UM SOCO NA CARA!

Nesta guerra plurifacetada parece assistirmos a um jogo de ping-pong!

Moscovo está a considerar confiscar os bens de empresários de “países hostis” como resposta ao anúncio dos EUA de que irão transferir para a Ucrânia os bens confiscados aos oligarcas russos, escreveu o presidente do Parlamento, Vyacheslav Volodin.

Encontramo-nos em desespero pacífico e comportamo-nos todos como se estivéssemos sob anestesia com uma autoconfiança infundada. A propaganda de ambos os lados sofre de bloqueio de pensamento sem considerar a realidade dos interesses polares para possibilitar identificação num dos polos mentais com se houvesse um mundo sem polos, uma realidade unipolar.

Esta guerra não é entre a ideologia da esquerda ou da direita, é uma guerra a favor de imperialistas que se querem afirmar.

Há uma perda de realidade e por isso é difícil estar plenamente informado, porque a guerra polariza os jornais e as pessoas. Vai-se tendo a impressão que o melhor é evitar especialmente debates conduzidos por políticos ou pelos principais meios de comunicação. Por isso os que se concentram apenas em coisas que podem influenciar pessoal e diretamente podem ser um exemplo para todos nós.

Há um ditado de clubes de boxe (Mike Tyson) que diz “Todo mundo tem um plano – até levar um soco na cara!”. É natural que lançar tons pacifistas é bom até para se ir criando consciência no sentido da paz. A realidade política económica e militar é bem diferente como se pode verificar pela declaração do Ministério da Defesa alemã: “Não vendemos armas para países em conflito”…

Apesar de tudo, depois de se apanhar um soco na cara poderemos estar certos que passaremos a reagir intuitivamente de maneira certa. Quando penso em tudo isto, vem-me, por vezes, à ideia que desperdiço preciosas horas de vida, ao constatar a realidade que rege o mundo e que nele há muita gente exclusivamente interessada em ideologia, domínio e violência!

A História ensina-nos que a razão permanece do lado de quem luta e deixa de lado os peões e os pacifistas! Não quero vencer, apenas quero lutar pela vida porque a vida é o prémio da luta!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

1° DE MAIO – O DIA DO TRABALHADOR E NALGUNS PAÍSES TAMBÉM O DIA DA MÃE

Trabalho é um Direito mais que uma Obrigação

Trabalho é também uma forma de valorização e de emancipação social. O facto de este ano se festejarem o dia do Trabalhador e da Mãe juntos (por calhar no primeiro domingo de maio) ganha um sentido especial atendendo a que a sociedade se tem aproveitado injustamente do trabalho dasmães sem as recompensar!

A luta dos trabalhadores conseguiu restituir-lhes mais dignidade na sua maneira de estar em sociedade. Também o trabalho formal foi o que, socialmente, proporcionou às mulheres independência económica a nível familiar, de maneira a equilibrar a distância entre homem e mulher! Essa distância era marcante pelo facto de a sociedade fazer discriminação entre as diferentes formas de trabalho! Na jerarquia social, a forma de trabalho ainda se revela como configuração determinante de diferenciação.

Com o home office, as discussões sobre horário de trabalho tendem a acabar. Passa-se a ter mais independência que reverte no bem da empresa devido à disponibilidade constante dos trabalhadores. Muitos dos custos da empresa são transferidos para a casa dos empregados.

Os sindicatos para não perderem significado nem sentido terão de conceber uma nova arquitetura de segurança para o trabalhador; esta terá de alargar o seu âmbito de acção também para os trabalhadores não filiados, porque se torna cada vez mais urgente lutar pela justiça distributiva. Uma sociedade escravizada à moeda que cada vez produz mais oligarcas (reinado dos poucos, numa cumplicidade entre riqueza e política) e mais plutocratas (reinado dos super-ricos à margem ou acima da lei) terá de controlar o mundo financeiro que pertence aos juguladores do dinheiro!

A discriminação, na sociedade ocidental, tem sido fortificada pela herança grega que fazia depender a dignidade humana da “dignidade” atribuída ao trabalho e não à pessoa! Na mentalidade grega o trabalho físico era algo inferior destinado aos escravos e mais tarde aos servos, criados, etc. (Os filósofos, membros de famílias abastadas, podiam dedicar-se ao “ócio” produtivo na consciência de que saber é poder!).

Na era cristã afirmou-se a filosofia do “ora et labora” (trabalho também é rezar) dando-se, deste modo uma valorização humana e social ao trabalho! Nesta ordem de ideias, trabalho é parte da realização humana participante da actividade divina e tão digno como a oração; segundo o princípio cristão a pessoa é que dá dignidade ao trabalho e não o trabalho à pessoa.  O princípio básico da regra beneditina (ano 529) que, na sua maneira de viver, estruturava o seu dia segundo a divisa “Rezar, trabalhar e ler” influenciou o desenvolvimento de uma “Europa” que nascia ao lado dos mosteiros.

Hoje trabalho é energia, energia concentrada em capital. O valor do que se adquire é dado pelo trabalho. O trabalho transformou-se em mercadoria e como tal em mero negócio como quer uma sociedade mecanicista, mercantilista e materialista interessada apenas em funções.

Trabalho é a forma de realização humana por excelência e como tal inerente à pessoa como se pode ver já na atividade criativa expressa na necessidade e modo de jogar das crianças; segundo este impulso sem atividade não há felicidade; trabalhar é um direito não uma obrigação! Também sob o ponto de vista bíblico, trabalhar é esforço, é criar e Domingo é o dia em que Deus deixou de trabalhar… Como se vê; também Deus trabalhou mas sem se perder no trabalho!…

Com as novas formas de organização do trabalho talvez nos aproximemos mais da divisa acima descrita.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Aristóteles dizia sobre o trabalho: “Todos aqueles que nada tem de melhor para nos oferecer que o uso de seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios.”

SERÁ A ALEMANHA EUROPEIA OU AMERICANA?

Disponibilizo aqui a tradução de alemão para português  do meu texto publicado no jornal alemão HNA!

Tornou-se também a União (CDU/CSU) num defensor bélico na Alemanha? (a oposição parlamentar CDU/CSU em Berlin, tornou-se agora apoiante da política governamental de entrega de armas pesadas à Ucrânia!) No ar (social) nota-se um odor a vontade de guerra e um cheiro a quartel. Para limpar o ar, o chanceler deveria declarar o seu apoio à paz e estar preparado para negociar em vez de fornecer armas.

A Alemanha dá a impressão de ter um pensar e agir não europeu, mas americano!

Nesta guerra, a Europa é que está em jogo e está a ser abusada para os interesses dos EUA.

As entregas de armas apenas servem os objectivos dos EUA, que estão interessados em prolongar a guerra com a ajuda do presidente ucraniano.

Não é segredo que os EUA há muito que estão interessados em desligar a Europa da Rússia. Este é o seu objectivo a fim de fazer valer interesses estratégicos e de poder económico. Também a culpabilidade da Rússia não pode ser negada, mas culpar apenas a invasão russa pelo que está a acontecer na Ucrânia é, na minha opinião, seguir os acontecimentos exclusivamente sob a perspectiva dos interesses dos EUA/NATO, sem ter em conta as movimentações dos EUA e o papel dos oligarcas na Ucrânia até à invasão russa.

Na imprensa (mais popular), no máximo, a perspectiva alemã é mencionada de um lado e a francesa do outro (no meio de tudo isto falta a perspectiva europeia e a defesa dos seus interesses).

O que mais me entristece é o facto de a Alemanha, que desempenha um papel tão importante na Europa, correr o risco de abandonar os seus próprios valores, tornando-se um mero fantoche dos EUA, a ponto de negligenciar os interesses da sua própria economia para ir ao encontro dos interesses dos grandes magnatas do dinheiro, cuja vítima o povo ucraniano se tornou; a Ucrânia serve há muito tempo de cavalo de Tróia de potências que abusam dela)!

De um ponto de vista lúcido europeu, estar a empurrar o urso russo para a China, em vez de se dedicar à missão de estabelecer negociações e compromissos realistas, é um grande erro que mostra falta de visão. Porque deveríamos renunciar a uma política de independência europeia, o que pressuporia uma aproximação, a longo prazo, da Europa com a Rússia?

O texto encontra-se em alemão no meu blog alemão sob o título: SERÁ ALEMANHA EUROPEIA OU AMERICANA? https://antoniojusto.wordpress.com/

Se a Alemanha se permitir ser arrastada pelos EUA, toda a Europa só seguirá a filosofia anglo-saxónica!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ALEMANHA QUEBRA TABU SOBRE ENTREGA DE ARMAS PARA ZONAS DE GUERRA

Ninguém fala de paz – Vence a rectórica do inimigo

O governo alemão decidiu fornecer tanques Gepard (armas pesadas) para a Ucrânia, numa reunião dos EUA com 40 Estados, na base da força aérea dos EUA em Ramstein, Alemanha. Em questões de guerra até a Alemanha é hóspede dos Estados Unidos em território alemão! Onde já chegamos!

O importante princípio ” não entregar armas em zonas de guerra” passou a ser violado até de maneira oficial. Pelos vistos, a Alemanha sob pressão dos USA entra de forma incisiva na guerra da Ucrânia; isto apesar de, segundo estatísticas, 49% da população ser contra.

Tem-se a impressão que a Alemanha não aprendeu nada com a História. A Alemanha e com ela a Europa, tornou-se seguidora da hegemonia anglo-saxónica! O maior problema para a Europa é que, para onde a Alemanha for, vai a Europa também! A Europa perde a própria identidade e a oportunidade de se tornar ponte para a paz.

Com a conversão da Alemanha para o objectivo dos EUA que era impedir a Europa de se ligar à Rússia, a guerra mundial está à porta (desta vez a Alemanha não terá desculpas como tinha em relação às duas guerras mundiais!). É verdade que para a EU e a OTAN Pequim é o “rival sistêmico” mas, a OTAN ao entrar directamente na guerra põe a China na ocasião  de se tornar na única potência medianeira de negociação no conflito e no sentido de se criar uma trégua de paz entre a Rússia e a OTAN. A ONU será, certamente, posta de lado, tal como o foi na guerra das sanções económicas à Rússia.

Se observarmos o teor dos jornais surge a impressão que a opinião pública está a ser manejada no sentido de aceitar e até saudar uma guerra mundial. Por onde andam os meios de comunicação responsáveis que alertem para esta loucura? Não veem que deste modo motivam a Rússia a empregar armas atómicas?

Com a cedência de armas pesadas à Ucrânia, a Alemanha mostra cobardia perante o embaixador ucraniano na Alemanha, que tem insultado a Alemanha por causa desta ter recusado, até agora, a entrega de armas pesadas; Celensky e o embaixador conseguiram ver os seus objectivos alcançados: alinhar plenamente a Alemanha e com ela a Europa no sentido dos EUA.

Com este passo da Alemanha/Europa, dá-se oportunidade à guerra mundial. Considerar-se a OTAN também como parceira da guerra na Ucrânia é agora uma questão de interpretação a favor da Rússia.

Lavrov avisou que a entrega de armas por países do Ocidente à Ucrânia significa que a OTAN está “em essência, envolvida em uma guerra contra a Rússia”, e que Moscovo via essas armas como alvos legítimos de ataques.

No final, apenas os propagandistas da guerra se alegrarão enquanto a miséria se moverá sobre os países como nuvem escura, que se encontra no horizonte!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

TAMBÉM TU MARCELO?…

Abuso na Comemoração do 25 de Abril

Portugal já é na OTAN um dos países com a percentagem mais alta do PIB empregue nas despesas das forças armadas!

Marcelo Rebelo de Sousa, na comemoração dos 48 anos do 25 de abril, em vez de apelar para a paz social, para a liberdade, cada vez mais em perigo, revela-se, na sua principal preocupação, como propagandista da militarização.

O presidente quer que o povo português gaste mais nas forças armadas e consequentemente menos em orçamentos destinados a subir o nível de vida dos portugueses!

Oportunisticamente serve-se da onda militarista que domina a opinião pública europeia, para se alinhar ao lado de Zelensky numa política de militarização da sociedade!

Já vai sendo tempo dos nossos governos se preocuparem menos com o brilho dos seus representantes que passeiam as suas personalidades-papéis na companhia dos pares nos corredores das instituições internacionais e inverter caminho no sentido de começarem a empenhar-se sobretudo pelo bem-estar do seu povo!

A situação que atravessamos não é própria para um mero companheirismo de elites que manifestam já terem perdido o senso do equilíbrio e das proporções. O orgulho das elites já parece ser tanto que nem notam a figura que fazem como meros acólitos dos EUA ou de interesses internacionais sombrios.

O 25 de Abril deveria ser comemorado como a hora do povo e da liberdade e não como a oportunidade das casernas! Vivemos numa época em que o abuso da liberdade, do povo e dos contribuintes é já insuportável! As democracias encontram-se nos trilhos das autocracias. O povo é manipulado e para iludir a própria manipulação fala-se da reprovável manipulação que domina povos adversários!

“Também tu, Bruto?” é a pergunta que o imperador Júlio César fez ao seu amigo Marcus Junius Brutus, no momento em que este estava a esfaqueá-lo! Bruto é aqui o símbolo da traição e do oportunismo político independentemente da sua forma!

Porque precisa um país pequeno ter de se pôr em bicos de pés para se sentir bem ao pé dos grandes, que se deixam servir por ele? Não notam o ridículo que as potências notam por verem os eleitos de Portugal a tornarem-se seus serviçais à custa do povo português! O companheirismo das elites a nível internacional pode ajudar a serem conseguidas mais dívidas para os pobres que as terão de pagar!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo