Segundo a Agência Federal Alemã de Emprego, em Abril deste ano havia 1,67 milhões de crianças dependentes da segurança básica do estado. A quota de crianças necessitadas subiu de 15% em 2012 para 15,7% em 2015. Em relação a 2014 houve um aumento de 23.000. Entre cada seis crianças, do grupo etário dos 0 aos 15 anos, uma precisa de auxílios estatais para poder atingir o mínimo de subsistência.
Crianças com pais pobres sofrem as consequências de uma sociedade que não coloca a criança no centro das suas preocupações.
A pobreza é desigual de uns estados federados para os outros. Enquanto a quota de pobreza atinge em Berlim os 33,5%, em Bremen atinge os 32,9%, em Hamburgo os 21,7% e na Baviera atinge os 7,3% e no Baden Vurtemberga os 8,5%.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
Categoria: Educação
NA FÁBRICA DAS DÍVIDAS E DA CULTURA CORPORATIVA
O Estado Purgatório Frisador de uma Igualdade que promete o Paraíso
Por António Justo
Passamos de uma economia, em que trabalho e produto se regulavam através da troca com dinheiro (capital), para a nova economia, a economia financeira do endividamento. O sociólogo e filósofo Maurizio Lazzarato, autor de “La fabrique de l’homme endetté”, analisa com perícia a crise do endividamento actual. A essência do capitalismo liberal é viver da dívida individual e estatal e para optimizar o seu lucro serve-se dos cortes na Segurança Social terceirizando os custos sociais apenas no pequeno empresário, no trabalhador e no contribuinte.
Para Lazzarato o “homo debitor”passa a ser a nova criação do homo economicus. “Passa a não haver direito a uma habitação, mas a um crédito para habitação (hipoteca), já não há direito à educação, mas – especialmente no modelo anglo-saxão – pede-se dinheiro emprestado para financiar os estudos.” Assim o estudante, no final do curso, com o futuro hipotecado passa a não ter problemas de divagações metafísicas ou ideias que o poderiam torna inseguro num caminho já predeterminado.
De facto, esta é a ideia da nova economia da Califórnia propagada por representantes do “Silicon Valley”. País moderno ou pessoa cliente procura viver o presente, num presente alegre mas fiado, à custa do futuro.
A ideologia do “Vale do Silício” serve-se do conceito de progresso na sequência da “racionalidade secular cristã” e da fé no além. Pretende criar uma maneira de ser e de estar baseada no capital com a consequente relação tipo credor-devedor… Substitui a culpa pela dívida, o paraíso pelo proveito e no caso de surgirem complicações cai-se no inferno da falência. O Estado passa a ser o Purgatório, aquele lugar de purgação que pretende acabar com as diferenças, colocando todos (trabalhadores, desempregados, produtores e consumidores) na plataforma de devedores ou dependentes. Os Governos perdem o brilho da soberania e a democracia é ensombrada pelas asas negras de diferentes demónios interessados apenas na radiografia da alma do credor através do ecrã do cartão de crédito.
O Adão moderno, anda sempre a caminho, com a dívida à frente; esta é companheira e justifica algum benefício já gozado no crédito do passado e nas vantagens de um viver presente que um novo crédito proporciona.
Todos se inculpam no capital onde buscam o crédito. Os riscos do novo “crente” são de responsabilidade limitada ao indivíduo cliente. O antigo pecado original que deu origem à economia social passa assim a uma economia das dívidas. A perversidade da nova crença económica está no facto de se transformar dinheiro em dívidas e dívidas em posse. O credor anónimo tem um poder mágico sobre o devedor. A dívida tem um efeito pedagógico e domesticador. Passamos a uma situação de leasing onde tudo é arrendado.
A economia do endividamento já não honra o trabalho nem considera o trabalhador; deixa-se a relação produtor-produto, para se passar à relação credor-devedor. Ao mesmo tempo tenho a impressão de nos encontrarmos numa época muito bela e rica mas que terá de estar atenta ao risco de reduzir a pessoa a indivíduo cliente e a sociedade a um grande mercado de meros indivíduos de personalidade tábula rasa.
O Estado Grego é um exemplo da nova matriz em via no mundo ocidental. Todos os Estados Europeus eternizam a dívida, de facto impagável, mas criam uma forma de viver aparentemente mais leve e livre, sem perguntar – à custa do quê e de quem? A racionalidade de cima (conhecimento tecnocientífico) ordena a irracionalidade de baixo (o proletariado). Alia-se o capitalismo cultural ao marxismo cultural. Viver passa a significar mais ter que ser.
O livro “A fábrica do homem endividado” de Maurizio Lazzarato questiona inteligentemente o sistema económico-financeiro actual mas não deixa propostas para nos desfazermos das dívidas. Para Lazzarato a melhor maneira de o devedor se livrar do sistema seria criar uma nova inocência segundo a qual os Estados não pagariam a dívida nem tomariam em conta a moral.
O capitalismo liberal e o marxismo cultural servem-se do Estado com Purgatório frisador da igualdade que promete o paraíso das boas intenções mas esconde o inferno delas cheio.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In Pegadas do Tempo www.antónio-justo.eu
O VALE DO SILÍCIO E A ESCOLA DE SAGRES – MITOS DA SUSTENTABILIDADE!
A nova Economia da Rede Digital e o correspondente Pensar comercial
Por António Justo
Cada civilização e cada época precisam dos seus mitos que lhe possibilitam a sustentabilidade de futuro. Em Torno do infante D. Henrique congregaram-se os mestres das artes e das ciências ligadas à navegação; a concentração dos sábios da época num determinado lugar possibilitou o mito de Sagres que se tornou na expressão motivadora do começo de uma nova era mundial.
Também agora, no seguimento dos líderes da Universidade de Stanford ligados ao Venture Capital (1), se acentua o mito do Vale do Silício (Silicon Valley Califórnia) que parece inaugurar, como Sagres, uma nova era. Vale do Silício é a capital do mundo da indústria de TI (tecnologia da informação) e da alta tecnologia. Aí se juntam ideias arriscadas com o capital de risco (2).
O génio ocidental sempre soube juntar o saber (a verdade) à dúvida que se revela como a incrementadora de desenvolvimento e futuro (a característica da civilização ocidental). Esta mensagem original encontra-se já na alegoria bíblica de “Adão e Eva” onde se junta o saber divino à dúvida humana na pessoa de Eva que inicia assim o desenvolvimento humano e a cultura civilizacional.
Numa dinâmica de tentativa e erro o ser humano tem encontrado maneira de dar forma ao seu desenvolvimento. Neste sentido tal como na relação do dia-noite se expressam, tal como na Bíblia, duas dinâmicas de pensamento complementares: o pensar optimista e o pensar pessimista.
Em relação ao novo mito da economia virtual, o publicista alemão Christoph Keese, que creio nas pegadas do Adão e Eva dos nossos dias, faz uma análise do Silicon Valley no sentido de se fazer uma ideia do que se pode esperar do vale mais poderoso do mundo. Keese, no seu livro “Silicon Valley”, movimenta-se entre medo e admiração na análise que faz da Economia de Rede Digital cada vez mais orientada para o mercado e cada vez mais fomentadora de uma nova maneira de pensar: o pensar comercial (3).
A Ideologia eclética do Risco
O empreendimento digital possibilita novas conquistas da realidade e do globo, transformando a práxis das antigas empresas em movimentos empresariais. Der Spiegel n°10,2015, refere que a capitalização bolsista das 30 empresas mais valiosas do mercado Silicon-Valley já é mais do dobro da capitalização das 30 empresas de Dax. Grande parte das empresas mundiais actuais nasceu no Vale do Silício (4). Por aqui se nota que o futuro irá, em parte ou em grande parte, no sentido da filosofia das empresas “Vale do Silício” que têm como credo a inovação cientes de que “quem não arrisca não petisca”.
A mesma revista faz referência aos quatro líderes do pensamento da elite tecnológica Vale do Silício: Ray Kurzweil chefe de Google, intitulado de “o profeta”, prevê que os computadores em 2029 conseguirão fazer tudo o que o Homem faz hoje mas ainda melhor.
Para Sebastian Thurn, o “engenheiro alemão”, o optimista é quem muda o mundo, não o pessimista. De facto o optimismo baseia-se na esperança e na realização de um mundo melhor. O optimismo assemelha-se à água que não destrói mas apenas se desvia deixando com o tempo as marcas da sua presença. Trata-se de um optimismo humilde por não ter a certeza de saber para onde vai nem saber onde termina a viagem.
Joe Gebbia (o conquistador), criador de Airbnb, pensou revolucionar o turismo e fazer concorrência a actores financeiros internacionais que manobram a indústria hoteleira. Gebbia possibilita, como monopolista, uma certa democratização da economia. Estão presentes em 190 países ou seja em 34.000 cidades. Por um lado os novos monopolistas cibernéticos fomentam mais transparência concorrendo com os chefes locais a nível de economia e de política, por outro lado despersonalizam o indivíduo tornando-o objecto transparente.
Peter Thiel, “o ideólogo”, defende o princípio liberalista: Prosperidade e felicidade querem-se para todos através de tanta autonomia quanta possível e de tão pouco estado quanto necessário. Para o alemão, Peter Thiel, o mundo dos Bits conquistou o mundo por ser isento de regras retardantes, ao contrário do mundo dos átomos, como medicina e transportes, que devido à regulamentação estatal não se desenvolve tanto. Thiel defende os monopólios e quer a construção de cidades navegantes em águas internacionais (Já serão de prever as contendas que surgirão na luta pela ocupação das águas marítimas internacionais, isto certamente na lógica da Conferência de Berlim de 1815!). Thiel justifica os monopólios: “Monopólios criativos possibilitam novos produtos, dos quais todos têm proveito”.
Para os cientistas do Google a política, com as suas regulamentações, desacelera o progresso porque “tudo acontece globalmente mas as leis são locais. Isto já não se enquadra no nosso tempo”.
O novo tipo de empresas tenta reunir em si a economia, o pensar esotérico, o socialismo cultural e o capitalismo liberal. Os impérios digitais parecem interessados apenas na prosperidade e na satisfação individual; a manutenção da multiplicidade dos biótopos culturais não lhes interessa. Um dos preços a pagar começa pela perda da esfera privada e pela renúncia à protecção de dados, como todos já sentimos no Google, Facebook, Yahoo, etc. O preço da própria satisfação é desnudarmo-nos.
Da Era dos Coches e dos Cavalos para a Era dos Automóveis e da Internet
O movimento de autonomia individual vê, na Elite tecnológica, a possibilidade da sua maior extensão; por outro lado o movimento tecnológico globalista e a economia virtual em via esvaziam as autonomias regionais, porque tentam ordenar a sociedade numa perspectiva de cima para baixo ao contrário de uma natureza que se desenvolvia de baixo para cima. A realidade global determina contínuos desafios. A política e a pastoral dos temos da era da velocidade do coche puxado a cavalo terão de ser aferidas à era dos aviões e dos computadores. Num mundo da eficiência para quem quer ser eficiente, a estratégia de Gebbia é “pensar como a pessoa que vai utilizar a tua ideia”.
A “ideologia califórnica” pretende a felicidade e a autodeterminação do indivíduo. Vale do Silício prossegue essa ideologia no sentido de “tornar o mundo um melhor lugar”.
As boas intenções do Vale do Silício esbarram com a dúvida, ao serem confrontadas com a verdade dos Goldman Sachs, Stanley, Lehman, etc, instituições sem alma, onde o proveito e a ganância são lei.
Para se não ser prisioneiro do tempo é preciso compreender o tempo. De facto, o que provocou os Descobrimentos foi a dedicação ao saber científico e tecnológico da altura, o saber e a vontade concentrados em Sagres e tudo iluminado pela fé numa missão ambiciosa; esta fé tinha porém uma componente religiosa de humanismo global bem determinado e arreigado no coração de um povo inteiro que afirmava ao mesmo tempo o valor da pessoa e o valor da comunidade.
No tempo dos coches, quando apareceu o automóvel, os pessimistas condenavam os carros por assustarem os cavalos, hoje condenam a internet por prender as pessoas. Não há que parar o tempo nem o desenvolvimento; a função do Homem será acompanhá-los e dar-lhes sentido à imagem do que aconteceu em torno de Sagres.
Se observamos o desenvolvimento da sociedade e da História verificamos uma constante mudança a nível exterior; uma mudança que vem servindo um satus quo sustentável pela ilusão da mudança que, de facto, não muda a essência das relações sociais e humanas porque a mudança adquirida é provocada pelos detentores do poder e seus herdeiros que reduzem a mudança à mera adaptação às circunstâncias e às necessidades do tempo. A política fracassada afirma-se no mesmo erro aceite que lhe dá continuidade. O Homem muda para não se mudar.
A reflexão continua no próximo artigo sob o título: “OS RISCOS DO CRENTE AD HOC COM UMA IDENTIDADE INTERNET”
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu
1. Venture Capital = capital de risco; em 2014, os investidores aplicaram no Vale do Silício, em cerca de 1.700 negócios, um total de 26 bilhões de dólares, o que corresponde a 30% do capital de risco mundial, http://blog.wiwo.de/look-at-it/2015/01/14/venture-capital-2014-silicon-valley-26-milliarden-dollar-deutschland-3-milliarden-dollar/
2. No “Silicon Valley” trabalham as pessoas mais qualificadas do mundo, entre elas 20.000 alemães (cf. http://www.capital.de/dasmagazin/silicon-valley-nicht-nur-was-fuer-milliardaere-4457.html).
3. Com o tempo nas escolas as aulas de programação farão parte da aprendizagem regular tal como ler, escrever e fazer contas.
4. No Vale do Silicon nasceram, entre outras, as empresas mundiais: Apple Inc., Altera, Google, Facebook, NVIDIA Corporation, Electronic Arts, Symantec, Advanced Micro Devices (AMD), eBay, Maxtor, Yahoo!, Hewlett-Packard (HP), Intel, Foursys, Microsoft etc.
CULTURA DA MUDANÇA ENTRE SONHO E LIBERDADE
A alta tecnologia promete sonho mas consome liberdade – Tudo e todos têm de mudar
Por António Justo
Encontramo-nos num processo de desenvolvimento em que o pensar linear será substituído pelo global e em que consequentemente as visões da realidade a-perspectiva substituirão paulatinamente as actuais visões e equacionamentos lineares da realidade. Passaremos do tenho razão para o temos razão, atendendo à consciencialização da complementaridade dos diferentes biótopos da natureza, da complementaridade dos diferentes biótopos culturais e da complementaridade dos diferentes sistemas de pensamento e à fragilidade da formação da opinião regulada por monopólios globais. A estratégia que se encontra por trás desta mundivisão aproxima também a linguagem e metáforas de mitos e religiões às expressões e concepções científicas.
Iphone, automóveis com propulsão própria, drones usados no comércio como serviço de entrega, robôs inteligentes, etc. parecem substituir cada vez mais o Homem reduzindo-o ao papel de espectador. A alta tecnologia promete o sonho à custa da liberdade. O exercício do pensamento passa para os computadores e a força revolucionária parece ter passado para a técnica e o trabalho manual é cada vez mais substituído pela produção mecânica. Tudo isto está a provocar uma mudança radical das nossas impostações éticas, da nossa maneira de pensar e agir. É o que se observa e sente hoje que nos encontramos em pleno epicentro da revolução Vale do Cilício: uma revolução que quer tornar possível a felicidade individual realizada através dos padrões de grandes monopólios anónimos à margem de democracias, das culturas e das religiões. Aristóteles diria hoje em termos portugueses: ”nem tanto ao mar nem tanto à terra”.
Aos industriais e aos barões do petróleo sucederam-se os Bancos e os Gestores de fundos Hedge. Actualmente encontra-se em via de realização a era da revolução digital – com os génios dos computadores e das altas tecnologias.
Antes os líderes contentavam-se com o poder da riqueza depois passou-se ao poder do dinheiro. Hoje os líderes do mundo (protótipo Silicon Valley na Califórnia) querem mais; aspiram a determinar não só o que consumimos mas também a maneira como consumismos e como vivemos juntando na mesma mão (ou organização) o ideário, a economia, a ideologia e a produção numa Agenda bem definida. A nova ideologia-praxia é tentadora porque sabe empregar também a linguagem e as metáforas das religiões e das literaturas.
Religiões e outras instituições abertas aos sinais dos tempos terão de estar atentas às suas estratégias! Delas poderão aprender muito em termos de resposta ao globalismo.
No princípio era a fé em Deus, depois veio a fé no dinheiro e agora experimenta-se a fé na mensagem da Alta Tecnologia como doutrina de salvação, que transfere a esperança para a perspectiva das possibilidades infinitas da tecnologia! (Já há pessoas que se deixam congelar para serem descongeladas na altura em que a técnica tenha descoberto soluções para a morte – uma ilusão que desconhece a realidade do ser criado ou da matéria mas que como utopia dá resposta, à sua maneira, a necessidades do ser humano). Para os apóstolos da nova mensagem, os estados, as religiões, as filosofias tornam-se em empecilhos de progresso. Fixados na sua filosofia que de forma eclética se serve da ciência e da religião como expressão da necessidade humana, elaboram um sistema de ortodoxo-praxia orientada pelo desejo criativo que se realiza na inovação. Reduz-se o ser a uma determinada forma de estar na vida. A ideologia substitui cada vez mais as soluções práticas passando muitos projectos a ser efectuados segundo os óculos da ideologia e do momento.
No princípio era a fé em Deus que se encontrava no âmago do Homem. Hoje é a fé na tecnologia que já não se encontra dentro do homem, dependendo só dele e ao não fazer parte do seu centro corre perigo de o alienar totalmente.
A filosofia da alta tecnologia (economia digital) incorpora nela também Marx e Engels definindo o alienante como aquilo que nos tira do tempo, do concreto; assim se reduz a pessoa à materialidade que se esgota na actividade produtiva que se torna, ao mesmo tempo, fonte da consciência; por outro lado considera a religião, Deus e o dinheiro como factores alienantes que nos desviam da realidade material. A nova fé encontra no Yoga e em exercícios semelhantes uma maneira de estar prática e de subjugar instâncias metafísicas.
A nova alienação prende a consciência humana à sua mera actividade. O produto é a luz da vela que resulta da energia do trabalho e o indivíduo esvai-se nela. A ideologia moderna, que a todos parece iluminar, aliena-nos com produtos conseguidos à custa da desumanização das pessoas reduzidas a mercadoria numa “metafísica” bruta construída, como no caso da vela, a partir da relação produto-consumidor. Aqui dá-se a identificação do indivíduo com o seu destino; tudo é reduzido a indivíduo saído da materialidade para se consumir na materialidade. A promessa do desenvolvimento infinito alimenta a nova alienação do indivíduo que ao ser reduzido a produto passa a ser consumido na ilusão do que consome. A relação entre produtor-produto e consumidor passa a ser a utilização, o imediato. A teoria da alienação em Marx, na sua consequência lógica reduz o Homem a mera biologia animal irracional. De facto, o pensamento, na sua qualidade de abstracto, seria na sua essência uma alienação. Para ser consequente o pensamento marxista e da aliança capitalismo-marxismo teriam então de declarar o fim do pensamento.
Continua no próximo artigo sob o título “O VALE DO SILÍCIO (Silicon Valley) E A ESCOLA DE SAGRES – MITOS DA SUSTENTABILIDADE”
António da Cunha Duarte Justo
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“ANTISSEMITISMO” EM TEMPOS DE CRISE E DE CAMPANHAS ELEITORAIS
Jean-Paul Sartre, no Retrato do antissemita (1945) dizia: ”Antissemitismo não é só a alegria do ódio; ele também consegue disposição positiva: na medida em que trato os judeus como seres inferiores e prejudiciais, afirmo, ao mesmo tempo, pertencer a uma elite.”
Lamentavelmente, por toda a Europa se assiste, actualmente, ao crescimento do antissemitismo, da xenofobia e da intolerância em relação ao outro, ao diferente! O mesmo se poderia dizer em muitos casos de posições de um adepto de um partido em relação ao partido adversário.
Em tempos de crise e de eleições não é fácil argumentar sem generalizar nem demonizar o adversário. Cada um apresenta a parte do rosto sujo do outro para com ela tapar a parte suja do próprio rosto.
Se cada um reconhecesse esta prática então ninguém seria tão categórico na sua opinião. Nestas coisas, os intelectuais ou multiplicadores sociais, têm muita responsabilidade, especialmente no nosso tempo em que a radicalização se espalha. Cada qual se encontra absorto nas próprias preocupações, o que nos dificulta ver verdadeiramente o que acontece à nossa roda. Todos trazemos em nós o judeu e a sua sombra; Judeu és tu, judeu sou eu!
Junto a citação de Sartre em alemão que ontem vi ao visitar um museu em Kassel:
„Der Antisemitismus ist nicht nur die Freude am Hass; er verschafft auch positive Lust: indem ich den Juden als ein niederes und schädliches Wesen behandle, behaupte ich zugleich, einer Elite anzugehören.“ Jean-Paul Sartre, Portrait des Antisemiten (1945)
António da Cunha Duarte Justo
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