Conselho das Comunidades Portuguesas – Resultado das Eleições 2008
Acabaram de se realizar as eleições para o CCP efectuadas por todos os países onde se encontram portugueses. Estas eleições ainda conseguem ter menor percentagem de votantes do que a eleição para deputados. Numa população de cerca de 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo apenas 12 mil portugueses concorreram às urnas para votarem os conselheiros. O CCP é um órgão consultivo do Governo.
Na Alemanha, com 132.092 emigrantes portugueses recenseados, votaram 655 pessoas. A lista A do círculo de Dusseldorf, Frankfurt e Estugarda venceu ficando com três conselheiros votados por 514 pessoas; a lista do círculo de Berlim e Hamburgo obteve um conselheiro que conseguiu reunir 63 votos.
Como explicar tal desastre na participação?
As instituições de carácter político na emigração, dum modo geral não são sérias; funcionam apenas para inglês ver, são instituições ao serviço da instituição e não do povo.
O CCP funciona para os governos de Lisboa como um álibi.
A emigração nunca interessou ao país, é um destino nacional. Tomar a sério os emigrantes implicaria ter de se ocupar seriamente consigo mesmo, e pensar não é nenhuma virtude portuguesa e para os governantes parece constituir blasfémia.
Por outro lado a inveja em relação aos emigrantes estende-se até às camadas mais relevantes do país e em especial aos partidos. Dos emigrantes há que esperar e não que dar!… De fora é que chovem as patacas.
O arrojo dos emigrantes mete medo a muitos portugueses para quem o lema e a súmula da vida é “vai-se andando”, “uma pessoa arranja-se como pode”. Os portugueses emigrantes, devido ao esforço sobre-humano de adaptação, adoptam também eles as características portuguesas de povo exausto passando a arranjar-se como podem, “Maria vai com as outras”. Os que se organizam fazem-no por amor à causa; destes porém não reza a história: em Portugal a história só se interessa com os espertos, os amigos da onça. Outros, para não se “sujarem” preferem viver no alto das suas torres e finalmente os outros, os tais representantes, esses fazem-no por amor à camisola do partido sem uma perspectiva de Estado nem de Povo. O povo resto, esse aprendeu dos seus “superiores”, que a Nação desde 1580 está de férias e que ele é tapete. O povo, com um instinto apurado, perdeu o respeito pelos que sistematicamente durante séculos o desrespeitam; prefere viver abandonado a si mesmo, com todos os perigos que isso implica e que constituem o vício português. Assim falta uma sociedade civil activa. Porque tomar a sério os eleitos se estes nunca tomaram a sério os eleitores?!…Também na emigração a ligação entre o trabalhador e os representantes políticos é uma relação de desconfiança. Este problema verifica-se de maneira mais acentuada na eleição de deputados e de conselheiros. Falta de sentido e de eficiência das instituições. Dá-se uma batota dupla. E os eleitos, na sua arrogância cega ainda têm o desplante de se queixarem dum povo que não participa e dum governo que não reconhece a sua importância!
Os eleitos não tomam a sério o povo e este paga-lhes com a mesma moeda. Os pretendentes a cargos só se lembram dos votantes em períodos de eleições. Joga-se o jogo do rato e do gato.
Falta a responsabilidade partidária e mais ainda o comprometimento político, os programas são mais pretextos que outra coisa. Na Alemanha, país que conheço bem, só a esquerda consegue apresentar algumas pessoas com uma certa capacidade de mobilização. Esta carga partidária foi a votada. De facto os outros ou não se interessam ou vivem encostados àqueles. Confia-se na ingenuidade de algum votante distraído.
A esquerda como a direita não se mostra interessada na defesa do que interessa ao emigrante. Em geral, metem-se em batalhas que têm a ver com postos nos consulados ou em embaixadas. Depois ainda se queixam que os governos não lhes ligam.
De facto não têm representatividade nem uma inserção na comunidade que lhes possa dar crédito. Além disso a sua fidelidade partidária impede-os de organizar medidas eficazes capazes de mover os governos. Gastam o seu latim em guerras secundárias ou vão passeando a sua importância de reunião em reunião. São pobres até no pedir e como também eles vivem da inveja, procuram aproveitar-se de tudo e de todos para engordarem a sua presença (falo da Alemanha que conheço, mas a avaliar pela participação nos outros países, não deve ser diferente, pelo menos na Europa).
São contudo muito boas pessoas e bem intencionadas; os vícios que têm são o vício português: uma população de indivíduos sem povo. Os conselheiros são os melhores servidores da imprensa, que assim facilmente adquire pessoas de contacto. Aqui está a relevância do seu sentido de ser. O resto é de esquecer. A qualidade, porém, da sua informação depende da base que os legitima. Assuntos como o cumprimento da Directiva Europeia reguladora da importação de carros e que é um assunto de grande importância para os emigrantes, nunca interessam a deputados nem a conselheiros.
O Governo encontra consequentemente a sua melhor desobriga em tais representantes cujas exigências não passarão de impertinências. Quanto aos sindicatos, a não ser o das representações consulares e diplomáticas, falta-lhes qualquer capacidade, legitimação e interesse. Os sindicatos estão divididos entre os interesses da sua clientela em Portugal e os interesses da clientela fora de Portugal que são contraditórios e naturalmente que milhares de representantes portugueses não poderão ceder a meia dúzia de representantes de fora (Fui organizador do SPE da FENPROF e membro de outro sindicato e tive de abdicar de todas as boas intenções; contra a força e contra o hábito não há resistência possível). Também os representantes sindicais têm um significado de pessoas de contacto para a imprensa, mas sem qualquer peso a nível de decisões.
O governo só reagirá a manifestações como as que a FAPA organizou em Estugarda e em Frankfurt, onde se manifestaram, no dia seis de Abril passado, cerca de 700 pessoas pela defesa do ensino de português e pela estabilidade na colocação de professores. Embora esta iniciativa fosse bem sucedida os socialistas não quiseram reconhecer o mérito da esquerda concorrente organizadora. A discussão entre os socialistas e os comunistas na Alemanha é sintomática da miopia partidária reinante. Os socialistas estão um pouco invejosos pelo facto dos comunistas se empenharem tanto nas manifestações de Estugarda e de Frankfurt. Facto é que a esquerda mais radical ainda é aquela facção disposta a tomar medidas mais eficientes e adequadas na defesa de determinados interesses. Quem quer sucesso, à portuguesa, que se infiltre nas instituições usando-as depois para se legitimarem e afirmarem…
Por tudo isto, CCP, Sindicatos e outros representantes não serão levados a sério por ninguém, atendendo à sua precariedade de legitimação e a um espírito português mesquinho, do “salve-se quem puder” ainda presente em muitas organizações.
O eleito interessa-se pelas suas coisas mas não pelas do povo. O povo interessa-se pelo dia a dia mas não pelas do eleito. Cada um anda preocupado consigo mesmo, com a família ou com o partido. Não há uma sociedade civil consciente; por isso Portugal se encontra em contínua derrapagem. Na precariedade não há tempo para o óbvio. Somos um povo ausente. O que vale é que o português se safa pela sua qualidade mística. Disto vivem todos!
António da Cunha Duarte Justo