. Esta consegue cedências de soberania das nações (Estados) que o povo ainda não outorgaria. Também por isso Bruxelas não estava interessada no controlo dos empréstimos que fazia. A crise financeira de 2008 acordou a EU dum grande sonho.

Os países da periferia tinham-se deixado ir na corrente enquanto as suas elites se aproveitavam dos créditos da União Europeia, em parte, em proveito próprio. Quem se aproveitou da EU foi a camada média superior e a camada alta, encostadas ao Estado. Como a nação portuguesa não tinha mãos para sustentar estômago tão grande o Estado teve que ir à falência.

A Troica, em vez de exigir responsabilidade aos corruptos que se aproveitaram do Estado deixa-os à sota e castiga o povo. Agora, o povo reconhece-se entregue às feras e ladra e uiva. A opinião publicada fomenta a inveja latente no cidadão desviando as atenções dos perdedores para aqueles que ainda têm ordenados e empregos estáveis mais ou menos justos/humanos. Muitos pobres, mantidos por um estado paternalista interessado em impedir o desenvolvimento do descontentamento e do comunismo no seu seio, são agora colocados à chuva; não há nenhum sistema real capaz de contrabalançar o regime dominante. Não há modelos! O próprio comunismo chinês tornou-se num socialismo de estado capitalista! O Estado imprime dinheiro para dar aos bancos mas a inflação paga-a o consumidor. O crash financeiro que deveria ter penalizado os usurários do dinheiro serviu para empobrecer o cidadão e enriquecer a alta finança ligada aos bancos e aos seguros.

Urge a revolução dos honestos – Um Purgatório para todos

Antes a moral reservava o inferno para os ricos e o céu para os pobres: uma justiça adiada; hoje prefere-se a injustiça do dia-a-dia: as oligarquias ao tornarem-se as fabricantes da moral, já não lhes chega a terra, reservam-se também o paraíso para elas e banem os carentes, moral e socialmente, para o inferno. Até as democracias são usadas como plinto para jogos de influências possibilitadoras da organização criminosa, com impunidade civil e penal, a uma elite bárbara que utiliza o enredamento cúmplice de sistemas estatal, político, judiciário e empresarial para enriquecimento próprio. O compadrio entre irmãos, companheiros, camaradas e sócios destrói a independências dos poderes de Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário. O quaro poder, os Media, não controlam; numa sociedade de concorrência entre ideais e interesses, cada vez se tornam mais dependentes das encomendas publicitárias e políticas. Os intelectuais críticos não ligados a uma facção ideológica ou política são marginalizados.

Constata-se que o dinheiro nas mãos dos poucos magnates financeiros desregulados não produz riqueza social; pelo contrário, destrói Estados, lugares de trabalho e empresas: a sua filosofia reduz-se à especulação, considerando também o trabalhador como mercadoria. Solidariedade e bem-estar para todos são-lhe palavras estranhas. Arruinaram a vida próspera do cidadão (economia social de mercado) e levaram a massa proletária à dependência do imediato, sem possibilidade de fazer planos económicos e familiares. Estão interessados em destruir a classe média, o braço direito dum estado florescente. De facto, quem não tem nada a defender não vai lutar pelo que não tem. O político transforma-se em mercenário do capital; procura também racionar tudo o que é despesa com trabalhadores públicos para que o que aí poupa seja canalizado para os magnates do capital, os únicos beneficiadores do que se poupa com o Estado e com o seu enfraquecimento. O Estado encontra-se assediado pela classe dos corruptos que com os seus afilhados preparam as leis parlamentares de maneira a servi-la.

O povo encontra-se numa situação tão depauperada (desorientação, analfabetismo político e social) que elege o palavreado daqueles que prometem o que ele deseja. As pessoas, desabituadas da solidariedade, pensam que não há solução para os problemas e contentam-se em criticar tudo e todos. O Estado encontra-se à pilhagem, o governo e o parlamento não têm legitimação ética nem competência para reorganizar um Estado que sirva uma nação honrada. Um pequeno exemplo: os governos depois do 25 de Abril assaltaram as Caixas de Previdência e ilibaram o Estado como entidade patronal de pagar contribuições para a Segurança social (CGA, ADSE) até 2005 (fala-se de um desfalque de 70.000 milhões de euros na Segurança Social). O buraco provocado tem de ser agora preenchido pelos empréstimos da Troika.

Hoje seria um dever patriótico dos Estados fazer uma revolução contra os Dinossauros do capital, e o saneamento da corrupção estruturada, o que pressuporia um golpe de estado dentro do estado. A maior revolução seria a mudança de mentalidade.

Os dinos continuarão a subir até que o povo descubra a solidariedade como única maneira de subir e competir com eles. Não se pode esquecer que a natureza tem duas maneiras de se afirmar: uma através da selecção (lei do mais forte) e a outra através da solidariedade/colaboração dos menos fortes entre si, contra as adversidades.

De que importa a limpidez das verdades que se reconhecem com a inteligência se o coração por onde passam se encontra turvo.

António da Cunha Duarte Justo

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A Queda do Socialismo favoreceu a Degradação social ocidental (1)

Da Economia social para a Desregulação capitalista liberal

António Justo

Os donos do dinheiro e do poder atacam sistematicamente o padrão da economia social europeia que permitia uma vida honrada e perspectivas de futuro com segurança para a maioria da população. Este sistema conseguiu gerar o milagre económico alemão e um bem-estar geral na Europa. Hoje é desmontado pela filosofia económica e social anglo-saxónica e pela visão asiática, aliada ao desejo duma EU que se quer afirmar em relação à América e à Asia.

Até 1998 a Europa tinha uma ordem económica de mercado social orientada para o bem-estar de toda a população. Possibilitava uma classe média abrangente e uma classe baixa remediada e uma classe alta reduzida de ricos mas com uma certa consciência social. O imposto sobre o consumo era insignificante; o imposto sobre os ricos era superior a 50% e as leis laborais tinham em conta a dignidade humana. Com a queda do socialismo (União Soviética) deixou de haver uma força concorrente que metia medo a um capitalismo desalmado e motivava os Estados ocidentais a tomar medidas económicas que possibilitavam a existência dum capitalismo de rosto humano. Na concorrência entre o bloco ocidental e o do leste, as elites económicas e políticas ocidentais estavam empenhadas em conseguir melhor nível de vida para os seus cidadãos e em demonstrá-lo; tinham de convencer com o melhor nível de vida dos seus cidadãos a sua superioridade perante o socialismo.

Emanuel Kant resumia toda a ética económica europeia ao princípio do “bem-comum” como princípio superior de acção. Ao contrário, o pragmatismo económico anglo-saxónico pensa resolver o problema do bem-comum através do ditado económico dum mercado que tudo regula.

A estratégia da União Europeia para se tornar a primeira referência económica do mundo e os exageros do paternalismo de Estado ajudaram os gangsters do dinheiro a impor ao Estado social um liberalismo económico selvagem.

A política social e económica, em nome de um racionalismo e utilitarismo absorvente, foi destruída, de dia para dia, e com ela a coesão social que antes havia. A solidariedade só pode ser cimentada por uma emotividade ética que leva à relação humana entre patronato e operariado. A redução do ideário nacional / individual ao mercado competitivo e a um código jurídico racional, que pretende substituir o ideário cultural/ético pela luta pelas necessidades básicas, não cria felicidade e leva à explosão da crise como se deu em 2008. As zonas periféricas do euro são o barómetro do estado dum sistema económico.

Com a Queda da União Soviética deixa de haver Concorrência no bem servir

Com a criação da zona euro e da economia globalista foi interrompida a economia social de mercado de prosperidade para todos. O trabalho digno dá lugar ao trabalho precário e desumano, flexível e temporário, a firmas emprestadoras de trabalhadores, baixos salários e ao mercado desregulamentado. O Estado, pressionado e comprometido com as forças económicas, deixou de impor um quadro regulador da economia, perdendo o controlo sobre os bancos e estes deixaram de ser os financiadores da economia real para se tornarem em casinos do capital de jogadores da bolsa. O poder financeiro começou a ser de tal ordem superior ao poder do Estado que tem a possibilidade de comprar também a política. Tudo se equaciona agora em termos mercantis. Deixamos de ter empresários de fundo humanista para termos capitalistas liberalistas desenraizados.

Corrupção económico-política coerente

Em qualquer sector que se observa lá se encontra uma rede corrupta de interesses de compadrio entre serviços públicos, partidos empresas e justiça. A corrupção encontra-se de tal modo orquestrada que nações como Portugal para poderem viver têm de recorrer à troica que legitima a corrupção. Em texto claro: vivemos num sistema económico coerente na corrupção. A corrupção estatal pede ajuda para sobreviver aos corruptos internacionais.

Até aos anos 90 havia uma relação de solidariedade entre patronato e operariado. Com a globalização, muitíssimas firmas que antes estavam ligadas a grandes famílias nacionais passam a pertencer a sociedades de accionistas internacionais só interessados no lucro da produção sem laços com o trabalhador. Fomentam relações de trabalho péssimas, importando-se apenas da especulação com firmas e com os trabalhadores: da colaboração mais ou menos condicionada passa-se à rivalidade.

Fomenta-se o radicalismo e desmonta-se uma democracia já de si doente

A poupança radical conduz ao desespero e asfixia a iniciativa. Como consequência, nas zonas de crise, acentua-se o radicalismo a todos os níveis sociais; o nacionalismo aumenta numa altura em que nações se encontram ameaçadas. O norte e o sul da europa têm mentalidades diferentes, não se entendendo a nível económico.

Entre a França e a Alemanha há discrepância na concepção da Europa. A França quer uma europa centralista (como ela) e a Alemanha uma europa federalista.

Egoisticamente a Alemanha exige uma política de poupança radical para o sul tal como a que praticou na sua crise dos anos trinta esquecendo que essa política foi a que possibilitou a subida de Hitler ao poder. É verdade que a Alemanha se tornou fiadora de um trilhão de Euros dos países em dificuldade e isso preocupa-a sobremaneira. Mas a EU não pode limitar a sua posição, em relação ao sul, a medidas meramente fiscais e mercantilistas. Sem margem de manobra para sanear as dívidas, devido a uma carga tributária já exorbitante sobre trabalho e energias, os governos limitam-se a adiar as soluções. A EU terá de perguntar-se porque é que foi interrompida a prosperidade para todos

A administração estatal precisava de ser expurgada de maus hábitos crónicos mas a economia precisa de espaço para criar alternativas fomentadoras de postos de trabalho.

Deixamos de ter empresários para termos capitalistas desalmados. Isto porque a rede dos políticos corruptos com assento e mordomias em empresas são os mesmos que preparam as leis que favorecem o compadrio.

António da Cunha Duarte Justo

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Privatização das Águas – Mais um Golpe contra o Povo

Portugal é a Cobaia dos Lóbis da União Europeia

Um Negócio do Futuro como o do Petróleo?

António Justo

Os donos dos interesses económicos internacionais encontram-se a caminho à procura de nichos e cúmplices que os sirvam nas administrações públicas.

Portugal precisa de dinheiro e os Dinossauros financeiros rondam como abutres sobre ele na procura de carne para lhe deixar os ossos. A privatização da água é um assunto muito delicado, não podendo ser promovida pela calada da noite. A água é vida e por isso exige condições de tratamento que não devem estar dependentes apenas do critério do lucro. O que se apresenta como um negócio para os municípios revela-se como um roubo aos cidadãos. É um facto que nas privatizações de grande alcance se encontram sempre abutres nacionais e estrangeiros com recursos de lavagem de responsabilidade para a parceria e de responsabilização para o cidadão através de acordos do Estado. Assistimos a um actuar contraditório do Estado português: por um lado privatização dos abastecimentos de águas que se encontram nas mãos das comunas e por outro carregar com contribuições os poços que cidadãos possuam nas sua propriedades. O Estado cede à pressão dos lóbis económicos da União Europeia que querem que se proceda com a água como se faz com a electricidade, petróleo, gás, etc.

Segundo o que a prestigiosa emissão televisiva alemã “Monitor Nr. 642 Informou, sob o título “Água operação secreta: Como a Comissão da EU transforma a água numa mercadoria”, a Comissão Europeia prepara uma directriz de concessão para a privatização da água na Europa. A Troica quer que o Estado português privatize o que dá lucro e o coloque à disposição de consórcios internacionais especuladores.

“Bruxelas solicitou que Portugal vendesse o abastecimento de águas e que fosse promovida a privatização das empresas nacionais de água “Águas de Portugal”. Quer transformar um bem comum, em objeto de especulação das multinacionais. Em Paços de Ferreira já se deu a privatização da água, contra a vontade dos cidadãos… que “agora têm de pagar quatro vezes mais pelo preço da água”.

Humberto de Brito presidente da freguesia de Paços de Ferreira resume: “As consequências da privatização, aqui em Paços de Ferreira, foram devastadoras. Tivemos aumento de preço de 400% em poucos anos. E, novamente, um aumento de preço ao ano de 6%. Isto é um desastre.

Na Alemanha há iniciativas contra o intento da Comissão Europeia. Em Berlim as iniciativas de cidadãos conseguiram obrigar a cidade a recuperar parte do que tinha privatizado no que respeita a águas.

A promessa de que a privatização tornará o preço da água mais barato é uma falácia atrevida. A prática mostra que as grandes empresas sob a pressão dos accionistas e através de cartéis aumentam os preços, como fazem com o gás e muitos outros produtos.

É notória e escandalosa a maneira como Portugal concretiza intenções da União Europeia envolvendo nelas interesses de nepotismo e protecção de interesses pessoais à custa dos impostos e contribuições dos cidadãos. Isto constitui prática constante, como se observa nas concessionárias das autoestradas, no negócio da ANA com o grupo francês Vinci e suas implicações com a Lusoponte, a Mota-Engil e o futuro aeroporto de Alcochete, etc.

“Agora cada vez se fecham mais fontes públicas e observa-se que fontanários públicos, sem qualquer explicação, são considerados impróprios para beber.

O acesso à água foi declarado direito humano pela Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Na realidade, porém, domina a lei da selva.

A política salva os seus interesses no mercado. A corrupção económica e a corrupção política são solidárias entre si e asseguram a limpeza das suas mãos tal como fez pilatos. A corrupção tem um lugar garantido nas caves do Estado. Por isso o povo tem de deixar de viver na paz da confiança e do “isso não é comigo” para acordar para uma realidade selvagem que o rodeia. Só podemos exigir políticos e elites responsáveis se assumirmos a nossa parte de responsabilidade. Confiança sem controlo revela estupidez.

Diz o ditado: “Queres conhecer o vilão mete-lhe a vara na mão”.

António da Cunha Duarte Justo

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Ditadura financeira internacional suborna os Estados

De altas Burguesias nacionais para altas Burguesias internacionais

Urge uma revolta dos Estados contra os Dinos do Capital

António Justo

O cinismo do poder financeiro

O turbocapitalismo serve-se também das estratégias soviéticas comunistas, no seu intento de destruir estados de economia social-democrata, sistemas legais, governos e oposição. Aposta na desestruturação de sistemas morais e sociais. A sua expressão e símbolo, na União Europeia, é a Troica (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) que controla os governos e os parlamentos no sentido de fazerem leis que sirvam os interesses da alta finança internacional. Troica significa, em russo, um carro conduzido por três cavalos. Na União soviética era constituída pelo grupo dos três chefes supremos: o chefe de estado, o chefe de governo e o líder do partido comunista. Estes estavam por cima da lei.

Se os velhos regimes nacionais (p.ex. Salazar) beneficiavam a  alta burguesia nacional, os novos regimes democráticos (p.ex. 25 de Abril) servem a alta burguesia internacional. A diferença está no desvio dos microssistemas para os macrossistemas.

 

Sem uma classe média nacional forte os Estados são violados

O capitalismo internacional encontra-se numa fase avançada de assalto aos Estados. Assiste-se a verdadeiros golpes de estado sem que sejam conhecidos os revolucionários. As nações são, paulatinamente, destruídas e desautorizadas sob o pretexto da criação de regiões económicas favorecedoras do mercado, as famílias são destruídas em nome da necessidade de disponibilidade e flexibilidade do trabalhador. A classe média, que era a garantia da grandeza das nações, é destruída para que uma pequena oligarquia internacional de capitalistas tenha mais facilidade no controlo do Estado, do povo e da produção. As altas burguesias das nações aliam-se internacionalmente e conectam-se em impérios financeiros atuantes através dos bancos. Internacionalizam o capital, escolhem os paraísos de impostos, ficam com os lucros e socializam as dívidas. Ignora-se que, sem uma classe média alargada e forte enraizada na nação (antigamente a alta e média burguesia), os governos mais facilmente se tornam marionetes da alta burguesia internacional que actua através dum capital irresponsável anónimo. O sistema económico de Salazar favorecedor da alta burguesia nacional é convertido pelo regime do 25 de Abril num sistema favorecedor da alta burguesia internacional. Hoje a democracia é ridicularizada a ponto de os deputados, esforçadas pela Toica, votarem leis contra os interesses do próprio povo. As empresas nacionais com boa rentabilidade são internacionalizadas ficando a encargo do Estado as que não dão proveito capitalista. Até os hospitais se querem apenas nas mãos do privado para este poder explorar o prometedor negócio do futuro com os medicamentos e com a doença. Na Zona Euro os dinossauros do capital internacional empenham-se, de momento, na regulação da economia em geral e na destruição dalguns Estados e na disciplinação de outros. Os países com os seus governos encontravam-se demasiado perto do povo e como tal demasiado dependentes deste. A nova ordem globalista, da oligarquia financeira internacional, quer usar-se das estruturas democráticas locais e regionais para de cima para baixo impor a sua política mercantil em que mercadoria e Homem são produtos a seu serviço. Os dinos conseguem deslegitimar estados inteiros pelo facto de os levarem a uma situação de não poderem controlar as grandes multinacionais e condicionarem os seus actos governativos a uma feitura de legislação ditada por eles mesmos na qualidade de credores.

Privatiza-se a riqueza dos estados e socializa-se a pobreza. O Estado já não tem poder de intervir na distribuição da riqueza, no mercado de trabalho, na segurança social, na saúde, etc. Não consegue intervir como regulador da economia e como advogado da justiça social dentro do país. Um Estado sem poder de interferir deslegitima-se. As medidas que toma destinam-se a saciar a ganância dos magnates do capital internacional. As dívidas estatais não permitem mais margem de manobra e o cidadão já se encontra sufocado pelos impostos até à garganta.

 

O Poder económico e militar continuará no Ocidente

A Alemanha encontra-se preparada para manter o avanço técnico e económico em relação aos países concorrentes. Com a sua política favorece, também ela, os interesses da alta finança ao fomentar, também entra a sua população, um grande contingente de carenciados que freiam as exigências da classe média perante uma oligarquia financeira cada vez mais poderosa.

Segundo a revista alemã “manager magazine” o actual BIP anual, por habitante, nos USA é 48.442 Dólares, na EU 34.848, na China 5.445 e na índia 1.489. Em 2025 os cidadãos dos USA atingirão um BIP de 60.000 Dólares, os da EU 42.000 Dólares, os da China 10.000 e os da Índia 3.000. Como se prevê, as forças económicas internacionais manter-se-ão equilibradas, ao contrário de medos conjunturais; o problema maior estará na distribuição do dinheiro entre as camadas sociais.

O futuro do mundo continuará a depender em grande parte da civilização ocidental. Ela tem o gene do domínio e do progresso pelo que continuará a oferecer as melhores garantias para investidores. Os donos do mundo fortalecem os seus monopólios à custa da falta de cooperação e solidariedade entre os estados. Enquanto o desenvolvimento económico se desenvolver à custa da dignidade humana e da opressão de grupos e povos não poderemos ter boa consciência.

 

As elites são responsáveis pelo retrocesso cultural em via

Tudo parece estar à disposição dum grupo cada vez mais pequeno e mais rico que se aproveita do povo e das nações. Os magnates das finanças e do poder são os responsáveis pelo retrocesso cultural e humano a que estamos a assistir na Europa.

Por toda a internet se levantam clamores de queixas e acusações contra tudo e contra todos. Isso é o que os dinossauros do dinheiro e do poder querem: uma crítica geral indiferenciada de tiros para o ar; pretendem desviar a raiva popular e disfarçar a sua responsabilidade nas sombras de funcionários e de empregados com lugar estável de trabalho como se isto fosse um privilégio. A terra é de todos e para todos tal como as estrelas do universo. O povo tem uma grande palavra a dizer em tudo isto. Para isso terá de repensar a atitude consumista a que foi levado e rever a motivação do seu agir que se orienta pelo interesse pessoal, pela inveja e pela ganância pessoal. Será preciso comprar menos e compartilhar mais. Na realidade não se trabalha para o que se precisa mas para as necessidades que o mercado dita.

Os dinos do poder mundial e seus acólitos baseiam-se na ideologia simplicista, segundo a qual, na sociedade basta haver dois grupos sociais: a camada baixa (grande maioria) e a camada alta (reduzida elite oligárquica); para a sociedade baixa chega o trabalho como ideário de vida; para a classe alta o papel de pensar e manter o proletário sob a sua batuta. A proletarização social e nacional encontra-se em aceleração total por uma estratégia destruidora do ideário cristão, da economia social e do redireccionamento das democracias e estados.

 

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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União Europeia exporta Pobreza para a Periferia e furta-lhe a Mão-de-Obra

Emigrantes desesperados à Procura do Futuro

A União Europeia exporta a Pobreza para a Periferia e furta-lhe a Mão-de-Obra

 

António Justo

À Imigração precária segue-se a Procura da Imigração qualificada

A Alemanha que nos anos 60 precisava de trabalhadores desqualificados para dar resposta ao milagre económico alemão necessita hoje de mão-de-obra qualificada para as novas apostas no futuro. Outrora, com a imigração carente provocou a concorrência a nível de classe operária nacional e estrangeira, conseguindo iniciar assim um nivelamento do operariado pela base. Foi a fase da concorrência entre as camadas baixas da sociedade. Disciplinou a classe obreira para o combate económico iniciado com a globalização. Actualmente procura-se disciplinar e dominar a camada social média. A luta passou a dar-se entre a camada média alemã com os seus técnicos e a classe média estrangeira, imigrantes especialistas internacionais. Assim a Alemanha consegue manter-se como o lugar privilegiado da tecnologia e do desenvolvimento, assegurando assim para a Europa a vanguarda do progresso tecnológico e económico.

A crise do Sul da EU beneficia os povos mais ricos que, por sua vez, desestabiliza os estados da periferia. Exercita neles possíveis cenários de conflitos laborais e sociais de gerações vindouras dos actuais países fortes. Portugal é o país que exporta mão-de-obra mais qualificada deixando assim um buraco de menor produção no país. Estes emigrantes são altamente motivados e contribuem, pelo seu perfil biológico e currículo para o incremento do nível social alemão (países fortes) e consequentemente para o empobrecimento do nível social português/ da periferia. Geralmente emigram os melhores, com maior espírito criativo e de mobilidade.

 

A Alemanha absorve 400.000 imigrantes por ano

A Alemanha precisa dum contingente de 400.000 imigrantes por ano para equilibrar a o défice demográfico. O problema da diminuição da população alemã com os consequentes problemas para o pagamento de reformas futuras, segurança social equilibrada e pagamento das dívidas, anteriormente prognosticado por cientistas, já não mete medo devido à crescente imigração para a RFA.

A crise do Sul beneficia os povos mais ricos para onde emigram. Segundo relata a revista “manager magazine” 1/2013 alemã conta-se, pelo menos, com um aumento de 2,2 milhões de habitantes na Alemanha até 2017, e, perante a “tristeza de depressão do sul da Europa”, a afluência podia até aumentar. Este ano a imigração para a Alemanha já atingiu os 400.000; isto corresponde a duas cidades médias por ano.

 

Erro crasso dos Governos do Sul

Em 2011 emigraram 44 mil portugueses. Portugal e os países da periferia ficam com as dívidas, com a sangria da sua juventude qualificada, com as pessoas idosas a manter e com um operariado não confrontado com a concorrência operária (entre firmas) mas sim com o receio entre emprego e desemprego. No século passado estados nacionais compensavam a sangria, provocada pela emigração, com uma maior natalidade e com as remessas dos emigrados. Nessa altura as potências europeias viam no incremento da imigração uma espécie de apoio ao desenvolvimento económico dos países pobres considerando as remessas como crédito para estes países poderem pagar as suas encomendas. Hoje esta seria uma conta errada tanto para os estados credores como para os devedores. A situação dos países devedores é tal que para poderem alimentar o povo e evitar revoltas sociais terão de exigir uma nova ordem económica na Zona Euro. Dado os países fortes serem os beneficiados desta zona teria de ser criado um instrumente equilibrador das diferentes regiões económicas. Os países economicamente fortes teriam de efectuar uma transferência solidária de dinheiros para as regiões mais fracas. Além disso na Alemanha unida há o “imposto de solidariedade” que cada empregado paga para que a zona da antiga Alemanha socialista (DDR) consiga atingir o mesmo nível de vida da antiga parte ocidental da Alemanha (BRD). Esta contribuição de solidariedade corresponde a 5% dos impostos que se pagam.

Pelo que se observa os nossos políticos deixam-se enganar hoje com as remessas dos emigrantes como ontem com os apoios da EU. A mão-de-obra especializada é a melhor ‘matéria-prima’ dum país moderno.

Portugal, conjuntamente com os países da periferia, repete hoje o mesmo erro que cometeu com a política de fomento da União Europeia limitando-se a dar resposta às imposições do grande capital internacional. Os governos tornaram-se nos servidores do capital internacional aplicando apenas as suas directrizes estruturais. Há porém uma grande diferença entre as pequenas economias e as economias dos estados potências. Estes têm as políticas aferidas às suas elites financeiras enquanto os estados pequenos não têm elites financeiras capazes de estratégia política para concorrer a nível internacional. A EU implementou a construção das infraestruturas da periferia com avultados apoios financeiros, créditos e investimentos a fundos perdidos. As grandes multinacionais europeias em parcerias com os seus estados através da política da EU, conseguiram assim aproveitar-se dos fundos europeus fazendo investimentos nos respectivos países. Passados poucos anos as firmas abandonaram os países levando com elas os lucros para os investirem na competição das firmas a nível global (China, etc.). Provocaram a ruína das firmas autóctones rudimentares e deixaram as economias nacionais destruídas e consumidores exigentes. A colaboração dos Estados fortes com as suas empresas no investimento do desenvolvimento tecnológico faz destes estados os lugares privilegiados na renovação tecnológica, a única estratégia capaz de manter a supremacia sobre os países emergentes. A Alemanha é a nação da EU mais preparada e vocacionada para dar resposta ao desafio do futuro. A criação do euro não passa duma tentativa estratégica e capitalista para disciplinar a política, os estados e o operariado.

 

 

Remessas de 2.254,580 milhões de Euros para Portugal em 2012

O maior aumento de remessas em relação a 2011 foi o da Alemanha que passou de 92,1 milhões para 142,7 milhões €; na França diminuiu de 749,8 milhões € para 712,9 milhões €.

 

Segundo as estatísticas do Banco de Portugal as remessas dos emigrantes portugueses para Portugal atingiram, nos primeiros dez meses de 2012, os 2.254,580 milhões de Euros. Isto são os números oficiais porque há muito outro dinheiro que se leva directamente para Portugal. Os países de maior envio foram: França 718,934 milhões €, Suíça 540,870 milhões € (230mil portugueses), Angola 219,072 milhões € (100.000 port.), Alemanha 142,732 milhões € (92 mil port.), EUA 113,922 milhões €, Reino Unido 107,708 milhões (84 mil portugueses). Espanha 105,595 milhões € (146 mil port.), Luxemburgo 62,464 milhões €; Bélgica 42,057 milhões €, Canadá 39,370 milhões €.

 

Numa era em que os estados nacionais se dissolvem, a europeização se alarga e a instabilidade económica aumenta e os emigrados não se sentirão a aumentar remessas para zonas instáveis. Já hoje, muita dos emigrantes da velha geração, que se encontra reformada, não se sente motivada a regressar e chega mesmo a lamentar o não ter investido atempadamente na nação de residência em vez de o ter feito na nação mãe. Isto nota-se principalmente nas mulheres. A nova geração de emigrantes fará uma aplicação mais racional que emocional das suas poupanças. Prevendo-se isto urge uma nova política nacional e europeia.

A actual política da EU revelar-se-á catastrófica para o sul. Enquanto o sul sofre a Alemanha (e países centrais) esfrega as mãos de contente. Os imigrantes provenientes da periferia europeia são bem-vindos porque são trabalhadores qualificados e não causam os problemas de guetos que os imigrantes muçulmanos criam. Para agora chegam os imigrantes da periferia e têm a vantagem de serem mais qualificados; por isso se reserva para mais tarde o fomento da angariação os emigrantes da África do Norte, Ásia, etc. Assim não se precisa de prover a uma política de família responsável. Em 2012 a Alemanha deu trabalho a 25.000 especialistas imigrados provindos de Espanha, Portugal e Grécia. As firmas recrutam o pessoal de forma objectivada procurando engenheiros nos ramos de engenharia de construção e engenharia elétrica. Recrutam os melhores absolventes das faculdades estrangeiras, tal como sempre fizeram os americanos. Principalmente o sudoeste alemão aponta para o futuro apostando na imigração qualificada. Há agências especializadas no recrutamento de engenheiros e profissões qualificadas.

A união do mercado europeu favorece os seus epicentros da economia. Assim podem com os imigrados manter as indústrias no país não precisando de fundar sucursais nas periferias. Muitos médicos e engenheiros emigram também devido à atracção da estabilidade social alemã. Um aspecto interessante de algumas firmas pequenas alemãs é o facto de se preocuparem também com o bem-estar familiar do empregado, apoiando-o, por vezes, no sentido de encontrar lugar de trabalho também para a namorada. Para a nova geração de emigrantes é muito importante a estabilidade.

 

EU actualmente ao serviço do grande capital

A União Europeia (EU), desde o início, desenvolveu uma estratégia de fortalecimento das suas elites financeiras através do fomento da EU e da criação do Euro para elas poderem fazer frente às elites financeiras americanas e mundiais. As nações fortes da Europa elaboram as suas políticas com base em prognoses e programas económicos científicas a longo prazo. Assim asseguram o bem-estar dos seus cidadãos dando resposta adequada aos problemas do seu futuro económico. As nações mais débeis, porque não têm grandes elites económicas, limitam-se a reagir às macropolíticas sem pensar nos verdadeiros objectivos a elas subjacentes.

Nos anos oitenta e noventa a Alemanha seguiu uma política de fortalecer as grandes empresas nacionais para estarem preparadas para o combate económico da globalização; essa política revelou-se nacionalmente inteligente por dar resposta ao grande problema da concorrência com os países emergentes e a fortaleza da sua indústria atrair imigrantes técnicos que compensam a falta de mão-de-obra devida à baixa natalidade (o grande problema do futuro).

 

António da Cunha Duarte Justo

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