História Mundial em Aceleração, Europa no Travão

A EU poderá contrariar Trump se iniciar conversações com a China e com a Rússia

A história avança a uma velocidade vertiginosa, mas a Europa insiste em pisar no travão, como se pudesse deter a marcha dos acontecimentos com um gesto simbólico de prudência. Se em 1989 assistimos à queda do Muro de Berlim, agora está a ruir um muro menos visível, mas igualmente determinante: o da hegemonia cultural imposta pela esquerda marxista, agora reciclada sob a etiqueta woke. Nos Estados Unidos, Trump e Vence encabeçam uma resistência conservadora, exausta do monopólio ideológico progressista.

A União Europeia, que se preparou para a guerra como quem aposta tudo numa cartada, vê agora a sua ilusão de vitória esvair-se. Foram várias as vozes, sobretudo americanas, que alertaram: não se ganha uma guerra contra uma potência nuclear. Mas a Europa, embriagada de certezas morais e de um messianismo decadente, marginalizou-se ao recusar qualquer iniciativa de negociação. Para Trump, ignorar a UE é um acto de realismo político. Ele sabe bem que, sob Biden, a cumplicidade entre os dois lados do Atlântico foi conveniente e superficial e de dupla moral. Mas agora, ao evidenciar a irrelevância europeia, ofende profundamente as elites de Bruxelas.

No centro deste jogo de sombras está a Ucrânia, onde a história de corrupção não é exclusividade de Zelensky. O envolvimento da administração Obama-Biden nos labirintos ucranianos remonta de há muitos anos, e Trump, pragmático, quer também a sua parte e assim fortalecer também os conservadores. Mas, ao contrário do que se possa pensar, a grande questão por trás desta disputa não é apenas política, mas cultural e económica. Desde os tempos de Maio de 68, o marxismo conseguiu subverter a tradição europeia, impondo a sua visão do mundo até mesmo aos partidos conservadores. O que hoje se joga é o choque entre esse pensamento e um retorno ao conservadorismo, encarnado em Trump, que procura substituir o sabonete vermelho pelo seu próprio sabão azul e branco.

A UE não se conforma com a postura de Trump porque, ao contrário do discurso oficial, não é apenas a defesa da democracia que está em jogo, pelo contrário. As empresas europeias têm interesses no espólio ucraniano, e um regresso à diplomacia realista de Trump complica os seus cálculos. A hipocrisia da retórica diplomática choca de frente com o discurso populista e direto, considerado rude pelas elites que têm mantido o poder cultural e ideológico nas suas mãos. Mas a verdade é que a grande falha da Europa foi não reconhecer a Rússia como parte integrante do património ocidental. E, acima de tudo, esquecer um princípio básico: nunca se entra em guerra contra uma potência nuclear sem perder, e não apenas no campo de batalha, mas no destino de toda a humanidade.

Em vez de continuar obcecada com Trump, a Europa deveria canalizar os seus esforços para o que realmente poderia desafiá-lo: estabelecer laços comerciais eficazes com a Rússia e a China. Isso, sim, poderia contrariar a sua estratégia. Mas, enquanto persistir na ilusão de que pode dobrar a história ao sabor das suas crenças oportunistas e ideológicas, continuará a iludir os povos com discursos bem embalados, enquanto os verdadeiros jogos de poder se desenrolam nos bastidores.

Trump tem o mérito, embora de forma rude popular, vir arejar as cortinas dos bastidores das elites e isso incomoda muita gente de esquerda instalada na União Europeia sob o manto da revolução de maio de 68. Daí a luta desesperada entre os interesses elitistas de cima conta os interesses populistas de baixo. O problema maior é o de o povo ser envolvido de forma descarada a ser  por uma luta que não é sua.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

O Debate Sobre as Redes Sociais e a Democracia

O Controlo sobre o Fluxo de Informação é o maior Garante do Poder

Agora que os ventos da América, através do reposicionamento estratégico liderado por Elon Musk à frente do X (antigo Twitter), questionam o papel de ONGs ao serviço de ideologias financiadas pelo Estado e por organizações financeiras com grande influência na sociedade, assiste-se a uma crescente revolta, tanto na Europa como na América, protagonizada sobretudo por organizações de esquerda. Esta reação surge em resposta a iniciativas que visam tornar a administração pública mais transparente e a críticas direcionadas a plataformas tecnológicas como Meta, X e TikTok.

Erguem-se vozes de governos e organismos dos media tradicionais contra estas plataformas, que, embora não estejam isentas de problemas, têm desempenhado um papel perturbador no panorama da comunicação social. Elites políticas veem nas redes sociais uma ameaça ao monopólio que até então detinham sobre a informação, um monopólio que lhes permitia moldar a opinião pública de acordo com interesses estabelecidos, mantendo um povo ordeiro e submisso ao sistema, ainda que com algum espaço limitado para iniciativas individuais.

O facto é que as redes sociais vieram, em certa medida, democratizar o acesso à informação, que antes se encontrava quase exclusivamente nas mãos de grupos económicos e ideológicos alinhados com as elites. Esta mudança trouxe consigo uma maior pluralidade de vozes e a possibilidade de questionar narrativas dominantes, mas também levantou questões complexas sobre o equilíbrio entre liberdade de expressão e controle, entre a descentralização da informação e a responsabilidade das plataformas.

Enquanto alguns celebram o poder das redes sociais como ferramentas de autonomização cívica e de amplificação de vozes marginalizadas, outros alertam para os riscos de desinformação, manipulação e polarização. O debate, portanto, não se resume a uma simples dicotomia entre liberdade e controle, mas envolve uma reflexão profunda sobre como garantir que a democratização da informação não seja minada por interesses ocultos ou por falhas estruturais das próprias plataformas.

Também se torna primordial contextualizar o problema e levantar questões fundamentais: como podemos preservar a liberdade que as redes sociais trouxeram, ao mesmo tempo em que mitigamos os seus efeitos negativos? E, acima de tudo, como garantir que a democracia seja fortalecida, e não fragilizada, por esta nova era da comunicação digital?

No entanto, é de observar que as autoridades da União Europeia, sediadas em Bruxelas, parecem estar excessivamente empenhadas em campanhas de controle e censura das redes sociais. Em vez de abordar as questões de forma equilibrada, muitas dessas iniciativas parecem visar, no cerne da questão, a defesa de velhos monopólios e regalias das elites estabelecidas. Essa postura reflete uma cultura mais focada no ter — no controle e na manutenção de poder — do que no ser, ou seja, na promoção de uma sociedade verdadeiramente livre, plural, justa e democrática.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Reunião de Segurança Europeia em Paris: Uma Reunião dos “Maiores”?

Portugal ausente  à Reunião

Portugal não participa na cimeira de urgência sobre a Ucrânia, realizada em Paris. Este encontro, longe de ser uma reunião da União Europeia (UE), parece mais um esforço de relações públicas dos países que desempenharam um papel decisivo no desenvolvimento do conflito ucraniano e que agora buscam lidar com as consequências de suas ações.

A reunião (17.02), que inclui principalmente Alemanha, França, Reino Unido e Polónia, não representa os interesses de todos os países europeus. Pelo contrário, reflete uma divisão dentro da UE, onde as nações centrais impõem suas agendas, muitas vezes em detrimento dos interesses das nações periféricas que conseguem comprar com algumas esmolas. A chamada “segurança europeia” parece ser, na realidade, uma discussão sobre o poder e a influência desses países, e não sobre o bem-estar coletivo da Europa.

É crucial que a Europa deixe de lado as disputas internas e se concentre em fortalecer sua economia, defesa militar e cultura. A atual elite política, demasiadamente focada em seus próprios interesses, tem negligenciado esses aspectos fundamentais. Em vez de gastar energia em reuniões que pouco contribuem para a paz e a estabilidade, (e mais para enrolar a opinião pública) os países europeus deveriam trabalhar juntos para construir uma Europa mais resiliente e unida, capaz de enfrentar os desafios do futuro sem depender de agendas particulares de poucos. Porém perante a fortaleza inabalável de algumas potências europeias é importante que os mais marginais ou marginalizados se unam ou pelo menos manifestem o seu protesto como tem feito a Itália e alguns outros menos afectos à ideologia anglo-saxónica.

A verdadeira segurança europeia só será alcançada quando todos os países, independentemente de seu tamanho ou influência, tiverem voz ativa e seus interesses forem equitativamente considerados (e não como querem os grandes embora só o digam pela calada: tirar o direito a veto às nações da periferia). Até lá, reuniões como a de Paris continuarão a ser vistas como meras manobras políticas, distantes das reais necessidades do povo europeu e ucraniano.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo.

DOS BOYS AMERICANOS E DA VACA EUROPEIA

Entre comédia e tragédia, os cowboys da América estão a colocar a mitológica Vaca Europa sob grande estresse. Habituada a ruminar tranquilamente as doutrinas progressistas de Marx e Mao servidas pelos seus pastores de Bruxelas, a pobre réstia de sonho comunitário agora encontra-se atolada no lamaçal das suas próprias contradições.

A tempestade que varre os ares políticos americanos não só ameaça as colheitas democratas nos EUA, mas também os campos utópicos dos seus fervorosos aliados europeus. A esquerda-Woke, sempre à frente na caça aos hereges, encontra-se agora encurralada pela realidade: o novo presidente americano não se interessa pela Europa. Quem diria? Depois de quatro anos de crucificação mediática de Trump, eis que chega um sucessor ainda menos atencioso com os caprichos do Velho Continente.

E o que faz a Europa? Agarra-se desesperadamente a Zelenskyj, o cómico transformado em tragédia, agora convertido em presidente sem mandato, sustentado pela hipocrisia de uma União Europeia que apostou tudo na sua guerra de princípios contra a Rússia. O guião político alcança novos patamares: o antigo actor, feito presidente, até há pouco louvado como herói da resistência, passa a símbolo do fracasso da política externa europeia. A NATO já teve o seu Vietnam no Afeganistão, agora a UE prepara-se para o seu próprio Waterloo ucraniano.

Os media europeus, sempre com um olho na propaganda e outro na sobrevivência, continuam a dançar a valsa da ilusão. Os mesmos que trataram os americanos comuns como broncos incultos agora precisam que esses mesmos americanos os salvem da enrascada geopolítica em que se meteram. Entre discursos inflamados e promessas vazias, assiste-se a uma corrida contra o tempo para conseguir um lugar à mesa das decisões, mesmo que o banquete seja apenas uma serventia da realidade.

A Europa e Zelenskyj, encostados um ao outro como dois jogadores que perderam todas as cartas, mantêm-se de pé apenas pela força da retórica. Se o comediante político acabar como mártir, será por sacrificar-se no altar de uma elite europeia que sempre preferiu sonhar com vitórias impossíveis a encarar a dura realidade.

No fim, a vaca europeia continuará a ser ordenhada pelos boys americanos, e os cidadãos europeus, esses, ficarão com o que sempre lhes coube: a conta para pagar e a ilusão de que ainda têm voz na história que outros escrevem por eles.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

TROPAS DA UE PARA A UCRÂNIA APÓS NEGOCIAÇÕES COM PUTIN?

O Secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou recentemente em Bruxelas que “nunca foi prometido à Ucrânia que um dia seria membro da NATO”. Esta declaração reforça a ideia de que a Ucrânia não aderirá à aliança militar nos próximos 20 a 30 anos. Paralelamente, seria de esperar que a Rússia se tornasse um parceiro da Europa no contexto de uma nova ordem mundial, inicialmente tripolar.

Hegseth destacou ainda o papel estratégico da Polónia, que já investe 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no setor militar, elogiando o país como um aliado fundamental. No entanto, deixou claro que “os Estados Unidos não vão continuar a tolerar uma relação desequilibrada” com os europeus. Segundo ele, caberá à Europa assumir a maior parte dos custos da reconstrução militar e civil da Ucrânia, um esforço que poderá exigir um montante gigantesco, estimado entre 500 mil milhões e o dobro desse valor.

O Secretário da Defesa norte-americano afirmou que, em princípio, os EUA não enviarão tropas para a Ucrânia, e a NATO também não o fará. A estratégia dos Estados Unidos está focada em regiões ricas em recursos naturais ou em pontos estratégicos para o comércio marítimo, refletindo uma lógica geopolítica que prioriza interesses próprios em detrimento de nações menores. Para garantir a segurança europeia, os EUA limitam-se a atuar como um “guarda-chuva nuclear”, o que, em termos práticos, exigiria o destacamento rotativo de 40.000 soldados, apoiados por um contingente total de 120.000 militares (como refere Welt am Sontag). Isso implicaria que a Europa assumisse a responsabilidade pela sua própria defesa, com a Polónia a desempenhar um papel secundário.

No que diz respeito à Ucrânia, Hegseth defende que “temos de começar por reconhecer que um regresso às fronteiras anteriores a 2014 é um objetivo irrealista”. Esta posição sugere o reconhecimento da anexação da Crimeia e parte do Donbass pela Rússia. O Secretário da Defesa enfatiza que esta não é uma concessão a Putin, mas sim o reconhecimento da política de hard power e das realidades geopolíticas no terreno.

Apesar de surpreendidos com esta abordagem, os europeus parecem resignados, conscientes de que colheram os frutos das suas próprias decisões. A estratégia astuta do governo norte-americano, embora não retratada como hostil, coloca a Europa numa posição de dependência, quase como num “cativeiro autoinfligido”.

Para o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “garantias de segurança sem a América não são garantias de segurança”. Esta afirmação reflete a desconfiança de Kiev em relação à capacidade europeia de assegurar a sua defesa de forma independente.

Uma coisa parece certa: com Trump o discurso político e público na Europa tenderá a tornar-se mais objetivo, menos ideológico e mais focado na economia e no fortalecimento da indústria militar. Este realinhamento estratégico poderá definir o futuro da segurança continental e das relações transatlânticas.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo