Interrupção da Dança do Dia-a-dia – Decisão do Tribunal

Sexta-feira Santa

 

António Justo

Na minha terra adoptiva, Kassel, no Estado do Hesse, Alemanha, há uma lei que regula os dias santos e feriados. Ela proíbe eventos de dança desde as 4 horas de Quinta-feira Santa até às 24 horas de Sábado Santo. No Domingo e Segunda-feira de Páscoa é proibido festejar entre as 4 e as 12 horas tal como nos outros feriados nacionais.

 

O partido dos Piratas e a Juventude dos Verdes recorreram ao Tribunal Constitucional, no sentido de poderem organizar danças para Sexta-feira santa, dado esse dia não lhes dizer nada. O Tribunal Constitucional, porém, não aceitou tal plano pelo facto do assunto ser da competência de outro tribunal; vários tribunais do Hesse proibiram as demonstrações contra a lei dos feriados, planeadas pelos referidos grupos, para Sexta-feira Santa.

 

Na Sexta-feira Santa, o dia do silêncio, é comemorada a morte de Jesus. O alemão para designar a Semana Santa utiliza a velha expressão ”Semana das lamentações”.

 

Interrupções no ritmo trabalho-compra-diversão revelam-se como salutares para o equilíbrio psíquico humano. Na Alemanha há uma forte aliança entre Igreja, Sindicatos e Associações no sentido de se não ocupar os Domingos e feriados com o trabalho. O Homem não é de pau, nem vive só de pão, nem foi criado para estar continuamente disponível para um mercado de trabalho que quer ocupar todos os espaços humanos.

 

Na União Europeia já há muita gente que reconhece a necessidade de tempos de sossego e de calma, pelo que vários deputados europeus formaram uma iniciativa em defesa do Domingo como dia livre de trabalho.

 

Uma sociedade sem espírito público, de tendências individualistas eliminaria o estado social que se baseia em valores comuns. Naturalmente que cada convicção deve ser respeitada mas não cair no extremo duma anonimidade geral. A regularmo-nos apenas pelo individualismo teríamos de abolir todos os dias santos e feriados, todos os nomes de ruas. O que para uns é afirmação para outros pode constituir uma provocação.

 

Temos que viver uns com os outros, cada qual suportando o peso e a riqueza do seu gene e apesar de tudo manter um sentimento grato pelas tradições que nos deram o ser cultural. Trata-se de nos suportarmos uns aos outros num espírito de benevolência sem nos querermos afirmar à custa dos outros. Doutro modo teríamos que criar uma sociedade irreal abstracta reduzindo tudo a números.

 

O Cristianismo (gregos, romanos, judeus e outros) gerou-nos, como cultura, constituindo os nossos fundamentos. Trazemos em nós os genes da cultura assim como somos portadores dos genes de nossos pais, sem eles não seriámos nós, quer queiramos ou não eles são e estão em nós tanto no cómodo como no incómodo, no defeito como na virtude. Não reconhecer isto é fuga. Constituiria um testemunho de pobreza se nos fixássemos num espírito de contradição obstinado contra a nossa cultura. Importante seria reconhecer seus defeitos e virtudes em nós; só então estaremos prontos para nos descobrirmos a nós.

 

A nossa sociedade tem-se preocupado muito com a afirmação a nível individual. Não pode esquecer porém que indivíduo e comunidade são as duas faces da mesma moeda, a pessoa. Tudo o que se faz ou deixa de fazer só se legitima tendo por base a defesa e o serviço da pessoa humana. Por isso é preciso tomar a sério muitas solicitações da Igreja. A Igreja preocupa-se pela defesa da pessoa no seu todo enquanto o Estado e as Empresas se preocupam mais em considerar a pessoa como indivíduo, como pagador de impostos, como cliente.

 

A Semana Santa é o dia grande da cristandade em que a metamorfose da vida e do mundo se resumem num só acontecer, num processo de morrer para renascer.

 

Para os protestantes, Sexta-feira Santa é por assim dizer o dia santo “mais evangélico” pelo facto de “no sofrimento e morte de Jesus Cristo se experimentar a proximidade de Deus neste mundo, até à morte”, como diz o bispo Martin Hein.

 

Numa realidade de morrer e renascer, defensores e contrariadores, terão de aprender a levar a cruz uns dos outros, dado cada um de nós ser, em parte, a cruz do outro.

 

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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Dia internacional da Mulher uma Oportunidade para a Inteligência emocional

Correcção duma Sociedade máscula de Via única

António Justo

As mulheres são, também socialmente, mais macias que o homem. Este é mais arisco e por isso consegue levar melhor a brasa à sua sardinha.

Há uma centena de anos o movimento internacional das mulheres luta por direitos iguais, por iguais oportunidades e pelo mesmo salário que os homens.

Ideal e realidade continuam a afirmar-se na divergência; para se contrapor esta tendência muitos chegam à conclusão de se introduzir um tratamento especial para a mulher em questões laborais e para tal introduzir por lei quotas de mulheres em lugares relevantes.

A União Europeia está a pensar numa iniciativa legislativa que pretende introduzir na Europa a quota de mulheres. Na Alemanha o partido SPD já reagiu com um projecto de lei que pretende até 2015 atingir 40% de mulheres em conselhos de supervisão e membros de directorias de empresas. Este plano divide os ânimos da nação. O governo é de opinião que haja uma quota flexível que empresas e indústria se autodeterminem. Na realidade, segundo a OECDE, na Alemanha apenas 4% de mulheres ocupam posições de directoria e a nível europeu 10%. Também, segundo o relatório da OECDE, as mulheres alemãs ganham menos 22% que os homens.

Naturalmente, numa sociedade masculina, a introdução duma quota é discriminadora pois coloca no cimo da carreira mulheres devido à quota e não tão sujeitas às leis masculinas mercantis da concorrência. Numa meritocracia isto pressupõe um factor contra. Talvez este factor implique já um elemento de sensibilidade feminina a querer mitigar uma sociedade que fede a suor de homem.

Muitas vezes as mulheres aceitam, na entrevista para emprego, condições que homens não aceitam. Enquanto uma mulher quer ser amada o homem quer ser respeitado.

A maior inteligência emocional das mulheres revela-se, por vezes, prejudicial numa sociedade máscula porque se orientam mais por critérios humanistas e não apenas pelo lucro da firma, o que constitui um obstáculo ao currículo. Os homens sobem até mais alto na escada da carreira porque não sofrem de vertigens ao interessarem-se mais pelo sucesso da firma do que pelo sucesso dos trabalhadores. O pensar masculino tem em conta o próprio interesse e este é premiado pela firma e não pelos empregados.

Segundo estudos feitos na Alemanha, a mulher despede empregados dois anos mais tarde do que o fariam homens e isto incomoda os accionistas das firmas. As firmas querem pessoas de temperamento forte e assertivo com cotovelos robustas para afastar o que não lhe passe no goto. Mais justiça para a mulher significaria, num primeiro momento, que por lei auferissem pagamento igual ao dos homens pelo mesmo trabalho houvesse maior protecção para o trabalho e saúde.

Importante é que a mulher assuma maior responsabilidade social sem ter de abdicar do seu caracter feminino em favor duma sociedade totalmente masculina. A sociedade máscula tem muitos aspectos problemáticos porque afirma quase exclusivamente as qualidades masculinas em detrimento das qualidades femininas. O pensar e o agir do homem é mais selectivo e para chegar além não olha a quem. O pensar da mulher é mais colegial, pessoal mas não tão individualista; o instinto maternal mitiga o egoísmo.

Resumindo o dito e o por dizer: O dia da mulher é uma boa oportunidade para se começar a elaborar uma sociedade com base na complementaridade de masculinidade e feminidade. Por vezes faz doer constatar-se movimentos reivindicativos femininos que fomentam a masculinidade da nossa sociedade ou exigem um currículo para a mulher ditado pela sociedade máscula que obriga a mulher a ter de se comportar como o homem para ter alguma oportunidade neste tipo de sociedade de via única. Seria doentio se a sociedade fizesse das mulheres viragos e dos homens afeminados.

Torna-se uma missão nobre para homens e para mulheres, construir uma sociedade diferente; uma sociedade um pouco mais feminina e um pouco menos masculina. Vai sendo tempo de se juntar e equilibrar o princípio masculino da selecção natural ao princípio feminino natural da colaboração.

António da Cunha Duarte Justo

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Investigação sobre Imoralidade na Riqueza


A Honra do Rico é a sua Toalha

António Justo

Ricos mentem mais e têm menos consideração por outros, ensina o preconceito e confirma uma investigação.

Segundo uma investigação levada a efeito nos USA a riqueza atrai a violação da lei.

Nos USA condutores com carros de prestígio são considerados como impiedosos e atrevidos. Um estudo feito veio comprovar que isso corresponde à realidade. Pessoas ricas em autos ricos transgridem mais as leis do que pessoas com carros médios ou pequenos. Os cientistas da Universidade da Califórnia (Berkeley/US-Staat K.) chegaram também à conclusão que membros da camada social superior mentem mais que membros da camada social inferior. A ganância, para os mais ricos testados, não constituía, duma maneira geral, problema moral. Nas elites é prevalente a concretização dos próprios interesses. Naturalmente que não se pode generalizar porque também nas camadas superiores há muito boa gente que se orienta por fins superiores.

Ricos não têm consideração por muitas regras porque sabem que não sofrem as consequências directamente no pelo, porque partem do princípio que o dinheiro pode comprar quase tudo. O preconceito de que os ricos não tomam a sério a moral é apoiado por esta investigação. Não é fácil manter o equilíbrio entre os próprios interesses e os da comunidade.

Na nossa sociedade contorna-se a moral com muita facilidade. A usura praticada por especuladores da Bolsa (ordenados de banqueiros, de futebolistas e de muitos parasitas de empresas, Estado e instituições), fazendo o seu negócio com a insolvência de firmas e Estados à custa dos trabalhadores e dos cidadãos brada aos céus.

Não se trata de condenar quem é rico mas de lembrar que riqueza implica sempre uma componente e um dever social. Se mandássemos fazer uma investigação sobre a proporção de pessoas do crime registado, certamente que as encontraríamos muito mais nas camadas baixas. Isto apenas revela a mobilizaç1bo da agressividade latente em cada pessoal desde que se encontre em determinada situação.

Com investigações poder-se-iam fomentar ainda mais preconceitos dado a virtude e o mal espreitam em cada humano. Há muita gente rica com consciência social. O problema está mais nos super-ricos, que afirmam o seu negócio com agressividade tal como acontece na condução na estrada. A honra do rico é a sua toalha mas o pobre não deve ser privado duma toalha honrada a que se possa limpar.

Riqueza um Perigo ameaçador de Estados

Muitas vezes não se nota nos pequenos a sua corruptibilidade porque se limitam a pouca. A corrupção dos ricos usa uma medida e a dos pobres usa uma outra.

O que se possui deve provir, duma maneira geral, do próprio trabalho.

O Estado deveria intervir regulando a usura escandalosa. Quem ganha mais de 25 vezes do que o salário mínimo deveria ser condicionado a empregar o excedente em instituições de caracter cultural e social. Cada pessoa quer ser orgulhosa por algo, o que é legítimo. Uma igualdade de cemitério seria catastrófica como se demonstrou nos estados socialistas; uma desigualdade vistosa e imoral, como se observa no turbo-capitalismo destrói qualquer ética de coesão social.

A sociedade em que vivemos, atendendo à sua insegurança, não favorece o desprendimento. Por isso muito boa gente se vê obrigada a precaver-se do futuro, acumulando riqueza para si e para os filhos. Uma sociedade cada vez mais contra instituições morais, cada vez mais egoísta aposta na diferenciação exagerada. Disto sofre a humanidade.

Necessita-se uma cultura da dignificação da honra no oferecer. Uma maneira gratificante no oferecer seria ajudar directamente pessoas necessitadas ou prestar ajuda através de ordens e congregações onde vivem pessoas (sem ordenado material) que entregam a sua vida ao serviço do próximo sem olhar a quem.

O mérito social, a virtude, o cultivo do bem e do belo terão de ser tomados a sério pela sociedade, doutro modo, a riqueza de alguns torna-se num perigo público.

António da Cunha Duarte Justo

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Quatro Milhões de Mulheres violadas pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial


Requinte alemão nos seus Bordeis para Soldados e para Prisioneiros

António Justo

Segundo o jurista e publicista Heinz Nawratil, quatro milhões de mulheres e jovens foram ” vítimas de crimes sexuais praticados pelo Exército Vermelho e seus aliados”. Só em Budapest calcula-se terem sido violadas 50.000 mulheres. Nos territórios libertados dos nazis, os soldados do exército vermelho comportavam-se como bárbaros, tal como faziam nos Estados Bálticos, e nos Balcãs.

Fazia lembrar a crueldade das antigas hordas mongóis, como refere o historiador Jörg Friedrich. Roubavam, violavam, massacravam e expulsavam. (16,5 milhões de alemães foram expulsos da Europa Oriental, tendo sido mortos cerca de dois milhões).

Mulheres e crianças eram violadas por grupos de soldados a ponto duma mesma jovem/mulher ser violada no mesmo dia por vários soldados. Isto não constituía excepção. Em quase todas as famílias dos refugiados e das famílias da zona de administração russa se regista, pelo menos, uma vítima de violação por família (“Die Rote Armee” von Liddell Hart). Também Hannelore Kohl, a falecida mulher do ex-chanceler alemão Helmut Kohl, foi violada, aos doze anos, por soldados russos.

O povo russo sofreu imensamente sob as abomináveis atrocidades dos exércitos alemães. (Segundo a Wikipedia,  5,7 milhões de soldados do Exercito Vermelho foram aprisionados pelos exércitos alemães, 3,3 milhões dos prisioneiros não sobreviveram. Dos 3,15 milhões de soldados alemães sob custódia russa não sobreviveram 1,11 milhões). Estaline não olhava a meios, como demonstra o seu comando n° 0428 de 17 de Novembro de 1941. Nesta instrução ordena aos partisanos russos que se vistam de uniforme alemão e incendeiem e liquidem a população russa civil “40 a 60 km atrás da linha principal de combate”. Incentivava assim o ódio contra os alemães invasores sacrificando o próprio povo para fins propagandísticos. Isto para se ter uma ideia da barbaridade dum lado e do outro. Se num povo governava o diabo no outro governava o Belzebu.

O ultrajo e a dor infringidos às mulheres durante as guerras são considerados, muitas vezes, como prejuízos colaterais das guerras e como tal de menor menção. Interesses políticos nas relações bilaterais internacionais (os tabus políticos) e a vergonha das mulheres estão, também, na base do silêncio do crime de violação. Para a mentalidade de então uma pessoa violada era pessoa desonrada. Nas Televisões alemãs não há dia sem um filme num canal a documentar as atrocidades dos alemães na guerra. Sobre o sofrimento de inocentes alemães só há poucos anos se começou timidamente a tematizar o problema das violações das mulheres alemãs.

Nas investigações de Bárbara Johr em “Befreier und Befreite” são mencionadas dois milhões de mulheres e meninas alemãs violadas por soldados do Exército Vermelho. Estes dois milhões de vítimas distribuem-se por 1,4 milhões de mulheres/jovens nos territórios da Prússia Oriental, Pomerânia Oriental, Brandenburg e Silésia, 500.000 na zona de ocupação soviética e 100.000 mulheres em Berlim. 10% das violadas terão sido assassinadas de seguida.

Este agir barbárico ainda assume maior gravidade pelo facto de ser usado e apoiado pela oficialidade. O genocídio dos alemães contra os judeus também assume uma gravidade acrescida na história pelo facto do holocausto aos judeus ter sido ordenado e organizado sistematicamente pelo Estado (Hitler). (De referir que Hitler para tornar o seu aparelho facínora mais eficiente, se serviu também de estudos sobre a maneira eficaz como a Turquia tinha efectuado o genocídio a cerca de dois milhões de arménios, em 1915).

Aos soldados alemães era proibida a violação e a prostituição incontrolada. Também se registaram violações por soldados alemães mas devido à diferente estratégia seguida não pode ser comparada no mínimo ao comportamento russo. Soldados alemães, tal como americanos violadores eram julgados e condenados. Isto não desculpa nem um bloco nem o outro atendendo à desumanidade subjacente aos dois sistemas e que espreita em cada ser humano colocado em determinadas situações. Nas zonas ocupadas pelos alemães, em 1942 havia na França e na Europa do Leste mais de 500 bordéis das Forças armadas alemãs.

Bordeis das Forças armadas alemãs foram regulados por decreto de 9 de Setembro de 1939 que apelava à autodisciplina dos soldados em questões sexuais (especialmente aos casados) e criava bordeis para soldados, insurgindo-se contra a prostituição selvagem que provocava doenças nos soldados. Estes estavam sob o controlo da inspecção sanitária das forças armadas. Estas controlavam as mulheres que trabalhavam nos bordéis e os soldados. Eram recrutadas prostitutas que se candidatavam. Num relatório do médico comandante da zona francesa ocupada de Angers, de Novembro de 1940 constata-se: “Os bordéis foram visitados em 14 dias por 8.948 soldados, dos quais 2.467 tiveram relações sexuais” (Vikipedia). (Tenho um vizinho que no tempo de soldado, como paramédico, tinha o trabalho de pincelar o pénis dos soldados com desinfectante em bordéis para se evitar a transmissão de doenças.) Prostitutas e soldados eram examinados por médicos tendo muitos dos soldados de receber uma injecção antes do acto sexual. Para se ter uma ideia da dimensão daquele empreendimento basta dizer que só em França, num terço da zona francesa ocupada pelos alemães havia mais de 143 bordéis onde trabalhavam 1.166 mulheres para satisfação dos soldados. Na Rússia, era difícil recrutar mulheres para os bordéis militares porque lá não havia prostituição oficial. Com estas medidas o exército satisfazia as necessidades dos soldados, evitava doenças e impedia que eles ganhassem amizades com mulheres das zonas ocupadas que poderiam influenciar politicamente os soldados.

Mais tarde foram também criados oficialmente Bordeis para prisioneiros nos maiores campos de concentração. Esta medida tinha a finalidade de motivar os prisioneiros a maior produtividade laboral. Junta-se a exploração sexual da mulher à do Homem. Prisioneiros com maior desempenho laboral tinham como maior prémio a permissão de ir ao bordel, no máximo, uma vez por semana, durante 15 minutos. Está provado que em  10 bordeis  se encontravam encarceradas 190 mulheres em serviço (Robert Sommer in “Das KZ-Bordell”).  Eram mulheres alemãs “a-sociais” primeiramente recrutadas com aliciamentos, mulheres prisioneiras polacas, ucranianas, russas, e “ciganas”. Muitos prisioneiros repudiavam os bordéis por razões morais considerando-os também obra do cinismo. Era proibido frequentar os bordéis a prisioneiros judeus e russos. Entre 1940 e 1942 terão sido forçadas ao trabalho sexual, pelos nazistas, cerca de 35 000 mulheres (Cf. Helga Amesberger, Katrin Auer, Brigitte Halbmayr: «Sexualisierte Gewalt. Weibliche Erfahrungen in NS-Konzentrationslagern»).

Muita gente procura cavalgar na culpa dos outros

Esta era uma guerra ideológica (aniquilação de raças, bolchevismo e fascismo) ainda mais perversa que outras guerras.

Não é legítimo cavalgar em cima da culpa alemã nem em cima da culpa russa para, assim, poder lavar a própria fachada e esconder atrás dela uma satisfação de bonzinhos na lavagem de agires menos dignos do dia-a-dia. Assim evitamos assumir responsabilidade pelos crimes que acontecem hoje no mundo. Em nome de culturas e de interesses económicos ou ideológicos ataca-se geralmente uma parte para, como Pilatos, se lavarem as mãos sujas da própria culpa. É fácil, a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje, condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não pode justificar a miopia que acompanha a contemporaneidade na sua necessidade ingénua de branquear o seu presente.

Hoje cortam-se os clitóris a meninas, apedrejam-se mulheres infiéis e o politicamente oportuno leva-nos a aceitar isso como sendo um bem cultural a respeitar, até no meio da nossa cultura. Suportamos a exploração da mulher maometana e até criamos nichos onde o patriarcalismo possa ser respeitado. Suportamos famílias com ordenados de misérias e energúmenos com riquezas mastodônticas fruto da especulação. Usamos dois pesos e duas medidas em nome duma democracia açucarada e duma política aberta à exploração. É fácil a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não justifica porém a miopia que acompanha a contemporaneidade e a sua necessidade ingénua de se branquear. As pessoas fracas precisam da culpa dos outros para melhor anestesiarem uma consciência que não deve ver o que se passa agora.

Mentalidades massificadas de ontem, personalizadas em grupos e em pessoas mascaradas de soldados abusaram das pessoas indefesas. Hoje pessoas fardadas de opinião oportuna condenam povos e grupos sob a apóstrofe de alemães, russos, comunistas, conservadores ou progressistas. Há sempre uma responsabilidade individual e colectiva. A lavagem cerebral feita ao povo e aos indivíduos facilita a prontidão para a subjugação e para o agir irresponsável. Para onde quer que se olhe, depara-se com gente uniformizada com uma maneira de pensar e julgar igual, não diferenciada e correspondente à mentalidade apregoada e tida por bem na opinião publicada. É assustador o pensamento em massa e em blocos hoje em voga. A pobreza é tanta que, por vezes, basta saber o jornal ou revista da leitura do interlocutor para conhecermos o seu pensar. O pior disto é que atrás duma opinião massificada se encontra uma trincheira. Naturalmente cada um escreve e pensa segundo a própria ciência e consciência…

Quem se orienta pelo seu julgamento segundo o prisma da simpatia ou da antipatia sentida ou pelo simples afirmar ou negar de factos segue um mau conselheiro e prepara a guerra.

Não se pode bagatelizar nem compensar os crimes e a dor dum lado com os crimes e a dor do outro. Este erro de lógica perpetua a injustiça e a maldade. Só quando as nossas lágrimas correrem sobre a nossa culpa e sobre a culpa dos outros nos poderemos compreender a nós e aos outros. O sangue dos nossos antepassados grita mas só o grito da nossa consciência poderá interromper a avalanche da violência e da injustiça de agora.

Cada guerra, como cada ideologia, procura tirar o melhor de cada pessoa para si e o pior para os outros. O mesmo se diga da escrita da História que pressupõe sempre um historiador com uma ideia dela.

A barbaridade, a violência não é um acto específico dum povo, raça ou pessoa, ela repousa na sombra de cada pessoa e de cada grupo. A violência não se torna melhor nem mais justificada se exercida pela direita ou pela esquerda. Seria cinismo com o sofrimento de pessoas querer glorificar a própria ideologia.

O tribunal de Haia constitui hoje um aviso para o respeito que se deve às vítimas e como tal um primeiro passo em direito internacional para se diminuírem os crimes e os incendiários económicos, religiosos ideológicos e intelectuais.

Em tudo isto se vê como o pobre povo sofre e ao mesmo tempo é usado para fazer outros sofrer.
A guerra ainda não acabou. Em nome da paz continua a faz-se a guerra, em nome da paz vive-se da guerra.

O respeito deve-se às vítimas!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Sentido duma “Vida sem Sentido”

Tudo funciona em Termos de Fim

António Justo

Nietzsche dizia „quem tem um porquê para viver, suporta quase cada como”. O problema está para quem não tem porquê nem como. Sim, até porque a vida é mestra e a História obriga.

Na luta da vida, uns ganham, outros perdem e outros nascem perdidos. De premeio fica a perspectiva individual, numa atmosfera social mais ou menos intoxicada, diria eu.

Nos primórdios da humanidade, os nossos antepassados caçadores-colectores esfalfavam-se em manada atrás da caça e da fruta. Levavam uma vida nómada e na luta pela subsistência viam-se obrigados a viver na manada.

Na sequência dos hábitos ancestrais de caçadores-colectores, pratica-se também hoje a caça e a colecta nos centros comerciais (“Shoppings”). Escarmentados das fadigas invernais sentimos cada vez mais o prazer no ter do que no ser. Surge o prestígio e este baseia-se já não na necessidade directa mas na ideia (necessidade construída). A satisfação e o prestígio de ter passam a impor-se ao do ser. A massa já não segue em direcção à caça, mas o sentido da ideia dela.

As pessoas perdem a individualidade pensando e vivendo cada vez mais em termos de manada. Do tédio da monotonia redil surge a necessidade de se diferenciar numa corrida ao prestígio baseado na ideia do sucesso económico. A animalidade individual, agora encarcerada numa cultura domesticadora procura os seus tubos de escape numa ideia de distinção e de liberdade apregoada pelo mercado. Os pobres de cima e os pobres de baixo, tudo em fuga, vivem da futilidade dum ter mais que o outro e duma distinção que se revela no poder de compra. Cada um quer levar o mundo às costas, querem tudo na sua mochila. Na luta contra o caos afirmam-se as forças da animalidade violenta de uns contra os outros. De momento, grande parte das elites financeiras manifesta-se como extremista e sem um conceito ordenado de sociedade. A brutalidade de oligarquias torna-se exemplar para as bases que a sustêm levando-as primeiramente à desorientação e depois à anarquia.

Uma sociedade que não canalize a brutalidade dos seus membros está irremediavelmente perdida. Para o poder necessitará de ideais e metas metafísicas. As estruturas precisarão de homens bons e a contrabalançar os seguidores da oportunidade. Doutro modo, sob o impulso de canalizar a animalidade, continuarão a esconder-se, por trás dos bastidores, os interesses individualistas, nacionalistas e ideológicos. Estes só querem indivíduos e não pessoas, querem apenas clientes e crentes. Neste sistema, quem não pertencente ao rebanho, não orienta a inteligência em benefício próprio. Uma sociedade sem consciência pessoal e comunitária transcendente e que engendra para cada qual um deus indiferente que tudo permite deixa a bestialidade humana governar.

A natureza, para não estagnar, não quer harmonia. Ela tem, além dum sentido imediato, um sentido telelógico, virado para uma meta, um objectivo sempre mais distante do que a mira da nossa caçadeira alcança. Quem não descobrir essa meta será condenado, como Sísifo a empurrar repetidamente uma pedra (a sua vida) até ao lugar mais alto da montanha para a ver rolar de novo para o fundo dela.

Depois de cada caçada, de cada compra, de cada vitória fica a depressão do desconsolo duma caçadeira descarregada, de vida vazia. Resta a sensação de um caçador cansado, a subir a encosta, à semelhança de Sísifo no mito.

Sísifo quer-nos alertar para uma vida digna de viver e para a necessidade de intervir no destino. Primeiro procura-se o que dá alegria: um trabalho, uma casa, uma criança; depois vem a insatisfação, da falta duma tarefa, da falta de realização.

No caso de desemprego inutilizam-se as próprias capacidades e conhecimentos. Pior ainda; a sociedade só exige e não louva, o que diminui a satisfação. O horizonte reduz-se, cada vez mais, ao panorama dos próprios problemas. Por fim o cenário pode reduzir-se a si mesmo. Sem a perspectiva do outro não haverá realização.

Uma existência sem metas é vida desperdiçada e perdida

Uma vida sem metas é como um carro com motor em ponto morto, só gasta e desgasta ou anda à roda como os carrinhos eléctricos das feiras.

Desde a natureza à lógica e ao sentimento, tudo funciona em termos de fim. O ciclo da trajectória duma semente não é terminar nela; contra isto fala a evolução e a ânsia de sentido no mais profundo de cada coração. O sentido encontra-se não só em nós, no todo mas também fora dele. Tudo se encontra a caminho, a natureza inteira, cada povo e cada pessoa. O seu ser não se reduz ao caminho como apregoam os barateiros do mercado.

Sentido é algo subjectivo mas um consolo apenas subjectivista (individualista) encerraria o ser num labirinto. O sentido experimenta-se na relação entre o eu e o nós, numa relação de diálogo binário e trinário dum receber e dar para mais criar. A natureza orienta-nos para o futuro, muito embora o futuro não seja o seu fim.

É verdade que o sol nasce todos os dias. Ele parece resumir o sentido que a semente sente numa continuidade repetitiva a caminho dum chamamento imanente e transcendente. Aquele chamamento vem dum fora dentro a que o próprio Sol obedece no reconhecimento dum sentido maior.

A vida individual, familiar, social e nacional ocidental encontra-se ameaçada pelo facto de não reconhecer algo que a transcenda, não conhecer uma meta mais abrangente que não seja o ciclo das estações do ano. Tudo circula então em torno do próprio umbigo como se cada um fosse o umbigo do mundo. Uma multidão sem necessidade de dar à luz. Um mundo assim concebido já não precisa de heróis nem de santos, acomoda-se ao destino duma rota de exploradores e explorados.

Prometeu, protótipo do homem grego, foi herói ao conseguir roubar o fogo dos deuses para o dar ao humano. Este, ao desistir do fogo dos deuses será reduzido à condição de prisioneiro e acorrentado à própria arrogância e entregue, pelos deuses, à voragem das águias que se alimentarão do seu fígado. Ao acomodar-se à fuga do medo não chega a experimentar a satisfação de que a rebeldia por fim lhe trará consolação.

Equivoca-se a política ao reduzir a vida pública a uma mera luta de interesses entre grupos. Erra a psicologia que se fixa no ego, encurtando o horizonte da pessoa a ela mesma e a vida a uma mera estratégia de sobrevivência individual, dando receitas que não passam de anestesiantes para um ego que sofre de miopia. Por isso, a sociedade, cada vez produz mais doentes e a frustração individual está cada vez mais patente.

Geralmente procura-se a solução para os problemas onde ela não pode estar. Coloca-se a bola da vida nas mãos dos donos de matraquilhos ignorando que eles, consciente ou inconsciente, pretendem levar a bola ao seu buraco. Uns e outros parecem adiar a vida em trips de egos. Por falta de panorama limitam-se a ajudar Sísifo a subir a montanha para de novo cair a seus pés. Uma solução que se contenta com a satisfação do eu, só em si, não satisfaz porque empobrece a pessoa, reduzindo-a à condição de Sísifo. A concentração no ego possibilita a masturbação mas não a criatividade, realiza-se à margem da evolução.

No mercado da praça pública encontramos muitos profetas do ego. Até parecem que têm a vida para dar ao oferecerem mais sexo, mais droga, mais liberdade, como se fossem os donos disto. Eles fixam o bem-estar a um hedonismo que reduz a felicidade ao acto de striptees, ao acto do momento, como se o dia não tivesse um nascer e um pôr-do-sol, como se o dia completo não contivesse também a noite. Para que a realidade da noite não seja consciencializada têm como solução a bebedeira. Muita da psicoterapia, dos curandeiros, dos espíritas e muito outra boa gente só ajudam as pessoas a adiar a vida, sempre à cata dum raio de sol fútil. O pior é que ainda pagam para isso!… Uma vida com sentido é entrega, é oferecer consciente que no dar se entra em comunicação com o outro e nele com o próprio profundo. Doutro modo, o sentido duma vida sem sentido será alimentar os parasitas da vida. Uns como outros correm o perigo de se encontram virados apenas para si reduzindo o seu sentido ao alimentar dos vermes do cemitério. Naturalmente que a paciência do verde da roseira se premeia nas rosas da roseira também na vida humana não haverá alegria sem sofrer.

A felicidade dá-se no nós, na relação; o eu encontra, ao mesmo tempo, o seu limite e a sua complementação no outro. A sociedade ocidental estressou a pessoa reduzindo-a a indivíduo à disposição do seu mercado: Reduz a praça social a grupos de vendedores concorrentes entre si sem um sentido individual nem colectivo. Para isso quer uma sociedade aberta sem biótopos, quer apenas indivíduos indefesos estando, por isso, interessada em destruir a pessoa (a pessoa, ao contrário do indivíduo, encontra-se embutida numa paisagem, numa região, num país, numa cultura, numa família; a ideologia, pelo contrário só conhece uma cor, as cores do arco-íris de que a pessoa seria portadora constituiria um impedimento a qualquer ideologia seja ela económica ou do pensamento). Por isso se vê cada vez mais a afirmação da ideologia do indivíduo contra a pessoa. O turbo-capitalismo, o socialismo materialista e os déspotas querem indivíduos despojados de ideias próprias, despojados de família e de nação.  Uma sociedade como a nossa, já a caminho do pôr-do-sol, infecta outras sociedades emergentes e ensombra a vida com valores já não de esperança mas de desilusão. Privilegia a força da entropia só tendo em conta o ego, sem a consciência de que este faz parte dum biótopo cultural empenhado na construção dum ecossistema espiritual universal.

O horizonte do nosso ego encontra-se numa relação complementar à intimidade do nós. Somos o cruzamento duma panorâmica com vários horizontes, todos eles enquadrados na nossa pessoa e a serem considerados no trilho da sociedade. Como o Sol tem uma missão em relação à Terra assim o humano tem uma missão de seguir e criar sentido. Quem cria e dá sentido sente sentido na vida, realizando-se e expandindo-se na alegria dos raios sociais que irradia. Então as sombras da vida já não adoentam, passam a ser canais por onde passa a luz, por onde passa a vida. Daí surge a satisfação de tornar a humanidade e o mundo num lugar digno, onde a vida é equacionada e mantida sob o ponto de vista da pessoa, do universo e do divino.

A futilidade dum viver numa democracia de cidadãos vencedores e perdedores, de realização individual, sem uma órbitra que transcenda o eu, só poderá conduzir à frustração do cidadão que constata nas órbitras das instituições do Estado e da humanidade a repetição da própria órbitra egocêntrica, apenas um pouco mais alargada.

Falta a consciência duma órbitra universal cujo trajecto se origina no nós e tende para o nós numa dinâmica complementar. Uma teoria e uma praxis na perspectiva do nós (comunidade e não mera sociedade) interromperia a continuidade histórica de exploração (a relação de caçador e presa) para, na História da humanidade, se introduzir a sustentabilidade do seu desenvolvimento. Isto para não reduzirmos o trajecto histórico a um movimento rotativo de explorados e exploradores.

Doutro modo a nossa vida dará sustentabilidade à reiteração da exploração e da lamentação, continuando a História ordenada em dois acampamentos: dum lado os mais solidários, do outro os mais egoístas, os privilegiados.

Marx pensava poder mudar a humanidade e a natureza humana, se se acabasse com a propriedade privada. O seu erro foi querer reduzir tudo ao ciclo da matéria e querer sacrificar as diferentes esperanças da humanidade à sua esperança, não contando que a realidade consta de erros complementares que possibilitam o alívio do mal. Há muitos caminhos na tentativa de superar o mal e de melhorar a sociedade. Será tarefa de todos fazer desembocar o seu caminho na comunidade e no respeito da diferença. Uma só solução é engano. Até hoje, as revoluções criam novas classes dominantes que se legitimam com novas ideias impostas ao povo e aos vencidos. A ilusão voa mas o sofrimento provocado pelo ser humano é continuado sob o sol de novas explicações e dominações.

A tarefa apontará no sentido de se agir a partir do ponto de vista do nós. Para isso ajuda um princípio duma ética universal digna: não faças ao outro o que não queres que te façam a ti. A ética superior das bem-aventuranças poderá ficar para uma segunda fase da evolução da humanidade. Por enquanto continuamos a ser crianças contentando-nos com o jogo das escondidas.

Cada sistema de valores corresponde a um ecossistema cultural aferido à geografia, às necessidades e desejos de cada biótopo. Destruí-los em nome doutras grandezas seria crime. Há que disponibilizar o sol para todos. A óptica divina apela à consciência duma perspectiva universal num mundo a ter de se recriar: um mundo de todos para todos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

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