ALEMANHA OPTA PELA CONTINUIDADE PRAGMÁTICA ULTRAPASSANDO A IDEOLOGIA PELA DIREITA

Governo promete Bem-estar para todos

Por António Justo

A Doutora Ângela Merkel foi hoje (14.03.2018) eleita Chanceler da Alemanha. Foi eleita com 364 votos a favor e 315 contra; 35 deputados da União e do SPD votaram contra a Chanceler. A coligação conta com 399 deputados, isto é, com 44 deputados mais do que seria necessário para governar.

Depois do juramento da Chanceler seguiu-se o dos 15 ministros do seu gabinete que prestaram, também eles, juramento perante o presidente do Bundestag, Wolfgang Schäuble (CDU). O Conselho de Ministros reuniu às 17 horas para a sua primeira reunião constituinte. O Governo terá mais secretários de Estado que nunca: 1 da CSU, 9 da CDU e 7 do SPD.

Pela primeira vez esteve presente, no acto da eleição e da posse, o seu marido com o filho e a mãe de Ângela Merkel de 89 anos. Com a presença da família e um juramento de um cargo confiante na “ajuda de Deus “, a chanceler talvez queira sinalizar que, agora, também será chegada a hora dos alemães e não tanto de muitos refugiados muçulmanos que não lhe têm facilitado a reinação do Estado.

O sistema Ângela Merkel ganhou e, com ela, o SPD também! Os militantes do SPD com o seu voto de 66%, pela coligação demonstraram que o SPD quer assumir responsabilidade política e ao mesmo tempo permitir-se uma pequena oposição dentro do partido para poder convencer mais eleitores nas próximas eleições.

Passados seis meses das eleições parlamentares, volta a governar a coligação da maioria CDU/CSU e SPD. Foi um alívio para a Alemanha, mas permanece um mau gosto a refugiados na boca do povo e um desafio ao governo. Da resposta a este dependerá a estabilidade da Alemanha.

À frente da oposição fica o partido AfD que vê no “sistema Merkel” o coveiro da CDU e do SPD e acusa o SPD de, com o seu voto para o novo governo sob a chanceler Ângela Merkel, “obstruir um novo começo político “na Alemanha.

Planos imediatos da Grande Coligação

A CDU quer já um subsídio de família especial para que famílias com filhos, com ordenado médio, consigam construir casa. Pretendem o reequipamento dos carros a diesel; produtos à venda devem conter menos açúcar, sal e gordura; pretende mudar o modelo da reforma para que a relação entre ordenado recebido no tempo activo e a reforma a receber no tempo passivo não desça abaixo dos 48% do ordenado. Quer ainda favorecer queixas colectivas em tribunal (como no escândalo dos carros diesel).

A partir de 1.01.2019 as contribuições para o seguro de saúde devem ser suportadas em partes iguais por empregadores e empregados. O Estado federal disponibilizará 500 milhões para creches. Em agosto será determinado um salário mínimo para jovens em formação a entrar em vigor em 2020. Uma comissão deve preparar propostas para a „igualdade de condições de vida” na cidade e no campo. Além disso uma comissão deve preparar propostas para uma reforma de vencimentos e taxas para médicos. Em 2020 devem ser criadas mais 100.000 Pontos de carga adicionais para veículos elétricos.

Plano para 2021 é aumentar o abono de família em 15 euros por criança e mês. A taxa de solidariedade deve ser reduzida de 10 bilhões de euros e devem ser disponibilizados dois bilhões de euros para creches.

Abono de Família

O abono de família sobe 10 euros por mês e criança, no dia 1 de julho deste ano. Atualmente o primeiro e o segundo filho recebem de abono de família 194 € cada um; o terceiro 200€ e os filhos a partir do quarto recebem 225€ mensais cada um.

 

Política da EU

A Alemanha e a França pretendem a criação de um fundo monetário europeu, e a criação e a gestão do seu próprio orçamento numa união monetária ou até mesmo um ministro das Finanças da EU.

Oito ministros das finanças dos Países baixos, Dinamarca, Irlanda, Suécia, Finlândia e dos Estados Bálticos enviaram uma carta comum para Bruxelas; nela protesta contra a ideia de transferência de competências adicionais para Brussel.

O medo de uma Alemanha e França, como motor demasiado forte da Europa, mete medo a muitos. Por outro lado, a Alemanha e alguns Estados economicamente fortes da EU não estão de acordo que a EU assuma responsabilidade comum em relação aos países da EU que causam preocupações.

Na próxima cimeira de Bruxelas os 28 chefes do estado e os chefes do governo, terão uma agenda recheada A Chanceler pretende fazer propostas de reforma da EU e viaja em breve a Paris para, com o presidente Emmanuel Macron, preparar a cimeira do Conselho da Europa de 22/23 de Março; além da política europeia também a engrenagem da política migratória e da defesa.

A maturidade alemã

Como povo forte e rico não aposta na revolução; vai-se antecipando-se a ela, praticando a mudança no contínuo do dia-a-dia. 

O anseio do povo por paz e equilíbrio levou o SPD (com 66% dos votantes) a possibilitar a reposição da grande coligação CDU/CSU e SPD na frente da Alemanha. A decisão democrática do partido em defesa da coligação revelou-se como uma recusa da ideologia em favor do centro pragmático.

A Alemanha, como nação poderosa e experiente, sabe que as utopias ideológicas de posições extremistas são de tolerar, porque mexem com a massa, mas também está consciente de que com ideologias não se faz pão.

A sociedade gerou a sua esquerda alemã um pouco mais civilizada, que, como tal, deixa cada vez mais a ideologia do contra para entrar numa cultura do compromisso. Na falta de utopias, a própria esquerda ideológica jacobina atua já mais guiada pela tática do que pela convicção; assim reconhece que o barulho da sua qualidade de oposição é mais feito para satisfazer os espíritos e as margens mais amantes dos zés-pereiras. Isto porque está consciente de que o pragmatismo do centro está atento para atempadamente iniciar as mudanças necessárias.

Uma sociedade mais macia quer também mais equilíbrio entre as energias masculinas e femininas. Procura compensar a masculinidade do capital e da tecnologia pretendendo redirigir o progresso mais no sentido da natureza e da sociedade

Com a formação de um governo de grande coligação, a Alemanha optou pela continuidade pragmática deixando a ideologia à margem, ultrapassando-a pela direita.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

A TURQUIA USA ARMAS DA ALEMANHA CONTRA OS CURDOS NA SÍRIA

Um escândalo para a Alemanha e para a Nato! O governo turco não respeita países aliados nem amigos! Agora que os curdos foram decisivos na luta contra o terrorismo do IS, Erdogan organizou uma ofensiva contra os curdos e invadiu o território deles no país vizinho; isto com o intuito de enfraquecer a região curda da Turquia.

No contexto da cooperação militar entre parceiros da NATO a Alemanha, segundo o Jornal HNA, entre 1982 e 1984, vendeu à Turquia 71 tanques de guerra (Leopardo I), no quadro do apoio à defesa da NATO. De 1990 a 1993 vendeu-lhe mais 320. O uso dos tanques estava condicionado à defesa. Entre 2006 e 2011 a Alemanha forneceu mais 350 do tipo moderno Leopardo 2A4, que agora são empregues para invadir território curdo na Síria.

O povo curdo continua a ser injusticiado e perseguido com a conivência da Europa. Até quando o povo curdo terá de esperar por ver reconhecida, internacionalmente, a sua região como Estado independente, o Estado Curdistão?  Os curdos não podem contar com o apoio da Alemanha dado os seus interesses se identificarem com os milhões de turcos que vivem na Alemanha e cujo nacionalismo se impõe a direitos de povos como o curdo!

A Turquia conseguiu, também agora, um acordo de entrega de armas sofisticadas francesas em troca da entrega de um jornalista francês arbitrariamente preso na Turquia.

Depois dos  Curdos terem contribuído em grande medida para a vitória da Aliança contra o IS no Iraque e na Síria, onde desempenharam grande papel como tropas de combate em terra , vêem-se atraiçoados. A Turquia aproveita-se e invade território vizinho para impedir a aliança dos curdos das regiões vizinhas na formação de um Estado Curdistão.

O povo curdo tem sido sempre vítima dos interesses internacionais. Já, aquando da formação do Estado turco apoiaram Ataturk na esperança de lhes ser reconhecida a independência na sua região e agora que deram o corpo ao manifesto contra o terrorismo, vêem-se abandonados por uma Europa gananciosa empenhada apenas nos jogos de interesses entre os poderosos.

6.000 pessoas já jugiram de Afrin devido à invasão turca. Na região curda controlada pela YPGA e objecto dos ataques turcos, vivem 324.000 pessoas. Em 2017 a Alemanha exportou armamento para a Turquia no valor de 34,2 milhões de euros.

O povo curdo continua a ser injusticiado e perseguido com a conivência da Europa e sem direito à autonomia na sua região. O Curdistão foi vítima de muitas invasões tendo sido repartido por povos invasores que hoje defendem as suas fatias territoriais; os mesmos dizem-se serem amigos de palestinenses e de Israel!… Hipocrisia das hipocrisias, tudo é hipocrisia, tal como se constata na sabedoria bíblica que diz: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ANTISSEMITISMO – UM CARCINOMA ALIMENTADO PELO PRECONCEITO E PELA INVEJA

Judeus preocupados com o crescente Antissemitismo na Europa

 

António Justo

O antissemitismo é irmão do racismo; ambos têm de comum o ódio e o desdém pelo outro.

Segundo estudos feitos recentemente, o crescente antissemitismo estará em relação com o aumento dos muçulmanos nas metrópoles da Europa. Antissemitismo, como racismo, é um fenómeno muito complexo com muitas causas e explicações; ele surge, sobretudo em tempos de crise, quando se procura desesperadamente fazer um diagnóstico dela. O mal encontra-se na cabeça e no coração das pessoas; a solução é defrontarem-se os problemas e não as pessoas.

No mundo há 14, 2 milhões de Judeus. Em 1990 o número de judeus na França era de 518.000 e em 2016 era de 467.000. Em 2005 viviam 108.289 judeus na Alemanha e em 2016 viviam 98.594.

Em Portugal fala-se de “30% dos Portugueses descende de Judeus“,  mas o número de portugueses que se confessam praticantes da religião judaica, são cerca de “2.500, havendo certamente os que vivem o seu judaísmo confinado ao lar; a maioria são os sefarditas que são maioritários e os asquenazitas; quanto às correntes a maioria é ortodoxa, havendo uma pequena comunidade progressista em Lisboa, e grupos de oração da corrente conservadora (Masorti) em Sintra e Almada” (como responde Filipe de Freitas Leal, à pergunta que lhe fiz) . No Brasil há cerca de 100.000 judeus.

Judeus a sair da França, da Alemanha e de alguns países europeus devido ao antissemitismo

Muitos judeus temem pela sua segurança e ao sentirem-se ameaçados, optam por tornar-se invisíveis (deixam de trazer a kipá – gorra circular, com o significado de humildade perante Deus) e outros emigram para Israel, o que deixa muita pena nos países onde se encontram porque constituem uma comunidade integrada e que sobressai pelo seu trabalho em benefício de toda a sociedade.

Na Alemanha a revista “Berlin Judeu” passou a ser entregue em envelope neutro, para que os assinantes não sejam identificados e a probabilidade de inimizades não cresça. Depois das demonstrações em Berlim 2014, contra a guerra de Gaza e do atentado de Paris, muitos judeus sentem-se ameaçados. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha adverte que: esconder-se não é o melhor caminho, mas que talvez não seja bom trazer a kipá em bairros com elevada percentagem de muçulmanos. Observa-se um crescente antissemitismo nos jovens muçulmanos.

O historiador Michael Wolffsohn menciona os resultados de uma pesquisa de 2016 sobre preconceitos contra judeus onde se verifica que 18% dos alemães e 56% dos muçulmanos, na Alemanha, têm preconceitos contra judeus e na França a quota é de 20% de população geral e 63% dos muçulmanos.

O director do Conselho Central dos Judeus na Alemanha diz no Süddeutsche Zeitung: “O antissemitismo faz parte da educação de algumas famílias muçulmanas. Através de gerações é transmitida às crianças, por todo o lado, a sensação de que os muçulmanos são reprimidos em todo o mundo por culpa dos judeus “. Welt am Sontag, também cita: “Muitas dessas pessoas que vieram para a Alemanha, vêm de países onde o ódio aos judeus e a hostilidade a Israel são razões de Estado”.

As teorias da conspiração de que os judeus governam o mundo é outra forma indirecta de antijudaismo. De facto, cria-se a impressão que se teria de aniquilar Israel para que não haja anti-judaismo.

O jornalista alemão Jakob Augstein concretiza: “Antissemitismo congrega ódio, racismo, teorias da conspiração e esoterismo”.

Reúne-se tudo numa só coisa; o ódio que une, é uma constante histórica intercontinental que se repete. Esconde-se no jogo de um “sim… mas” (p.ex.: o que os extremistas fazem é mau … mas os americanos estão na base!…).  Também há outras argumentações sem lógica, mas que estabilizam a indiferença e o antissemitismo; identificar o Estado de Israel com o judaísmo. O acoplamento das ideias “política do governo” de Israel com os Judeus é inadmissível. Israel serve de pretexto para o antissemitismo ser globalizado. 

 Uma política do olhar desviado tem facilitado o aumento alarmante do antissemitismo e da xenofobia na Europa. O interesse das classes dirigentes em não se defrontarem com os problemas e a tolerância de espaços livres à direita e à esquerda possibilitam viveiros de intolerância e de violência. O tema antissemitismo e xenofobia dividem a sociedade e é instrumentalizado para fins politiqueiros.

Torna-se insuportável a hipocrisia com que se combatem gestos e frases dos Nazis e não se ligue ao ódio cultivado e justificado a partir de uma instituição religiosa que age do centro da sociedade com frases sagradas fomentadoras do racismo e da exclusão e onde se equipara os judeus a “macacos e porcos” (Sura 5:60 no Corão). O problema está no facto de as frases do Corão não estarem sujeitas à análise histórico-crítica, sendo por isso de tomar à letra.

Mal da cultura que, em vez de deixar o amor e a compreensão como herança, deixa o ódio para os vindouros.

O povo judeu é dos mais pequenos do mundo, mas aquele que mais contribuiu e contribui para o desenvolvimento do mundo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

PARA UM DISCURSO MAIS AFERIDO ENTRE PRODUÇÃO E REIVINDICAÇÃO

Comparação do PIB (produto interno bruto) e PPC (poder de compra per capita) entre alguns países europeus e lusófonos

 

A comparação dos salários mínimos entre países pode ser um estímulo para maior equidade, mas também para maior competição.   Nas comparações e tomadas de conclusões é importante ter-se em conta não só o PIB (1) mas em especial a paridade do poder de compra (PPC) entre os países (2).

A Suiça, com 8,3 milhões de habitantes (dos quais 2 milhões de estrangeiros) e uma área de 41 285 km², consegue ser a 23ª economia do mundo, com um PIB nominal por cabeça de 79.242 US$ e com um poder de compra per capita (PPC) de 59.561 US$. Portugal tem um PIB de 19.832 US$ e um poder de compra de 28.933 US$ (dados relativos a 2016)!

Comparação de países em relação ao produto interno bruto per capita (PIB)

O Luxemburgo tem um PIB   de 103.199 US$, a Suiça 59.561 US$, a Alemanha 41.902 US$, a França 38.128 US$, a Espanha 26.609 S$, Portugal 19.832 US$ , Brasil 8.727 US$, Angola 3.501 US$,  Cabo Verde 3.078 US$,  Timor Leste 2.102 US$, Guiné-Bissau 595 US$, Moçambique 392 US$

Comparação de países em relação ao poder de compra per capita (PPC)

A PPC tem em conta tanto as diferenças de rendimentos como as diferenças no custo de vida. Quanto mais fraco for o Dólar maior é o poder de compra dos países de moeda mais forte.

O Luxemburgo tem um PPC   de 104.003 US$, a Suiça 58.561 US$, a Alemanha 48.111 US$, a França 42.314 US$, a Espanha 36.416 US$, Portugal 28.933 US$, Brasil 15.242 US$, Angola 6.844 US$, Timor Leste 4.187 US$, Cabo Verde 6.662 US$, Guiné-Bissau 1.730 US$, Moçambique 1.215 US$.

 

Quando se fazem comparações entre países, para não cairmos em fantasias aleatórias, temos de considerar o poder de produção de um país, o poder de consumo, a realidade geográfica, política, social e cultural que levam um país a ser mais ou menos equilibrado em relação ao que produz e consome. Para se mais distribuir é preciso produzir mais; isto independentemente da justiça/injustiça real ou sentida em relação à distribuição da riqueza!

 

  • 1. O PIB (produto interno bruto) é a soma dos bens e serviços (quantificado em dinheiro) que (no caso) um país produziu num ano per capita. É o termómetro da economia, da riqueza produzida num país ou região.
  • 2. Na comparação a fazer-se a PPC tem em conta as diferenças de rendimentos e as diferenças no custo de vida dos países (além destes fatores de diferenciação há outros a ter em conta quando se fazem afirmações sobre ordenados e sobre nível de vida).

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo