A EUTANÁSIA E A MORTE ORGANIZADA

Ponderações sobre o Suicídio assistido

António Justo
Fala-se da “eutanásia ativa” e da „eutanásia passiva”. A “eutanásia ativa” implica a opção pela morte individualmente deliberada por um enfermo incurável e assistida pelo médico que, a pedido do paciente, lhe prepara um cocktail mortal (“suicídio assistido”).

Na “eutanásia passiva” são interrompidas as acções que tenham por fim prolongar a vida. O paciente pode determinar não querer a utilização de instrumentos nem medidas de prolongação da vida Este prática já é muito comum em pacientes de estado terminal. O alívio do sofrimento torna-se prevenção contra suicídio e ajuda a evitar o desespero da vida e possibilita a assistência espiritual. No processo da morte, moribundos chegam a ter momentos de alegria e felicidade e momentos de desespero.

Os defensores do “suicídio assistido” costumam argumentar com o direito do indivíduo à autodeterminação e alegam querer evitar situações “sem qualidade de vida”.

Na Alemanha é proibido o suicídio assistido. A maioria dos filiados nos partidos da União CDU/CSU é contra o suicídio assistido; defende a medicina paliativa em que se receitem analgésicos (contra a dor) mesmo que indirectamente encurtem a vida. O SPD, partido da coligação, expressou a opinião de deixar espaço livre aos médicos em questões terminais (situações limite). O partido os Verdes protagoniza a liberdade de decisão e em casos especiais estende-a também a familiares e pessoas mais próximas. Muitos parlamentares dos vários partidos são de opinião que é suficiente a melhoria dos cuidados paliativos no hospício.

O Porquê do não à Eutanásia

A liberdade de autodeterminação no suicídio (porque só no fim da vida) não parece ter lógica. A razão não pode justificar o direito de matar ou de morrer. Além disso, o ser humano é ele e as suas circunstâncias e estas podem conduzi-lo ao medo de ficar só, de se tornar num fardo para outros, de se encontrar num momento depressivo e deste modo ser motivado a desejar a morte, num determinado momento. É problemático argumentar, em nome da autodeterminação, porque esta tem sempre a ver com as circunstâncias… Os momentos de dificuldades não são os melhores conselheiros para se tomarem decisões irrevogáveis.

A ajuda ao suicídio não pode ser uma missão do médico nem é uma questão a ser organizada a nível de negócio. A ética médica tem em conta o juramento de Hipócrates, que se compromete a defender e preservar a vida; eutanásia é homicídio e como tal fora do âmbito da ordem dos médicos. A Ordem dos Médicos alemã, numa tomada de posição a 12.12.2104 declarou repudiar veementemente o suicídio assistido por médicos. A sua conduta é a orientação pela “ regulamentação profissional dos médicos que diz que é dever dos médicos preservar a vida”. Só a vida, a saúde tem de ser protegida e restaurada, o sofrimento deve ser aliviado e praticada a assistência aos moribundos.

Há casos de consciência em que o médico se pode encontrar num dilema mas que não pode ser solucionado com uma lei porque uma “excepção normalizada” poderia tornar-se regra, como advoga o actual ministro da saúde na Alemanha.

A religião é contra o suicídio assistido porque considera a vida como um dom sagrado. Para o cristianismo o ser humano não se deixa reduzir à biologia nem a sua vida pode ser deliberada pelo Estado nem por qualquer instituição. De facto a eutanásia é um acto contra a natureza e inclui também o perigo da industrialização da morte e do distanciamento familiar. A mentalidade economicista em via e a maneira como já se tratam os reformados não deixa pressupor o melhor desenvolvimento no sentido humano.

Nenhuma diagnose é segura, há sempre pessoas que apesar de diagnosticadas de doença mortal se restabeleceram. A eutanásia é decisiva e não deixa lugar para rever a decisão tomada no caso de condições mudarem.

As pessoas são manipuláveis pelo ambiente e pelo espírito do tempo. Vivemos numa sociedade utilitária que cada vez mais avalia tudo em relação aos custos. No nacional-socialismo tornou-se comum a destruição de “vida inútil”. Pessoas deficientes, operações a partir dos 70 passam a ser encaradas sob a perspectiva utilitária. O nacional-socialismo de Hitler determinava o que era digno de vida e o que não.

Morrer é um processo natural. Morrer dignamente não precisa de suicídio assistido.

Já o Antigo Testamento considerava a vida como oferta de Deus (Gen 2,7) e recomenda: “não deves matar (Ex 20,13). A maneira como se tratam doentes e moribundos é um indicador do grau da civilização de um povo. “Nunca é lícito matar o outro: ainda que ele o quisesse, mesmo se ele o pedisse (…) nem é lícito sequer quando o doente já não estivesse em condições de sobreviver” (Santo Agostinho in Epístola).

Não se tem o direito de decidir sobre vida ou morte. O tabu da morte serve o respeito e a protecção da vida como um direito fundamental das pessoas. A licença para matar viria da barbaridade que veria a morte como último remédio.

Há pessoas habituadas a mestrear toda a sua vida e querem determinar também o seu momento de morrer. Muitos defendem que uma motivação religiosa não dever ser alargada a toda a população. A decisão sobre a vida não é da competência de nenhuma instância humana, pelo que não deveria ser legalmente privatizada nem deixada a nenhuma instituição.

Quem assiste pacientes terminais de casos muito difíceis, sente-se, muitas vezes, desafiado e indefinido. Por trás de cada posição encontra-se um juízo de valor. Não há soluções definitivas, há que viver com a morte…

Um Testemunho pessoal

O teólogo Hans Küng, que sofre de Parkinson, defende o direito à eutanásia no fim da sua vida. “Eu assumo a minha responsabilidade para o meu morrer na devida altura, uma responsabilidade que ninguém me pode tirar… Deus oferece-me a graça, assim espero eu, de reconhecer o verdadeiro momento; o mais tardar seria para mim, certamente o início duma demência”. Küng considera a vida como um dom de Deus mas ao mesmo tempo, segundo a vontade de Deus, a vida é uma missão do Homem e, como tal, também na sua última etapa. “Ninguém deve ser incitado a morrer mas também não deve ser obrigado a viver” ( Hanns küng em “Menschenwürdig sterben von 2009”). É uma questão reservada á consciência da pessoa. A crença na vida eterna para lá do espaço e do tempo não precisa de se preocupar com o prolongamento da vida temporal.

O médico e o padre podem acompanhar o desejo de morrer. Não é sua missão julgar nem condenar mas assistir. Temos que viver com a incerteza. Informação venha ela de onde vier é também manipulação.

O Negócio com a Morte

Países baixos, Bélgica, Suíça tornaram-se em países do turismo da morte. Forças económicas dos países vizinhos olham com inveja para estes países.

Há grupos que fazem negócio com a vida prolongando-a e outros encurtando-a.

É perverso, querer fazer-se um negócio sob o desígnio da humanidade e de defender a dignidade humana. A propaganda vem mais de organizadores da eutanásia que ganham dinheiro com ela. Se o seu motivo não é económico mas humanista então porque o não fazem gratuitamente.

A meta não deveria ser uma morte humana mas uma vida humana. Numa época em que a eutanásia é idealizada, a organização do suicídio assistido torna-se trágico.

Conclusão

O teólogo Küng não defende o suicídio assistido mas reserva-se para si o direito de assumir a responsabilidade da sua morte no momento oportuno. É contra a recusa absoluta de toda a eutanásia e contra a arbitrariedade do morrer; opta por um meio termo que segundo ele se funda na fé pessoal. Küng, como cristão responsável, fala por si e não em nome da instituição.

A Igreja petrina, pelo seu caracter constitucional, não pode ser pela eutanásia. A nível pastoral, sabe que a vida é oferta, uma dádiva a ser cuidada e desenvolvida e não encurtada nem reduzida a uma simples ideia sobre ela, mas conhece também o princípio da ética cristã: o último juiz em questões de decisão na terra é a consciência individual da pessoa.

Os textos sagrados não se perdem na lógica; permitem a contradição. Se fossem lógicos limitar-se-iam ao caminho da ciência. Assim podem-se dedicar às verdades eternas através da fé. Esta é dom que permite navegar noutras esferas que não as do dia-a-dia demasiadamente determinadas pelo utilitário.

Não é fácil nascer nem é fácil morrer; nos segredos da existência só Deus e a própria consciência!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

António Justo
O Dia Internacional da Mulher pretende fortalecer a luta por melhores condições de vida e trabalho e igualdade de direitos sociais. É um testemunho da injustiça reinante no trato entre o género masculino e o género feminino.

GRANDE MAIORIA PARLAMENTAR ALEMÃ FORTALECE A POSIÇÃO DAS MULHERES NAS CHEFIAS

O Parlamento decidiu uma quota de 30% para mulheres nos conselhos administrativos de empresas cotadas na bolsa. A lei aplica-se a partir de 2016.

Cerca de 100 empresas terão de eleger 180 mulheres. Alguns empresários consideram a lei um envolvimento na liberdade empresarial.

Esta é a vantagem de uma coligação dos partidos da maioria (neste caso a coligação CDU/CSU-SPD): conseguir publicar leis que um governo só de SPD e esquerda ou de CDU e CSU não conseguiriam.
A lei tem um caracter simbólico no sentido de mudar hábitos e condições sociais.

Observa-se uma mudança cultural e um sinal para os direitos da mulher a nível mundial.
A presença de mulheres nos andares superiores das empresas tornar-se-á mais visível.

ESTERILIZAÇÃO DE 5 MILHÕES DE MULHERES POR ANO NA ÍNDIA

Na índia morreram 12 mulheres depois da sua esterilização num hospital no âmbito de um programa grátis de planeamento familiar. Outras 30 encontram-se em perigo de vida. Um só médico terá esterilizado 80 mulheres no mesmo dia. O governo fomenta o programa de esterilização de mulheres porque para homens é tabu.

Anualmente são esterilizadas 5 milhões de mulheres na India. As autoridades oferecem prémios para mulheres que se submetem à esterilização. A índia tem 1,2 mil milhões de habitantes.

MULHERES EUROPEIAS ALISTAM-SE PARA O JIHAD NA SÍRIA

O Jihad atrai mulheres muçulmanas para o combate na Síria ao lado dos “mártires” jihadistas na luta pela formação de um estado islâmico. Da Inglaterra encontram-se 60 mulheres e meninas jovens em combate ao lado dos jihadistas na Síria e no Iraque .

Os terroristas louvam o papel das mulheres de um mártir, através de redes sociais e de contactos pessoais junto de jovens. Estes não estão preparados para a argumentação dos salafistas e outros extremistas tornando-se suas vítimas fáceis. Os salafistas assumem, neste sentido, um papel preponderante.

Muitos jihadistas usam as Companhias Aéreas Turcas para ou a Turquia para chegarem à Síria e ao Iraque.

Segundo informação das autoridades alemãs 11% dos 600 muçulmanos de nacionalidade alemã a combater no “Estado Islâmico” são mulheres. 75 islamistas alemães já morreram na Síria e no Iraque.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

O IMPOSTO PARA A IGREJA NA ALEMANHA (“KIRCHENSTEUER”)

Muitos imigrantes não acham muito católico terem de pagar imposto para a Igreja

António Justo

Na Alemanha, Áustria e Suíça, os membros das comunidades religiosas pagam um imposto para financiarem as despesas e encargos das suas confissões religiosas. Estas assumem na Alemanha tarefas sociais de assistência social e caritativa em hospitais, lares de terceira idade, jardins infantis, assistência a estrangeiros, desfavorecidos sociais, etc.

Na Alemanha, um casal com um rendimento de 3.000 € por mês (classe de impostos III/2) está isento do imposto para a Igreja. Apenas cerca de um terço dos fiéis católicos estão sujeitos ao pagamento do referido imposto.

O levantamento do imposto da igreja ou da religião tem como base o imposto sobre o rendimento ou o imposto sobre o salário e é cobrado pelas autoridades fiscais dos respectivos estados federados. Historicamente tem também uma componente de compensação aos bens que a Igreja perdeu aquando da secularização. Além disso uma certa coabitação de estado e igreja têm concorrido para o maior desenvolvimento da Alemanha. A mentalidade dos alemães dá grande relevância ao bom funcionamento da sociedade não tendo problema em contribuir para o bom funcionamento das instituições, enquanto a mentalidade latina aponta mais para os direitos individuais.

Em 2012, o Tribunal Administrativo Federal alemão decretou que não é possível deixar de pagar o imposto para a igreja e ao mesmo tempo permanecer na comunidade religiosa.

Um ponto muito criticável da sentença do tribunal está em não fazer distinção entre a “comunidade de fé Igreja Católica na Alemanha” e a “sociedade de utilidade pública Igreja Católica na Alemanha”. De facto, o que determina a qualidade de cristão é o baptismo e não a pertença a uma corporação de utilidade pública. A Alemanha ao determinar que é o país (Alemanha) e o estatuto associativo que determinam, a categoria de católico, protestante, judeu, etc. atribui-lhe um estatuto com encargos económicos que de si não deveriam ser automaticamente vinculativos para a exclusão da confissão religiosa.

Teologicamente e sob o ponto de vista católico global, as instituições cristãs na Alemanha cometem o pecado de simonia (Actos dos Apóstolos 8,5-24) ao condicionarem a pertença à comunidade religiosa com o levantamento de imposto (a católicos, protestantes, judeus, etc.). Simonia é a compra ou venta do espiritual com bens materiais. Vem do facto de Simão Mago querer comprar o poder de fazer milagres, que terá observado nos apóstolos.

O dever de pagar imposto, que fica entre 8 e 10% do imposto que se paga para o Estado, acaba só ao abandonar a igreja. O estado entrega à respectiva instituição religiosa os correspondentes impostos levantados aos fiéis. Por direito consensual eclesial, a desvinculação da repartição dos impostos não deveria implicar a saída da Igreja. Por estas e por outras abandonam, anualmente, mais de 100.000 pessoas a Igreja. Em 2013, a Igreja Católica recebeu cerca de 5,5 mil milhões de euros de impostos dos seus fiéis e a Igreja Evangélica cerca de 4,8 mil milhões de euros.

Inscrição de cristãos estrangeiros na “Loja do cidadão”

O imigrante ao registar-se na repartição de registo (Anmeldeamt) da cidade (“loja do cidadão”) vê-se confrontado com a pergunta, do funcionário público, sobre a confissão religiosa a que pertence.

O funcionário não deveria perguntar, se o cidadão imigrante pertence a esta ou àquela religião mas sim se pertence a esta ou àquela instituição religiosa alemã! A resposta “sou católico ou baptizado” não deveria incluir a sua inscrição automática na sociedade católica de utilidade pública alemã. Nos países de proveniência dos estrangeiros não há a prática de se cobrar impostos para fins de culto. O imigrante que queira ficar isento do imposto pode responder que não pertence a “nenhuma „ confissão, isto é, “Konfessionslos”. O problema surgirá posteriormente no caso de vir a precisar de um certificado para efeitos de casamento religioso.

Muitos cristãos estrangeiros querem apoiar a igreja mas a título voluntário de oferta; alguns preferiam patrocinar a igreja da sua terra com alguma oferta e não a alemã por constatar que a sua igreja natal é bastante pobre. Também vêem a possibilidade de frequentar o serviço religioso e apoiá-lo com ofertas. A saída da igreja alemã não pode significar o abandono da Igreja a nível mundial.

Vozes críticas vêem na cobrança dos impostos pela repartição de finanças uma demasiada ligação entre estado e confissões religiosas. Também criticam a dedução fiscal ilimitada das confissões religiosas, dos partidos e dos sindicatos como uma subvenção indirecta do estado.

Há grupos cristãos na Alemanha que criticam o levantamento dos impostos por parte do estado, vendo nisso também um certo comprometimento entre estado e igreja e consequente compromisso nas injustiças ligadas ao sistema de impostos; além disso o dinheiro fomenta o demasiado poder da burocracia eclesiástica sobre a igreja não se verificando grande motivação de muitos funcionários da igreja no empenho pessoal.

A Conferência dos Bispos da Alemanha estabeleceu que os católicos que façam declaração na repartição de finanças de não pagarem imposto para a Igreja (abandono da Igreja), são excluídos dos sacramentos da Igreja e impedidos de assumir cargos eclesiásticos (em vigor a partir de Setembro de 2012).

Neste caso, se se entender o “abandono da Igreja” com a declaração de recusa a pagamento de imposto para a Igreja, seria latente o pecado de simonia. Como teólogo católico, reconhecendo muito embora o alto e qualificado serviço que a instituição católica e protestante prestam à sociedade alemã e aos mais desfavorecidos também em muitas nações, sou de opinião que a prática de impostos vigentes na Alemanha, com o automatismo de exclusão que representa, não encontra fundamento na dogmática da igreja nem no direito canónico. Mais ainda,tal prática atenta contra a doutrina da Igreja e motiva muitos cristãos a abandonarem a Igreja para não pagarem o referido imposto. Mesmo uma ponderação cuidada entre o imenso bem que as bênçãos do dinheiro acarretam e o mal espiritual individual que podem originar teria como consequência cristã a opção pelo bem espiritual individual. Uma solução compatível seria a continuação do levantamento do imposto mas sem consequências religiosas para quem declarasse não pagar o imposto.

A frequência da paróquia ou “missão católica” não só tem vantagens espirituais como vantagens de exercício e formação social, ajudando o imigrante na inserção na sociedade e criando a possibilidade, também para crianças, de se exercitarem em grupos, assumir responsabilidades com tarefas perante a comunidade, criação de novas amizades e terem direito a determinadas festas para elas. A espiritualidade é um bem que contribui para o desenvolvimento de uma personalidade autónoma. Independentemente da crença de uma pessoa deve ter-se em conta os ritos de integração social muito necessários para uma criança e também uma das oportunidades para a pessoa de se realizar como sujeito social.

O problema da sobrecarga económica através do imposto é nulo ou insignificante para a grande maioria dos fiéis; quem paga bastante são as firmas grandes ou quem ganha muito acima do normal.

Quanto se paga para a Igreja

No link http://www.steuer-forum-kirche.de/kist2014.html#_Toc378331673 pode ter informações exactas sobre o Imposto da Igreja, donde traduzi algumas informações que se seguem.

Exemplo 1
Um empregado com um salário mensal bruto de 3.500 €, casado com dois filhos (classe III/2) pagou no ano 2014 mensalmente 328,83 € de imposto para as finanças e 5,14 € de Kirchensteuer (imposto para a Igreja). De notar que a quantia paga para a Igreja pode ainda ser reduzida, no ajustamento de impostos, ao ordenado bruto a ser sujeito a impostos.

Exemplo 2 – Quem paga e quanto paga de imposto para a Igreja
Salário mensal brutto Solteiro

 

Salário mensal brutto SolteiroClasse de impostos I CasadoClasse de impostos III Casado1 FilhoClasse de impostos III/1 Casado2 FilhosClasse de impostos III/2

2.000 €

18,84 €

2,36 €

0,0 €

0,0 €

3.000 €

41,31 €

19,85 €

7,79 €

0,0 €

3.500 €

53,91 €

29,59 €

16,43 €

5,14 €

4.000 €

67,42 €

39,78 €

26,02 €

13,10 €

Sem contar o desconto de despesas especiais nos termos do § 10 par. 1, n°. 4 EStG. Aqui ainda há outros encargos que se podem fazer valer no ajustamento de impostos e que reduzem os impostos a pagar.
Também pessoas com salário mínimo, ou que o não atinjam, estão isentas de pagar imposto para a Igreja.
Dos 16 estados federados alemães, há 8 estados que determinam o pagamento de um mínimo de 1,8 euros ou de 3,6 euros por ano. Os restantes 8 estados não exige nenhum mínimo.
A tradição do imposto começou propriamente no século XIX e em 1919 foi incluída na Constituição (Weimer).
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

IDEIAS – FACTOS – REFLEXÕES

Punhos cerrados, Pobreza na Alemanha, Real Madrid e a Cruz, Aloquetes do Amor, Rotação, Democracia, A quem serve o sistema

António Justo

A ROTAÇÃO DO ENGANO PARCIAL NO TEMPO TOTAL

O governar, mais que ao andar, assemelha-se ao marchar: “esquerda”- “direita”… à direita rodar…

Imagine-se o que seria do andar se pretendesse marchar só com a direita ou só com a esquerda. A resposta seria fácil de imaginar.

Talvez, por estas e por outras, dizia Abraham Lincoln: “Pode-se enganar uma parte do povo, e todo o povo por algum tempo. Mas não se pode enganar todo o povo o tempo todo.”

Moral da história: entrem todos nos partidos para que não se cansem tanto a gritar e sintam mais a satisfação do marchar; aqueles que pensam que só a esquerda ou a direita caminha perguntem-se a razão de terem dois pés. Quando a caminhada é íngreme não seria mal uma coligação amistosa dos dois!

DEMOCRACIA DO POVO OU DITADURA DO MERCADO?

Segundo uma investigação, levada a efeito na Alemanha pelo instituto infratest dimap, 60% dos alemães são da opinião que não há uma verdadeira democracia devido à influência da economia na política, devido ao facto de a economia ter mais influência no Governo do que o cidadão eleitor.
Por estas e por outras, a União Europeia encontra-se com dores de parto na Grécia e noutros países da zona euro.

Um aspecto positivo e calmante das eleições gregas está no facto de se verificar, que em casos extremos, o povo pode provocar, por momentos, um susto no sector da economia e da política, de modo a torná-la mais reflectida e moderada. Isto se a cultura mercantilista e utilitarista não conseguir entretanto lavar o cérebro a todos os cidadãos.

Tudo isto não facilita a decisão do cidadão: ter a possibilidade de escolha entre a cólera e a peste.
Só uma ruptura com hábitos e ideologias conseguirá superar a situação para se entrar numa mudança já não de alternativa mas de inclusão; encarar, de frente, o bem e o mal que se encontra no próprio sistema e em sistemas alternativos e elaborar uma nova prática social. Sem sofrimento não há evolução, ele é a outra parte da felicidade… Assim haveria a possibilidade de superar o dilema. Naturalmente, isto faz parte do sonho, mas sem ele a humanidade não sorriria.

A possibilidade de escolha consciente encontra-se só na capacidade da sociedade para se mudar e regenerar a si mesma; não a nível de instituições ou posições políticas mas num processo social e intelectual que as surpreende sempre e de novo, porque encerradas numa visão partidária em estratégia de afirmação polarizante perante o outro e perante o povo. Por isso será imensamente necessário estar-se atento às críticas e advertências de pessoas não totalmente integradas num sistema. Na dúvida e por outro lado na esperança se encontra a mistura do combustível que provoca o desenvolvimento. Partidos e políticos encontram-se atrás do desenvolvimento, discutem ainda os problemas e suas soluções na própria perspectiva; numa perspectiva que só vê o que procuram (em determinada perspectiva de determinados corifeus da economia e do saber).

Por isso o espírito democrático se encontra em erosão. A luta seria de realizar-se a nível de conceitos económicos e sociais equacionados em programas concretos e não numa luta por interesses coloridos, que evita apresentar o âmago do que se trata em política e economia. Um outro critério do agir político deveria prever até que ponto os programas deixam ressaltar e fomentar democracia e em que medida o progresso serve o Homem e a democracia. Concretizando: é urgente passar da discussão ideológica para a discussão cultural e económica. É verdade que povo quer festinhas e quem se ocupa de temas sérios não tem grande chance, isto sabem-no bem os políticos e por isso actuam, muitas vezes oportunisticamente e orientam a discussão para temas de discurso controversos mas inofensivos para entreter jornalistas e com eles a massa. As rupturas imprescindíveis e sucessivas a nível sociológico possibilitam o desenvolvimento porque resultam do desenvolvimento da consciência popular e não de interesses institucionais (os lucros). Quanto às possíveis roturas eleitorais pouca evolução permitem porque quando um governo dá um passo em frente à esquerda e um passo atrás à direita o outro dá um passo afrente à direita e outro atrás à esquerda. Assim a política, em vez de ser organizada em termos de conceito integral é-o em termos de pegadas, de modo a nunca satisfazer todo o povo racional. Entretanto, oque aconteceu na Grécia significa uma mais valia para a democracia (apesar da discussão de perspectiva partidária), demonstrando que, afinal de contas, o povo, quando acorda, é quem ordena. Já vimos isso em Portugal! A realidade porém ensina que o povo só ordena nas pausas da História. Depois surge o governo e interesses cruzados que ordenam o rebanho na sua direcção…

PUNHOS CERRADOS

Nestes tempos tristes de políticas e comentários azedos que se encontram por todo o lado na opinião pública e em especial em relação ao governo grego e ao governo alemão com a correspondente demonização injusta de pessoas, gostaria de deixar esta frase de Indira Gandhi: “Não podemos apertar as mãos se temos os punhos cerrados”!

A QUEM SERVE O SISTEMA?

A vida não tem emenda mas serve toda a gente. Uns vivem de palavras, outros do dinheiro e ainda outros do trabalho mal pago ou do maldizer.

Os gerentes de bancos e similares têm vencimentos e privilégios tao elevados, que perdem a capacidade de distinguir entre honestidade e corrupção (exemplo Victor Constâncio vice-presidente do BCE teve um vencimento de 325 mil euros em 2014, não contando com as ajudas de custo, subsídios e abonos); também consta que a presidência da república portuguesa é mais cara que monarquias (não só por ter de continuar a manter muitos presidentes da república com privilégios injustificáveis num sistema transparente)! Uma coisa que desde o 25 de Abril me questiono: porque é que os partidos que se dizem do lado do povo, quando ocupam lugares de posição não dão testemunho de fidelidade à ideologia renunciando consequentemente a ordenados altíssimos que os desautorizam porque colocados ao lado dos capitalistas que criticaram (pior ainda, os lugares que ocupam devem-nos por vezes à crítica que fizeram aos que viviam demasiado bem à custa do povo).
Naturalmente! O cidadão, se tiver vergonha, não diz nada porque foi ele quem os lá colocou e, para ajudar a lógica, em grande parte em nome do socialismo que com palavras pretende defender o povo e com obras e regalias faz tudo por não ser povo e acompanhar os grandes.

Quanto à Grécia como à Troika são casos perdidos devido à corrupção em que navegam e aos interesses que têm servido! Se a Grécia vivesse de palavras não teria pobres! Bastava-lhe aquecer-se ao calor das declarações do seu governo e ao crédito das palavras de seus apoiantes no estrangeiro! Gatunos e rapinados formamos, todos juntos, o sistema que nos serve e escraviza. Tudo anda consolado, uns com o dinheiro, outros com o trabalho e ainda outros com a crítica que fazem. Afinal não há razão para revoluções porque delas só se aproveitam alguns e, na realidade, todos somos ricos quando não de dinheiro pelo menos das razões que temos! Resta a pobreza de espírito! A Europa mais pobre precisa de um Marsahl Plan e a sociedade uma nova mentalidade.

ALOQUETES DO AMOR

A respeito do dia dos namorados (14 de Fevereiro)! Neste dia, em muitos países, os namorados e apaixonados querem perpetuar-se e para tal costumam colocar “aloquetes (cadeados) de amor” nas grades das pontes. Esta prática romântica traz os seus inconvenientes! Só em Paris encontram-se 700.000 aloquetes dependurados enquanto as chaves se encontram lançadas no seio do rio Sena.

700.000 aloquetes dão muitas toneladas de metal e constituem uma atracção também para ladrões do metal. Em Paris, como em tudo, há gente a favor e gente contra os cadeados. Moscovo encontrou uma solução para não estragar as grades das pontes: mandou fazer árvores de metal onde os namorados podem colocar os seus aloquetes de amor.

Quanto a mim não tenho nada contra os aloquetes de amor, o que me preocupa é não encontrar remédio contra a ferrugem!

OPINIÃO

Victor Hugo dizia:”Quem não é senhor do próprio pensamento, não é senhor das próprias acções.”

Jeanne Roland afirmava: “O fraco treme diante da opinião pública, o louco afronta-a, o sábio julga-a, o homem hábil dirige-a”.

Eu diria: “A opinião é livre se regada pelos sentimentos mas só o sol do pensamento a fará crescer. Reconheço opiniões boas mas não faltam as melhores. Ao definir só alargo a cerca do meu jardim.” in Poesia António Justo, http://canais.sol.pt/blogs/ajusto/default.aspx

O REAL MADRID TIROU A CRUZ DO SEU SÍGNO

Devido a um contrato com o Banco Nacional de Abu Dhabi, o Real Madrid tirou a cruz do seu símbolo para não ofender os muçulmanos! Por este andar o Deus dinheiro e Alá serão os que permanecerão e o medo será a diretriz do agir.

O processo da descristianização encontra-se em pleno progresso através de interesses ideológicos, estratégias de mercado e justificação de um mundo lobo. Bruxelas tem os seus interesses e a influência árabe é usada com alibi para se tomarem medidas contra tradições cristãs. Nestas coisas não se emprega a lei da reciprocidade. A civilização ocidental, fruto da amálgama de judaísmo, filosofia grega, administração romana e ética cristã, encontra-se num processo de autoagressão ao atacar o Cristianismo que lhe dava coesão. A UE por consideração com os muçulmanos e os ateus não quer cruzes nas escolas. Em Portugal a esquerda baniu-as das escolas por decreto.

Na Alemanha isso torna-se mais uma questão de direito dos pais decidirem em cada escola. Em Portugal, os movimentos anticatolicismo, activos desde as invasões francesas, encostaram-se ao Estado tendo nele grande influência, continuando o povo a ser mantido à margem, e dependente do que os grandes decidem. Por isso bastou uma ordem ministerial para impor uma medida sem ser discutida pelo povo.

POBREZA DE GENTE COM TRABALHO NA ALEMANHA

Na Alemanha, segundo as estatísticas, relativas a 2013, há 3,1 milhões de empregados com um ordenado abaixo do limiar da pobreza. Os 3,1 milhões tinham um ordenado mensal inferior a 979 €. Isto significa uma subida de 25% em relação a 2008.

O projecto da UE encontra-se em crise porque tem favorecido em demasia os capitalistas à custa da generalidade popular. Infelizmente a UE é, como o mundo, um carrocel que viaja em diferentes tempos e diferentes velocidades, causando enleamentos e choques. E o problema também vem do facto de quem arrecada ou ganha mais não parecer predisposto a diminuir os seus ingressos!
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

O UIVAR DOS LOBOS EM TORNO DA ACRÓPOLE

Na Esperança do Zé do Telhado

António Justo

Independentemente de interesses nacionalistas e de posições partidárias em relação à economia da UE, Bruxelas deveria criar um imposto de solidariedade em benefício dos países de economia fraca, tal como fez e faz a Alemanha em benefício da antiga Alemanha de leste, que se encontrava em situação pior que a Grécia; só o investimento produtivo poderá diminuir as diferenças. O que a Alemanha unida não conseguiu fazer, dentro dela em 25 anos, não o conseguirá a UE em relação aos países da margem em 50 anos. Enquanto os povos de toda a Europa não notarem que a guerra dos especuladores financeiros em conivência com os Governos é contra os povos serão estes explorados em favor das instituições.

Na discussão, em torno da Grécia e das suas dívidas, são notórios os timbres das vozes da noite; tudo fala com opinião segura, como se fosse tão fácil governar um Estado como seria governar uma casa.

A UE tornar-se-ia credível se executasse uma política em favor dos povos e não só a favor das instituições. A nível de nações seria necessário um governo de salvação nacional onde os interesses partidários e as ideologias fossem postos de lado para se encontrarem soluções orientadas apenas pelo bem-comum. Enquanto uma opinião pública coitadinha reagir como reage as personalidades representantes das instituições continuarão a justificar a política de cúpulas de Bruxelas e a justificar grupos marginais que apostam em políticas de “Zé do Telhado”. Actualmente não é possível uma discussão objectiva porque cada pessoa investe demasiado capital na sua opinião.O aspecto positivo de que a Grécia se pode gloriar é ter chamado a atenção para a política unilateral da troika, uma política contra o povo e a favor das instituições.

Quanto à Grécia a Alemanha tem de aceitar um compromisso podre porque se a Grécia saísse do Euro a Alemanha perderia os 60 mil milhões de Euros que lhe emprestou. Portugal emprestou 1,1 mil milhões de euros. De recordar que o perdão de metade da dívida grega em 2012 (de 100 mil milhões de euros), então nas mãos de privados, prejudicou bancos portugueses: o BCP e o BPI perderam então 590 milhões de euros. Por outro lado, os problemas das instituições bancárias são saldados com o dinheiro do contribuinte.

O problema do Euro vem das diferentes economias e diferente produtividade entre os diferentes países e regiões e da diferente distribuição das empresas produtivas. Um mesmo euro forte para todas as economias discrimina as economias mais fracas. Por isso, como alguns ecónomos defendem, os países com pouca competitividade deveriam ter ao mesmo tempo o euro e a moeda nacional (euro, dracma, etc.); deste modo, estes poderiam dar resposta às diferentes economias e concorrer com os países fortes porque teriam a moeda interna com que regulariam o mercado interno de maneira aferida ao país; deste modo quem quisesse consumir produtos importados teria de pagar muito mais e os países mais fortes teriam mais dificuldade em exportar porque os seus produtos seriam mais caros

Falta uma discussão séria com propostas de programas realistas e construtivos para se conseguir uma UE menos injusta. Falta a vontade política para tal; disso e dos programas económicos é que valeria a pena falar. Por vezes tem-se a impressão que um sistema financeiro falhado procura adiar a sua queda lambendo as feridas de uns e outros. De resto, quanto mais se ergue a garganta ao céu para lamentar a situação, mais a injustiça pode agir desapercebidamente!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-Justo

Passo a apresentar dados que, ao lado de outros, poderão ajudar a rejuvenescer opiniões. “A Grécia já tem condições muito melhores do que Portugal ou a Irlanda – prazos mais dilatados, melhores juros, carência no pagamento desses juros. O resultado é que enquanto nós, com uma dívida proporcionalmente muito mais baixa (127% do PIB contra 180%), pagamos o equivalente a 5% do PIB em juros, a Grécia pagará entre 2,5% e 3,6%. Ou seja, a dívida grega é maior mas pesa-lhes menos. E isso é que conta. Mais: não somos só nós que, proporcionalmente, suportamos uma carga de juros superior à dos gregos, os italianos e os irlandeses também estão na mesma situação.” José Manuel Fernandes

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Estou farto do choradinho dos desgraçadinhos dos gregos
• Por José Manuel Fernandes – 14/2/2015, 19:39
Os problemas da Grécia não começam agora no Syriza nem acabarão com o Syriza. São problemas antigos, entranhados, que fazem do país um corpo cada vez mais estranho numa união monetária como o euro.
Escolho algumas frases quase ao acaso. Frases de uma espécie de “discurso único” sobre a Grécia em que esta é sempre apresentada como vítima. Vive-se “uma grave crise humana”, escreve-se na carta que 32 personalidades enviaram ao primeiro-ministro. E, claro, não há razão para qualquer “discurso punitivo”, a Grécia não tem culpa de nada. A chanceler Merkel, como sentenciou Mário Soares, é que a “responsável principal pela desgraça da Grécia “. Tudo por causa de “uma política destruidora”, explicou de seguida o professor Louçã, como agora é apresentado. E, também, por causa do “delírio especulativo” que criou “uma pilha de dívida”, algo que se aplica certamente a um país onde 80% da dívida é hoje detida pelos seus parceiros europeus, país que também paga as menores taxas de juro e até beneficia de um período de carência. Claro que tudo isto coincide e reforça o que Alexis Tsipras diz que sempre que tem um microfone pela frente: “devastaram o Estado” e “criaram uma enorme crise humanitária”. Quem o ouve diria que fala do Darfour.
Este discurso é cansativo e unilateral. Pode parecer muito piedoso, mas acabará por não ajudar a Grécia no longo prazo. E obscurece o tema que devíamos estar a debater: pode uma zona monetária com uma moeda como o euro fazer conviver no seu interior, sem constantes sobressaltos, crises e tensões, países tão diferentes como a Grécia e a Holanda, ou Portugal e a Finlândia?
É por isso que é importante contrariar este “discurso único” e, sobretudo, desmontar muitos dos mitos que o alimentam.
1. O primeiro mito é que a Grécia de hoje é a herdeira da Grécia da Antiguidade, a Grécia que devemos a nossa civilização e que inspirou a nossa democracia.
Esta ideia só muito parcialmente é verdadeira. A cultura grega clássica nasceu e cresceu numa região muito mais vasta do que a da Grécia actual. Basta pensar que, se de facto Sócrates, Platão ou Tucídides eram atenienses, Heródoto, o primeiro dos historiadores, era de Halicarnasso (hoje Bodrum, na Turquia); Arquimedes, o matemático, era de Siracusa, na Sícilia; Tales de Mileto, o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia, era de Mileto, hoje na Turquia; Heráclito, o “pai da dialéctica, era de Éfeso, igualmente na Turquia; Aristóteles era de Estagira, que fica hoje na Grécia mas que na época pertencia à Macedónia; Euclides, o “pai da geometria”, era de Alexandria, no Egipto; Pitágoras, o do célebre teorema, se nasceu na ilha grega de Samos, desenvolveu a sua escola em Crotona, uma povoação no sul de Itália; e por aí adiante.
Por outro lado, se pensarmos nas famosas sete maravilhas do mundo antigo, cinco deles pertencem indiscutivelmente ao mundo grego, mas dessas só duas, a Estátua de Zeus em Olimpo e o Colosso de Rodes, ficavam no que é a actual Grécia. Duas estavam no que é hoje a Turquia – o Templo de Ártemis em Éfeso e o Mausoléu de Halicarnasso – e a último no Egipto, o Farol de Alexandria.
A Grécia moderna tem menos de dois séculos, pois antes o seu território estava sob domínio otomano. Quando o país foi criado, havia uma tão radical ausência de ligação ao passado que foi preciso inventar uma família real. O nosso D. Pedro IV chegou a ser convidado para ser o primeiro rei da nova Grécia independente, mas como recusou o trono acabou por ser entregue a Oto da Baviera, filho de Luís I. Estávamos em 1832 e ele tinha apenas 18 anos.
A Grécia que hoje conhecemos nasceu assim por vontade das grandes potências europeias – Reino Unido, França e Rússia –, que a criaram na Conferência de Londres. Tudo para, algumas décadas passadas, voltar a perder a soberania, já que o país declarou bancarrota em 1983 (três anos depois de Portugal) e foi obrigado a ficar sob a tutela dos credores. Uma Comissão Financeira Internacional instalou-se em Atenas e passou a controlar directamente o orçamento de Estado. Era a troika desses tempos, mas com menos cerimónia e menos piedade: 10% da população acabou por emigrar.
A história lá prosseguiu, com momentos de glória e de tragédia, mais uma bancarrota em 1932, mas sempre com um traço distintivo, bem definido pelo historiador grego Nicolas Bloudanis: “na Grécia o Estado só funciona de forma intermitente”. Pior: “de cada vez que o Estado funcionou menos mal, tratava-se de um Estado autoritário onde as liberdades políticas e civis estavam limitadas. (…) Na memória colectiva grega o Estado é um Estado autoritário de que convém desconfiar”.
Foi este país que em 1974 saiu, tal como nós, de uma ditadura, mas que, ao contrário de nós, beneficiou desde o primeiro momento de uma espécie de “via rápida” para a adesão à então CEE. Alguns líderes dessa época, como o presidente francês Giscard d’Estaing, achavam que a Europa não seria Europa sem uma Grécia que viam como genuína herdeira da Grécia da Antiguidade Clássica. Foi ilusão que durou pouco tempo: fazendo jus à sua real natureza de país entre o balcânico e o levantino, a Grécia logo tratou de se opor à entrada de Portugal e Espanha, ameaçando com um veto que só foi ultrapassado quando Bruxelas enviou ainda mais dinheiro para Atenas. Um país solidário, portanto.
2. O segundo mito é que, se é verdade que os gregos cometeram erros e falsificaram as contas, toda a culpa da situação actual é dos alemães e das suas “políticas punitivas”.
Não, não e não. Os gregos não cometeram apenas alguns erros que, com paciência e pedagogia, certamente ultrapassariam. Os gregos sempre actuaram de acordo com uma cultura política que pouco ou nada tem a ver com a da Europa Ocidental e, se algum erro maior fez a Europa, esse erro foi permitir a sua adesão à moeda única, fechando os olhos a todas as evidências e ao mais elementar bom-senso.
De facto não deve haver em nenhum outro país do euro hábitos políticos tão clientelares e nepotistas como os da Grécia. Durante décadas os dois principais partidos, o PASOK e Nova Democracia – que são também os dois principais responsáveis pela situação a que o país chegou -, como que pertenciam a duas famílias, os Caramanlis e os Papandreou. Mas não eram apenas os partidos que se estruturavam em torno de grandes famílias, o país também os seguia de acordo com o mesmo tipo de tradição. Como descrevia na época o mesmo Nicolas Bloudanis, na Grécia “não se votava por ideologia” – até porque verdadeiramente esses dois partidos pouco se diferenciam ideologicamente –, votava-se em função dos benefícios materiais (e dos empregos) que podiam ser distribuídos. O que nem sequer é demasiado estranho, pois se apesar de tudo os gregos não foram totalmente absorvidos pelos otomanos isso deveu-se à sua fidelidade a duas velhas tradições culturais: a rouspheti, ou dispensa recíproca de favores e de protecções, e a mesa, ou rede de contactos e conhecimentos. O terreno era pois propício ao suborno e à cunha.
A vitória do Syriza pode ter a virtude de quebrar, pelo menos em parte, estas lógicas ancestrais, lógicas que se entrelaçam com a corrupção e a fuga aos impostos. Mas, em contrapartida pode fazer regredir o pouco que, apesar de tudo, tinha evoluído na abertura da economia. Basta recordar que, antes do resgate, a Grécia mantinha centenas de empresas nacionalizadas na década de 1980, quando na Europa já se privatizava, o que fazia com que o Estado empregasse directamente 45% da população activa. O poder dos políticos gregos sempre se baseou muito na distribuição de sinecuras e convivia bem com sindicatos poderosos que tinham garantido que, nalgumas empresas do Estado, se chegassem a pagar-se 18, 20 ou mesmo 22 ordenados por ano. O número de funcionários públicos também era imenso: o dobro da média europeia em proporção da população. Para além disso, eram pagos acima da média: um relatório da OCDE anterior ao resgate indica-nos que um terço do total do dinheiro pago em salários em toda a economia grega era só para pagar aos funcionários públicos.
Se este era o quadro geral, todos nos recordamos da história dos 45 jardineiros que tratavam dos quatro arbustos de um dos hospitais públicos de Atenas. Ou do Instituto para a Protecção do Lago Kopais, um lago que está seco desde 1930. Ou de as filhas dos funcionários públicos falecidos enquanto estas ainda eram menores receberem uma pensão vitalícia.
E se o Estado gastava desta forma, e tinha mais funcionários do que qualquer outro, não foi preciso chegar a austeridade para não funcionar minimamente. Ainda hoje, por exemplo, entidades como a Transparency Internacional combatem situações como as que eram prática corrente nos hospitais, onde só com subornos se conseguia uma consulta a tempo e horas, e só com subornos muito maiores se chegava à mesa de operações. Era esse o sistema instituído e todos sabiam como ele funcionava.
Enquanto isto, não se pagavam impostos. Mais uma vez é famosa a história de os serviços tributários utilizarem helicópteros para localizarem as casas com piscinas para poderem cobrar a respectiva contribuição, mas é menos conhecido o facto de não existir na Grécia um registo cadastral minimamente funcional que permitisse, por exemplo, calcular um imposto equivalente ao IMI. Foi para tornear esse problema que esse imposto começou a ser cobrado com a conta da electricidade, uma decisão tomada no tempo da troika e que levou ao incumprimento e ao corte da luz a centenas de milhares de gregos.
Um Estado clientelar e gigante, uma economia dependente e corporativa, um sistema político nepotista e uma sociedade civil habituada á corrupção e à dependência: não é possível imaginar terreno mais fértil para, quando o dinheiro barato da moeda única começou a chegar, se terem cometido todos os excessos. Todos os nossos problemas, que eram e são muitos, são uma brincadeira de crianças ao lado dos gregos.
3. O terceiro mito é que foi o resgate que estrangulou a Grécia, fez crescer a sua dívida, uma dívida que agora é impagável.
Não há dúvida que quando a troika chegou a Atenas cometeu muitos erros de abordagem, alguns dos quais até corrigiria depois na Irlanda e em Portugal. Houve medidas de uma imensa brutalidade – basta recordar que enquanto em Portugal se preservou e até se actualizaram as pensões mais baixas, na Grécia nem prestações na casa dos 300 euros escaparam.
Mas essa é só uma parte da história. A outra é que nunca, desde a primeira hora, o governo grego, os políticos gregos, fizeram um real esforço para reformarem o seu país. Começavam sempre por dizer que “não é possível”, “não vai funcionar”, acabavam por ceder depois de culparem a Alemanha, e a seguir arrastavam os pés. No princípio chegou a acontecer ter havido um acordo para reduzir os salários dos funcionários públicos, uma condição imposta para a Grécia conseguir os primeiros empréstimos, a lei ter saído e depois, nas costas do ministro das Finanças, vários membros do Governo terem criado criaram novos suplementos remuneratórios que repunham os vencimentos anteriores. Muitas leis exigidas nos acordos também foram rapidamente aprovadas no parlamento para depois ficarem meses ou anos à espera dos decretos regulamentares. Para ver a ineficiência com que o programa foi aplicado basta lembrar que com dois resgates, mais quase dois anos de troika do que nós e um sector público muito maior do que o nosso, as receitas das privatizações gregas nem chegam a ser metade das conseguidas no nosso país.
Não surpreende assim que a espiral recessiva que tantos previram para o nosso país e que não se materializou, tenha na Grécia provocado uma queda de 25% do PIB. Mesmo assim é necessário colocar de novo as coisas em prespectiva: apesar dessa queda, o PIB per capita, em paridade de poder de compra, dos gregos é neste momento sensivelmente igual ao dos portugueses. O nosso salário mínimo também é menor do que o grego, e muito menor ficará se o Syriza levar por diante as suas intenções.
Tudo isto mostra que, se por lá a “catástrofe” é assim tão grande, não é por falta de riqueza, é pela conjugação de muitas destes factores de que tenho vindo a falar e que convenientemente são sempre esquecidos. Mais: na última reunião do Eurogrupo os ministros das Finanças da Eslováquia, da Eslovénia ou de Malta lembraram que mesmo sendo nos seus países, na altura, menor o PIB per capita, eles mesmo assim emprestaram dinheiro aos gregos. Já alguns ministros de antigos países do Leste recordaram a Varoufakis que aquilo que tinham emprestado correspondia ao que gastavam em subsídios de desemprego.
Resta o argumento final: a dívida não é sustentável, pelo que a Grécia precisa ainda de mais ajuda (mais dinheiro) da Europa. Mais uma vez estamos perante uma “verdade mediática” que lida mal com a realidade dos factos. Primeiro, porque nenhum outro país do grupo dos que foram resgatados beneficiou até hoje de um perdão de dívida como a Grécia já teve. Foi em 2012, representou cerca de metade da dívida que estava então em mãos de privados e tirou do deve e haver da Grécia 100 mil milhões de euros, uma quantia que, se fossemos nós os beneficiados, nos aliviaria de muitas das nossas aflições. Nessa operação dois bancos portugueses, o BCP e o BPI, perderam 590 milhões de euros, dinheiro que fez muita falta ao financiamento da nossa economia.
Mas o ponto principal nem sequer é esse. A Grécia já tem condições muito melhores do que Portugal ou a Irlanda – prazos mais dilatados, melhores juros, carência no pagamento desses juros. O resultado é que enquanto nós, com uma dívida proporcionalmente muito mais baixa (127% do PIB contra 180%), pagamos o equivalente a 5% do PIB em juros, a Grécia pagará entre 2,5% e 3,6%. Ou seja, a dívida grega é maior mas pesa-lhes menos. E isso é que conta. Mais: não somos só nós que, proporcionalmente, suportamos uma carga de juros superior à dos gregos, os italianos e os irlandeses também estão na mesma situação.
4. O quarto e último mito é que, liberta (de novo) de parte da dívida, a Grécia voltaria a crescer, a ser próspera e, por isso, pagaria mais facilmente o remanescente dos empréstimos.
Não há nenhum político que não goste de ter dinheiro para gastar e distribuir. Não é preciso ter “consciência social”, basta querer ser reeleito. Por isso a simples ideia de que haveria mais dinheiro no orçamento porque passaria a haver menos dinheiro para pagar juros é muito tentadora. Já é muito menos evidente que isso induzisse um crescimento económico sustentável e é fácil ver porquê. Primeiro, temos a experiência do passado: dinheiro barato e abundante foi o que a Grécia teve até à crise de 2008, mas isso não deixou a sua economia mais forte e mais competitiva, bem pelo contrário. Depois, temos a evidência das reformas que ficaram pela metade, o que significa que a Grécia está muito longe de estar em condições para concorrer num mundo globalizado permanecendo, ao mesmo tempo, no colete-de-forças de uma moeda única. Finalmente, há o programa do Syriza, o possível retrocesso em algumas dessas reformas e o regresso a um passado próprio de uma economia fechada, protegida e ineficiente.
Um bom exemplo daquilo de que falamos é o que se passa no Porto do Pireu. Um terço foi privatizado e é hoje gerido por uma companhia chinesa. É eficiente, é um modelo de organização, tem cada vez mais movimento e faz cada vez mais negócio. Os outros dois terços continuam nas mãos do Estado – e dos sindicatos – e continuam a perder clientes e movimento, sendo um espaço sujo e por vezes degradado. Neste momento ninguém ainda percebeu se este pedaço do porto do Pireu vai acabar por ser privatizado, como estava previsto e parece ser vontade do ministro das Finanças, ou se tudo fica como está, como quer o ministro da Marinha.
A vitória do Syriza talvez mude alguma coisa na cultura de nepotismo que sempre dominou a política grega, pode ser que até consiga combater a corrupção com mais eficácia e até ser mais diligente no combate à evasão fiscal. Mas essa vitória não mudou a natureza da Grécia nem os seus hábitos culturais: só a perspectiva de que ia ganhar levou milhões de gregos a deixarem da pagar impostos, abrindo num só mês um buraco de 1,6 mil milhões de euros, buraco que tornou ainda mais difícil a vida ao Governo que depois elegeram.
É por estas e por outras – e por tudo o que distancia a Grécia de ser um país capaz de cumprir com as regras de uma união monetária – que não vejo forma de esta não voltar ao dracma, mas cedo ou mais tarde. Sendo que nestas coisas mais cedo costuma ser melhor do que mais tarde.