O Presidente da Hungria visitou Trump no Âmbito da Cimeira da NATO
Imediatamente após a cimeira da NATO em Washington, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, visitou o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, no seu domicílio em Flórida, tornando-se no desmancha-prazeres da festa ao colocar a sua „missão de paz” em cena, quando o que estava na ordem de trabalhos era só a “missão de guerra” da NATO!
Numa Europa perdida entre o saber e o querer sobressai a petulância no fazer. Por outro lado, a população movida pelos ventos dos centros noticiosos renuncia ao fazer na ilusão de que os que fazem o fazem com saber e não por mero interesse de poder. No meio de uma Europa em derrocada e de um mundo cada vez mais multipolar, tudo se move na tentativa de criar alianças internacionais
Em jogo encontram-se duas concepções de União Europeia: uma visão supranacional e uma visão de soberania das nações, acompanhadas de uma geoestratégia tendente a manter os EUA à frente de um poder monopolar mundial. Isto leva a uma luta política, económica, cultural e de valores entre internacionalistas/socialistas e nacionalistas/conservadores. A UE não tem mostrado capacidade para gerir sobretudo o conflito cultural e de valores devido à sua política de desconstrução de valores tradicionais europeus em contrapartida de interesses de grupos globalistas. As potências mostram-se interessadas em poder económico militar e os países pequenos defendem o que têm e lhes dá valor e isso é sobretudo a sua cultura.
A visita de Orban a Kiev, à Rússia, China, (1) embora não autorizada pela UE, representa uma inovação compreensível no cenário político europeu. No passado, nações como Alemanha e França não se contentavam em ver os seus interesses expressos na EU, mas por seu lado realizavam ainda conversações nacionais paralelas em relação à China, enquanto países periféricos da UE se contentam com apoios económicos limitados. O líder húngaro, arroga-se gestos que só seriam aceites se feitos por potências europeias que pensam em termos de interesses nacionais.
Orban, com sua iniciativa, sugere que é hora de incluir os interesses das nações menos influentes nas relações internacionais. Caso contrário, a democracia servirá apenas os interesses das economias e povos mais poderosos.
Por outro lado, ao colocar os objetivos da EU como indiscutíveis: ganhar a guerra geopolítica na Ucrânia e o liberalismo económico fomentador de um globalismo beneficiador sobretudo das grandes potências e do grande capital acrescido da política de imigração islâmica torna o desafio ainda mais agudo. A Coesão da EU assenta sobre pés de barro enquanto mantiver um dirigismo através de medidas económicas e legislativas que não respeitam a consciência popular. A cultura europeia, de si multifacetada e aberta encontra-se, neste momento em grande crise sobretudo no que diz respeito à política de imigração dado a sociedade ter a impressão de que a imigração islâmica é usada como instrumento político que pretende, em nome da tolerância para com o islão, legitimar a desestabilização da cultura europeia, a longo prazo. Observa-se no trato mediático que os valores cristãos são colocados à disposição enquanto os valores muçulmanos são tratados como tabu não sendo permitida uma discussão séria sobre os respectivos valores. Deste modo assiste-se a uma luta clandestina entre a secularidade e a tradição de caracter europeu.
A Hungria tem utilizado o seu poder de veto dentro do Conselho Europeu para bloquear decisões de sanções contra certos países ou políticas de redistribuição de migrantes. Orban opõe-se desde 2015 à prática da UE que promove uma política de acolhimento e redistribuição de refugiados, em nome da solidária e partilhada entre os Estados-membros, quando a causa da imigração islâmica se deve em grande parte a guerras efetuadas no interesse das potências como se deu no caso do Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, etc. A política externa de Orbán também inclui o fortalecimento de laços com potências não ocidentais, como a China e a Rússia, que vai contra a política da EU de procurar laços só com os parceiros do seu bloco.
Também o uso do veto pela Hungria tem frustrado muitos líderes europeus e complicado a tomada de decisões na UE. Daí ter surgido a ideia de se retirar o direito de veto às nações para deste modo ser favorecida a formação de maiorias na EU sem vetos nacionais, o que significaria concretamente uma cedência à imposição dos interesses das grandes potencias. Sintomático neste sentido torna-se o facto de António Costa já antes de ser nomeado presidente do Conselho da UE ter tomado posição em favor da abdicação do direito nacional de veto. Nesta lógica, tão advogada na imprensa alemã, as nações pequenas perderiam o seu significado podendo as potências impor a sua vontade sem necessidade de grandes conversações.
Em suma, a iniciativa de Orban sublinha a importância de priorizar a paz sobre interesses particulares, refletindo uma visão que deveria ser central na política internacional. Em vez de uma discussão séria sobre as diferentes concepções e respectivos interesses no que diz respeito à EU e à guerra geopolítica, a opinião pública fomentada por Bruxelas, contenta-se em qualificar Orbán de nacionalista e de fascista e o povo não tem outro remédio senão engolir sem mastigar nem digerir.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) Viktor Orban foi um dos poucos representantes europeus e o único chefe de governo da UE a participar no fórum da China sobre a “Nova Rota da Seda”. A reação dos políticos da UE e da imprensa sugere uma insatisfação generalizada com a missão de Orban a Kiev, Moscovo e Pequim. O silêncio sobre sua iniciativa de paz reflete uma preocupação em não perturbar o status quo militar e estratégico fomentado pela NATO e pela Alemanha.Numa era de declínio da hegemonia dos EUA, a insistência na guerra na Ucrânia e em fronteiras russas parece preparar o terreno para um futuro onde conflitos económicos e militares serão a norma. Esse cenário beneficia os “falcões” militares, que promovem um mundo dividido em blocos militares, adotando medidas protecionistas e bloqueios económicos que afetam sempre e diretamente o povo.
Viktor Orban, não bem visto pela UE e pelos seus media, desafia a narrativa dominante, exigindo uma discussão séria sobre os interesses da Europa e do mundo. Em Pequim, Orban afirmou que apenas com contribuições positivas de todas as grandes potências será possível um cessar-fogo rápido no conflito. Ele ressaltou que “nenhuma pessoa séria pode dizer que a Rússia tem qualquer intenção de atacar a NATO”, sublinhando a necessidade de energia positiva para alcançar a paz.