Senhor Ministro Portas não nos feche as Portas

Comunicado aos Órgãos de Informação

A maior Manifestação de Portugueses em Frankfurt

Senhor Ministro Portas não nos feche as Portas

Manifestação dos Portugueses dos Estados do Hesse, do Sarre e da Renânia Palatinado contra o eventual encerramento do Vice-consulado de Frankfurt. Esperam-se entre mil e três mil manifestantes.

Portugueses não só de Frankfurt mas de toda a área consular de Frankfurt (Estados do Hesse, Sarre e Renânia Palatinado) estão a organizar uma manifestação para o próximo sábado, dia 5 de Novembro em Frankfurt. A demonstração tem início na Alte Oper às 13 horas e termina, pelas 15h junto ao posto consular na Zeppelinallee 15.

Solidários com Portugal nos seus esforços de poupança para liderar a crise, os portugueses desta área querem que se poupe consequentemente em todas as representações do Estado e que apesar disso se sirva bem e melhor os portugueses e a economia portuguesa. Na Alemanha vivem 117.000 portugueses e na área consular de Frankfurt cerca de 30.000. Frankfurt é o segundo posto consular mais barato da Alemanha e o terceiro em volume de serviços. Solidarizando-se com Portugal, também ele pode ainda reduzir os gastos. Frankfurt não pode encerrar as portas.


Estamos empenhados na defesa dos interesses e do futuro de Portugal. Seria um erro crasso virar as costas aos portugueses e, numa iniciativa de fomentar os negócios portugueses, encerrar um ponto tão estratégico como Frankfurt. Já, há 15 anos, aqui, se falava da necessidade da integração de serviços com a hipótese de reunir consulado, ICEP e TAP num edifício comprado para, a longo prazo, se pouparem recursos humanos e económicos. O mesmo se dizia da embaixada.


Para além disto as decisões deveriam ter em conta que a desejada ofensiva económica não pode prescindir do potencial de luso-descendentes espalhados pelo mundo, que não só têm direito à sua língua e cultura, como podem ainda vir a ser peça muito útil ou mesmo indispensável na implementação dos novos rumos que se pretende dar à diplomacia. Temos propostas de contenção e de redução de despesas de maneira a aliviar Portugal sem deixar de servir a comunidade portuguesa e também ideias para implementação da economia. O Conselho, em colaboração com as associações portuguesas desta área consular, apela a portugueses e amigos de Portugal a participarem na Manifestação. Os Meios de Comunicação Social alemães também são convidados a fazer a cobertura da manifestação. Contamos também com a grande participação dos Media portugueses.


António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivodo Vice-Consulado de Frankfurt

Manifestação de Portugueses em Frankfurt – Sábado 5 de Novembro

Conselho Consultivo junto do Posto Consular de Portugal em Frankfurt

Zeppelinallee 15,  60325 Frankfurt am Main

C/o António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo

Tel.: 00049 561 407783,

Correio electrónico: a.c.justo@unitybox.de

Comunicado aos Órgãos de Informação

Manifestação de Portugueses em Frankfurt – Sábado 5 de Novembro

Percurso: Início às 13h00 na Alter Oper e termo às 14h00 no Consulado

Não ao encerramento do Posto Consular de Frankfurt

O Conselho, de acordo com as associações portuguesas desta área consular, decidiu realizar uma manifestação no dia 5 de Novembro em Frankfurt, com percurso entre Alte Oper e o Consulado. A Manifestação da Comunidade portuguesa contra o encerramento do Consulado já está devidamente autorizada pelo Ordnungsamt de Frankfurt e tem início às 13h00 na Alte Oper e termo às 16h00 junto ao posto consular.

Os utentes desta área consular sentem-se marginalizados não podendo encontrar dados objectivos que poderão ter levado à decisão de encerramento precisamente deste posto consular. Irão protestar em massa, na esperança duma solução equitativa de poupança, que possibilite o serviço aos utentes e a defesa dos interesses económicos de Portugal na região.

Segue-se o texto enviado a 3 de Outubro a suas excelências o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas:

“O Conselho Consultivo junto do posto consular de Portugal em Frankfurt, no âmbito das competências constantes do artigo 16.º, n.º 4 do Decreto-Lei n.º 71/2009, de 31 de Março, face à eventual decisão do Governo português em encerrar este Consulado, vem por esta via apresentar a sua discordância e veemente protesto por tal medida, alegando o seguinte:


– Desconhecem-se os motivos concretos para uma tal medida súbita, sem que tenha sido efectuada previamente alguma consulta, quer junto do Consulado quer junto deste Conselho Consultivo quer do Conselho das Comunidades Portuguesas ou ponderadas medidas alternativas.


– Após análise das repercussões extremamente negativas que uma tal medida representará para a comunidade portuguesa afectada, e sem que se afigurem quaisquer motivos justificativos, o Conselho Consultivo alerta para os seguintes factos:


– Calcula-se residirem nesta área consular entre 25000 a 30000 portugueses, com tendência a aumentar nos últimos meses, distribuídos por 3 Estados Federados (Hesse, Renânia-Palatinado e Sarre) com uma superfície correspondente a metade da área geográfica de Portugal continental;


– Trata-se de uma das representações consulares mais antigas de Portugal na Alemanha, já remontando a 1960 e um ponto de referência para todas as gerações de portugueses. Ao encerrar o Consulado, é cortado o elo de ligação de uma vasta comunidade portuguesa com o seu país, facto altamente desmotivante e que levará muitos a naturalizarem-se alemães e a não inscreverem os seus filhos no registo civil português;

– Realce-se que nas últimas eleições presidenciais foi este posto consular que obteve uma das maiores percentagens de votantes, o que significa o elevado grau de responsabilidade da comunidade pertencente a esta área consular. Tal encerramento priva não só a população directamente afectada de qualquer assistência como a levará à completa desmotivação no envolvimento da causa nacional, nomeadamente nos actos eleitorais ou até no envio de poupanças para Portugal.


– Frankfurt representa para a Alemanha, depois de Berlim, a capital, um centro político e económico dos mais importantes e decisivos do país, facto pelo qual se encontram acreditados nesta cidade mais de 90 consulados de outras nações, sendo um dos últimos a abrir o Consulado-Geral de Angola.


– De realçar ainda a importância atribuída a Frankfurt pela Comunidade Monetária Europeia (é nesta cidade que está a sede do Banco Central Europeu).


– Relembramos também, que este Consulado é ainda de crucial importância como centro de apoio aos altos representantes governamentais ao fazerem escala no aeroporto internacional de Frankfurt, uma das principais plataformas giratórias da Europa.


– Trata-se ainda de um centro económico de vital importância internacional, onde se realizam algumas das feiras de maior repercussão para os expositores portugueses (como por ex. a feira dos têxteis, salão automóvel, ou ainda a feira do livro).


Ao encerrar este Consulado, o Estado português abandona assim um ponto de mais alto prestígio internacional e de vital importância económica, política e cultural.


Num momento em que a economia portuguesa necessita de impulsos à exportação, e a Europa está atenta à política portuguesa, consideramos que o eventual encerramento da sua representação consular em Frankfurt significaria não só uma medida extremamente negativa para a comunidade que serve, mas também um falso sinal sob o ponto de vista de estratégia económica.


– Finalmente, o encerramento também não seria compreensível nem aceitável sob uma eventual perspectiva de medidas de austeridade. A rentabilidade do Consulado foi confirmada através dos investimentos técnicos, de formação profissional nos últimos anos, da abertura de concurso para admissão de mais um funcionário a partir do início do corrente ano, bem como do regresso ao serviço de um outro funcionário a partir de Abril último, por instruções do MNE.


O Conselho Consultivo está consciente das dificuldades que o país atravessa, mas não poderá aceitar de modo nenhum medidas radicais que conduzam ao encerramento deste posto consular, sem que sejam previamente estudadas, em conjunto, outras alternativas de poupança, como por exemplo, a redução dos custos de arrendamento, de funcionamento do posto, ou a redistribuição da rede consular, entre outras.

Os membros do Conselho Consultivo da Área Consular de Frankfurt”


António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo



Mãe Desconsulada dirige-se aos Meios de Comunicação

Protesto contra o Encerramento do Consulado de Frankfurt

António Justo

Uma mãe de Frankfurt sente-se desiludida e revoltada contra a decisão de enceramento do consulado e apela à razão organizativa e de poupança do Governo para que reveja a sua posição tomada contra os 30.000 portugueses da região.

Aqui o seu importante apelo:

“Foi com bastante admiração que constatei que o vice-consulado de Francoforte irá ser encerrado nos finais de Dezembro.

Irá ser, sim senhor!

É um ato passivo, já que activamente nunca teria havido razão plausível para que tal aconteça. Que motivos poderiam ser alegados para encerrar uma casa que não só serve uma numerosa comunidade portuguesa, como ainda representa Portugal numa vasta região no centro da Europa, procurada por tantos?

Ainda que ciente da necessidade urgente de economizar, riscar do mapa postos com funções imprescindíveis não é, certamente, a solução adequada. Se temos de prescindir, então que o façamos colectivamente. Procuremos soluções acertadas, ouvindo os intervenientes, sem simplesmente optar pelas “passivas”!

Que explicação darei eu aos meus filhos, por exemplo, quando tiver futuramente de os “arrastar” a minimamente 200 quilómetros de distância (só a ida) para poder tratar de assuntos relacionados com o país que tanto tento manter na sua memória, para que o elo continue a ser forte e aguente mais do que as idas de férias? Como vou conseguir convencê-los de que o vice-consulado foi encerrado, mas o país não lhes voltou as costas? Como vou argumentar, para que possam continuar a acreditar  que a identidade é a única pátria da qual nunca podemos ser exilados? Que apoio lhes vou poder dar nesse sentido? Como vou cumprir essa minha obrigação de mãe, se com o encerramento do vice-consulado me estão a roubar um valioso bastião?

Já nem sei se é tristeza, revolta ou desilusão aquilo que sinto…

Sempre fomos bem recebidos, acolhidos com os nossos problemas, no agora vice-consulado e no antigamente consulado, em Francoforte.

Sempre contámos com o consolo do consulado. A região do vale do Meno e do Reno é uma das mais atractivas da Alemanha. Francoforte é uma cidade cosmopolita, na qual mais de noventa países mantêm a sua representação. Para nós, vivendo fora de Portugal, a supressão destes minúsculos retalhos representam enormes buracos na manta que nos aquece e protege.

Talvez estes argumentos sejam difíceis de entender para quem vive em Portugal. Sabemos que há, no país, muitos “pequenos” a fazerem grandes sacrifícios  (e infelizmente poucos “grandes” a fazerem pequenos !)   mas temos todo o direito – e até o dever – de exigir mais transparência nas decisões que, caso sejam justas, podem ser compreendidas e, posteriormente, aceites.

Mas assim, não! Encerra-se porque temos de “apertar o cinto”! No pescoço?!?

Sei, porque lido há dezenas de anos com jovens portugueses, e não são só de origem portuguesa, que muitos se vão ver obrigados a optar pela nacionalidade alemã porque todos os atos oficiais marcantes – o nascimento, o casamento, as eleições,… – vão estar a uma distância tal que a maior parte não vai conseguir conjugar com a vida acelerada de trabalho intenso.

Economizar não é riscar do mapa, mas sim reestruturar recursos, aproveitar potencialidades já estabelecidas, fazer alterações que necessariamente atingem sempre alguns, claro, mas que não privilegiam uns (quase sempre os mesmos ! ) em detrimento de outros (também quase sempre os mesmos…).
Já sei se é tristeza, revolta ou desilusão.

É revolta!!

Quando temos vinte rebuçados para distribuir por dez crianças, elas sabem bem que cada uma receberá dois; nunca nos passaria pela cabeça distribuir os vinte rebuçados por cinco das crianças, entregando quatro a cada uma delas, e deixar as outras sem nada. Será que há alguém que desconheça ou já tenha esquecido esta operação de matemática tão simples? Talvez porque, lamentavelmente desenraizado, perdeu tudo o que tinha de criança em si…

Ou então porque já comeu rebuçados demais!!!

Francoforte, 17 de Outubro de 2011

Esta mãe sente-se arbitrariamente desconsulada sabendo que nenhuma razão objectiva de racionalização de serviços nem de poupança podia levar o governo a virar as costas a 30.000 portugueses, quando, para arrecadar o que tenciona poupar na Alemanha com o encerramento do vice-consulado de Frankfurt, haveria muitas outras alternativas sem castigar utentes dos serviços portugueses na Alemanha. Uma delas seria reduzir um dos três consulados da Alemanha a Vice-consulado. O que se poupa num cônsul chegaria certamente para se manter um vice-consulado.

Esta mãe identificar-se-ia, “se quem de direito estivesse disposto a explicar, em conversa com os envolvidos e/ou seus representantes, as razões plausíveis para o encerramento”. A sua alta consciência civil e de responsabilidade levou-a a este protesto público, sentindo-se assim “ aliviada com aquela sensação do dever cumprido”. Resta à imprensa cumprir o seu, para que Portugal se endireite e levante para adquirir a dignidade que lhe é devida!

Consequentemente resultaria uma discussão pública (fórum) em que representantes do governo e dos afectados se reunissem para manter os serviços e conseguir poupar ainda mais dinheiro aqui na Alemanha.

António da Cunha Duarte Justo

Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Um Dia Santo para a Natureza para os Animais e Plantas – O PAPA E A ECOLOGIA

O PAPA E A ECOLOGIA

Um Dia Santo para a Natureza para os Animais e Plantas

António Justo

Na parte final do seu discurso no Parlamento alemão, Bento XVI referiu-se também ao movimento ecológico surgido na Alemanha, especialmente, a partir dos anos Setenta, afirmando que o ambientalismo “foi e continua a ser, um grito que anela por ar fresco, um grito que não se pode ignorar nem acantonar”. O papa com a ideia de não deixar acantonar o movimento ecológico num partido (Os Verdes) ou grupo do mercado quer que se ultrapasse uma visão antagónica do preto e do vermelho para uma visão dum verde que suporte todas as cores do arco-íris sobre ele. A lei da complementaridade na biosfera e nos ecossistemas culturais pressupõe um equilíbrio de relações entre todos os elementos e não a ditadura da economia (lucro exagerado) que ao destruir a natureza destrói também a pessoa. Requer-se uma mudança radical de mentalidade, uma consciência ecológica e humana que transcenda os guetos das ideologias.


Se no alvorecer da humanidade e no seu afirmar-se, o Homem, então em reduzido número, lutava por dominar a natureza, hoje que a explora e põe em perigo, tem que, como sua parte integrante, tornar-se seu protector assumindo a responsabilidade do Criador. De facto, hoje observam-se dois grandes buracos de ozónio: um na biosfera natural e outro nos ecossistemas culturais. O ar e a cultura, cada vez se intoxicam mais, correndo em abundância o veneno na água e na divulgação pública. Hoje, por vezes, tem-se a impressão de vivermos em tempos apocalípticos, do não há pai, salve-se quem puder.


Em tom brincalhão, o Pontífice fez um aparte, no discurso, dizendo que não estava ali a fazer propaganda por nenhum partido. Certamente não queria ficar como o papa verde! De facto o partido OS VERDES com 68 deputados num parlamento de 620 surgiu da defesa da ecologia. Com este louvor talvez o Papa queira estimular a Alemanha a continuar no seu estado pioneiro de empenho ecológico no contexto das nações e de ter sido a maior sociedade industrial a ter determinado o abandono da energia atómica para passar a investir em energias não poluentes e renováveis, como a eólica e solar. Isto tem como consequência a transição de investimento e transformação tecnológica e de investigação.


Não chega pintar de Verde as Fachadas das Fábricas e das Ideologias

Depois continuou: “A importância da ecologia é agora indiscutível. Devemos ouvir a linguagem da natureza e responder-lhe coerentemente. Mas quero ainda enfrentar decididamente um ponto que, hoje, como ontem, é largamente descurado: existe também uma ecologia do homem. Também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece. O homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza, e a sua vontade é justa quando ele escuta a natureza, respeita-a e quando se aceita a si mesmo por aquilo que é e que não se criou por si mesmo. Assim mesmo, e só assim, é que se realiza a verdadeira liberdade humana”. Critica-se assim a monocultura agrária e de espírito em via. A Biodiversidade dentro do ecossistema humano e natural pressupõe uma dimensão não só horizontal mas também vertical; pressupõe um horizonte aberto a tudo e a todos numa consciência da lei da complementaridade a nível de ecossistemas naturais, culturais, ideológicos e o respeito de uns pelos outros. A terra é de todos e de tudo; todos somos terra e nos tornamos terra.


O ambientalismo sério começa cá por casa, por cada um de nós (mudança de hábitos de consumo, de alimentação; um motivo de cada pessoa e não apenas de sistemas a afirmarem-se uns contra os outros. Não é preciso seguir a bandeira dum ecossocialismo nem dum ecocapitalismo. Os dois não apontam para a solução; fazem uso duma filosofia do contra em benefício da própria clientela não querendo, na discussão, aplicar a lei da complementaridade, que reina na natureza, ao relacionamento da vida social e ideológica: o que se reconhece no ecossistema natural nega-se no ecossistema cultural e na relação das ideologias umas com as outras. O neoliberalismo domina tanto os estados capitalistas como os socialistas. É cómodo encostar-se ao socialismo ou ao capitalismo quando a solução do problema terá de começar pela mudança de mentalidades das pessoas e por uma consciência da complementaridade das estruturas, todas elas deficitárias e até agora manipuladoras da cultura e das suas clientelas. Não chega pintar de verde as fachadas das nossas fábricas e das nossas ideologias. Muitos ouvem o alarme da natureza e o protesto de muitas pessoas e aproveitam-se da ingenuidade ou egoísmo de pessoas para melhor fazer o seu negócio, a propaganda da sua organização contra outras (na continuidade do mesmo espírito que levou à exploração da natureza: divide e impera). A solução não virá de ideologias mas duma luta supra-ideológica, dum movimento dos movimentos que está por nascer.


É possível um novo mundo, a mudança da civilização. O comércio tem vivido dum mundo fragmentado e da tentativa de mecanizar/automatizar a pessoa em contínua corrida sem segurança.

A ganância do lucro e o oportunismo impedem uma revisão equilibrada dos sistemas. A pessoa é reduzida a indivíduo e a mera força de trabalho, a mero produto. A ganância do lucro manterá a crise cultural, económica e ecológica da civilização. Não chega encontrar a causa do que se vê mas também a sua finalidade.


É necessário desenvolver uma tecnologia da libertação, correspondente a uma nova consciência. A natureza é rica, pobre é o espírito duma economia e tecnologia explorador. O crescimento económico justo e o desenvolvimento social pressupõem uma sintonia no respeito pela natureza e pela dignidade humana.


Os países ricos enriqueceram no desrespeito da natureza e na destruição dos biótopos em favor das monoculturas. Os países em via de desenvolvimento são tentados a seguir este mau exemplo. No Brasil entre outras organizações que se levantam contra a destruição da natureza, os bispos brasileiros têm-se insurgido contra a destruição da natureza que mata 100 pessoas por ano e leva a população rural a fugir para as cidades. A comunidade mundial terá de se tornar solidária com estas populações insurgindo-se contra a destruição de biótopos e ecossistemas naturais destas regiões. O sistema económico que actua a nível global chegou com o seu latim ao fim. Provocou um desequilíbrio entre meio ambiente e produção, entre emprego e desemprego, entre rico e pobre.


Bento XVI diz que o desastre que se observa na terra e na sociedade é consequência do desastre espiritual e cultural humano. A terra apenas se deixa contagiar pela doença do Homem. A natureza é parte de nós e nela encontramos o outro.

Já antes tinha chamado a atenção para a necessidade de mudança de mentalidade no sentido de Francisco de Assis, afirmando: “É fascinante em Francisco a sua rejeição resoluta ao mundo de bens e o seu amor não afectado pela criação, pelos pássaros, pelos peixes, pelo fogo, pela água, pela terra. Ele aparece como o padroeiro dos ecologistas, como o líder do protesto contra uma ideologia que se concentra apenas na produção e crescimento, como o advogado da vida simples.”


Francisco queria o jardim Terra não só como lugar para a agricultura para animais de pecuária mas para todos os seres, para os irmãos “as flores do campo e os lírios do vale” (Cant2,1), queria a natureza como lugar para toda a criatura poder viver em irmandade desde o “irmão burro” às “ irmãs flores”. E Bento XVI complementa: “O respeito para com as pessoas e o respeito para com a natureza pertencem juntos, mas ambos só podem prosperar e, finalmente, encontrar o seu nível, se respeitarmos o criador e sua criação nas pessoas e na natureza.”


Dignidade humana e da Natureza em relação de interdependência

Em comunhão de alma com a natureza, na qual corre a mesma seiva/sangue e se manifestam as mesmas diferenças como na sociedade humana, estamos chamados a fazer brilhar nela também o nosso sol, o sol do amor. Com o manto verde das suas plantas, a natureza alimenta o nosso respirar oferecendo-nos o oxigénio e juntando o seu respirar ao nosso. Também nós temos algo para lhe dar: o manto do espírito. Deus criou a natura e o homem criou a cultura, para, em conjunto, colaborarem no projecto do mistério a caminho. A força do sol e do vento com a ajuda da água conseguiram fazer da rocha dura campos férteis e fecundos. Nós pelo contrário, com a alma em erosão, estamos a contribuir para a desertificação da alma humana e do mundo. A natureza sofre enquanto o Homem não arredar caminho. A maneira como tratamos os animais é pior que a atitude de Caim contra seu irmão, representante duma outra cultura.


Da fé num Deus criador e pai surgiu a ideia da dignidade humana e dos direitos humanos. Do mesmo princípio se deixa deduzir o respeito por todas as criaturas, pela natureza inteira, obra do mesmo criador. O Papa não se cansava de repetir “onde Deus está, lá está futuro”. Por isso precisamos dum dia santo para a natureza e não apenas dum feriado dela. Temos vivido do que se tem roubado à dignidade humana e aos animais, encontrando-se agora a natureza inteira a sofrer.


A Bíblia quer que também os animais tenham um dia santo, ao afirmar que também eles não devem trabalhar ao sábado e também a terra precisa dum ano sabático. A civilização tem atraiçoado a natureza ao degradar o Homem para objecto de produção e consumo amarrando-o à fábrica e ao shopping. O espírito que tem dominado a exploração do Homem pelo homem domina na exploração da natureza pelo Homem. Ao profanarmos o Homem profanamos a natureza também.


Os animais encontram-se encurralados em campos de concentração indignos do homem e do animal. É-lhes roubado o seu espaço vital como se também eles não tivessem direito a um ambiente digno. A terra é mãe de todos. As plantas não cortaram o cordão umbilical com ela mas sofrem as consequências da depravação humana; o animal homem, seu filho pródigo, esquece que ela é não só sua substância mas seu chão também.


Nela saltitam as nossas paixões e voam sonhos como andorinhas. Meus pensamentos não são mais que seus pássaros a voar. Como eu, também a planta, o animal, a raiz tem seus sonhos, a sua esperança. O Homem continua a violar a fecundidade da terra e depois admira-se que ela reaja magoada.


Na teologia da trindade e encarnação podemos encontrar um modelo de pensamento e acção que transcende a objectivação de tudo o que é ser para os integrar na sua relação complementar. Assim espírito e matéria unem-se num processo actual e teleológico, o espírito torna-se terra para nela se divinizar e ressuscitar. Como a natura segue a orientação do Sol assim a cultura terá de descobrir o seu sentido a caminho da transcendência. Teilhard de Chardin fala do percurso do Alfa para o Omega e do Cristo cósmico que resume o caminho e a aspiração da natureza e do Homem.


Há várias portas de acesso à Realidade, possibilitando cada qual uma panorâmica diferente da mesma: a natureza, a fé, a razão. Quanto mais abertura e mais chaves tivermos mais larga será a panorâmica da nossa visão.


António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo


ECUMENISMO – CATÓLICOS E EVANGÉLICOs


Visita Papal – Um Ponto alto da Razão e da Fé

António Justo

Na discussão pública que precedeu a visita do Papa, o país de Lutero discutiu profundamente o que Bento XVI teria que mudar. Criou-se uma espectativa que ele traria uma “oferta” (reformas) no sentido duma protestantização da Igreja Católica. Temas como celibato, sacerdócio da mulher, comunhão, democratização das estruturas eclesiásticas, o abuso de menores, foram discutidos até à exaustão, principalmente por aqueles que não vão à Igreja e mantêm uma atitude anticatólica (revista Spiegel e outras). Também surgiram discussões sérias sobre necessidades de mudança. Criaram-se espectativas irrealistas porque estes problemas são assuntos de discussão a realizar no seio da Igreja. Além disso a Alemanha não é o lugar propício para proclamações papais. A discussão unira não só os críticos mas sobretudo os guerreiros ressentidos e intolerantes contra o Papa.


O teólogo Hans Küng tem defendido a formação duma “Coligação de teólogos, sacerdotes, leigos com bispos reformistas” esquecendo que na Igreja católica, orientada muito embora pelas cúpulas, as mudanças foram sempre provocadas pela base. Escreveu aos 5.000 bispos católicos do mundo mas não teve sequer uma resposta.


Naturalmente que a Igreja “sempre reformanda” precisa de contínuo aferimento ao mundo envolvente, sem medo, mas sem obedecer ao espírito do tempo nem a critérios meramente burocráticos. Os irmãos evangélicos já exercitam, em excesso, esse compromisso e não se nota que descrentes e católicos se tornem protestantes. Certamente são necessárias mudanças responsáveis, motivadas pela fé e pela misericórdia (1).


Facto é que os modelos de Cristianismo praticados pelas comunidades irmãs não se têm tornado em estímulos de mudança para a Igreja Católica de Bento XVI. O modelo protestante não convence à mudança do modelo católico porque apesar da adaptação evangélica aos movimentos seculares com democracia, pastores casados, ordenação de mulheres, pastores homossexuais, as suas igrejas ainda se encontram mais vazias que as católicas e a filosofia cristã não encontra maior ressonância no povo que nas zonas católicas, pelo contrário. Também por isto, o Papa não aceita mudanças no sentido duma protestantização do catolicismo nem que se reduza a discussão ao restrito ponto da moral sexual (2). O modelo de Igreja imperial como a anglicana (Commonwealth) também não convence pelo facto de não preservar a unidade de direito e doutrina. A Igreja ortodoxa russa parece demasiadamente comprometida com o poder político. Por outro lado, a região muçulmana com o seu rigorismo na moral sexual também não constitui um estímulo à mudança. Pelo contrário, a Igreja ortodoxa e o islão não sofrem das adversidades da modernidade pelo facto de se não terem aberto a ela, constatam muitos católicos.

Tudo isto, aliado a uma campanha secularista contra o Catolicismo não estimula Bento XVI a fomentar determinadas posições modernas do Vaticano II. Pelo contrário, passou a usar de novo a tiara no sentido da tradição antiga (símbolo do poder pastoral, sacerdotal e do magistério), possibilitou também a liturgia tridentina (nesta o padre celebra, em latim, para o povo e na pós-conciliar o povo celebra com o padre). Nesta fase da história o papa vê mais a necessidade de afirmar a igreja petrina esperando contudo que a mudança venha da fé.

Com a visita papal as ondas negras apaziguaram-se tendo-se ela revelado como ponto alto da razão e da fé, deixando os próprios críticos perplexos. Estes, embora insatisfeitos no que respeita às espectativas de reforma, manifestaram apreciação pelo que Bento XVI disse e fizeram referência à importância duma reflexão profunda sobre as suas palavras.


Bento XVI não abordou nenhum tema conflituoso. Concentrou-se nos fundamentos espirituais da igreja e da sociedade. Mostrou-se abalado pelos “escândalos na Igreja que escondem o escândalo da fé da morte de Cristo na cruz”.


Quanto aos protestantes, o Papa manifestou-se muito cordial; para além dos gestos simbólicos, mantiveram-se as diferenças. De facto, enquanto o protestantismo tem mais a ver com palavras e conceitos, o catolicismo tem mais a ver com imagens e mística. São ecossistemas sociais e geográficos diferentes. A Igreja Católica caracteriza-se por um pensar não tão elitista, mais global e universal, sentindo-se responsável tanto pelo hemisfério norte como pelo hemisfério sul, não se sentindo vocacionada a impor a visão do norte ao sul e menos ainda a visão duma igreja particular (alemã), como pretendem correntes teológicas europeias. A Igreja Católica sente-se chamada a ser mais o ecossistema da biosfera do que um biótopo.


Uma reforma da Igreja obedece a outros critérios que não a critérios políticos ou administrativos. O Papa respondeu indirectamente que igrejas não são grémios políticos. O barulho dos reformadores não deve esconder a falta de fé nem tão-pouco a pressão social de ser como os outros. No diálogo não se trata apenas de razão e de interesses mas de razão e de fé. Questões de fé não são negociáveis. “A fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens ou desvantagens”.


Enquanto se manifesta, na sociedade civil, uma tendência para fomentar o centralismo das nações europeias na União Europeia, e a expansão do globalismo, observa-se, por outro lado, uma crítica impiedosa ao centralismo do vaticano, a única comunidade global existente. Tenta-se responsabilizar o Papa não só pelo que ele deixa de fazer mas pelas consequências da secularização e dum modernismo “bastardo”. Com uma avaliação monocausal e tendenciosa, pessoas e correntes movidas apenas pelo imediato do fenomenológico atribuem a crise ao sistema romano procurando a solução apenas na remodelação do único sistema que se afirma como eixo e paradigma universal. A questão é fundamentalmente um problema de fé e de falta de identidade.


No encontro ecuménico, em Erfurt, Bento XVI advertiu: “O pensamento de Lutero, a sua espiritualidade inteira era totalmente cristocêntrica. Para Lutero, o critério hermenêutico decisivo na interpretação da Sagrada Escritura era «aquilo que promove Cristo». Mas isto pressupõe que Cristo seja o centro da nossa espiritualidade e que o amor por Ele, o viver juntamente com Ele, oriente a nossa vida.” “Esta constitui uma tarefa ecuménica central. Nisto deveríamos ajudar-nos mutuamente: a crer de modo mais profundo e vivo.“ A secularização tem feito de muitos pastores e teólogos meros assistentes sociais, ou até triviais bombeiros reparadores duma sociedade de incendiários que vão da economia até à ciência e à cultura.


O ecumenismo não se pode limitar à discussão sobre reformas estruturais, o problema de hoje é um problema de identidade e de vivência. De resto, já o Mestre de Nazaré dizia: “Na minha casa há muitas mansões”.


O Pontífice mostra-se preocupado: “Não serão as tácticas a salvar-nos, a salvar o cristianismo, mas uma fé repensada e vivida de modo novo, através da qual Cristo, e com Ele o Deus vivo, entre neste nosso mundo… A unidade fundamental consiste no facto de acreditarmos em Deus, Pai omnipotente, Criador do céu e da terra; de O confessarmos como Deus trinitário – Pai, Filho e Espírito Santo. A unidade suprema não é solidão duma mónada, mas unidade através do amor. Acreditamos em Deus, no Deus concreto. Acreditamos no facto que Deus nos falou e Se fez um de nós. Dar testemunho deste Deus vivo é a nossa tarefa comum no momento actual.”


“Mas a fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens e desvantagens”. “Uma fé construída por nós próprios não tem valor. A fé não é algo que nós esquadrinhamos ou concordamos. É o fundamento sobre o qual vivemos. A unidade não cresce através da ponderação de vantagens e desvantagens, mas só graças a uma penetração cada vez mais profunda na fé mediante o pensamento e a vida”. “Porventura não está o mundo a ser devastado pela corrupção dos grandes, mas também dos pequenos, que pensam apenas na própria vantagem?”


Realça a importância de se acentuar no ecumenismo aquilo que une na fé os católicos e os evangélicos. “A coisa mais necessária para o ecumenismo é primariamente que, sob a pressão da secularização, não percamos, quase sem dar por isso, as grandes coisas que temos em comum, que por si mesmas nos tornam cristãos e que nos ficaram como dom e tarefa. O erro do período confessional foi ter visto, na maior parte das coisas, apenas aquilo que separa, e não ter percebido de modo existencial o que temos em comum nas grandes directrizes da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do cristianismo antigo.“


“ Porventura será preciso ceder à pressão da secularização, tornar-se moderno através duma mitigação da fé? Naturalmente, a fé deve ser repensada e sobretudo vivida hoje de um modo novo, para se tornar uma realidade que pertença ao presente. Para isso ajuda não a mitigação da fé, mas somente o vivê-la integralmente no nosso hoje. Esta constitui uma tarefa ecuménica central.“ Sim, doutro modo o catolicismo para ser moderno teria que andar sempre a correr atrás do protestantismo e este sentir-se-ia sempre na dianteira com a exigência de que o catolicismo se mude na sua direcção.

“Se o olhar se fixa nas realidades negativas, então nunca mais se desvenda o grande e profundo mistério da Igreja”.


Alude também à perplexidade de confissões históricas perante novas formas de cristianismo, muito dinâmicas mas “ por vezes preocupantes nas suas formas” tratando-se frequentemente de “um cristianismo de escassa densidade institucional, com pouca bagagem racional, sendo ainda menor a bagagem dogmática, e também com pouca estabilidade. Este fenómeno mundial põe-nos a todos perante esta questão: Que tem a dizer-nos de positivo e de negativo esta nova forma de cristianismo? “


“Em certo sentido, a história vem em ajuda da Igreja com as diversas épocas de secularização, que contribuíram de modo essencial para a sua purificação e reforma interior. De facto, as secularizações (expropriação de bens da Igreja, cancelamento de privilégios, etc.) – sempre significaram uma profunda libertação da Igreja de formas de mundanidade: despojava-se, por assim dizer, da sua riqueza terrena e voltava a abraçar plenamente a sua pobreza terrena”.


Falando da Igreja, o Pontífice recorda: «Eu sou a videira verdadeira»: isto na realidade, porém, significa: «Eu sou vós, e vós sois Eu» – uma identificação inaudita do Senhor connosco, a sua Igreja….” É consolador ler-se esta frase dum pontífice que é não só o grande intelectual/teólogo da época moderna mas também um místico. Nestas palavras por ele ditas pode sentir-se o surgir duma nova teologia que consegue passar do diálogo grego para o triálogo cristão. Nas liturgias que celebrou na Alemanha ele mostrou que é possível juntar intelecto e devoção a ponto de transformar eventos de muitos milhares de pessoas numa missa ou numa para-liturgia em momentos de alta devoção, de espírito recolhido e meditativo. Foi impressionante ver como milhares de pessoas se mantinham durante minutos em silêncio meditando nas palavras das suas homilias.


O Papa aponta para a vida cristã solicitando uma visão lúcida da mesma. Sim, não tem sentido esforçar artificialmente uma união dos cristãos quando a diversidade também é uma oportunidade de satisfazer diferentes rescritos de personalidade e de salvação. Os cristãos das diferentes mansões são irmãos e devem-se respeitar uns aos outros complementando-se. Quem critica por criticar ou julga com ressentimento/fanatismo não percebeu nada de cristianismo e menos ainda de fé cristã.


” Sei que muito se faz, da parte dos alemães e da Alemanha, para tornar possível a toda a humanidade uma vida digna do homem, e por isso quero aqui exprimir uma palavra de viva gratidão.”

O Santo Padre admitiu que a Igreja da sua terra natal “está optimamente organizada”, mas criticou nela “um excedente das estruturas em relação ao Espírito”. Talvez pelo facto dela se encontrar demasiadamente preocupada com os protestantes e demasiadamente preocupada com teologia e menos com espiritualidade. Já há muito tempo o Vaticano vê com relutância o facto de nas zonas cristãs de língua alemã se exigir um imposto dos cristãos para a igreja. Também por isso, Bento XVI incita a Igreja alemã a comunicar do espírito alegre doutras regiões católicas. “A Igreja na Alemanha continuará a ser uma bênção para a comunidade católica mundial, se permanecer fielmente unida aos Sucessores de São Pedro e dos Apóstolos, se tiver a peito de variados modos a cooperação com os países de missão e se nisto se deixar «contagiar» pela alegria na fé das jovens Igrejas.”

O serviço da Igreja além duma componente de competência objectiva e profissional “exige-se algo mais, ou seja, o coração aberto, que se deixa tocar pelo amor de Cristo, e deste modo é prestado ao próximo, que precisa de nós, mais do que um serviço técnico: o amor, no qual se torna visível no outro o Deus que ama, Cristo.”


Admoesta os bispos e quem tem cargos a servir na humildade dizendo: «Jesus, que era de condição divina, não quis ter a exigência de ser posto ao nível de Deus. Antes, a Si próprio Se despojou, tomando a condição de escravo…» (Flp 2, 6-8). A Auto-realização é uma consequência duma tarefa e vivência e nunca um fim em si mesma.


“Não é a auto-realização que opera o verdadeiro desenvolvimento da pessoa – um dado que hoje é proposto como modelo da vida moderna, mas que pode facilmente mudar-se numa forma de refinado egoísmo. Bento XVI já antes dizia: “faz-se uma espécie de terapia ocupacional; procura-se para cada qual um grémio ou pelo menos alguma actividade na Igreja… Não precisamos duma igreja mais humana, mas sim duma mais divina, então ela também será verdadeiramente humana.” O papa, afirma com os padres da Igreja: ”Deus fez-se Homem para que o Homem seja divinizado”.

„Não são as palavras que contam, mas o agir, os actos de conversão e de fé…. Agnósticos que, por causa da questão de Deus, não encontram paz e pessoas que sofrem por causa dos seus pecados e sentem desejo dum coração puro estão mais perto do Reino de Deus de quanto o estejam os fiéis rotineiros, que na Igreja já só conseguem ver o aparato sem que o seu coração seja tocado por isto: pela fé.”

Expressou também o sofrimento dos cristãos que são hoje os mais perseguidos e intolerados no mundo: “Às vezes sentimo-nos como que sob uma prensa, à semelhança dos cachos de uva que são completamente esmagados. Mas sabemos que, unidos a Cristo, nos tornamos vinho generoso”.


Uma sociedade extremamente masculina que impôs a masculinidade também à mulher revela-se especialmente agressiva contra uma igreja onde a feminidade é guardada a nível de fé.

O momento histórico que momentaneamente se atravessa não é o mais propício a reformas profundas. O Papa aposta primeiro na reforma das mentalidades, na vivência da fé e critica os dignitários que não se guiam pelo espírito de serviço e amor.


Se a terra precisa do seu húmus  também a comunidade precisa do seu húmus e este é a humildade. Bento XVI explica: “a humildade é uma virtude que no mundo de hoje e, de modo geral, de todos os tempos, não goza de grande estima. Mas os discípulos do Senhor sabem que esta virtude é, por assim dizer, o óleo que torna fecundos os processos de diálogo, possível a colaboração e cordial a unidade. Humilitas, a palavra latina donde deriva «humildade», tem a ver com humus, isto é, com a aderência à terra, à realidade. As pessoas humildes vivem com ambos os pés na terra; mas sobretudo escutam Cristo, a Palavra de Deus, que ininterruptamente renova a Igreja e cada um dos seus membros.”


Apesar de todas as tempestades da história, a barca de Pedro tem-se mantido firme sobre as ondas do tempo e revela-se como a garante da continuidade desde os primórdios do cristianismo até á actualidade. Há que ser optimista e viver a alegria!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

(1)      É verdade que o Papa funciona como uma espécie de constituição ou como o tribunal constitucional da Igreja. A sua preocupação não é muitas vezes a do padre que trabalha in loco. Aqui dá-se o encontro do pastor com a consciência individual pressupondo-se compromissos (casuística) que a nível de constituição não estão previstos (comunhão a separados, preservativo, não podendo tratar todos os divorciados da mesma maneira. Há muitos que sofrem sob o amor quebrado). A misericórdia é um característico cristão que abre muitas perspectivas pastorais.


(2)      Apenas um reparo sobre a hipocrisia do mundo: os pares querem fidelidade sexual e acham mal que o papa a exija. Críticos acusam o Papa de ser monarca ao escolher os seus ministros e aceitam como natural em democracia que o primeiro-ministro escolha os seus ministros. O discurso público não conhece a sabedoria cristã, apenas a sua moral ou os seus aspectos folclóricos. Para mais a sexualidade é um pequeno ponto entre muitos outros. As pessoas perdem-se nas proibições.